• Nenhum resultado encontrado

4. Análise e Especificação de um Sistema para Colaboração e Gestão de Conteúdos

4.3 Usando a ANT para definir os requisitos sócio-técnicos de um sistema de gestão de

4.3.1 Utilização da ANT para o apoio à especificação de uma rede sócio-técnica

Nesta secção, pretende-se através da utilização da ANT, perceber melhor a relação existente entre as pessoas e a tecnologia (ambas peças constituintes da rede sócio-técnica), e analisar as alterações resultantes da introdução de um sistema de gestão de conteúdos nos processos organizacionais.

A rede sócio-técnica é uma espécie de metáfora que nos permite estudar uma determinada situação organizacional. A ANT é um outro nível de abstracção onde consideramos uma rede de actuantes e os próprios actuantes como redes. O objectivo deste estudo prende-se com a utilização destas ferramentas analíticas para analisar e especificar uma nova situação organizacional, originada pela introdução de um novo SI e uma reorganização do sistema de actividades humanas. De uma forma clara e objectiva, pretende-se perceber o funcionamento

da rede sócio-técnica actual e entender e interpretar as relações existentes entre a tecnologia e as pessoas. O resultado desta análise deve conduzir-nos à identificação de um conjunto de requisitos que permita realizar um estudo sobre o impacto em implementar um CMS na rede actual transformando-a numa nova rede sócio-técnica.

Para a obtenção dos requisitos, recorreu-se a técnicas e ferramentas de engenharia de requisitos, como será referido a seguir.

Os objectivos a que nos propomos para o desenvolvimento do caso de estudo são:

Elaborar um modelo de aspectos colaborativos da organização, cuja análise resulte na identificação de um conjunto de requisitos para implementar num sistema de gestão de conteúdos. Este modelo deve também permitir estudar a dimensão colaborativa da rede sócio- técnica existente, através da análise das relações e interacções entre os actuantes.

Para levar a cabo este trabalho, começou-se por realizar pesquisas e leituras no sentido de perceber os conceitos sobre CMS e CMF, dado que no objectivo global do estudo estava contemplada a implementação de um sistema desta natureza.

Depois de perceber a existência de uma enorme diversidade de ferramentas no mercado, foram analisadas as suas características para poder perceber o que melhor se podia adaptar às necessidades vigentes.

Para a adopção da ferramenta propriamente dita, também foram efectuadas conversas informais e algumas reuniões com elementos da escola, potenciais utilizadores do sistema. Os elementos foram escolhidos de acordo com as competências que desempenham, tentando que o grupo fosse o mais diversificado possível para poderem representar um maior número de actividades desenvolvidas na escola. Através do debate de ideias, resultou a identificação das necessidades e interesses, que conduziram e orientaram na escolha da ferramenta. Esta deveria poder implementar as actividades identificadas pelos vários elementos.

Após análises sobre informações acerca dos CMS e atendendo sempre aos interesses e necessidades dos futuros utilizadores, escolheu-se o CMS – Plone.

Análise e Especificação de um Sistema para Colaboração e Gestão de Conteúdos

O próximo passo, consistiu no estudo da ferramenta, para perceber as suas funcionalidades e o modo como estas se executam. O objectivo desta tarefa era apresentar a ferramenta aos futuros utilizadores e demonstrar algumas das suas funcionalidades através da implementação de algumas das necessidades por eles identificadas.

Nesta etapa foi utilizada a técnica de cenários da engenharia de requisitos, para criar três cenários representativos de situações organizacionais reais. Foi desenvolvido um protótipo constituído pelos três cenários, cuja finalidade era a sua validação por parte do grupo.

Foi então realizado um workshop cujos objectivos eram: apresentar o protótipo, dar a conhecer a ferramenta Plone e por fim proporcionar uma sessão de debate. Pretendia-se que depois de mostrar as ideias base sobre a ferramenta, o debate de ideias salientasse o interesse da ferramenta para esses utilizadores, no sentido de perceber as suas opiniões e o seu feedback relativamente ao protótipo. No resultado do debate, foi obtido um conjunto de informação (sugestões de implementação), que permitiram estruturar alguns requisitos básicos.

Através desse conjunto de informação resultante do workshop, foi realizado um inquérito e distribuído por todos os funcionários da escola, nomeadamente docentes, administrativos e direcção. Só este conjunto de pessoas fez parte do estudo.

Do inquérito pretendia-se definir questões que evidenciassem as relações existentes na escola, nomeadamente perceber as relações formais e fundamentalmente as informais existentes entre todos.

