• Nenhum resultado encontrado

Variabilidade nos perfis de resposta de jovens futebolistas às cargas de treino

1.1.5. Planeamento a curto prazo nos jogos desportivos coletivos

1.1.5.2. Variabilidade nos perfis de resposta de jovens futebolistas às cargas de treino

O futebol de elite exige a utilização de processos de treino capazes de dar resposta à complexidade do jogo e que reproduzam fielmente os seus padrões fisiológicos, técnicos e táticos. Para que os treinadores possam prescrever cargas de treino que

50

repliquem as exigências competitivas, é necessário identificar os indicadores de performance que melhor definam o perfil de atividade dos jogadores em competição. O futebol pode ser descrito como uma modalidade de caráter intermitente com uma elevada variabilidade de estímulos e intensidades (Rebelo, Brito, Seabra, Oliveira, & Krustrup, 2012) resultantes da luta pela posse de bola, sprints com mudanças de direção e tomadas de decisão técnico-táticas (Gonçalves et al., 2013). Os valores de FC máxima de um jogador durante um jogo de futebol raramente estão abaixo dos 65% (Bangsbo, Mohr, & Krustrup, 2006), com valores médios e máximos de 85% e 98%, respetivamente (Krustrup, Mohr, Ellingsgaard, & Bangsbo, 2005). Na verdade, os jogadores são obrigados a executar ações de alta intensidade que incluem mudanças de direção com períodos curtos de recuperação (Dellal, Keller, Carling, Chaouachi, Wong, & Chamari, 2010). Neste sentido, a capacidade de recuperar e produzir ações subsequentes de alta intensidade é considerada um requisito importante para se atingir performances de alto nível (Girard, Mendez-Villanueva, & Bishop, 2011).

São vários os parâmetros que devem ser considerados na avaliação dos perfis físicos e fisiológicos, tais como a FC (Buchheit, Simpson, Al Haddad, Bourdon, & Mendez- Villanueva, 2012), perceção subjetiva do esforço (Impellizzeri, Rampinini, Coutts, Sassi, & Marcora, 2004b), capacidade de executar sprints repetidos e mudanças de direção (P., Chan, & Smith, 2012). Para além destas variáveis, os perfis de tempo- movimento têm sido analisados com recurso a sistemas de posicionamento global (GPS) (Casamichana & Castellano, 2010), considerados válidos para a avaliação da performance em jogos desportivos coletivos (Coutts & Duffield, 2010). O uso extensivo desta tecnologia deve-se em parte, ao facto dos aparelhos serem leves, pequenos, portáteis e permitirem analisar vários jogadores em simultâneo (Aughey & Falloon, 2010). Partindo dos registos de posicionamento, estes instrumentos são capazes de fornecer dados em tempo real relativos a velocidades de deslocamento, distâncias percorridas e acelerações, normalmente descritos em função do posto específico (Bradley, Di Mascio, Peart, Olsen, & Sheldon, 2010), nível de jogo (Mohr, Krustrup, & Bangsbo, 2003) e idades (Buchheit, Mendez-Villanueva, Simpson, & Bourdon, 2010a). Por exemplo, a distância total percorrida por jogadores jovens durante um jogo pode variar entre 4435 e 8098m, sendo que 12% inclui ações de alta intensidade (Rebelo et al., 2012), valores que tendem a aumentar com a idade (Buchheit et al., 2010a). Os defesas percorrem menores distâncias em alta intensidade do que os outros jogadores,

51

enquanto os médios e laterais percorrem distancias semelhantes a alta intensidade (Mohr et al., 2003). Curiosamente, a distância total percorrida durante um jogo está fortemente correlacionada com a capacidade de realizar sprints repetidos (Rampinini, Bishop, Marcora, Bravo, Sassi, & Impellizzeri, 2007). Neste sentido, a capacidade de sprints repetidos é considerada uma qualidade chave na discriminação de jogadores hábeis tecnicamente (Gabbett, 2010). Mais, as sequências de sprints repetidos e o número de sprints são afetados pela idade, posto específico e tempo de jogo, sendo que tendem a diminuir à medida que o jogo avança (Buchheit, Mendez-Villanueva, Simpson, & Bourdon, 2010b).

