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Validação da Versão Portuguesa do CANFOR-R 11111

No documento ANTÓNIO MIGUEL COTRIM TALINA (páginas 135-139)

PARTE II CONTRIBUIÇÃO PESSOAL 85

CAPÍTULO 2 MATERIAIS E MÉTODOS 97

2.3. Validação da Versão Portuguesa do CANFOR-R 11111

A versão empregue no presente estudo foi desenvolvida e validada pela equipa de investigação do projecto “Avaliação de necessidades de cuidados em reclusos com perturbação psiquiátrica”, Investigador Principal Prof. Doutor Miguel Xavier, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (PIC/IC/83257/2007).

O manuscrito deste trabalho foi aceite para publicação na BioMedCentral Psychiatry (publicação electrónica com peer-review e Factor de Impacto: 2.55) em 9 de Abril de 2013 (Anexo 4) e pode ser consultado no final da Dissertação (Apêndice 1).

A síntese dos procedimentos e dos resultados desse trabalho são apresentados a seguir.

2.3.1. Desenho do Estudo

No estudo de validação da versão Portuguesa do CANFOR foi seguido um desenho de tipo observacional, prospectivo (teste e re-teste), descritivo e analítico, de acordo com a metodologia recomendada (Streiner & Norman (2008); Moreira (2004)) e semelhante à metodologia de validação do instrumento original (Thomas, et al., 2008).

2.3.2. Tradução e retroversão do instrumento

A tradução da versão original em Língua Inglesa (CANFOR-Research version) para a Língua Portuguesa foi realizada pelo autor e discutida num grupo-foco. Este grupo foi constituído pela equipa de investigação e profissionais do Serviço de Psiquiatria do Hospital Prisional de S. João de Deus (SP-HPSJD). Os profissionais envolvidos foram cinco psiquiatras, duas enfermeiras, um psicólogo e uma técnica de Serviço Social. O grupo-foco produziu uma versão adaptada ao contexto prisional e cultural português. Esta versão preliminar foi aplicada num teste-piloto com dez reclusos internados no SP-HPSJD o que originou algumas modificações de modo a facilitar a compreensão do questionário. Subsequentemente foi realizada a retroversão para Inglês com a colaboração de um estudante universitário bilingue. A versão retrovertida foi submetida a análise pelo primeiro autor do instrumento original (Stuart Thomas), Após a sua aprovação, foi fixada a versão definitiva do CANFOR-R, Versão Portuguesa (CANFOR-VP), e iniciado o estudo de validação.

2.3.3. Participantes

Para a aplicação do instrumento pretendeu-se recrutar indivíduos assistidos em serviços de psiquiatria forense diversificados. Foram seleccionados, por conveniência, quatro Serviços, nos Concelhos de Lisboa e Oeiras: 8ª Enfermaria (Enfermaria de Inimputáveis) no

Hospital Miguel Bombarda (HMB), Serviço de Psiquiatria do Hospital Prisional de S. João de Deus (SP-HPSJD), Consulta de Psiquiatria nos Estabelecimentos Prisionais de Caxias (EP Caxias) e de Tires (EP Tires).

2.3.4. População amostral

A selecção dos participantes foi de tipo incidental, não-probabilística (sem aleatorização), efectuada através do recrutamento sucessivo da totalidade dos indivíduos assistidos nos Serviços seleccionados, e no período de tempo compreendido entre Abril de 2009 e Abril de 2010 (12 meses).

Os indivíduos que obedeceram aos critérios de inclusão e exclusão foram incluídos no estudo e designados como participantes.

Foram incluídos 143 reclusos/utentes e respectivo técnico de referência. Foi considerado técnico de referência o elemento da equipa que possuía maior conhecimento sobre o estado do participante (geralmente Enfermeiros, Técnicos de Reeducação ou de Serviço Social).

A origem dos participantes foi a seguinte: 68 do internamento do Serviço de Psiquiatria do HPSJD, 24 do EP Caxias, 22 do EP Tires e 29 da Enfermaria de Inimputáveis do HMB.

Trinta e sete sujeitos (20,6%) não foram incluídos no estudo (35 provenientes do internamento do HPSJD e 2 da Enfermaria de Inimputáveis, HMB) devido a recusa, alta do serviço ou por dificuldades cognitivas.

2.3.5. Fiabilidade Inter-avaliador e Teste-reteste

O estudo de fiabilidade inter-avaliador foi realizado através da pontuação simultânea por dois entrevistadores: um entrevistador conduzia a entrevista e efectuava as pontuações, enquanto o segundo entrevistador presente efectuava a sua pontuação de forma independente, permanecendo em silêncio e não intervindo na entrevista. Os entrevistadores alternavam estes papéis na entrevista seguinte. Foram entrevistados, segundo este procedimento 96 utentes.

Para a avaliação da fiabilidade teste-reteste foi realizada uma segunda pontuação com o instrumento após um intervalo que variou entre 7 a 14 dias após a primeira pontuação. A segunda pontuação foi efectuada pelo mesmo entrevistador que tinha conduzido a primeira entrevista. As entrevistas, na sua totalidade, foram realizadas pelos mesmos dois entrevistadores.

