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Validade, eficácia e definitividade do lançamento tributário

No documento MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO (páginas 117-120)

CAPÍTULO 4. DO LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

4.6 Validade, eficácia e definitividade do lançamento tributário

Vimos alhures que as normas jurídicas de incidência tributária por serem gerais e abstratas necessitam da individualização de seu destinatário e a concreção de sua incidência para que surtam os efeitos fiscais almejados.

E mais, que a obrigação de pagar o tributo surge com a norma individual e concreta emitida pelo contribuinte e com o lançamento tributário, ato administrativo através do qual se veicula no ordenamento jurídico, por meio de uma linguagem competente, uma norma individual e concreta, na qual, em seu antecedente, se relata o acontecimento pretérito e, em seu conseqüente, constitui a obrigação tributária.

Nesse sentido, pelo fato do lançamento tributário representar a individualização e concreção da norma tributária geral e abstrata, o mesmo somente

surtirá seus efeitos, após a notificação ao sujeito passivo142, nos termos do artigo 145143 do Código Tributário Nacional, ou melhor, quando o sujeito passivo tomar conhecimento da obrigação tributária, momento em que o crédito tributário se torna exigível.

Verificamos que a notificação do lançamento assim como o lançamento tributário, são espécies de ato administrativo e como qualquer outro deverá observar os requisitos legais desta categoria.

Ora, por considerarmos o lançamento tributário e a notificação do lançamento como espécies do ato administrativo, a publicidade faz-se necessária

142

A esse respeito, vejamos o entendimento do Superior Tribunal de Justiça de nosso país:

“TRIBUTÁRIO. IPTU. INÍCIO DO PRAZO PARA COBRANÇA A PARTIR DA INEQUÍVOCA NOTIFICAÇÃO REGULAR DO CONTRIBUINTE. PRECEDENTES.

1. Recurso especial oposto contra acórdão segundo o qual, “tratando-se de IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao contribuinte é suficiente para se considerar o sujeito passivo como notificado”.

2. O comando estatuído no art. 145 do CTN assevera que a regra para os efeitos da obrigação tributaria é a da regular notificação do contribuinte.

3. Bernardo Ribeiro de Moraes ensina que, “feita a revisão do lançamento tributário o sujeito passivo deve ser notificado do mesmo. O lançamento revisto não deixa de ser um lançamento e, como tal, deve ser de conhecimento do contribuinte” (“Compêndio de Direito Tributário”, Ed. Forense, p. 772).

4. O lançamento deve ser documentado, respeitando a regra de que é necessária a concretização do crédito tributário, para que este seja regularmente constituído. E, um desses requisitos é o da identificação do sujeito passivo, que se entende pela constatação de quem será a pessoa chamada ao pagamento da dívida tributária. Essa pessoa deverá ser notificada da existência do crédito tributário e nesta notificação constará o prazo para pagamento do tributo, notificação essa chamada de “aviso de lançamento”.

5. Para fins de cobrança do crédito de IPTU, conta-se o prazo a partir da inequívoca notificação do contribuinte, quando, então, o lançamento será tido como válido.

6. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que:

- “A ampla defesa e o contraditório, corolários do devido processo legal, postulados com sede constitucional, são de observância obrigatória tanto no que pertine aos 'acusados em geral' quanto aos 'litigantes', seja em processo judicial, seja em procedimento administrativo. Insere-se nas garantias da ampla defesa e do contraditório a notificação do contribuinte do ato de lançamento que a ele respeita. A sua ausência implica a nulidade do lançamento e da Execução Fiscal nele fundada”. (REsp nº 478853/RS, 1ª Turma, Rel. Min. LUIZ FUX)

- “Imprescindível a notificação regular ao contribuinte do imposto devido. (REsps nºs 237009/SP e 245632/SP, 2ª Turma, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINS)

- “Consoante ensina Bernardo Ribeiro de Moraes, 'feita a revisão do lançamento tributário o sujeito passivo deve ser notificado do mesmo. O lançamento revisto não deixa de ser um lançamento e, como tal, deve ser de conhecimento do contribuinte'. (cf. 'Compêndio de Direito Tributário', Ed. Forense, p. 772) - Não ocorrendo hipótese de contrariedade ao artigo 149 do Código Tributário Nacional, não merece conhecimento o recurso especial”. (REsp nº 140652/MG, 2ª Turma, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO)

7. Recurso especial provido, nos termos do voto”. (REsp nº 666743/PR, Rel. Min. José Delgado, 1ª Turma, j. 05/10/2004, DJ 16/11/2004, p. 215 - grifo nosso)

143 “Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de:

I – impugnação do sujeito passivo; II – recurso de ofício;

conforme prevista no caput do artigo 37144 da Constituição Federal, traduzida na transparência dos atos praticados pela Administração Pública.

Ademais, conforme ensinamentos de Eurico Marcos Diniz de Santi, “toda norma jurídica pressupõe a publicidade como condição de validade. Sem a publicação, o projeto de lei não é válido; sem publicidade, a sentença é invalidável; sem notificação – entendida como forma mínima de publicidade – também não há de se falar em validade do ato-norma administrativo”.145

Dessa forma, podemos concluir que em princípio todo lançamento tributário, após ter sido regularmente notificado ao sujeito passivo, será considerado válido, eficaz e definitivo, mesmo que posteriormente venha a sofrer impugnações que é predicado de todos os atos administrativos, judiciais e legais, com exceção daqueles que se tornaram imutáveis pelo sistema do Direito Positivo (decisão judicial transitada em julgado e decisão administrativa irreformável).

Diante disso, verificamos que é improcedente dizer que o lançamento teria caráter provisório, pelo fato de estar sujeito ao controle de legalidade por meio de impugnações e recursos no âmbito administrativo.

Sobre o assunto, Paulo de Barros Carvalho assevera que:

Um ato administrativo tem-se por pronto e acabado quando, reunindo os elementos que a ordem jurídica prescrever como indispensáveis à sua compostura, vier a ser oficialmente comunicado ao destinatário. A contingência de estar aberto a refutações é algo que o próprio sistema prevê e disciplina, mas que não elide a definitividade da figura.146

144 “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)”.

145 Eurico Marcos Diniz de Santi. Lançamento Tributário, pp. 162-163. 146 Paulo de Barros Carvalho. Fundamentos Jurídicos da Incidência, p. 280.

Em suma, cumpre dizermos que tendo sido o contribuinte notificado do teor do ato de lançamento tributário, o crédito nele formalizado passa a ser exigível e caso não seja satisfeita a prestação nele contida por parte do contribuinte, a entidade tributante adquirirá competência para lavrar outro ato jurídico administrativo, porém nesse caso de caráter sancionatório, exarando também norma individual e concreta, a qual também necessariamente deverá ser notificada ao contribuinte.

No documento MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO (páginas 117-120)