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Diversos medicamentos empregados no tratamento de micoses superficiais encontram-se disponíveis comercialmente; entretanto, é evidente a necessidade de novos agentes antifúngicos, com maior espectro de ação, uma vez que o número de fungos patogênicos e formas atípicas de dermatófitos, aliado à resistência microbiana apresentada por algumas espécies, tem aumentado significativamente. Adicionalmente, o aumento de pacientes imunodeprimidos, as más condições de higiene e alimentação e a variedade de fármacos empregados na quimioterapia e transplantes contribuem para a incidência de infecções (DiDOMENICO, 1999; STEFANAKI et al., 2002).

A aromaterapia, terapia que utiliza óleos voláteis, constitui, por alguns especialistas, um tratamento alternativo para algumas patologias. Esta prática baseia- se nas propriedades medicinais apresentadas por determinadas substâncias presentes nos óleos, os quais são aplicados externamente, através de massagens, compressas ou por inalação (INOUYE, 2003; STEVENSEN, 1998).

Uma das maiores aplicações da aromaterapia é no tratamento de doenças infecciosas. As pesquisas científicas relacionadas ao efeito antimicrobiano apresentado pelos óleos voláteis iniciaram no século 19, no Instituto Pasteur. Em 1887, Chamberland estudou a atividade dos óleos de orégano, canela e cravo frente ao Bacillus anthracis; em 1952 e 1953, Okazaki e Oshima investigaram a atividade antimicrobiana de, aproximadamente, 1000 espécies de plantas e verificaram uma maior atividade para aquelas que apresentavam, em sua composição, óleos voláteis. Além disso, observou-se que os óleos apresentavam maior atividade contra fungos em relação a bactérias, especialmente, as Gram-negativas (INOUYE, 2003). Em 1958, Maruzzela e colaboradores determinaram a atividade antifúngica de 92 óleos voláteis (MARUZZELLA e LIGOURI apud INOUYE, 2003) e, desde então, algumas pesquisas têm sido publicadas.

Diversos óleos voláteis têm apresentado atividade antifúngica em estudos in vitro. Adicionalmente, ensaios pré-clínicos e clínicos são realizados, demonstrando seu potencial na terapia de algumas micoses superficiais (HARRIS, 2002).

A atividade antifúngica de alguns óleos, dentre eles, C. citratus, foi avaliada por KISHORE e colaboradores (1993) na pele de cobaias infectadas com T. rubrum e M. gypseum. Neste estudo, os animais foram tratados com pomadas contendo os óleos, por um período de seis dias ou até completa cura das lesões, duas vezes ao dia. Os resultados obtidos comprovaram a eficácia do óleo de C. citratus no tratamento das lesões produzidas, correlacionando-se com os estudos in vitro.

Outro trabalho, empregando-se cobaias infectadas com C. albicans, foi realizado por SURESH e colaboradores (1997), no qual verificou-se a atividade antimicótica do óleo de Santonila chamaecyparissus em candidíase cutânea.

O óleo de Melaleuca alternifolia tem sido empregado como anti-séptico na Austrália e estudos comprovaram sua eficácia no tratamento tópico de onicomicoses (BUCK et al., 1994). Estudos clínicos em pacientes com Tinea pedis demonstraram sua atividade farmacológica. A eficácia do óleo de M. alternifólia (creme a 10%) foi comparada com tolnaftato (creme a 1%). Pacientes tratados com o óleo apresentaram redução dos sintomas da infecção, semelhante ao tolnaftato (TONG et al., 1992). Adicionalmente, a atividade antifúngica do óleo de M. alternifolia foi avaliada em modelo animal de candidíase vaginal, empregando-se cepas de C. albicans suscetíveis e resistentes ao fluconazol. Os resultados obtidos demonstraram a eficácia da terapia com o óleo (5%), obtendo-se a cura das infecções em três semanas de tratamento (MONDELLO et al., 2003).

______________________________________________________________________ MARUZZELLA, J.C.; LIGOURI, L. The in vitro antifungal activity of essential oils. J. Am. Pharm. Assoc (Easton), v. 47, p. 250-254, 1958 apud INOUYE, S. Laboratory evaluation of gaseous essential oils (Part 1). Int. J. Aromather (Provence), v. 13, n. 2/3, p. 95-107, 2003.

De maneira a demonstrar a importância da utilização de óleos voláteis no tratamento de doenças cutâneas, alguns casos clínicos foram relatados por HARRIS (2002):

• Tratamento de Tinea cruris em um paciente com 44 anos de idade e 15 anos de histórico da doença, o qual apresentava, também, Tinea pedis. Foi administrada uma loção contendo os óleos de C. citratus, Leptospermum petersonii, Origanum majorana, Satureja Montana, e Syzygium aromaticum, além de hidrolatos de Achillea millefolium, Helichrysum italicum e Mentha piperita, estes com ação antiinflamatória. A terapia foi realizada durante quatro semanas, sendo que na terceira semana não se observou sinais de infecção. Adicionalmente, cuidados com a higiene do corpo e das roupas foram importantes para prevenir reinfecções. • Tratamento de caspa, causada por M. furfur, em uma paciente com 51 anos de

idade, empregando dois géis: um composto pelos óleos de Cedrus atlantica, Melaleuca ericifolia, Pogoslemon cablin, Pelargonium graveolens, Rosmarinus officinalis e Santalum album ,e o outro por Cedrus atlantica, Cinnamomum zeylanicum, Commiphora myrrha, Melaleuca ericifolia, Pogoslemon cablin, Pelargonium graveolens, Rosmarinus officinalis, Santalum album e Veliveria zizanioides. A escolha da base gel baseou-se na necessidade de promover a circulação de ar no couro cabeludo e prevenir o contato com o calor e a transpiração, podendo aumentar o crescimento do fungo. Em três semanas de tratamento, observou-se uma redução considerável de crostas e eritema.

• Tratamento de candidíase cutânea (intertrigo) causada por C. albicans, empregando-se uma loção contendo os óleos de Cymbopogon martinii, Melaleuca alternifolia e Lavandula x intermedia, e hidrolatos de Mentha piperita, Oryganum marjorana e Thymus vulgaris. Na segunda semana de tratamento os sintomas relacionados à infecção desapareceram, continuando as aplicações por mais duas semanas, obtendo-se a cura da doença.

A utilização de óleos voláteis no tratamento de micoses superficiais, requer alguns cuidados especiais, de maneira a obter a completa cura da infecção, além de previnir reincidências. As doenças fúngicas estão relacionadas ao habitat e às condições imunológicas do hospedeiro. Assim, a mudança de hábitos alimentares e de higiene é, em alguns casos, requerida, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente (HARRIS, 2002).

O tratamento de algumas patologias, como onicomicoses, é longo, podendo levar até 12 meses para se obter a cura das lesões. Para tal, a adesão do paciente à terapia é fundamental. Sinais e sintomas podem desaparecer antes do término do tratamento; entretanto, a suspensão do medicamento não deve ser realizada até que se complete todo o período estipulado (HARRIS, 2002).

Para micoses superficiais, exceto onicomicoses, recomenda-se a incorporação de óleos voláteis em bases aquosas, proporcionando uma boa penetração na pele. Pomadas e pastas apresentam eficácia limitada, mas são importantes no tratamento de onicomicoses, pois formam uma camada oclusiva, que pode auxiliar na fixação do óleo na unha. Além disso, alguns compostos voláteis, em altas doses, podem causar reações de irritação e sensibilização da pele. Nestes casos, recomenda- se a diminuição da dose aplicada e o aumento da freqüência das aplicações (HARRIS, 2002).

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