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CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.5. Utilização de podcasts na educação, com incidência no ensino das Ciências

Um dos aparelhos que faz parte do quotidiano dos nossos jovens é o leitor portátil de música, o vulgarmente chamado MP3, que é mais uma das ferramentas TIC, na qual os jovens estão imersos. Assim, faz todo o sentido aproveitar esta ferramenta para o ensino das ciências, tirando partido da forte adesão dos jovens à mesma (Putmam & Kingsley, 2009).

Em 2004, o VJ (Video Jockey) da MTV, Adam Curry, criou o termo Podcasting que, segundo Moura e Carvalho (2006), consiste na fusão de dois termos: Ipod (um leitor de MP3 da Apple) e Brodcasting (distribuição de áudio e/ou vídeo através da rádio ou da televisão). O termo podcasting está relacionado com a distribuição de áudio através da internet, normalmente, mediante uma subscrição (Siemens & Tittenberger, 2009). Já o podcast é um ficheiro áudio, que pode ser integrado no processo de ensino e aprendizagem para fazer chegar aos alunos informação do âmbito de uma dada disciplina mas apresentada de forma mais personalizada, em função das características e necessidades dos alunos (Bolliger, Supanakorn & Boggs, 2010)

Mais recentemente, e com o aumento da popularidade do vídeo, surgiu uma nova ferramenta para transmitir informação: o vodcast (Moura & Carvalho, 2006). O vodcasting é um método de distribuição de vídeos pela Internet ou por uma rede de computadores que utiliza as ferramentas desenvolvidas para criar e publicar podcasts. Os vodcasts têm sido muito utilizados em áreas tão distintas como a geografia, a biologia, a química e a física (Moura & Carvalho, 2006).

Os ficheiros que constituem os podcasts podem, após a sua produção, ser distribuídos através das Internet, no âmbito da Web 2.0. Neste caso, os podcasts são colocados em plataformas e, a partir delas, toda a comunidade poderá ter acesso aos mesmos (DGIDC, 2008)

As principais características do podcast, como meio de transmissão de informação, segundo Júnior & Coutinho (2007b), são as seguintes:

• Utilizam textos, imagens, áudio, vídeo e hipertexto que são fáceis de atualizar, sem necessidade de grandes conhecimentos informáticos;

• Disponibilizam conteúdos gratuitamente, através da Internet, utilizando uma grande variedade de tipos de plataformas;

• Podem organizar-se por meio de playlists que, por sua vez, podem ser produzidas de forma individual ou coletiva;

• Podem ser acedidos de forma livre ou mediante registo, o qual, mesmo que seja exigido, pode não implicar pagamento;

• Podem ser atualizados por meio de feeds do RSS (Real Simple Syndication).

O Podcasting faz com que os alunos possam, em casa ou em outros locais, aceder à informação que foi abordada nas aulas (Moura & Carvalho, 2006; Putmam & Kingsley, 2009), através das plataformas que os disponibilizam ou utilizando leitores de mp3, ipods ou outros dispositivos similares (Júnior & Coutinho, 2007b). No entanto, os dispositivos portáteis são os mais vantajosos porque, dessa forma, o aluno pode ouvir/visualizar os podcasts/vodcasts em diversas situações do quotidiano, como,

por exemplo, durante a prática de desporto ou a deslocação para a escola (Júnior & Coutinho, 2007b). Mustaro (2010), após explorar a tecnologia que está associada aos podcasts e a sua evolução ao longo da história, verificou que, através da utilização de podcasts, pode conseguir-se uma maior dedicação do aluno ao que está a aprender, uma reflexão mais séria, assim como um maior aprofundamento e desenvolvimento de competências relacionadas com resolução de problemas ou com utilização da linguagem (Mustaro, 2010). Para além disso, os podcasts podem ser utilizados para reforço dos assuntos lecionados, se assumirem a forma de resumos dos assuntos previamente abordados pelo professor (Mustaro, 2010).

