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O vírus Influenza faz parte da família Orthomyxoviridae e está dividido em 3 diferentes gêneros: Influenzavirus A; Influenzavirus B e Influenzavirus C, porém são relevantes para a saúde humana apenas os gêneros A e B, devido ao fato de sofrerem maior variação antigênica e serem responsáveis pela maioria das epidemias (Wright et al., 2007; Girard et al., 2005).

O vírus Influenza é esférico ou ligeiramente alongado, com 100 nm de diâmetro, sendo composto por 0,8 a 1% de RNA fita simples; 70% de proteínas; 20% de lipídeos e 5% a 8% de carboidratos. Seu genoma viral é recoberto por um capsídeo e por um envelope lipídico derivado de uma parte da célula hospedeira. Na superfície do vírus estão presentes 2 glicoproteínas que desempenham importante papel na sua antigenicidade e patogenia: Hemaglutinina (HA) e Neuraminidase (NA), sendo responsáveis pela adsorção e fusão do vírus à célula hospedeira e clivagem com a membrana citoplasmática da célula (Couceiro, 2002; Palese et al., 2007).

A patogênese da infecção pelos vírus Influenza se inicia com a colonização e replicação do vírus no trato respiratório, onde as partículas virais sofrem adsorção às células hospedeiras. Após a adsorção, ocorre a endocitose, com posterior fusão do

envelope viral com a membrana do endossomo. No citoplasma da célula infectada, o material genético do vírus é liberado do nucleocapsídeo, onde, chegando ao núcleo da célula, ocorre a transcrição e replicação do genoma viral. Por fim, ocorre a síntese das proteínas virais, a montagem e a liberação dos novos vírus, por meio de brotamento, resultando na lise das células hospedeiras (Couceiro, 2002).

Após os macrófagos e células dendríticas realizarem a fagocitose das células infectadas, a resposta imune contra o vírus Influenza atua por meio da ativação de linfócitos T CD4+, que se diferenciam para o perfil Th1 e passam a produzir IFN-γ e IL- 2, mas a principal atuação é decorrente dos linfócitos T CD8+, que após serem ativados adquirem um perfil citotóxico e passam a liberar granzimas e perforinas, que agem levando a célula infectada à apoptose. Além disso, também ocorre a ativação dos linfócitos B que passam a produzir anticorpos neutralizantes para as proteínas HA e NA, inibindo assim, a entrada do vírus nas células hospedeiras, além de auxiliar o processo de fagocitose e de citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC) promovida pelas células natural killer (NK) (Kreijtz et al., 2011).

Do ponto de vista da Saúde Pública, devido a sua elevada transmissibilidade, distribuição geográfica global, gravidade das manifestações clínicas e do potencial pandêmico, os vírus Influenza podem ser classificados em sazonal, pandêmico ou com potencial pandêmico (Brasil, 2009b).

Segundo a OMS (2011), as gripes sazonais são responsáveis por 250.000 a 500.000 mortes anualmente, sendo que as crianças e idosos são os grupos mais susceptíveis, porém pacientes com imunodeficiências e portadores de doenças cardiopulmonares também representam grupos de risco para maior gravidade da infecção (Foster et al., 1992; Gorse et al., 1997; Succi et al., 2006; Brasil, 2009b; OMS, 2009).

Os vírus pandêmicos ou com potencial pandêmico se espalham globalmente e apresentam elevada taxa de indivíduos infectados e de mortalidade. Os vírus dos grupos A e B estão associados às pandemias, devido à capacidade aumentada deles sofrerem contínuas mutações, resultando no surgimento de novas cepas e na susceptibilidade das populações frente aos novos subtipos virais (Malik et al., 2009).

A ocorrência das epidemias pelos vírus Influenza na população humana é o resultado de variações antigênicas que ocorrem principalmente nas glicoproteínas HA3 e NA4,

3 HA: Hemaglutinina 4 NA: Neuraminidase

permitindo ao vírus escapar da neutralização de anticorpos e assim, tornando a população susceptível apesar das infecções anteriores. Estas variações antigênicas podem ocorrer de duas maneiras. A primeira delas é chamada de mutação antigênica menor (antigenic drift), onde ocorrem mutações pontuais nos genes que codificam as moléculas HA e NA, resultando no surgimento de novas cepas virais, contra as quais o sistema imune apresenta pouca ou nenhuma proteção prévia. O segundo tipo de variação que pode ocorrer é denominado mutação antigênica maior (antigenic shift), processo no qual duas ou mais cepas diferentes do vírus, que podem ser oriundas de vírus que infectam apenas o ser humano, como também de outros seres vivos, como por exemplo aves e suínos, se rearranjam e formam um novo subtipo que apresenta na sua superfície moléculas HA e/ou NA completamente novas, oriundas das cepas originais (Girard et al., 2005). A figura 3 descreve os processos de variação antigênica menor e maior que ocorrem nos vírus Influenza.

Figura 3: Diferenciação Entre Variação Antigênica Menor e Maior que Ocorre nos Vírus Influenza.

Fonte: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/8021799.stm.

Os vírus Influenza são responsáveis por inúmeras epidemias que ocorrem anualmente, entretanto podem ocasionar pandemias globais podendo infectar de 20% a 40% da população em um único ano. Geralmente, elas ocorrem nos meses de inverno em países de clima temperado e no sul e sudeste do Brasil, porém em locais de clima tropical, podem ocorrer em qualquer época do ano e muitas vezes, mais de uma vez ao ano, podendo estar associadas às estações chuvosas (Murphy et al., 1996; Cox et al., 1999;Arruda et al., 1999; Taubenberger et al., 2001).

Durante o século passado ocorreram três importantes pandemias: Gripe Espanhola, primeira forma do vírus H1N1 que surgiu em humanos, em 1918; Gripe asiática, causada pelo vírus H2N2, entre os anos de 1957 a 1960 e a de Hong Kong (H3N2) entre 1968 a 1972 (Cugini et al., 2010).

Em junho de 2009, a primeira pandemia de Influenza do século 21 foi relatada, onde foi identificado um novo vírus H1N1, oriundo da recombinação gênica das cepas virais humanas, cepas de suíno norte americano e eurasiano e cepas da gripe aviária norte americana e foi responsável por 284.000 mortes (CDC, 2010).