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3 PRESERVAÇÃO E ARQUIVAMENTO PARA A ARTE COMPUTACIONAL: ALGUNS MÉTODOS E INICIATIVAS

3.2 SITES E PORTAIS PARA A PRESERVAÇÃO DE OBRAS DE ARTE COMPUTACIONAIS

3.2.2 Variable Media Questionnaire (VMQ)

O Variable Media Questionnaire131 (VMQ) é outra estratégia de preservação, que facilita o diálogo com o artista que é utilizado por alguns museus. Foi desenvolvido em 1999 com o objetivo de preservar trabalhos baseados em tecnologia computacional para a coleção permanente do Museu Guggenheim, Nova Iorque/EUA. Inicialmente, também foi apoiada pela Daniel Langlois Foundation, em Montreal, juntamente com Jon Ippolito, curador associado do museu. Consiste em um formulário ligado a um banco de dados no qual se armazenam e são obtidas informações sobre um projeto computacional, sua performance e outras características da obra, uma vez já cadastrada (Figura 18). O VMQ foi implementado para sustentar o entendimento de quais atributos do projeto artístico devem ser refeitos, além de indicar o melhor caminho a ser seguido para futuras recriações necessárias para a manutenção da obra, utilizando uma metodologia diferenciada e inovadora. A obra é descrita não apenas como uma lista de materiais, peças e componentes, mas também por suas características funcionais. É feita uma análise destas informações com a definição da obra de arte independente de seu meio, traduzindo o projeto artístico para uma tecnologia ou meio atual, visando fugir da obsolescência.

As informações disponíveis no site do VMQ132 esclarecem que, dentro do universo mapeado da obra são identificados comportamentos e estratégias determinando as ações a serem realizadas por artistas, conservadores e curadores, a fim de promover sua preservação. Os comportamentos das obras são variáveis, sendo necessário avaliar cada caso e tomar as medidas particulares para a sua salvaguarda. O VMQ decodifica a obra de arte, fazendo com que uma parte ou sua totalidade seja escrita em código computacional, no caso de obras que utilizam as novas mídias. A revisão e o detalhamento da combinação de processos que resultam na obra de arte, juntamente com a inscrição cuidadosa dos seus componentes físicos e sua função, acabarão por indicar a(s) estratégia(s) mais adequada(s) para sua preservação.

Disponível em: <https://www.guggenheim.org/conservation/the-variable-media-initiative>. Acesso

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em: 28 nov. 2017

Disponível em: <http://variablemediaquestionnaire.net/>. Acesso em: 02 dez. 2017.

Figura 18 - Página inicial do Variable Media Questionnaire

Fonte: Site Variable Media Questionnaire. Disponível em: <http://variablemediaquestionnaire.net/>. Acesso em: 02 dez. 2017.

Diferentemente da obra de arte tradicional, a arte que utiliza a tecnologia computacional na sua produção, visualização, manutenção e/ou exposição pode ser duplicada, pois o projeto é uma interpretação tecnológica do processo implementado pelo artista através da programação de hardware e/ou software. Esses códigos podem ser copiados para recriar a obra, sendo esta uma das maneiras de preservá- la e torná-la disponível para futuros acessos. Nas imagens digitais, que são simulações codificadas, a combinação numérica binária fornece condições para gerar, processar, transmitir, conservar, modificar, e criar imagens (PLAZA & TAVARES, 1998), bem como sua possibilidade reversiva que pode ser traduzida em números.

O Museu Guggenheim, para exploração do VMQ, fez uma seleção de obras para estudo de casos, com a colaboração de artistas e especialistas em

preservação133 e a Daniel Langlois Foundation com o propósito de realizar a emulação como forma de preservação. Além disso, alguns eventos foram organizados para discutir a problemática e o impacto da cultura de emulação134. Os estudos de casos e as conferências, através de comparações das estratégias disponíveis feitas pelos participantes, com o intento de se obter algum consenso para a manutenção das obras computacionais, resultaram na defesa de processos descentralizados e desinstitucionalizados para a preservação da cultura computacional.

Preservar obras demanda um código de ética e eleva a problemática de manutenção destas obras também a uma questão econômica, além de outras demandas. Para maior efetividade no contexto tecnológico computacional, as ações de atualização destas obras devem ser continuadas, pois a não preservação ou não documentação de obras de arte, digitais ou analógicas, gera um impacto na história da humanidade pela escassez de material, não conseguindo-se referir obras sem que estas possam ser revistas (RINEHART & IPPOLITO, 2007). Como consequência disto, pode-se concluir que a ausência de condições de preservação e arquivamento das obras de arte que utilizam aparatos e dispositivos computacionais abre caminho para o aparecimento de uma lacuna histórica.

O argumento da preservação de obras de arte não é recente, no que diz respeito à responsabilidade de manter a integridade física e o valor artístico da obra, e ao máximo sua essência original. Este mesmo compromisso existe com as obras de arte computacionais na contemporaneidade, diante dos materiais e tecnologias diversas utilizadas pelos artistas que, por consequência, vão gerar novos parâmetros de preservação. As obras de arte levam consigo as marcas de seu tempo e os conceitos imanentes do autor, inseridos em um entorno sensível, no amplo campo da cultura. Portanto, cabe às instituições museais como espaços de formação cultural, em conjunto com artistas, curadores e demais profissionais comprometidos com preservação da arte, de um modo geral, manter as obras e

Os participantes incluíram os artistas Ken Jacobs, Robert Morris, Mark Napier e Meg Webster,

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bem como os especialistas em preservação Jennifer Crowe, Steve Dietz, Jon Gartenberg, Richard Rinehart, Jeff Rothenberg e Benjamin Weil. Disponível em: <https://www.guggenheim.org/ conservation/the-variable-media-initiative>. Acesso em: 28 nov. 2017.

Disponível em: <https://www.guggenheim.org/conservation/the-variable-media-initiative>. Acesso

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suas informações através da criação de métodos e práticas eficientes na conservação da herança cultural.