Tendo em conta que os podcasts podem ser utilizados em educação com variadíssimos objetivos, tornou-se conveniente criar um sistema de classificação de podcasts. O primeiro sistema de classificação que se conhece data de 2007 e, segundo Carvalho et al (2009), é da autoria de Salmon. Contudo, essa classificação revelou-se bastante complexa, pelo que Carvalho (2009) desenvolveu uma taxonomia mais simples, que classifica os podcasts, com base em seis variáveis, que são:

• Tipo: os podcasts podem ser do tipo: expositivo, apresentando análises, resumos ou sínteses; feedback, apresentando comentários a trabalhos dos alunos; instruções, apresentando indicações e/ou procedimentos para realização de trabalhos ou orientação do estudo; destinados ao público, em geral, ou a pessoas, incluindo alunos, com determinadas caraterísticas.

• Formato: os podcasts podem ter, apenas, formato áudio (podcast) ou apresentar-se em formato vídeo (vodcast);

• Duração: a duração dos podcasts pode ser curta (entre um e cinco minutos), moderada (entre seis e 15 minutos) ou longa (superior a 15 minutos);

• Autor: pode ser o professor, o aluno ou outra entidade; • Estilo: o estilo do podcast pode ser formal ou informal;

• Finalidade: os podcasts podem servir para informar, motivar/sensibilizar ou incentivar o questionamento.

A utilização dos podcasts no ensino e na aprendizagem possui vantagens das quais se destacam as seguintes (Júnior & Coutinho, 2007b):

• Aumentar o interesse pela aprendizagem dos conteúdos, devido à novidade que introduzem; • Facilitar o respeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos;

• Possibilitar a aprendizagem, tanto dentro como fora da escola; • Responsabilizar os alunos pelo processo de aprendizagem;

• Levar os alunos a falar e a ouvir, o que constitui uma atividade de aprendizagem muito mais significativa do que o simples ato de ler.

Outro fator que está a contribuir para o sucesso desta ferramenta é o, também, êxito do iTunes da Apple, que disponibiliza gratuitamente uma grande quantidade de podcasts. De facto, a quantidade de acessos a esta plataforma é tão elevada que a própria Apple possui um serviço no iTunes denominado “iTunes U”, a fim de tornar mais fácil o acesso a podcasts relacionados com o ensino (Dala Ali, Lloyd & Al-Abed, 2011; Moura & Carvalho, 2006).

No que diz respeito à área das ciências, estão já disponíveis muitos podcasts e vodcasts através do iTunes que, conforme foi referido, são produzidos essencialmente por universidades americanas. Em Portugal, à data de escrita desta dissertação existiam, podcasts sobre ciências na página da Ciência Viva TV (http://www.cvtv.pt/podcasts/), na página Ciência Hoje (http://www.cienciahoje.pt/8926), na página Podcasts.com.pt (http://www.podcasts.com.pt/). Além destes, e à data de escrita desta dissertação, existiam um programa da Antena 1 (“A1 Ciência”) que disponibiliza podcasts sobre vários temas de ciências (http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=2143&e_id=&c_id=1&dif=radio).

Existem várias investigações sobre a utilização de podcasts em educação, sendo que algumas delas se centram na educação em ciências. Putman e Kingsley (2009), por exemplo, realizaram uma investigação sobre a utilização de podcasts na área das ciências, mais especificamente sobre o uso de vocabulário científico na área da Química. Esta investigação teve como objetivo estudar se a utilização de podcasts potencia o desenvolvimento de vocabulário científico adquirido nas aulas de ciências, por

