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Vantagens e desvantagens do uso de empresas de segurança privada

6. A pirataria não é um problema autónomo

7.3. Vantagens e desvantagens do uso de empresas de segurança privada

Já se observou que as ESP que atuam a bordo dos navios são diferentes das EMSP, mas não deixam de suscitar problemas comuns245. O facto de aquelas empresas

envolverem algum secretismo, a insuficiência do conteúdo dos contratos, a falta de um quadro legal sobre a responsabilidade das ESP e a ausência de consequências por conduta inaceitável faz com que se reviva alguns dos desafios passados com as EMSP246.

238 PETRIG, Anna, “The Use of Force and Firearms by Private Maritime Security Companies against

Suspected Pirates”, p. 686.

239 Idem, p. 686.

240 PIZOR, “Lending an ‘Invisible Hand’…”, p. 557. 241 PETRIG, “The Use of Force …”, p. 689.

242 DUTTON, Yvonne M., “Gunslinger on the High Seas: A Call for Regulation,”, p. 121–122. 243 STRUWE, Lars Bangert, “Private Security Companies (PSCs) as a Piracy Countermeasure”, p. 591. 244 Cfr. ponto 12., infra.

245 Cfr. ponto 2.3., supra.

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Com efeito, algumas ESP que operaram sob contratos do governo já foram acusadas de abusos de direitos fundamentais, corrupção, violações criminais e uso desproporcional da força247. Mais, o cariz de alguns contratos que envolvem estas

empresas também é duvidoso levando à falta de transparência das suas ações no mar248. A preocupação em relação à população mantém-se, pois pode haver

situações em que os seguranças estão a lidar com piratas que, naquela altura, só estão a exercer a atividade de pesca (Fisher-by-day-and-fighter-by-night

phenomenom)249.

Em relação à regulamentação, tal como as EMSP, não se poderá dizer que as ESP que estão a bordo dos navios atuem num completo vazio legal, visto haver

guidelines direcionadas para a sua atuação e convenções que, embora não as refiram

expressamente, auxiliam no desenvolvimento do seu controlo. No entanto, a falta de um treino estandardizado dos profissionais destas empresas, a falta de um sistema de controlo eficaz e a não existência de estatuto jurídico das ESP dificultam a efetividade destas guidelines250.

Ora, tanto estes problemas como outros têm de ser resolvidos através da cooperação entre ESP, Estados e a comunidade marítima internacional para estabelecer um protocolo claro e uniforme de conduta251. É necessário ter em conta que não estamos

num cenário de conflito armado, logo os guardas não tomam uma posição ofensiva, mas sim de vigia e pacificadora ao deter hostilidades através da sua presença intimidadora252.

É compreensível, ainda, que esta falta de controlo faz com que os governos desconfiem da lealdade dos agentes privados armados estrangeiros que passem pelo

247 PRIDDY, CASEY-MASLEN, “Counterpiracy under…”, p. 17. COITO, “Pirates vs. Private …”, p. 182.

RODDEN, Grace e WALSH III, James, “The Legal Issues of Private Armed Security on Commercial Ships”, p. 33.

248 RODDEN e WALSH III, “The Legal Issues …", p. 33; PRIDDY, CASEY-MASLEN, “Counterpiracy under …”,

p. 17.

249 COITO, “Pirates vs. Private Security: …”, p. 185.

250 AFFI et al., “Countering Piracy through private security in the Horn of Africa: prospects and pitfalls ”, p.

939–940.

251 MINEAU, “Pirates, Blackwater …”, p. 71–72. 252 PIZOR, “Lending an ‘Invisible…”, p. 570.

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seu mar territorial e portos253. Ora, estes agentes privados só ganham ao mostrar o

seu profissionalismo e capacidades254. Uma empresa perderá clientes ao criar

escândalos.

O facto de as ESP atuarem no mar e terem como clientes, na maioria das vezes, outras empresas, traz outro tipo de desvantagens e críticas, que as diferencia das EMSP.

