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Considerou-se importante conhecer as experiências anteriores dos coordenadores envolvendo processos de avaliação externa de cursos realizados pelo MEC. Dez coordenadores relataram que não possuíam qualquer contato anterior com processos de avaliação externa e declararam ainda desconhecer a discussão realizada em torno da temática. Dois participantes esclareceram que sua primeira experiência com os processos de avaliação aconteceu com a realização do ENADE, sendo que buscaram atender às demandas solicitadas para organização do processo. Além disso, estavam aguardando para 2007 a avaliação do curso com visita da comissão externa, mas esta foi sofrendo várias prorrogações havendo previsão para ocorrer em 2009.

Destacam-se cinco coordenadores que participaram da visita de comissões de avaliação durante a realização do PROVÃO e uma participante que presidiu a comissão de avaliação em época de realização do PAIUB. Ao se analisar a experiência dos participantes com os processos de avaliação observa-se a presença de uma característica comum em todas as práticas: de uma maneira geral se restringiu a cumprir prazos e procedimentos solicitados para organização dos processos avaliativos.

Observa-se na fala dos coordenadores a compreensão da avaliação com um viés burocrático, tendo a sua função direcionada para o preenchimento de documentos. Sobre o aspecto anterior é oportuno mencionar ainda que, essa situação é verificada quando os coordenadores referem-se tanto à experiência com PAIUB, bem como o PROVÃO. O depoimento do coordenador C exemplifica essa característica ressaltada anteriormente,

Sim, fui de uma comissão que o Colegiado havia montado à época do PROVÃO, o Exame Nacional de Cursos, então eu ajudei a preparar a documentação do curso, a organizar todo o material pra coordenadora da época. Foi dessa comissão, que era uma espécie de comissão interna pra avaliação do PROVÃO (Coordenador C, 2007).

Ao se analisar o depoimento dos coordenadores verifica-se a ausência de um conhecimento mais aprofundado sobre os programas de avaliação da educação superior desenvolvidos pelo MEC e das tendências e/ou concepção que caracterizaram as mesmas. Há uma vinculação da avaliação com os procedimentos necessários para a organização do processo, reduzindo-a as questões operacionais. Conforme afirma Dias Sobrinho (2002), a avaliação deve ser entendida como um processo pedagógico, de transformação e melhoria da instituição e das próprias pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia.

Ao se ampliar essa prática para o interior dos colegiados, abordando os meios com que estes se organizam para tratar do assunto verifica-se que na rotina diária das instituições não ocorre um debate em torno do tema. Vigora uma preocupação constante com os procedimentos do ponto de vista operacional, mas não se realiza uma discussão mais aprofundada sobre o porquê e o como fazer. Essas questões não estão presentes nos colegiados, justificadas pelos participantes pelo fato de que a rotina diária vivida internamente no âmbito do colegiado não possibilita muito os momentos de discussão. A coordenação fica centrada na figura de uma única pessoa que precisa dar conta das demandas diárias de organização dos cursos e isso toma um grande tempo, conforme afirma o coordenador E,

Oh, eu acho que o colegiado deveria ter uma política mais formal para considerar a avaliação. O que acaba ocorrendo no dia-a-dia é quase que a coordenação centrada no coordenador, que acaba tendo que atender às solicitações dentro do possível. A gente tem que dar a mão à palmatória: não temos nenhum tipo de política instituída para trabalhar com a avaliação (Coordenador E, 2007).

O excesso de demanda diária nos colegiados foi apontado por todos os coordenadores como um dos fatores que impedem a realização de momentos de discussão e reflexões em torno de vários temas, incluindo a avaliação da educação superior e em específico o desempenho obtido pelos cursos de graduação no ENADE. Não há muito tempo para pensar em determinados assuntos, pois nem bem

termina uma demanda surge uma nova, com mais exigências e complicações que o processo anterior. O coordenador C, salienta que,

Do ponto de vista do colegiado havia muito interesse em usar os dados, em trabalhar melhor o material divulgado pelo ENADE, mas efetivamente na rotina do colegiado, nas tarefas que tem que ser encaminhadas aqui é impossível, vamos dizer assim. Há uma sobrecarga de trabalho administrativo no colegiado, não só para os técnicos, para os professores também, o que torna impossível você, por exemplo, ir muito além de parar e planejar a oferta do semestre seguinte, cobrar dos diferentes departamentos quais serão as disciplinas ofertadas, fazer a gestão cotidiana, isso tudo aqui é trabalho que tem que ser feito: avaliar pedido dos alunos de aproveitamentos de estudos, avaliar os pedidos dos alunos para integralização curricular de atividades acadêmicas que não são de salas de aula. (...) Necessário seria, importante seria, mas é difícil do ponto de vista dessa rotina, além disso, a própria estrutura da universidade não favorece esse tipo de coisa (Coordenador C, 2007).

Diante dos aspectos mencionados pelos coordenadores verifica-se que as experiências dos coordenadores dos cursos com processos de avaliação estão diretamente relacionadas com a organização do processo. Apesar de considerarem a avaliação um importante instrumento para a melhoria da qualidade da educação, não há momentos dedicados à realização de discussão do tema. Conforme salientam Ribeiro & Chaves (2008) para que a avaliação alcance seus objetivos, torna-se necessário à adoção de uma postura crítica e comprometida dos sujeitos, no sentido de encaminhar a instituição para alcançar os objetivos compactuados por todos que compõem a organização acadêmica.

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