um grupo de alunos do 5º ano, quando comparado com o desenvolvimento de vocabulário científico de outro grupo de alunos, do mesmo ano, que apenas tinha acesso ao vocabulário científico nas aulas de Química. Os autores concluíram que: a utilização de podcasts potencia um maior desenvolvimento do vocabulário científico, quando comparado com o alcançado por alunos que apenas tiveram acesso ao vocabulário na sala de aula; os alunos que utilizaram podcasts ficaram mais motivados para aprender vocabulário científico. Putman e Kingsley (2009) constataram, ainda, que esta melhoria ocorria devido ao aproveitamento do leitor de MP3, equipamento com que os nossos jovens estão muito familiarizados. Já Scutter et al (2010) realizaram um estudo, em 2008, em que foi proposto aos professores de medicina que lecionavam a disciplina “Medical Radiation”, a elaboração de podcasts com as leituras das apresentações em Powerpoint que iriam fazer nas aulas. Esses podcasts eram tornados disponíveis aos alunos logo após as respetivas aulas. Os autores concluíram que os alunos ouviam os podcasts, após os professores disponibilizarem os outros materiais da aula, como complemento à leitura das apresentações em Powerpoint. Os alunos que adotaram este procedimento diziam fazê-lo para reviverem as apresentações dos professores, simulando um ambiente semelhante ao da sala de aula.

No caso português, também foram realizados estudos sobre a utilização de podcasts no ensino. Carvalho et al (2009) efetuaram uma investigação sobre o impacto da utilização de podcasts em b- learning, no ensino superior. Nesse estudo foram utilizados 56 podcasts criados por seis docentes para 318 alunos de 13 cursos distintos. Os alunos, na sua grande maioria, afirmaram ouvir os podcasts e consideraram a introdução de podcasts nos seus cursos como uma experiência enriquecedora. Os autores afirmaram, ainda, que o uso de podcasts precisa ser estimulado, pois verificaram que os alunos não tiraram proveito da possibilidade de utilização de equipamentos móveis para ouvir os podcasts.

Carvalho, Moura e Cruz, em 2008, realizaram uma investigação, que incluiu quatro estudos, envolvendo alunos dos 9º e 11º anos de escolaridade, bem como alunos de licenciatura e de mestrado. Pretendiam avaliar a reação dos alunos aos podcasts e, também, averiguar se os alunos preferem, ou não, os podcasts em detrimento da informação escrita. Para os alunos do 9º ano de escolaridade foram produzidos e publicados podcasts no âmbito da disciplina de História, mais especificamente sobre a temática “1ª guerra mundial”. Já no caso dos alunos de 11º ano de escolaridade, foram produzidos podcasts no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa, pretendia-se estudar as implicações pedagógicas da utilização dos podcasts. Os podcasts para os alunos de licenciatura foram utilizados como manuais de instruções de diversas ferramentas, de que é exemplo a plataforma blackboard. Por último, os alunos de mestrado receberam o feedback relativo aos seus trabalhos ou as orientações para

realização de determinadas tarefas, através de podcasts. No final destes quatro estudos verificou-se que os podcasts são uma ferramenta muito útil e que pode ser utilizada em diversos níveis de ensino. Para além disso, a maioria dos alunos afirmou que gostou de ouvir os podcasts, embora alguns gostassem mais de poder ter tido acesso à informação escrita. É de referir que apenas no grupo dos alunos do 11º ano de escolaridade alguns elementos utilizaram leitores de MP3 para ouvir os podcasts.

A análise dos estudos anteriormente sintetizados apesar de centrados na análise da motivação e das reações dos alunos, sugere que os podcasts podem contribuir, positivamente, para a aprendizagem, embora alguns alunos continuem a preferir os materiais em formato escrito. Carvalho, Moura e Cruz (2008) referem que o limite da utilização dos podcasts, e portanto, a sua eficácia, depende muito da imaginação de quem os produz e do modo como os usa. O desafio é conseguir que eles cativem os alunos e sejam capazes de promover a aprendizagem.

Assim, e no caso das ciências, os podcasts poderão, também, dar uma contribuição, não só para a motivação dos alunos perante as aulas de ciências, mas também para o incremento das aprendizagens realizadas nas aulas. É este aspeto, pouco trabalhado ainda, que considerámos especialmente relevante estudar.

CAPÍTULO III