A abordagem ANT surge para estudar a situação organizacional vivida actualmente, e especificar uma nova situação organizacional originada pela introdução de um CMS. O estudo deve conseguir identificar um conjunto de requisitos para o CMS a introduzir na rede sócio- técnica.

Utilizando os conceitos da ANT, definiram-se os actuantes para desenhar a rede sócio-técnica que representa a situação actual. Segundo a literatura da ANT, os actuantes podem ser pessoas, organizações, artefactos tecnológicos, culturas, ideias, regras ou normas e objectos. O conceito de heterogeneidade material, atribuindo aos elementos humanos e não humanos o

mesmo grau de importância no processo social, permitiu interpretar as relações, interacções e comportamentos na rede de actuantes, formando o sistema sócio-técnico. Para o desenho desta rede, definiram-se quatro tipos de relações interessantes de analisar, tendo presente as relações existentes na vida organizacional da escola. As relações estabelecidas foram: Relações de colaboração no trabalho, relações de poder, relações de decisão e relações de amizade.

As redes foram desenhadas de acordo com o tipo de relações identificadas, e posteriormente concebida uma rede global que as abrangeu, constituindo a rede sócio-técnica.

Depois de representada a situação actual, procedeu-se ao desenho da nova rede ANT, e para isso contribuíram as informações provenientes dos inquéritos, do workshop e ainda das conversas informais com os futuros utilizadores.

Atendendo à informação adquirida e aos conceitos da ANT já utilizados para a rede anterior, foram identificados novos actuantes, e interpretadas as relações, interacções e comportamentos, originando a nova rede ANT.

Através da representação da nova situação organizacional, analisaram-se e interpretaram-se as actividades com o intuito de perceber quais as mais valias obtidas com a introdução do novo sistema de informação – Plone.

É evidente que a implementação do novo sistema, ao provocar alterações na rede existente, acarrete alguns riscos. A decisão relativa à implementação da ferramenta, foi tomada atendendo às opiniões e sugestões dos futuros utilizadores, visto que de uma forma geral todos estão de acordo com a utilização do novo sistema e conscientes das mais valias a ele associadas. Esta situação é explicada na literatura da ANT como uma situação onde diferentes actuantes partilham interesses comuns e objectivos comuns, tirando partido da relação mútua, diz-se que se encontram alinhados entre si. Quando um ou mais actuantes entram em desacordo, criam-se conflitos de interesses entre eles podendo desencadear o aparecimento de anti-programas que tentam dificultar, impedir ou provocar o insucesso da execução dos

Análise e Especificação de um Sistema para Colaboração e Gestão de Conteúdos

interesses dos restantes actuantes, podendo colocar em risco a estabilidade da nova rede, segundo a ANT.

Dado estarmos a falar da implementação de uma tecnologia, estamos cientes das dificuldades inerentes a esta situação, especificamente a aversão de um conjunto de futuros utilizadores à nova tecnologia, traduzida pela falta de “à vontade” em lidar com a tecnologia, o tempo dispendido em realizar operações que antes eram efectuadas sem o recurso a essa tecnologia, a sua área de conhecimento, entre outros factores que na literatura são identificados por anti- programas. Para que estes conflitos sejam resolvidos, podem estabelecer-se pontos obrigatórios de passagem, que a ANT define como elementos imutáveis com fortes características de irreversibilidade; neste caso concreto, é definido um ponto obrigatório representado pela identificação de um novo actuante, que “obriga” ao uso da tecnologia que é CMS. Sendo assim, a tecnologia deve por isso conter inscrições, que segundo a ANT corresponde a desenhar artefactos tecnológicos no sentido de desempenharem um determinado papel numa relação social. As inscrições correspondem quer a pontos obrigatórios (já mencionado) quer a processos de irreversibilidade; a introdução do novo sistema de informação introduz características de irreversibilidade, significa isto que, depois da utilização do CMS, criam-se hábitos por parte dos utilizadores na realização dos processos organizacionais transformando-os e por conseguinte tornando-os irreversíveis. O Plone como ferramenta de gestão de conteúdos foi considerado uma inscrição na nova ANT, e como objecto integrado na mesma, passa a fazer parte do processo social com o mesmo nível de importância de todos os restantes actuantes que compõem a rede.

Finalmente, como resultado do estudo foi identificado um conjunto de requisitos para implementar no CMS, prevendo que grande parte deles venham a constituir tarefas para desenvolver em trabalho futuro.