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Parte II – Intervenção pedagógica em Educação Pré-Escolar e 1º CEB: a criação

3. Apresentação e discussão dos resultados

3.2. Utilização do espaço exterior

3.2.2. Utilização no 2.º Semestre

No 2.º semestre, foi solicitado que dinamizássemos as práticas segundo o trabalho por projeto, na PES na EPE II. Com este propósito, questionámos as temáticas que as crianças gostavam de explorar e após a votação, ganhou a temática dos animais.

Iniciámos com uma exploração ao espaço exterior, através da dinamização da história adaptada “Vamos à caça do urso”. Durante os três dias houve um grande envolvimento da maioria das crianças, que participaram na exploração da história no espaço interior e exterior da escola (Figura 19).

Sobretudo as crianças mais velhas questionaram: “Diana, quando é que vamos fazer a caça ao urso?” (GS, M6), “Vamos mesmo para o recreio dos meninos da primária?” (MP, F5), “Podemos brincar à caça ao urso no Parque Infantil?” (LC, M6). No entanto, a insegurança das crianças mais novas persistiu e era visível quando questionaram “O urso é de verdade?” (SC, M3), “Porque vamos lá para fora?” (MC, F3) e ainda o pedido “Hoje não vamos, só amanhã!” (JM, M3), com o receio de encontrar o animal na vez do peluche e ainda pela

partilha do espaço com as crianças do 1.º CEB. Durante a exploração fomos surpreendidas pela alegria e entusiasmo do grupo de crianças, “Gosto tanto de fazer isto!” (MM, F5) que salientaram durante o percurso que “Isto é mesmo fixe!” (SF, M5); sugerindo que “Devíamos brincar ao urso mais vezes!” (ME, F5) e questionaram “Vamos repetir?” (CC, F4). Com esta exploração, constatámos que algumas crianças sentiram uma maior integração e familiarização com o espaço, porém ainda teríamos de delinear estratégias com as crianças que revelaram um nível de bem-estar muito condicionado pela insegurança.

Um segundo momento de exploração no espaço exterior foi proporcionado pelo interesse das crianças em quererem adquirir mais conhecimento sobre o urso. No espaço exterior, sentados numa manta (Figura 20) ouviram uma história adaptada, sobre o urso e o seu dia-a-dia, com auxílio de algumas fotografias.

Durante o relato da história, apercebemo-nos que algumas crianças foram mexendo no solo, nas ervas e outras iam desviando o olhar para uma formiga ou para os passarinhos. Neste dia, fomos obrigados a sair do local, devido à intensidade do vento. Houve uma criança que, durante o percurso para sala, questionou “Depois do vento passar podemos voltar para o recreio dos meninos da primária?” (ME, F5), ao qual a Educadora respondeu “Sim, podemos. Mas têm de se portar bem”. Já na sala, outras crianças disseram “Podíamos estar lá fora, é mais aberto” (TS, M4), “E podíamos ouvir os pássaros! Porque nós só podemos ir sempre para o Parque Infantil e o recreio é muito melhor.” (LC, M6), “Eu queria ir lá para fora e portava-me bem, porque o recreio deles é maior que o nosso” (AC, M4). O interesse pela utilização do exterior começou a surgir com mais regularidade.

Neste dia, também anotámos um diálogo entre duas crianças, junto do canteiro, que mostraram interesse em brincar com os brinquedos de cozinha, fora do Parque Infantil: “Olha podíamos pedir à Educadora, para comprar tachos aqui

para brincarmos no recreio dos meninos da primária!” (MP, F5), “E era mesmo fixe, podíamos brincar com terra e com ervinhas!” (ES, F6), “Vamos buscar à sala um!” (MP, F5), “Oh, a Educadora não deixa, são da sala. Vamos brincar para o escorrega!” (ES, F6).

O interesse das crianças mais velhas pelo espaço exterior era cada vez maior; mas a representação do recreio, perante os diálogos que estabeleciam entre elas, era o espaço permitido, para cada grupo de crianças.

Com intuito de desvincular o rótulo do espaço exterior, nas semanas seguintes, a ida ao espaço exterior ocorreu em períodos de recreio e nas atividades autodirigidas.

No dia 29 de março de 2017, durante o momento em que estávamos com um grupo de crianças no Parque Infantil assistimos a um diálogo: “Vamos brincar aos três porquinhos, mas todos com família.” (LC, M6), “Sim e vamos construir casas!” (ME, F5), “E podemos brincar com ervas, folhas e terra.” (GS, M6), “E água?” (ES, F6), “A água não temos. Vamos brincar!”. Ao longo da brincadeira observámos que apesar de terem distribuído tarefas para cada uma, todas queriam construir as casas e mexer no solo.

O diálogo mencionado anteriormente desencadeou a atividade do dia 19 de abril de 2017. Uma dramatização da história dos três porquinhos numa versão adaptada, com objetivo de as crianças mexerem na lama e iniciarmos a planificação do projeto. Neste dia confecionámos um bolo de lama, para dar a oportunidade de mexer no solo e na água. Apenas duas crianças não queriam mexer na lama porque se podiam sujar. O restante grupo esteve envolvido e não queriam sair da atividade.

Nos dias 23 e 24 de abril de 2017, conversámos sobre a temática da liberdade proporcionando momentos de brincadeiras livres sem materiais e brincadeiras estruturadas pelas adultas com auxílio de alguns materiais (cordas, pinos, bolas, arcos). Observámos que as crianças, quando não tinham materiais propostos pelas adultas, não condicionaram o seu bem-estar e envolvimento; adaptaram-se ao espaço de forma natural, correram, saltaram, conversaram, observaram e procuraram “coisas da natureza: pedras, terra, folhas, ervinhas e paus” (LC, M6) e brincaram de forma tranquila e livre (Figura 21). Algumas crianças, depois de observarem os elementos da natureza, atribuíram-lhes outro significado e brincaram livremente.

No momento em que introduzimos materiais, todas as crianças aderiram às nossas estratégias para as suas brincadeiras, mas acabaram por reestruturar as mesmas, segundo os seus interesses (Figura 22).

Em suma, os momentos de recreio, as atividades dirigidas pelo adulto e as atividades autodirigidas passaram a ser no espaço exterior, com mais regularidade. Momentos que foram repercutidos na segurança e no medo das crianças, nomeadamente as mais novas do grupo.