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CAPÍTULO 4. PERSPETIVAS DOS ESTUDANTES SOBRE A INTEGRAÇÃO

4.6. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INTEGRAÇÃO I&E

Nos dois estudos, os estudantes dão mais importância às vantagens do que às desvantagens do envolvimento dos seus docentes em investigação. As vantagens identificadas pelos estudantes foram o desenvolvimento das suas competências e conhecimentos e uma maior motivação para aprender e fazer certas escolhas de carreira e percurso académico. Como desvantagens foram identificadas, por exemplo, o foco do docente no seu próprio tema de investigação, não respondendo necessariamente aos

interesses dos estudantes; o excessivo desenvolvimento das componentes metodológicas da investigação; a eventual inadequação entre as investigações apresentadas e os conteúdos das unidades curriculares.

No estudo quantitativo, tanto ao nível do ISCTE-IUL quanto ao nível da ECSH, a perceção de vantagens, tanto para o conhecimento como para a motivação, foi maior entre os estudantes do 2º ciclo em comparação com os do 1º ciclo. De acordo com um estudo anterior, as vantagens são mais salientes para estudantes de Ciências Sociais e Comportamentais em comparação com Gestão, Economia, Direito ou Ciências (Lee, et al., 2012). Também, no presente estudo, os estudantes de Ciências Sociais e Políticas reconheceram mais vantagens para o conhecimento do que os restantes. Ao nível da ECSH, tanto no estudo quantitativo, quanto no qualitativo, os estudantes de Economia identificaram menos vantagens para o conhecimento do que os de Antropologia e Psicologia, e menos desvantagens do que os de Psicologia.

Estas diferenças entre ciclos e áreas disciplinares podem ser explicadas, em parte, pela frequência de contacto com as práticas de integração I&E, se se assumir que o contacto com a investigação aumenta a consciência dos estudantes em relação aos benefícios que resultam do seu exercício na universidade. Neste caso, os estudantes que percecionam mais vantagens e mais desvantagens são os que têm mais contacto com a investigação, em particular os do 2º ciclo, os de Ciências Sociais e Políticas e os de Psicologia. Assim, é possível que a baixa saliência das vantagens e desvantagens do envolvimento dos docentes em investigação para os estudantes de disciplinas mais aplicadas, como Gestão ou Direito (Lee, et al., 2012) resulte do baixo contacto com a investigação ao longo do curso.

Em suma, a maioria dos estudantes do ISCTE-IUL em geral, e da ECSH em particular, tem conhecimento da existência de fontes de informação científica, nomeadamente, seminários de investigação e unidades de investigação, mas não conhecem, necessariamente, a investigação que é produzida no ISCTE-IUL. As atitudes dos estudantes face à participação em práticas de integração I&E são muito favoráveis. Contudo, o seu contacto com essas práticas ao longo do curso é relativamente baixo. A falta de contacto com a investigação ao longo do curso pode assim contribuir para o desenvolvimento de uma visão da investigação como separada da prática profissional, assim como para uma menor consciência das vantagens e desvantagens da participação dos docentes em investigação.

Embora os resultados apresentados nesta secção nos permitam ter uma compreensão mais detalhada do potencial hiato entre discursos e práticas de integração I&E na ECSH/ISCTE-IUL, o entendimento deste fenómeno não ficaria completo sem considerar a perspetiva do corpo académico da instituição. É precisamente sobre as perspetivas de docentes e investigadores sobre a integração I&E que a próxima secção se debruça.

III. PERSPETIVAS DOS

DOCENTES/INVESTIGADORES

SOBRE A INTEGRAÇÃO I&E

CAPÍTULO 5. OS ACADÉMICOS E A INTEGRAÇÃO I&E: BREVE REVISÃO DE

LITERATURA DIANA FARCAS,KINGA BIERWIACKZONEC,SÓNIA F.BERNARDES &SUSANA CARVALHOSA

A produção de conhecimento científico e a transmissão do mesmo aos estudantes são dois pilares fundamentais na missão das instituições de ensino superior. Através da integração da investigação no ensino (I&E), considera-se possível melhorar a qualidade do ensino superior (European Comission, 2013). Assim sendo, pode-se afirmar que a integração I&E no ensino superior é vista como uma mais-valia no processo de ensino aprendizagem. No entanto, como já foi anteriormente referido no capítulo de introdução, três meta-análises (e.g., Feldman, 1987; Allen, 1996; Hattie & Marsh, 1996), que englobam dezenas de estudos empíricos, apontam para a existência de um mito, no que concerne a ideia de que um bom investigador é necessariamente um bom docente. Tendo em conta que os docentes e investigadores são, a par dos estudantes, uns dos atores principais neste processo que envolve a integração I&E, muitos estudos têm-se centrado na exploração das suas conceções e experiências de integração I&E, utilizando metodologias qualitativas (e.g., Neuman, 1992; Zamorski, 2002; Lucas et al., 2007; Visser-Wijnveen, van Driel, van der Rijst, Verloop, & Visser, 2010), quantitativas (e.g., Eagan, Sharkness, Hurtado, Mosqueda, & Chang, 2011; Martin, 1997; Melland, 1996; Tang & Chamberlain, 1997), ou mistas (e.g., Smith & Smith, 2012; Visser-Wijnveen, van Driel, van der Rijst, Visser, & Verloop, 2012).

Os estudos que utilizaram metodologias qualitativas ou mistas focaram-se maioritariamente na exploração das perceções, conceções e experiências dos docentes/investigadores. Para além disto, os estudos que utilizaram metodologias quantitativas exploraram aspetos mais específicos, tais como os preditores do envolvimento dos estudantes em projetos de investigação dos docentes/investigadores (Eagan et al., 2011) ou a relação entre a produção científica e a eficácia do ensino (Tang & Chmberlain, 1997). Tendo em conta a grande variedade de resultados que emergiram destes estudos, optamos por, de seguida, resumir as suas ideias principais em quatro pontos. O primeiro ponto engloba as conceções, atitudes e experiências dos docentes/investigadores com a integração I&E, enquanto o segundo ponto apresenta algumas diferenças entre as perspetivas dos docentes/investigadores e outros grupos de atores envolvidos na integração I&E. Adicionalmente, o terceiro ponto foca-se nos fatores percebidos como barreiras facilitadores da integração I&E. Por fim, o quarto ponto recai sobre as perceções dos docentes/investigadores sobre as consequências da integração I&E.

5.1. CONCEÇÕES, ATITUDES E EXPERIÊNCIAS RELACIONADAS COM A INTEGRAÇÃO

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