• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – COMPRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS NO CONTEXTO DA

2.3 Licitações Públicas

2.3.1 Portal de Compras do Governo Federal (Comprasnet)

2.3.1.5 O Uso do Poder de Compra do Governo Federal

As contratações sustentáveis, no Brasil, movimentam recursos em cerca de 10 a 15% do produto interno bruto (PIB). Avalia-se, hoje, que as decisões de compras públicas abrangem um contexto muito amplo, cujas dimensões abrangem o social, o econômico, o ambiental, o político, o espacial, o ético, entre outros. Induz transformações estruturais que geram impacto na produção, no consumo e no desfazimento ambientalmente adequado (SLTI/MP, 2013).

Além disso, as contratações públicas vêm desempenhando papel fundamental na implementação das políticas públicas, no fomento às inovações tecnológicas, na transparência e controle social, pois essas contratações mobilizam tanto o setor governamental, quanto a iniciativa privada, e, consequentemente, refletem em toda a sociedade (SLTI/MP, 2013).

Nessa linha, em 2010, a Lei nº 12.349, alterou a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, incluiu a promoção do desenvolvimento nacional sustentável entre os princípios a serem garantidos na licitação. Dessa forma, os gestores públicos devem considerar variáveis de sustentabilidade em todas as etapas da contratação (SLTI/MP, 2013).

Assim, por meio das contratações públicas sustentáveis, o Estado contribuiu com o preceito constitucional que institui o direito de todos a um ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum de todos e essencial à sadia

qualidade de vida. Cabendo também ao Estado Brasileiro e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (SLTI/MP, 2013). As contratações públicas sustentáveis podem abranger, por exemplo, a aquisição de computadores verdes, equipamento de escritório feitos de madeira certificada, papel reciclável, transporte público movido a energia mais limpa, alimentos orgânicos para as cantinas, eletricidade produzida por fontes de energia renováveis, sistemas de ar condicionado de acordo com as soluções ambientais de ponta, bem como a contratação de edifícios energeticamente eficientes (SLTI/MP, 2013).

A Administração tem o dever de selecionar os bens, serviços e obras mais vantajosos, em sentido amplo, não abrangendo somente o preço, mas também a qualidade e a conformidade com o dever do Estado de proteção ao meio ambiente (SLTI/MP, 2013).

O Estado, enquanto grande consumidor de bens, serviços e obras, deve dar o exemplo, sensibilizando os demais consumidores sobre as complicações ambientais e sociais associadas aos diferentes tipos de compras, reafirmando o comprometimento com empresas que possuam ética e boas práticas em relação ao meio ambiente e ao desenvolvimento econômico e social (SLTI/MP, 2013).

Nos termos do Processo de Marrakech, "produção sustentável" pode ser entendida como sendo a incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida de bens e serviços, das melhores alternativas possíveis para minimizar impactos ambientais e sociais. Acredita-se que esta abordagem reduz, prevenindo mais do que mitigando, impactos ambientais e minimiza riscos à saúde humana, gerando efeitos econômicos e sociais positivos. Vista numa perspectiva planetária, a produção sustentável deve incorporar a noção de limites na oferta de recursos naturais e na capacidade do meio ambiente para absorver os impactos da ação humana (MMA, 2013).

Uma produção sustentável será necessariamente menos intensiva em emissões de gases do efeito estufa e em energia e demais recursos. Uma produção sustentável pensa o ciclo completo dos produtos - do berço ao berço (cradle to cradle), procurando alongar a vida útil dos produtos e reaproveitar ao máximo possível os insumos da reciclagem em novas cadeias produtivas (MMA, 2013).

O governo possui um grande potencial de induzir processos produtivos mais sustentáveis. Entre as estratégias para utilizar a rotulagem ambiental como instrumento de políticas públicas estão as compras públicas sustentáveis, já que, como visto, por meio das compras públicas sustentáveis os governos criam oportunidades para inovação e a crescente melhora das tecnologias e estimulam a aplicação generalizada de práticas de produção e consumo sustentáveis em negócios

públicos e privados. Neste caso, o rótulo ecológico pode ser usado para demonstrar que determinado produto ou serviço está de acordo com os critérios estabelecidos pelas licitações de compras públicas (IPEA,2011).

Segundo, Silva (2013), o poder público tem um papel fundamental em promover políticas e iniciativas que contribuam para a produção e o consumo sustentável no país, e uma das formas é utilizar seu poder de compra por meio da aquisição de bens e serviços que incluam critérios de sustentabilidade. Essa perspectiva traz à tona a necessidade da aplicação do conceito de sustentabilidade nas compras públicas.

Ainda segundo Silva (2013), atualmente, fala-se muito em economia verde, economia de baixo carbono e surgem constantemente novas terminologias com objetivo de sensibilizar tomadores de decisão a promoverem o tão almejado desenvolvimento sustentável. A comunidade científica receia que essa onda da sustentabilidade e de seus diversos conceitos correlatos seja propulsora de novos rótulos nos projetos governamentais do que propriamente da melhoria de seus conteúdos.

As cobranças dos órgãos jurídicos, como a Advocacia Geral da União (AGU), e dos órgãos de controle, como o Tribunal de contas da União (TCU), têm sido cada vez mais evidentes. Cumpre frisar que a exigência de critérios de sustentabilidade não fica reduzida às especificações dos bens que serão adquiridos, mas também nas cobranças exigidas no instrumento convocatório, conhecido como Edital de Licitação (Silva, 2013).

Neste sentido, a Advocacia Geral da União (AGU) lançou um Guia Nacional sobre Licitações Sustentáveis (GNLS). O guia é resultado do trabalho do Núcleo Especializado em Sustentabilidade, Licitações e Contratos da Consultoria-Geral da União (Neslic/CGU), cuja obra tem como objetivo oferecer segurança jurídica aos gestores públicos na implementação de práticas socioambientais, de acordo com o artigo 3º da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93). A obra proporciona, ainda, diálogo com outros instrumentos de orientação da CGU, como o Manual Implementando Licitações Sustentáveis na Administração Pública Federal, o Manual de Licitações e Contratações Administrativas, o Manual de Obras e Serviços de Engenharia, e os modelos de editais da Comissão Permanente de Atualizações e Modelos da CGU (AGU,2016).

Segundo relatórios do Portal de Compras do Governo Federal - DW-SIASG - Comprasnet, (SLTI/MP, 2015), os gastos com Licitações do Governo Federal entre

2010 e 2014 foram de 318,2 bilhões de reais envolvendo diversos itens de material e serviço.

Baseado no Uso do Poder de Compra, o Governo Federal tornou compulsórias as Licitações Sustentáveis com foco na Etiquetagem de Eficiência Energética de suas edificações na classificação máxima, Nível “A” do Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE-Edifica (Inmetro/Eletrobras/PROCEL Edifica), Instrução Normativa SLTI/MP nº 02 de 2014 da então Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação - SLTI, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MP.

Documentos relacionados