2.3.6. Validade Convergente

A validade convergente do CANFOR-VP foi estudada com a aplicação de dois instrumentos: a Avaliação Global de Funcionamento - Escala de Incapacidade (GAF-Disability Scale) (Endicott et al.,1976), à semelhança dos estudos de validação anteriores (Thomas et al.,

2000; Romeva et al., 2010), e o BPRS (Ventura et al., 1993). A opção pelo BPRS neste estudo de validação deveu-se a duas ordens de razões. Em primeiro lugar o BPRS poderia lançar luz sobre a forma como o nível global de psicopatologia, ou de áreas específicas (somatoforme, afectiva, psicótica, etc.), poderiam influenciar a percepção de necessidades do paciente. Em segundo lugar, vários domínios do CANFOR incidem directamente na emergência de problemas criados por alterações mentais (e.g. 7. Sintomas Psicóticos, 9. Sofrimento Psicológico, 10. Segurança para o Próprio) pelo que seria especialmente pertinente avaliar a convergência entre as escalas psicopatológicas e estes domínios de necessidade.

2.3.7. Procedimentos Estatísticos

A estatística descritiva das variáveis sociodemográficas, clínicas e forenses incluiu as frequências e medidas de tendência central e dispersão.

Na análise da fiabilidade inter-avaliador e de teste-reteste foi empregue o Coeficiente Kappa (Cohen, 1960), que se justifica tendo em conta a natureza nominal das variáveis em estudo. De acordo com Landis e Koch (1977), o Coeficiente Kappa com um valor entre 0,4 e 0,6 indica um nível de concordância moderado. Um valor entre 0,6 e 0,8 indica uma concordância elevada, e um valor entre 0,8 e 1 indica uma concordância praticamente total.

No estudo de validade convergente entre as pontuações totais do CANFOR, do GAF e do BPRS foram empregues testes não-paramétricos (Correlação de Spearman, Testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney), devido a que os valores das variáveis não assumiram uma distribuição Normal.

Os dados foram analisados através do software estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows, version 17.0.0.

2.3.8. Aspectos Éticos

O projecto de investigação foi submetido e aprovado pelo Conselho Científico da Faculdade de Ciências Médicas e pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, Ministério da Justiça.

Todos os participantes incluídos no estudo subscreveram o documento de Consentimento Informado (Anexo 2).

2.3.9. Variáveis em estudo

Pontuações de Necessidade de Cuidados Satisfeita (NCS), de Necessidade de Cuidados Não-satisfeitas (NCNS), de Necessidade de Cuidados Total (NCT), de Ajuda Informal Recebida, Ajuda Formal Recebida, de Ajuda Formal Recebida e Satisfação do Utente.

A pontuação de Necessidade da Secção 1. em cada domínio foi operacionalizada de forma dicotómica (NCNS/ Outra pontuação (OP)) de forma a permitir o cálculo de odds-ratio.

2.3.10.

Comentário

No estudo de validação as fiabilidades interavaliador e teste-reteste foram calculadas através do Coeficiente Kappa29, utilizando a pontuação dos utentes. A fiabilidade interavaliador foi de 0,913 para as Necessidades, sejam Satisfeitas ou Não-satisfeitas e de 0,835 para as Necessidades Não-satisfeitas. A fiabilidade teste-reteste foi de 0,555 para as Necessidades, sejam Satisfeitas ou Não-satisfeitas e de 0,482 para as Necessidades Não-satisfeitas. A menor concordância na fiabilidade teste-reteste, em relação à fiabilidade interavaliador, foi igualmente constatada no estudo de validação original e na validação da versão Castelhana (Thomas et al., 2008; Romeva et al., 2010).

A validade convergente desta versão foi testada com o GAF e BPRS. Observaram-se correlações negativas (Spearman) significativas entre a pontuação do GAF e as pontuações totais de Necessidades Não-satisfeitas, Necessidades Totais, e de Ajuda Formal Necessária obtidas nas entrevistas aos utentes e técnicos. Estes resultados revelam que o aumento da incapacidade psicossocial está significativamente associado ao aumento de Necessidades e de Ajuda técnica.

A respeito da convergência entre o BPRS e as pontuações totais do CANFOR observou-se uma correlação positiva significativa entre a pontuação total do BPRS e as Necessidades Não-satisfeitas, Necessidades Totais, obtidas a partir dos utentes, e com as Necessidades Não-satisfeitas, Necessidades Totais, Ajuda Formal Fornecida e Ajuda Formal Necessária, obtidas a partir dos técnicos. Estes dados mostram uma relação directa, estatisticamente significativa, entre o aumento da psicopatologia global e o aumento das Necessidades e as Ajudas técnicas oferecidas e necessárias.

O tempo de administração do CANFOR-VP variou entre 20 a 40 minutos.

29 O Coeficiente Kappa é equivalente ao Coeficiente de Correlação Intra-classe na tabela 2x2 (Landis & Koch, 1977).

No documento ANTÓNIO MIGUEL COTRIM TALINA (páginas 135-139)

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