• Nenhum resultado encontrado

Validade discriminante das medidas

CONSTRUTO CONFIABILIDADE COMPOSTA VARIÂNCIA MÉDIA EXTRAÍDA

4.4 Validade discriminante das medidas

Validade discriminante é um dos componentes da validade de construto com base em critérios. Existe quando indicadores de dois construtos similares, porém diferentes conceitualmente, estão relacionados, mas apenas em baixa ou moderada magnitude (NETEMEYER et al., 2003). Matrizes MTMM (multitraços e multimétodos) foram propostas por Campbell e Fiske (1959) apud Veida (2008) para medir tanto a

validade discriminante quanto a validade convergente.5 Porém, a dificuldade de realizar replicações variando métodos de medida e a falta de critérios objetivos para interpretar seus resultados levaram ao surgimento de alternativas analíticas baseadas em análise fatorial confirmatória (BRYANT, 2000 apud VEIGA, 2008).

É instrutivo verificar a magnitude das correlações entre os construtos. Correlações não muito elevadas – por exemplo, com valor absoluto não superior a 0,85 – são consideradas indícios de validade discriminante. Se o intervalo de confiança das correlações pareadas entre os construtos latentes não incluir 1, então há evidência de validade discriminante entre os dois construtos (ANDERSON; GERBING, 1988). Se necessária, a obtenção dos intervalos de confiança pode ser feita por bootstrapping.

TABELA 10 – Correlações entre construtos do modelo 3M

RX1 B1 R2 M4 C2 A2 T4 S2 Alt. Auto_E Imp. Cons. PN Fru CEC ER REC RX1 1 B1 -0,257 1 R2 0,008 0,016 1 M4 -0,129 0,129 0 1 C2 0,037 -0,026 0,268 0,004 1 A2 -0,124 0,019 0,18 0,005 0,159 1 T4 -0,208 0,195 0,188 0,214 -0,092 0,012 1 S2 -0,12 -0,078 -0,167 0,145 -0,054 -0,077 0,022 1 Alt. -0,102 0,216 0,385 -0,195 0,154 0,465 0,15 -0,244 1 Auto_E. -0,165 0,199 0,123 0,125 0,248 0,219 0,137 -0,075 0,408 1 Imp. -0,656 0,265 -0,052 0,206 -0,112 0,155 0,25 0,186 -0,046 0,145 1 Cons. -0,188 0,109 0,033 0,69 -0,103 0,029 0,18 0,144 -0,31 0,073 0,248 1 PN -0,104 0,143 0,217 -0,06 0,173 0,263 0,153 -0,19 0,622 0,199 0,034 0,033 1 Fru -0,022 0,074 0,17 -0,136 0,152 0,264 0,114 -0,186 0,598 0,072 0,031 -0,182 0,704 1 CEC -0,075 0,105 0,214 -0,091 0,172 0,19 0,06 -0,197 0,702 0,248 -0,042 -0,153 0,883 0,602 1 ER 0,142 -0,022 0,206 -0,16 0,266 0,091 0,029 0,024 0,442 0,247 -0,055 -0,355 0,275 0,389 0,34 1 REC -0,076 0,18 0,187 -0,072 0,132 -0,015 0,135 -0,156 0,327 0,091 -0,065 0,018 0,394 0,466 0,353 0,006 1 NOTAS: 1) N = 200. 2) Significância: (***) p < 0,01; (**) p ≤ 0,5; (*) p ≤ 0,1; (ns) “não significativa”. 3) RX1 = extroversão; B1 = abertura à experiência; R2 = necessidade de recursos corporais; M4 = necessidade de recursos materiais; C2 = consciência; A2 = amabilidade; T4 = necessidade de excitação; S2 = Instabilidade; Alt. = Altruísmo; Auto_E = Autoeficácia; Imp. = Impulsividade; Cons. = Consumismo; PN = Preocupação com a natureza; Fru = Frugalidade; CEC = Compra ecologicamente correta; ER = Economia de recursos; REC = Reciclagem.

Na Tabela 10, seis pares de construtos chamam a atenção por terem elevada correlação. O pior caso é o de preocupação com a natureza (PN) e compra ecologicamente correta (CEC), que compartilham uma correlação altíssima, de 0,883. Preocupação com a natureza também possui correlações fortes com frugalidade (0,704) e altruísmo (0,622). Altruísmo novamente indica possíveis problemas, pois possui correlações altas com compra ecologicamente correta (0,702), com preocupação com a natureza (0,622) e com frugalidade (0,598). A associação de frugalidade com compra ecologicamente correta também é significativa: 0,602.

Contudo, o restante das correlações entre os construtos não apresenta valores muito elevados, fato que pode indicar a existência de validade discriminante entre a maioria dos construtos desta pesquisa. De qualquer forma, optou-se por testar a validade discriminante usando procedimentos baseados em AFC. Considerando os construtos dois a dois, poder-se-iam aplicar dois métodos comuns em trabalhos da área, de acordo com Veiga (2008):

a) Fornell e Larcker (1981) sugerem a comparação da média de variância extraída (AVE) de cada construto com sua correlação elevada ao quadrado, supondo que os construtos estejam padronizados. Nesse caso, a correlação ao quadrado corresponde à variância compartilhada pelos construtos. Segundo os autores, se a correlação ao quadrado entre dois construtos é menor que as AVEs de cada um, os construtos apresentam validade discriminante.

b) Bagozzi, Yi e Phillips (1991) recomendam comparar dois modelos aninhados. Em um deles a correlação entre os construtos é fixada em 1. No outro modelo, ela é estimada livremente. Como o modelo com a correlação fixada em 1 está aninhado no outro, realiza-se teste de qui-quadrado da diferença entre os qui-quadrados dos dois modelos, com um grau de liberdade. Se o resultado for significativo, conclui-se que os modelos são significativamente diferentes; ou seja, existe validade discriminante entre os construtos.

