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3.3 Os organizadores gráficos segundo a teoria do Construtivismo Humano

3.3.2 Vê de Gowin

O Vê de Gowin é conhecido também como Vê epistemológico de Gowin ou

simplesmente como diagrama em Vê. Segundo Trowbridge e Wandersee (2000, p. 113), “este

gráfico permite visualizar atividades científicas reais à medida que vai dos fenômenos à SISTEMA FÍSICO PROPRIEDADES INTENSIVAS EXTENSIVAS DENSIDADE TEMPERATURA MASSA VOLUME ENERGIA CONSERVAÇÃO TRANSPORTE TRANSFORMAÇÃO DEGRADAÇÃO ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A ENERGIA

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recolha de dados, à transformação destes, aos juízos cognitivos e aos juízos de valor, enquanto

um projeto de investigação está a ser planeado ou completado”.

Segundo Gowin (1981) apud Moreira (2006, p. 97),

O processo de pesquisa pode ser visto como uma estrutura de significados. Os elementos dessa estrutura são eventos, fatos e conceitos. O que a pesquisa faz através de suas ações é estabelecer conexões específicas entre um dado evento, os registros feitos desse evento, os julgamentos fatuais derivados desses registros, os conceitos que focalizam regularidades nos eventos e os sistemas conceituais utilizados para interpretar esses julgamentos a fim de se chegar à explanação do evento. Criar essa estrutura de significados em uma certa investigação é ter feito uma pesquisa coerente.

Para Gowin, uma pesquisa envolve questões-foco, que pedem respostas. Tais questões surgem através da observação de eventos ou de objetos. O estudo desses eventos ou objetos deve levar à resposta às questões-foco, através de fundamentação teórico-conceitual (referente ao domínio conceitual) e metodológica (referente ao domínio metodológico, relacionado aos julgamentos fatuais).

Para ilustrar de forma objetiva as relações entre esses domínios, o autor propõe a construção de um diagrama em que, no centro, encontrem-se as questões-foco (no topo) e os eventos ou objetos (na base). Ao lado esquerdo, propõe-se relacionar os aspectos ligados ao domínio teórico-conceitual, tais como: visão de mundo, representando a convicção geral motivadora da pesquisa; filosofia, representando as convicções sobre a natureza do conhecimento que guiam a pesquisa; teoria, representando os princípios gerais que irão orientar o inquérito e que explicam como os objetos ou os acontecimentos são observados;

princípios, representando as afirmações que relacionam os conceitos e preveem como os

acontecimentos poderão ocorrer ou como os objetos poderão se comportar; constructos, representando ideias que relacionam especificamente os conceitos; conceitos, representando regularidades apreendidas em acontecimentos ou objetos, designadas por uma palavra-chave (NOVAK, 2000). A construção espacial desse organizador gráfico encontra-se exemplificada na Figura 4.

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Figura 4 – Estrutura do Vê de Gowin.

Fonte: Novak (2000, p. 81).

Para Gowin,

Toda pesquisa é influenciada pelas concepções dos pesquisadores, pelas “viseiras conceituais” pelas quais eles veem seu trabalho. Suas filosofias, teorias e perspectivas os levam a formular certas perguntas, a planejar certos eventos que eles pensam que fornecerão respostas e a interpretar os dados de certa maneira. Logo, o lado esquerdo do Vê contém importantes, e às vezes negligenciados, componentes da pesquisa. O Vê desafia os pesquisadores a serem mais explícitos e cônscios sobre o papel que suas visões de mundo desempenham em suas pesquisas, forçando-os a realmente pensar sobre suas filosofias, teorias, princípios e conceitos que estão guiando sua investigação (GOWIN, 1994 apud MOREIRA, 2006, p. 129).

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Com isso, fica explícito o fato de que a construção do conhecimento científico envolve aspectos subjetivos, evidenciados na pessoa do pesquisador. Portanto, a fim de validar e de embasar o resultado de sua pesquisa, ele tem de deixar explícitas suas influências teóricas e conceituais.

Do lado direito do diagrama, devem-se encontrar aspectos ligados ao método empregado no inquérito, envolvendo: registros, representando as observações feitas e registradas a partir dos eventos ou dos objetos estudados; transformações, representando as formas como foram organizados os registros, tais como tabelas, gráficos e mapas conceituais;

asserções cognitivas, representando as declarações que respondem às questões-foco e que são

interpretações razoáveis dos registros e das transformações; asserções de valor, representando declarações baseadas nas asserções cognitivas declarando o valor ou a importância da pesquisa. (NOVAK, 2000)

Gowin ressalta ainda que

Muitos pesquisadores concentram-se nas asserções de conhecimento (ou seja, naquilo que os resultados significam, no conhecimento produzido) sem dar atenção às asserções de valor (isto é, o valor do estudo feito) que deveriam ter sido feitas sobre, ou que deveriam ter sido levadas em conta antes de, sua pesquisa. A inclusão dessa categoria no lado direito do Vê reflete a visão de seu criador sobre o conhecimento – trata-se de uma construção humana – e no processo de construí-lo por meio da pesquisa não há como deixar de perguntar: “Para que serve?” e “A quem importa?” Alguns pesquisadores pretendem evitar tais questões dizendo que estão fazendo pesquisa objetiva básica e que tais indagações não se aplicam. Mas o Vê sugere que respostas a essas perguntas devem ser uma parte importante de qualquer pesquisa (GOWIN 1994 apud MOREIRA, 2006, p. 130).

Novak (2000) ressalta ainda que, para melhorar os processos educativos, é preciso, além de aprender a forma como o ser humano aprende, conhecer como o ser humano cria os conhecimentos. Nesse contexto, o diagrama em Vê, segundo Novak (2000) e Moreira

(2006), auxilia no processo de “desempacotar” o conhecimento, como ferramenta em nos

contextos de análise de currículo, de avaliação de aprendizagem e de ensino-aprendizagem. Para Gowin (1981 apud MOREIRA 2006, p. 100), currículo é “um conjunto logicamente conectado de asserções de conhecimento e de valor analisadas conceitual e

pedagogicamente”. Tais asserções podem ser encontradas em fontes primárias de

conhecimento, nas quais são documentadas, como, por exemplo, “artigos de pesquisa,

ensaios, capítulos de livros, experimentos de laboratório, poesias e romances” (idem, p. 101).

Visando à adequação ao processo educacional no contexto da escola, para Gowin, esses materiais precisam ser analisados conceitualmente. Para tal, propõe que o diagrama em Vê

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seja utilizado. Gowin (1994 apud MOREIRA 2006, p. 132) mostra uma estratégia para que se ensine a utilizar diagramas em Vê, presente no ANEXO B.