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2.3 Cultura Organizacional

2.3.6 A investigação dos valores

2.3.6.3 Valores Relativos ao Trabalho: conceito e identificação

Porto e Tamayo (2003, p.146) definem Valores Relativos ao Trabalho (VRT) como:

[...] princípios ou crenças sobre metas ou recompensas desejáveis, hierarquicamente organizados, que as pessoas buscam por meio do trabalho e que guiam as suas avaliações sobre os resultados e contexto do trabalho, bem como, o seu comportamento no trabalho e a escolha de alternativas de trabalho.

Esses autores analisaram diversos instrumentos usados para avaliar os VRT, tais como: o Inventário de Super, o Questionário de Importância de Minnesota (MIQ), o Questionário de Valores do Trabalho (WWQ) e o de Ros, Schwartz e Surkiss. Nesta análise, identificaram que somente os instrumentos desenvolvidos a partir de 1990 se preocuparam em compreender os valores do trabalho a partir de teorias sobre valores gerais, dando destaque aos de Elizur e Sagie e Ros et al. (PORTO; TAMAYO, 2003, 2008). Esta característica daria maior validade aos construtos pois, segundo Sagie e Elizur (1996), para cada aspecto da vida, inclusive o trabalho, as pessoas apresentam uma estrutura específica de valor que está vinculado à uma estrutura de valor maior, que guia suas vidas. Assim, quando os instrumentos se baseiam em uma teoria geral, eles consideram os indivíduos em toda essa cadeia de valores.

Porto e Tamayo (2003) também apontaram que apenas dois instrumentos seriam adequados ao Brasil, considerando novamente a questão semântica, uma vez terem sido elaborados e/ou traduzidos em português. São eles: (a) uma tradução da escala de Lawrence realizada por Lomonaco e Angelini (1970, citado por PORTO; TAMAYO, 2003), mas não validada para a população brasileira; e (b) o Inventário do Significado do Trabalho elaborado por Borges (1998, 1999).

Borges et al. (2008), argumentam que os significados que os indivíduos atribuem ao seu trabalho estão associados às suas motivações e ao que fazem no ambiente de trabalho, bem como à forma como se relacionam com esse ambiente e com a organização empregadora. Esta definição está aderente ao conceito de Valores Relativos ao Trabalho descrito anteriormente. A partir dessa premissa, apresentam o Inventário da Motivação e do

Significado do Trabalho (IMST). Elaborado a partir das pesquisas sobre o IST, este

instrumento foi ampliado pela absorção de conceitos da teoria da motivação designada como Teoria das Expectativas de Vroom (1964, 1969), citado por Borges et al. (2008) e submetido a três testes empíricos (BORGES; ALVES FILHO, 2001, 2003; BORGES et al., 2008). Os autores declaram que esse inventário tem com objetivo mensurar diretamente o que chamaram

de atributos valorativos (como o trabalho deveria ser) e descritivos (como o trabalho realmente é), bem como permitir também a identificação das hierarquias dos mesmos atributos.

Outro instrumento utilizado na mensuração dos VRT é a Escala de Valores

Relativos ao Trabalho – EVT. Desenvolvido por Porto e Tamayo (2003), tem como base

teórica o modelo de valores humanos de Schwartz (1992). A partir da revisão bibliográfica e de entrevistas com trabalhadores, os autores elaboraram uma escala inicial com 71 itens (após submissão a análise de juízes e validação semântica), cuja análise fatorial exploratória co rotação Promax apontou para quatro fatores principais, englobando 45 itens referentes aos valores relativos ao trabalho.

O Quadro 13 descreve esses fatores e sua relação com a teoria dos valores humanos de Schwartz. A escala final, após aplicação em 402 trabalhadores e análises estatísticas, resultou em 45 itens que descrevem os fatores de forma contextualizada. Os respondentes devem avaliar cada um destes valores através de uma escala de cinco pontos entre “extremamente importante” e “nada importante” (PORTO; TAMAYO, 2003, 2008). A apuração dos resultados deve ser feita por meio da média das notas atribuídas aos valores componentes de cada fator (PORTO; TAMAYO, 2008).

Quadro 13 – Fatores da EVT

Fatores EVT Descrição Tipos motivacionais de

segunda ordem de Schwartz Realização

Profissional Refere-se à busca de prazer e realização pessoal e profissional, bem como de independência de pensamento e ação no trabalho por meio da autonomia intelectual e da criatividade.

Abertura à mudança

Estabilidade Refere-se à busca de segurança e ordem na vida por meio do trabalho, possibilitando suprir materialmente as necessidades pessoais.

Conservadorismo Relações Sociais Refere-se à busca de relações sociais positivas no

trabalho e de contribuição positiva para a sociedade por meio do trabalho.

Autotranscendência Prestígio Refere-se à busca de autoridade, sucesso profissional e

poder de influência no trabalho. Autopromoção

Fonte: Porto e Tamayo (2003, 2008)

Porto e Pilati (2010) citam alguns estudos que aplicaram o EVT (CAMPOS, 2008; PASCHOAL; TAMAYO, 2004; PORTO, 2004; RODRIGUES, 2008) e a partir da análise dos resultados identificaram que, embora aquele instrumento fosse adequado para identificar os VRT e tivesse como base a teoria dos valores humanos de Schwartz, a estrutura de quatro fatores não correspondia em sua totalidade a este modelo.

A partir da aplicação e análise conjunta do EVT com a Escala de Valores de Schwartz (SVS), Porto e Pilati (2010) desenvolveram uma versão revisada, a Escala

Revisada de Valores Relativos ao Trabalho (EVT-R). Por meio da análise dos resultados

estatísticos (entre elas análises fatoriais e modelo de equações estruturais), os itens da escala foram reformulados, resultando em um novo instrumento com 34 itens (ANEXO D).

Esses itens são divididos em seis fatores coincidentes com os tipos motivacionais de Schwartz e, por isso, receberam os mesmos nomes: Autodeterminação e Estimulação; Segurança; Realização; Universalismo e Benevolência; Poder; Conformidade. A descrição de cada um deles foi exposta anteriormente, no Quadro 12.

Assim, com relação ao instrumento anterior, o EVT-R possui a mesma estrutura (descrição de valores para os quais os respondentes devem atribuir uma nota com relação ao grau de importância que eles dão àquele valor enquanto princípio orientador de sua vida no trabalho), orientações de preenchimento, modo de aplicação e modo de apuração dos resultados. Apenas os valores foram ajustados (quantidade e redação) de forma a refletir mais diretamente a Teoria do Valores Humanos de Schwartz (1992).

Neste capítulo foram discutidos os conceitos relativos à Cultura Organizacional. Entende-se pertinente contextualizar o posicionamento adotado neste trabalho quanto às várias abordagens apresentadas. Assim, toma-se como preceito a distinção feita por Linstead e Grafton-Small (1992) entre cultura corporativa (declarada pela empresa) e cultura organizacional (comunhão de valores sobrepostos de todas as subculturas), numa abordagem aderente à definida por Dupuis (1996) como abordagem antropológica sistêmica aberta. Acredita-se que os valores do grupo ingressante na organização afetarão e serão afetados pela cultura organizacional, podendo servir de subsídios para a organização na definição de sua cultura corporativa.

Discutiu-se, ainda, os métodos de pesquisa existentes para a investigação dos valores culturais, o qual é considerado suficiente para atender aos objetivos do trabalho, bem como estando aderente aos preceitos teóricos levantados. O próximo tópico tratará da cultura organizacional da instituição financeira pesquisada.