5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
5.4 VALIDAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Hair Jr. et al. (2010) conceituam a triangulação como uma técnica associada ao fator de credibilidade no contexto da pesquisa qualitativa e útil para a validação de dados ou de resultados (achados de pesquisa). Os autores ainda indicam que a busca de feedback, advindo de experts externos fortalece a credibilidade dos resultados obtidos.
Para Flick (2004), a palavra triangulação é utilizada para apontar a combinação de diferentes métodos e perspectivas teóricas distintas no tratamento de um fenômeno como uma forma de validação dos resultados obtidos com métodos individuais. Atualmente, o foco tem sido reconsiderado a fim de enriquecer e complementar o conhecimento obtido através de métodos qualitativos. A triangulação representa mais uma alternativa para a validação da consistência nas condutas de método e se caracteriza, também, como uma alternativa para a validação de resultados e procedimentos empregados.
A triangulação torna-se relevante quando o pesquisador consegue obter mais de uma visão sobre o foco do estudo, dando origem a resultados com maior nível de precisão (GIBBS, 2009). Bertuol (2011) indica a aplicação da técnica de triangulação nas investigações, sob o contexto do Comportamento do Consumidor, como alternativa para assegurar maior assertividade nas interpretações dos dados obtidos em uma pesquisa de cunho qualitativo.
Especialmente para este estudo, foi aplicada a técnica de triangulação, implementada por meio de uma entrevista individual em profundidade realizada junto à obstetra com mais tempo de trabalho (experiência) no CO do HG, estando na Instituição há oito anos. Vale destacar que tal entrevista foi realizada em 07 de março de 2012 e teve uma duração de duas horas. Ressalta-se que foram constatados diversos pontos congruentes aos resultados da pesquisa, com base na análise e interpretação dos dados coletados, no que diz respeito aos serviços prestados pela área junto às parturientes, bem como da identificação das emoções e da ambivalência emocional vivenciadas durante o parto, o que fica comprovado a partir da leitura dos excertos da entrevista apresentados na Figura 18:
Questionamentos Realizados Respostas da Profissional Entrevistada
Das parturientes atendidas no CO, fica evidente a ambivalência emocional durante o parto?
Das emoções positivas e negativas, quais são as mais observadas?
As experiências anteriores podem influenciar os futuros partos?
Como as emoções positivas são percebidas durante o parto?
“Eu acho que desde a entrada, desde a admissão delas, sim, sempre”.
“Eu acho que das negativas é a insegurança pelo que vai acontecer... talvez os medos são reforçados pelo que elas já ouvem de fora do hospital”.
“Sim, com certeza, até porque a gente nunca sabe se a paciente passou pelo mesmo serviço, ela pode vir de outros serviços e aí a gente não tem como saber qual foi a conduta... as vezes até uma palavra mal dita de alguém, influencia a pessoa... a gente tenta verificar o que teve de bom, se foi rápido, se não teve cirurgia, incisão de útero, a gente tenta levar o lado positivo, tenta priorizar isso para desmitificar um pouco daquilo que elas trazem, mas não é fácil”.
“As positivas a gente percebe mais, principalmente, quando elas não estão sozinhas, quando tem outras pacientes que estão em trabalho de parto ao mesmo tempo, elas se ajudam, reforçando que toda a dor logo vai passar, que é assim mesmo [...]”
O que falta no CO, em termos de infraestrutura, para melhorar o atendimento às usuárias dos serviços obstétricos, para que se tenha mais qualidade e um nível de satisfação superior?
Se houvesse uma interferência maior, no âmbito administrativo, se houvessem mais reuniões com o objetivo da troca de experiências, de adaptação dos novos profissionais na Instituição, acreditas que a
“Tanta coisa [...] quando elas chegam ali na frente (referindo-se à triagem) já começa sendo difícil em função da demora para serem atendidas, muita demanda, faltam funcionários [...] toda a estrutura física [...] poder ter os resultados dos exames mais rapidamente, poder dar prioridade real às emergências”.
“[...] com certeza, na minha opinião, não tem gestão de pessoas aqui, se existe a gente não fica sabendo ou não tem resultado[...] nós médicos acabamos discutindo um pouco isso nas reuniões que falamos
interação entre os profissionais junto às pacientes poderia melhorar?
coisas teóricas e técnicas, mas nas discussões dos casos sempre a gente acaba levando em consideração os casos e procedimentos”.
O tipo de parto, normal ou cesariana, influencia nas emoções positivas ou negativas das parturientes?
O perfil socioeconômico da parturiente pode influenciar na experiência do parto?
“Sim, a gente batalha pelo parto normal, mas a sociedade de um modo geral, não aceita muito bem isso, aceita isso mais como uma obrigação do que como uma coisa boa que tem que acontecer, que é normal prá mulher, então de um modo geral, sempre que elas vêm pensando já que vai ser um parto normal, elas já vêm com coisas negativas, é uma estatística daqui, se fizermos um levantamento de dados daqui, de todas elas, se a gente ficar um mês analisando, a grande maioria que vem e sabe que vai ser parto normal, já vem com coisas negativas, isso é da sociedade’’.
“Na admissão até sim, mas a partir do momento que elas estão vivenciando fisiologicamente o parto isso zera [...] podemos comparar com as pacientes que a gente faz parto normal lá no privado, a reação é a mesma, a reação de dor é a mesma, se elas vão gritar é a mesma coisa, a vontade de fazer uma cesárea é a mesma [...] é igual prá todo mundo, eu acho que sim, isso é bem bacana”.
O que os profissionais do CO podem fazer para minimizar o impacto negativo das emoções e potencializar o impacto positivo? Que tipo de preparo os profissionais precisariam ter para que a parturiente se sinta mais protegida ou mais amparada?
E quanto às enfermeiras, como elas poderiam desenvolver esta habilidade do diálogo? A Instituição poderia fazer algo para que estas profissionais se tornassem mais sensíveis, humanizando ainda mais o atendimento?
“Primeiro teria que saber que temos que conversar, eu tento dialogar o máximo possível, me fazer presente, me apresentar [...] olha eu sou a plantonista da noite, vou passar a noite com vocês, qualquer coisa me chama, isso já é um alento, às vezes as pacientes relatam que ninguém veio falar com elas, a conversa com a paciente já é meio caminho andado”.
“Que elas não entrem no hospital e vistam um colete de ferro, ‘não posso me envolver com as pacientes porque tenho que tocar o meu serviço’, eu acho que falta mais gente trabalhando aqui dentro, porque a paciente está em trabalho de parto e ela precisa de alguém o tempo inteiro com ela e isso não acontece, lá na frente tá cheio, tá acontecendo uma cesárea, tá acontecendo um parto, elas saem ali do pré-parto e vão fazer outras coisas prá ajudar porque precisa. Talvez se tivesse mais funcionários aqui dentro, elas teriam tempo para fazer isso”.
Figura 18 – Transcrição parcial da entrevista com obstetra do CO
Fonte: Elaborada pela autora.
A transcrição e a análise do conteúdo da entrevista com a médica obstetra propiciou à pesquisadora um complemento informacional importante na consolidação dos dados obtidos nas entrevistas anteriormente realizadas junto às parturientes. As percepções são congruentes e definem com maior acuracidade a realidade do CO no HG, fortalecendo assim a relevância do estudo apresentado.