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Utilização de indicadores para a avaliação do risco neonatal

A Neonatologia apresenta vários indicadores para avaliar a condição fisiológica dos recém-nascidos. Entre esses, os mais utilizados nas pesquisas tem sido o peso de nascimento e a idade gestacional (Wolf et al., 2002; Holsti, Grunau, Oberlander & Whitfield, 2005; Silva & Nunes, 2005). Entretanto, verifica-se que estes indicadores não são suficientes para a avaliação do risco clínico neonatal, sendo necessária a utilização de escores especiais que possam quantificar a gravidade clínica, principalmente dos recém-nascidos pré-termo.

Embora o peso ao nascer e a idade gestacional sejam bons índices do risco do recém-nascido, a experiência clínica mostra que muitas crianças a termo (com mais de 37 semanas de gestação) e peso acima de 2.500g estão sujeitas a intercorrências e podem sofrer graves seqüelas (Ramos, Corradini & Vaz, 1994). Portanto, torna-se necessária a utilização de escores especiais que avaliem o grau de gravidade da condição neonatal do recém-nascido, como por exemplo, a

existência de seqüelas neurológicas decorrentes de hemorragia intracraniana, a presença de malformação congênita, assim como aspectos fisiológicos relevantes do nível de oxigenação sangüínea, entre outros (Linhares, et al., 2004). Para isso existem indicadores de risco como o Apgar (Apgar, 1953; Baskett, 2000; Finster & Wood, 2005), Clinical Risk Index for Babies (CRIB) (The International Neonatal Network, 1993), o Clinical Risk Index for Babies II (CRIB II) (Parry, Tucker & Tarnow- Mordi, 2003), o Neonatal Medical Index (NMI) (Korner, et al., 2000), o Score for

Neonatal Acute Physiology (SNAP) (Richardson et al., 1993), o Nursery Neurobiologic Risk Score (NBRS) (Brazy et al., 1991), o Problem Oriented Perinatal Risk Assessment System (PROPAS) (Hobel, Youkeles, Forsythe, 1979), entre

outros.

A escala Apgar foi elaborada por Virgínia Apgar em 1953 e avalia o nível de anóxia no período neonatal, fundamentando-se na constatação de alterações na freqüência e ritmos respiratórios, na freqüência cardíaca (bradicardia, especialmente), no tônus muscular (principalmente hipotonia), na cor da pele (palidez, cianose) e nos reflexos (particularmente diminuição). Conforme a intensidade dos sinais citados verifica-se anóxia moderada ou grave. A avaliação é feita no primeiro e quinto minuto após o nascimento e a criança é pontuada de 0 a 10, quanto menor o escore, mais grave o estado da criança (Baskett, 2000; Finster & Wood, 2005). Sendo assim, este é um método rápido, simples, pode ser realizado por qualquer profissional e não tem custo significativo para a instituição. É uma avaliação obrigatória em todas as maternidades do Brasil, fazendo parte da rotina de atendimento do recém-nascido (Caldas, 1994; Vaz, Rodrigues & Ramos, 1994).

O Clinical Risk Index for Babies (CRIB) é outro indicador cujo escore é obtido segundo a soma dos pontos da presença ou ausência de seus componentes e

aplicado nas primeiras 12 horas de vida do bebê. As variáveis que compõem o CRIB são: peso ao nascimento, idade gestacional, malformação congênita, excesso de base (base excess na gasometria) e a oxigenação máxima e mínima (fração de oxigênio inspirada). (The International Neonatal Network, 1993).

O CRIB avalia a gravidade clínica inicial em RN prematuros com base no peso de nascimento, idade gestacional, malformação congênita, excesso de base e fração inspirada de oxigênio. Foi desenvolvido pelo International Neonatal Network no Reino Unido, em 1993, e é específico para os recém-nascidos prematuros com peso de nascimento igual ou inferior a 1.500 gramas ou com idade gestacional menor que 31 semanas. O risco de óbito destes prematuros, por ser muito elevado, torna-os um grupo particular para estudo de avaliação de desempenho das UTI Neonatais. A pontuação varia de 0 a 23 pontos e quanto mais alto, mais grave a condição clínica da criança. Após a obtenção da pontuação é possível classificar o paciente em quatro graus: grau 1 (0-5), grau 2 (6-10), grau 3 (11-15) e grau 4 (>16). Sua aplicação é fundamental para o estudo da morbidade e mortalidade neonatal hospitalar para a comparação dos resultados em uma mesma unidade e entre serviços (Sarquis, Miyaki & Cat, 2002; Brito et al., 2003).

No Brasil, o CRIB tem sido utilizado em diferentes unidades neonatais no momento da admissão para avaliar a gravidade clínica do recém-nascido (Matsuoka, 1998; Costa et al., 1998; Brito et al., 2003; Zardo & Procianoy, 2003).

Estudo realizado por Brito et al. (2003) avaliou a taxa de mortalidade neonatal de 284 recém-nascidos de muito baixo peso de uma UTI Neonatal por meio do CRIB, peso ao nascer e idade gestacional. Os resultados revelaram que os bebês que nasceram com peso < 750g, idade gestacional < 29 semanas e escore CRIB > 10 pontos tiveram maiores taxas de mortalidades. Verificou-se também que o escore

CRIB > 4 pontos obteve melhor poder preditivo de óbito neonatal quando comparado com o peso e a idade gestacional.

Em outro estudo, Zardo e Procianoy (2003) compararam diferentes escores de risco de mortalidade neonatal, incluindo o CRIB, em uma amostra de 494 recém- nascidos em uma UTI Neonatal. Os resultados revelaram que o peso ao nascer demostrou ser o indicador com menor poder para predizer mortalidade neonatal em relação aos escores de risco neonatais estudados.

O Clinical Risk Index for Babies II (CRIB II) foi criado com base nos itens do CRIB original, excluindo o item a respeito da fração inspirada de oxigênio (FiO2) e o

item sobre a presença de malformação congênita e incluindo itens quanto a temperatura do bebê na admissão na UTIN e pontuação diferenciada de acordo com o peso do bebê distribuído quanto ao sexo masculino e feminino. O objetivo é avaliar a severidade do comprometimento clínico neonatal a fim de predizer a taxa de mortalidade neonatal ou anormalidades neurológicas futuras (Parry et al., 2003).

O Neonatal Medical Index (NMI) também é um indicador que classifica o bebê pré-termo quanto o seu risco durante a permanência no hospital, levando em conta todas as diferentes complicações e sintomas apresentados pelo bebê. O escore do NMI baseia-se no peso ao nascer, nas intercorrências clínicas do neonato (apnéia, bradicardia, hiperbilirrubinemia, entre outras) e nas medidas clínicas utilizadas durante a internação (ventilação mecânica, cirurgias, transfusão, etc). O escore varia de 1 a 5 e quanto mais alto mais grave a condição do bebê (Korner, et al., 2000).

Além destes indicadores clínicos, diversos estudos têm utilizado a classificação do peso ao nascimento, tempo total de internação hospitalar e necessidade de utilização de ventilação mecânica como fatores prognósticos para o desenvolvimento motor e cognitivo de bebês pré-termo. De acordo com Russel et al.

(2007) os bebês pré-termo que apresentam maior risco para mortalidade neonatal são aqueles que apresentam complicações, tais como a síndrome do desconforto respiratório (SDR), displasia broncopulmonar, hemorragia intraventricular e enterocolite necrosante. Além disso, o número de dias de utilização da ventilação mecânica tem aumentado à morbidade neonatal destes bebês.