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3. Proteína C Reactiva

3.10. Variações patológicas de PCR

Como já foi referido anteriormente, as concentrações de proteína C reactiva vão aumentar quando o organismo se encontra na presença de uma infecção, lesão tissular, trauma ou cirurgia, crescimento neoplásico ou alterações inflamatórias (Gordon e Koy, 1985 citado por Gruys et al., 2005a). A concentração de PCR pode variar em função da extensão dos tecidos lesados, dos agentes infecciosos envolvidos, da presença de processo inflamatórios concomitantes, da duração (cronicidade) e do tipo de doença (Hansson e Lindquist, 1997 citado por Gillet, 2002).

Uma vez que a descoberta da proteína C reactiva está relacionada com o aumento desta em pacientes que apresentavam uma infecção por Streptococcus pneumoniae, será sempre de esperar uma síntese desta proteína na presença de infecções bacterianas.

Yamamoto et al. (1994) realizaram um estudo com o objectivo de avaliar a resposta da proteína C reactiva perante uma infecção bacteriana. Foi administrado a quatro cães, da raça Beagle, com 2 anos, uma suspensão contendo 5x109 células de Bordetella

bronchiseptica, por via intrabronqueal. Às 24 horas, verificou-se um elevado aumento desta proteína, estando os valores compreendidos entre 385 e 720 µg/ml (Gillet, 2002). Mais recentemente, Hayashi et al. (2001) inocularam por via intradérmica Staphylococcus aureus, em quatro cães com 1 mês de idade. As concentrações de proteína C reactiva foram medidas através do método ELISA, verificando-se que estas atingiram um pico às 24 horas, com valores compreendidos entre 61,8 e 98,1 µg/ml e que a recuperação se iniciou a partir do 5º dia.

Estes dois estudos demonstram que a síntese da proteína C reactiva é fortemente activada na presença de uma infecção bacteriana. Os valores significantemente inferiores no segundo estudo podem ser devidos à idade dos animais, visto que, nos animais que apresentam idade inferior a três meses, a síntese de proteína C reactiva é muito inferior em relação aos restantes animais (Hayashi et al., 2001).

Tal como para as infecções bacterianas, a presença de parasitas num organismo também vai estimular a síntese de PCR, atingindo, esta, valores tão elevados como na presença de infecções bacterianas. A principal diferença é que o pico da concentração desta proteína

ocorre mais tarde do que nas infecções bacterianas, uma vez que alguns parasitas são microorganismos intracelulares e a sua multiplicação no organismo é mais lenta do que no caso das bactérias (Shimada et al., 2002), levando o organismo mais tempo a desenvolver uma resposta. Shimada et al. (2002) administraram por via endovenosa, Ehrlichia canis, a cinco cães da raça Beagle. As concentrações de proteína C reactiva começaram a aumentar entre o 4º e o 16º dia, atingindo um pico entre o 15º e 62º dia. As concentrações médias neste pico foram de 452,6 µg/ml, altura a partir do qual os valores desta proteína começaram a diminuir, atingindo valores basais a partir do 90º dia. Num outro estudo, em que foi utilizado Trypanosoma brucei, verificou-se que a PCR atingiu um pico entre o 7º e o 10º dia com concentrações superiores a 200 µg/L (Ndung’u et al., 1991 citado por Gillet, 2002).

A presença de infecções virais, só por si, não vai alterar as concentrações de PCR. Jinbo et al. (1999) realizaram um estudo em macacos, da espécie Macaca irus, para avaliar a resposta da proteína C reactiva após administração de Bordetella bronchiseptica e duas estirpes do vírus do sarampo, de forma a poder comparar a resposta desta proteína em infecções bacterianas e virais. Os valores obtidos nos animais aos quais foi administrado Bordetella bronchiseptica variaram entre 102,4 e 313,4 µg/ml, 54 a 96 vezes superiores aos valores normais, enquanto que nos animais inoculados com as estirpes virais não houve qualquer aumento da síntese de proteína C reactiva, mantendo-se as suas concentrações sempre dentro dos valores normais. Em 2001, após administração a quatro cães de uma vacina comercial que continha estirpes vacinais para o vírus da esgana, adenovírus do tipo 2, vírus parainfluenza e parvovirus, verificou-se que também não havia qualquer tipo de alteração nos valores da proteína C reactiva (Hayashi et al., 2001). Conclui-se, assim, que não parece existir qualquer aumento na síntese da proteína C reactiva induzida por infecções virais, e que, se houver aumento, este estará, provavelmente, associado a infecções bacterianas secundárias muitas vezes concomitantes com as infecções virais (Jinbo et al., 1999).