As sessões de treino de futebol centram-se em situações jogadas com grande variabilidade ao nível dos estímulos técnicos, táticos e fisiológicos (Hill-Haas et al., 2011). Por essa razão, a manipulação de constrangimentos é uma tarefa complexa, uma vez que as características individuais de cada jogador podem permitir a manifestação de diferentes comportamentos em resposta a estímulos semelhantes (Chow, Davids, Hristovski, Araujo, & Passos, 2011).

Muitas competições de equipas jovens organizam-se por escalões etários, no entanto é importante considerar que a maioria das habilidades motoras experiencia desenvolvimentos significativos durante o período pubertário (Cady, 1984; Côté & Fraser-Thomas, 2007; Fernandez-Gonzalo, De Souza-Teixeira, Bresciani, Garcia- Lopez, Hernandez-Murua, Jimenez-Jimenez, et al., 2010). Como consequência, os perfis físicos e fisiológicos podem variar entre jogadores de idades e tempos de prática semelhante (Cobley, Baker, Wattie, & McKenna, 2009). Ainda assim, os dados da performance no treino poderão ser usados para classificar os jogadores e estabelecer grupos homogéneos para a identificação de talentos e prescrição dos exercícios. Se os jogadores forem agrupados em função de perfis físicos e fisiológicos semelhantes, a variabilidade da resposta a nível fisiológico será minimizada, permitindo aos treinadores ter um controlo mais fiável e eficiente sobre a resposta dos jogadores.

As cargas de treino semanais variam de acordo com as fases do ciclo anual, o que pode induzir diferentes stresses fisiológicos nos jogadores (Impellizzeri et al., 2004a). O período pré-competitivo é geralmente associado a maiores intensidades, principalmente devido à elevada concentração de cargas de treino (Issurin, 2008) e tempo de treino técnico-tático específico que, regra geral, consistem em JR de alta intensidade e jogos simulados (Jeong, Reilly, Morton, Bae, & Drust, 2011). Por outro lado, o calendário do

52

período competitivo cria constrangimentos como a recuperação após o jogo e preparação para o jogo seguinte (Gastin, Fahrner, Cook, Huntsman, Meyer, & Robinson, 2010). Assim, a principal preocupação dos treinadores durante este período é manter a capacidade física que os jogadores adquiriram durante o pré-competitivo (Reilly, 2007). Nesta linha de raciocínio, um estudo com jogadores jovens de elite mostrou que, no geral, a carga fisiológica da semana de treino foi superior no período pré-competitivo em comparação com o competitivo, verificando-se valores mais elevados de FC, mais tempo passado em zonas elevadas de FC e valores elevados de PSE (Jeong et al., 2011).

Aparentemente, as cargas de treino semanais variam de acordo com a idade, observando-se um aumento da intensidade em idades mais avançadas, provavelmente pelo enfoque no desenvolvimento das capacidades físicas e preparação para a competição (Wrigley, Drust, Stratton, Scott, & Gregson, 2012). Como resultado, os microciclos são ajustados e adequados a esses objetivos. Por exemplo, a literatura já mostrou que jogadores sub-18 foram sujeitos a volumes de treino superiores refletidos por sessões adicionais de campo e ginásio quando comparados com jogadores sub-16 e sub-14 (Wrigley et al., 2012). De facto, a progressão das cargas físicas de treino é crucial para o desenvolvimento da performance física e prevenção de lesões (Matos & Winsley, 2007). Esta tendência parece reproduzir os princípios de treino defendidos pelo modelo de preparação desportiva a longo prazo, que sugere cargas de treino estruturadas de acordo com o estado de maturação do jogador (Balyi & Hamilton, 2004).

http://www.youtube.com/watch?v=NEwkkjvs-C8