Em primeiro lugar, existe o argumento de que a presença de guardas armados a bordo aumenta a probabilidade de incêndio, explosão ou afundamento de navios sob ataque. Ora, se os armadores estão a tentar evitar o pagamento de enormes quantias pela segurança do navio através da presença de uma ESP, então qualquer aumento do risco de incêndio, explosão ou afundamento pode ser simplesmente calculado em futuros prémios de seguro255. Já existem empresas de seguros que oferecem

descontos aos proprietários dos navios que contratam ESP para passar por águas perigosas256.

O perigo acrescido de ter seguranças de uma ESP num navio que transporta materiais perigosos parece ser também uma preocupação válida, no entanto, existem ESP que oferecem os seus serviços em navios de escolta separados, de modo a diminuir este risco257.

A indústria naval já mostrou preocupação quanto ao facto de haver cada vez mais a exigência de ter profissionais armados a bordo, aumentando os custos numa indústria já de si competitiva e economicamente instável, levando à contratação de ESP inexperientes258. Os custos de contratação, por muito altos que sejam, tendem a

compensar os custos económicos e principalmente os custos humanos que um ataque irá provocar. Novamente, cabe aos Estados e à comunidade marítima

253 Idem, p. 568. 254 Idem, p. 568–569.

255 MINEAU, “Pirates, Blackwater …”, p. 71.

256 RODDEN, WALSH III, “The Legal Issues…”, p. 33. 257 MINEAU, “Pirates, Blackwater and Maritime…”, p. 71.

258 PRIDDY, CASEY-MASLEN, “Counterpiracy under …”, p. 18; CARBONE, “The Use of …”, p. 8. AFFI et al.,

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internacional o desenvolvimento de protocolos claros e de sistemas de licença para garantir o profissionalismo das ESP a bordo dos navios.

Já foi exposta a opinião de que a presença de guardas armados a bordo do navio aumenta desnecessariamente o risco para a tripulação, pelo que a comunidade internacional não a deveria autorizar259. Ora, os agentes privados têm uma posição

intimidadora, fazendo com que os piratas recuem perante a sua presença ou com tiros de aviso260. Um plano de defesa claro e seguro envolve a proteção da tripulação

através do encaminhamento para um lugar seguro no navio.

Por último, é necessário indicar como grande obstáculo ao cumprimento de padrões desenvolvidos na arena internacional, o facto de os contratos de segurança marítima serem feitos entre dois agentes privados, o armador e a ESP. Ora, um contrato privado torna mais fácil para as ESP subtraírem-se ao cumprimento de Direito Internacional e das leis domésticas, ficando assim os proprietários dos navios responsáveis pelas ações dos seguranças das ESP261. Este é um problema mais

complexo de que a contratação de uma EMSP por um Estado, pois aí existe pelo menos uma parte do contrato que é pública.

A contratação de uma ESP para trabalhar a bordo de um navio traz várias vantagens como a prevenção de perda de vidas e de propriedade, a redução em prémios de seguro marítimo, a possível prevenção de futuros ataques terroristas, a adição de estabilidade para as regiões afetadas pela pirataria, oferta de um meio sofisticado e eficiente de prevenção da pirataria, a redução do custo dos bens do consumidor que irá resultar com a redução da pirataria262 e ainda o alívio do Estado na patrulha de

áreas de maior risco263. Cabe referir, ainda, que não há registo de nenhum ataque de

pirataria com sucesso a navio com ESP a bordo264.

259 HARRELSON, “Blackbeard Meets Blackwater…” , p. 311. 260 PIZOR, “Lending an ‘Invisible …”, p. 568.

261 RODDEN, WALSH III, “The Legal Issues …”, p. 33. 262 MINEAU, “Pirates, Blackwater …”, p. 77.

263 PRIDDY, CASEY-MASLEN, “Counterpiracy under …”, p. 17. 264 Idem; PIZOR, “Lending an ‘Invisible …”, p. 555.

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8. Regulamentação