Usualmente, os resultados dos dois procedimentos são semelhantes. Mas optou- se pelo método proposto por Fornell e Larcker (op. cit.) por ser mais simples. Os resultados da aplicação do procedimento sugerido por esses autores são apresentados na

Confirmando as ressalvas feitas na análise da Tabela 10, em três dos seis pares que apresentaram altas correlações acabaram ocorrendo problemas com a validade discriminante. Dessa forma, não foi possível confirmar a validade discriminante entre preocupação com a natureza e compra ecologicamente correta; preocupação com a natureza e frugalidade; e altruísmo e compra ecologicamente correta. A existência de problemas com preocupação com a natureza sugere a sua retirada do modelo. Entretanto, em relação a altruísmo, observa-se que sua falta de validade discriminante com compra ecologicamente correta poderia ser resolvida caso o primeiro apresentasse uma variância média extraída acima de 0,49. Essa limitação alerta novamente para os problemas com altruísmo e reforça a necessidade de reformular seus indicadores para estudos futuros. Vale dizer ainda que, com base nos resultados obtidos na análise de validade discriminante, optou-se por excluir do modelo utilizado para o teste de hipóteses o traço situacional preocupação com a natureza, visto que ele se confundia com frugalidade e, principalmente, compra ecologicamente correta.

TABELA 11 – Verificação de validade discriminante comparando-se a AVE de cada construto com sua correlação ao quadrado

RX1 B1 R2 M4 C2 A2 T4 S2 Alt. Auto_E Imp. Cons. PN Fru CEC ER REC RX1 - B1 0,066 - R2 0,000 0,000 - M4 0,017 0,017 0,000 - C2 0,001 0,001 0,072 0,000 - A2 0,015 0,000 0,032 0,000 0,025 - T4 0,043 0,038 0,035 0,046 0,008 0,000 - S2 0,014 0,006 0,028 0,021 0,003 0,006 0,000 - Alt. 0,010 0,047 0,148 0,038 0,024 0,216 0,023 0,060 0,40 Auto_E. 0,027 0,040 0,015 0,016 0,062 0,048 0,019 0,006 0,166 0,46 Imp. 0,430 0,070 0,003 0,042 0,013 0,024 0,063 0,035 0,002 0,021 0,36 Cons. 0,035 0,012 0,001 0,476 0,011 0,001 0,032 0,021 0,096 0,005 0,062 0,38 PN 0,011 0,020 0,047 0,004 0,030 0,069 0,023 0,036 0,387 0,040 0,001 0,001 0,46 Fru 0,000 0,005 0,029 0,018 0,023 0,070 0,013 0,035 0,358 0,005 0,001 0,033 0,496 0,53 CEC 0,006 0,011 0,046 0,008 0,030 0,036 0,004 0,039 0,493 0,062 0,002 0,023 0,780 0,362 0,52 ER 0,020 0,000 0,042 0,026 0,071 0,008 0,001 0,001 0,195 0,061 0,003 0,126 0,076 0,151 0,116 0,39 REC 0,006 0,032 0,035 0,005 0,017 0,000 0,018 0,024 0,107 0,008 0,004 0,000 0,155 0,217 0,125 0,000 0,76 NOTAS: 1) N = 200. 2) RX1 = extroversão; B1 = abertura à experiência; R2 = necessidade de recursos corporais; M4 = necessidade de recursos materiais; C2 = consciência; A2 = amabilidade; T4 = necessidade de excitação; S2 = Instabilidade; Alt. = Altruísmo; Auto_E = Autoeficácia; Imp. = Impulsividade; Cons. = Consumismo; PN = Preocupação com a natureza; Fru = Frugalidade; CEC = Compra ecologicamente correta; ER = Economia de recursos; REC = Reciclagem. 3) Valores na diagonal principal são os valores de AVE (variância média extraída) de cada construto. 4) Valores abaixo da diagonal principal são as correlações entre construtos elevadas ao quadrado. 5) Não foram consideradas as significâncias das correlações. 6) Se a correlação ao quadrado entre dois construtos for menor que as variâncias médias extraídas de cada um, então há uma evidência de validade discriminante entre eles (FORNELL; LARCKER, 1981).

A título de conclusão das análises fatoriais confirmatórias, a Tabela 12 apresenta os resultados dos índices de ajuste dos modelos de mensuração do modelo 3M e do modelo FFM. Nos modelos finais utilizados para o teste das hipóteses, os construtos impulsividade e altruísmo foram representados por dois indicadores e o traço situacional preocupação com a natureza foi excluído.

TABELA 12 – Análises fatoriais confirmatórias dos modelos de mensuração utilizados para o teste de hipóteses

MEDIDAS DE AJUSTE MODELO 3M MODELO FFM

2 536,273 468,713 g.l 381 323 valor-p 0,000 0,000 2/g.l 1,408 1,451 CFI 0,92 0,92 TLI 0,90 0,90 NFI 0,79 0,79 RMSEA 0,045 0,048

NOTAS: 1) Estimação pelo método ML (Máxima Verossimilhança). 2) Indicação de um bom ajuste de SEM aos dados: valor-p 0,5; 1 2 /g.l 2 ou 3; CFI, TLI e NFI 0,90; RMSEA 0,06

(NETEMEYER; BEARDEN; SHARMA, 2003; HAIR et al., 1995). FONTE: Dados da pesquisa trabalhados no Amos 7.0® .