Ao induzir inflamação na mucosa gástrica através da administração de ácido acetilsalicílico, indometacina e cloreto de sódio, Otabe et al. (2000), observaram que as concentrações de PCR aumentavam. Estes resultados estão de acordo com os de Hayashi et al. (2001) que, ao administrar óleo de terebentina, verificaram que houve um grande aumento da proteína entre o 1º e o 4º dia, comprovando, assim, que a presença de inflamação conduz à síntese de PCR.

Uma vez que numa intervenção cirúrgica existe sempre um processo inflamatório ao nível dos tecidos, será sempre de esperar um aumento da proteína C reactiva, variando, este, consoante o tipo cirurgia. Yamamoto et al. (1993) realizaram um estudo em 29 animais sujeitos a diferentes tipos de cirurgia (ovariohisterectomia convencional e devido a piómetra, ortopedia, extracção dentária e remoção de um tumor superficial). As concentrações de

PCR antes da cirurgia, à excepção dos animais que vieram para ovariohisterectomia convencional, apresentaram-se com valores superiores aos normais, uma vez que já manifestavam sinais de inflamação. As concentrações séricas desta proteína apresentaram valores muito elevados às 24-48 horas, sendo os valores médios no momento do pico de 383,2 µg/ml para as ortopedias, 249,2 µg/ml nas extracções de tumores superficiais, 181,6 µg/ml para as ovariohisterectomias por piómetra e 136,2 µg/ml para as ovariohisterectomias convencionais. O tipo de intervenção cirúrgica, reflecte a gravidade e extensão das lesões tissulares (Caspi et al., 1984), sendo o aumento superior quando há uma maior manipulação muscular ou da medula óssea, como é o caso das ortopedias (Yamamoto et al. 1993b). Hayashi et al. (2001) ao realizar uma ovariohisterectomia convencional em cinco cães verificaram que os valores da proteína C reactiva também atingiram um pico às 24 horas, apresentando valores entre 105,8 mg/L e 199,0 mg/L, confirmando assim os resultados obtidos por Yamamoto et al. (1993).

Foi realizado um outro estudo em 67 cães que apresentavam diferentes tipos de tumor (16 com linfoma, 11 com leucemia linfoblástica aguda, 7 com leucemia linfoblástica crónica, 8 com mieloma múltiplo e 25 controlos) (Mischke et al., 2006). Os valores obtidos variaram consoante o tipo de tumor, obtendo-se como valores médios para o linfoma 37,2 µg/ml, para a leucemia linfoblástica aguda 47,8 µg/ml, para a leucemia linfoblástica crónica 35,5 µg/ml, para o mieloma múltiplo 17,6 µg/ml e para a população controlo 1,67 µg/ml. Os resultados indicam que, quanto mais severo é o tipo de tumor, mais elevadas serão as concentrações de PCR, podendo estes valores ajudar no prognóstico de uma neoplasia. Estes resultados estão de acordo com o estudo realizado por Caspi et al. (1984) onde se verificou que em diferentes tipos de tumores mamários, as concentrações de proteína C reactiva eram significantemente mais elevadas em animais com tumores malignos do que os que apresentavam neoplasias benignas. Também se verificou que os animais que apresentavam tumores malignos com metástases, os seus valores eram superiores do que os que não apresentavam qualquer tipo de metástase (Gillet, 2002

)

. Normalmente, os valores de PCR associados a alterações neoplásicas, são proporcionais à evolução do processo, estando relacionados com o grau de neoplasia, com o prognóstico e com a taxa de sobrevivência (Mazhar e Ngan, 2006).

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