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VEÍCULO: TRIBUNA DO NORTE DATA: 14.09.14 EDITORIA: ECONOMIA Baía dos Negócios: Baía Formosa estimula empresas e eleva arrecadação

Os atrativos naturais do município de Baía Formosa (distante cerca de 90

quilômetros de Natal) são inigualáveis. Praias, lagoas e, principalmente a baía, que dá nome à cidade ficaram famosas no Brasil após a novela da tv Globo, Flor do Caribe, que teve cenas gravadas no lugar. Além da fabricação de açúcar e álcool, o turismo foi uma das molas da economia da cidade durante muitos anos. No entanto, em décadas, as demais variações do setor terciário pouco se desenvolveram.

Nos últimos quatro anos, porém, o segmento de comércio e serviços teve um incremento significativo. A quantidade de empresas registradas passou de 75 para 452, elevando em mais de 100% a arrecadação municipal. Mercadinhos, lojas de materiais de construção e outros tipos de comércio se expandiram e passaram a contratar mais mão de obra local, diversificando a economia, antes basicamente focada no turismo e na indústria canavieira.

Uma das explicações para esse desenvolvimento em tão pouco tempo está relacionada à implementação da Lei 123 - também conhecida como Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Promulgada pelo Congresso Nacional em 2006, a lei instituiu um abrangente arcabouço de tratamento diferenciado e simplificado para as micro e pequenas empresas.

Divulgação/Sebrae

A lei representa um grande avanço por estabelecer regras para um ambiente legal positivo para o empreendedorismo ao determinar uma série de dispositivos que garantem facilidades para quem deseja empreender. Entre elas, redução da carga tributária, desburocratização do processo de abertura de empresas e possibilidade de formalização de autônomos como Microempreendedores Individuais (MEI). Em um dos capítulos mais importantes - o quinto - trata do acesso a mercado e abre a possibilidade para os municípios adequarem seus processos licitatórios ao

desenvolvimento local, priorizando os pequenos negócios. A legislação estabelece um tratamento diferenciado às MPE nas licitações públicas (veja benefícios no infográfico, nesta página), além de cotas de até 25% em aquisições de produtos e serviços das empresas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano.

Em Baía Formosa, a Lei Geral foi sancionada em 2010, e, aos poucos, foi saindo do papel. A realização de uma Oficina Sebrae de Empreendedorismo (OSE), em 2012, também instigou o espírito empreendedor no empresariado da cidade. Daí em diante, o número de negócios de pequeno porte só cresceu.

“Incentivar o empreendedorismo tem sido imprescindível para o desenvolvimento da cidade. Criamos todos os instrumentos jurídicos para o crescimento sustentável. Descobrimos que priorizar os pequenos negócios é o caminho”, argumenta o prefeito de Baía Formosa, Nilvaldo Melo.

Licitações

A estratégia adotada foi criar mecanismos para que as empresas da cidade

participassem das licitações, aproveitando todo e qualquer produto e serviço que pudessem integrar a lista de fornecedores da prefeitura. De serviço de transporte e construtoras ao fornecimento de descartáveis. “Tínhamos dificuldades de fazer os certames porque as empresas locais não participavam das compras da prefeitura. Não havia empresas formalizadas”, lembra o prefeito.

Hoje, o volume licitado por ano pela Prefeitura de Baía Formosa chega perto dos R$ 8 milhões. Desse total, 50% do valor ficam com empresários do município. De acordo com Nivaldo Melo, Baia Formosa foi a cidade potiguar que registrou o maior

crescimento proporcional do Produto Interno Bruto (PIB) – hoje estimado em R$ 215 mil – e conseguiu reduzir o índice de pobreza em 62,9%. “Isso é um reflexo do

Comércio cresce na esteira da Lei

Um dos setores que mais soube aproveitar as oportunidades surgidas na cidade com a implementação da Lei Geral foi o comércio. Muitos comerciantes que antes não viam perspectivas de crescimento, hoje vivenciam momentos de expansão depois que passaram a fornecer para o município. O exemplo de Márcio Magno Carvalho retrata bem essa realidade. Há 11 anos, ele possui, no centro da cidade, o

Mercadinho Progresso. O empreendimento só ganhou robustez a partir de 2010, quando o empresário decidiu participar das licitações da Prefeitura de Baía Formosa. A empresa venceu um lote e passou a fornecer gêneros alimentícios aos órgãos da administração municipal.

A participação no certame animou Márcio e o estimulou a buscar mais mercado. Três anos depois, venceu licitações de cidades vizinhas, de modo que o faturamento anual do negócio chega a R$ 400 mil em média e ele pode contratar dois

funcionários registrados na empresa.

O ex-montador de móveis José Gomes Pinto Neto percebeu que poderia ter a mesma chance. Montou um negócio próprio, a Madereira Gomes, e formalizou a empresa há quatro anos. A obtenção de um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) o habilitou a participar das licitações públicas e atualmente a empresa

integra a lista de fornecedores do município na área de materiais de construção. O negócio vem registrando crescimento anual de vendas de 40%. A prefeitura é o principal cliente e tem contribuído para engordar o faturamento de até R$ 30 mil/ mês. “Se não estivesse formalizado, isso não seria possível”, calcula Gomes que, recentemente, pode contratar o primeiro funcionário.

A única loja de materiais de informática da cidade também é fruto dos incentivos dados para se empreender. Após a experiência na área de reciclagem de cartuchos em João Pessoa (PB), Vinicius Figueiredo fez uma aposta: abrir a primeira loja desse segmento em Baía Formosa.

Após se formalizar, a empresa fez a segunda aposta: participar das licitações no ano passado. Venceu o primeiro lote para recarga de cartuchos. Em seguida, conseguiu outro contrato para abastecer a administração municipal com suprimentos de informática. A receita mensal praticamente duplicou.

“Roteirização” dará visibilidade maior ao turismo

Para consolidar o turismo e fomentar a economia do município, a Prefeitura de Baía Formosa aposta em um calendário de eventos que atraia turistas para a cidade mesmo na baixa estação. Festivais gastronômicos, torneios esportivos e festival de cinema tem incrementado a cadeia produtiva do turismo. O município é um celeiro de oportunidades para empresas que atuam neste setor.

De acordo com o gerente do Escritório Regional do Sebrae no Agreste, Leonel Pontes, a instituição planeja para o próximo ano iniciar um trabalho de roteirização turística, que integrará o município à Canguaretama e Vila Flor, dando visibilidade ao turismo local e tornando possível ao turista conhecer os atrativos do litoral sul do Estado.

A parceria do Sebrae com o município foi fundamental para a implementação da Lei Geral na cidade ao orientar e acompanhar o processo de regulamentação da lei e, posteriormente, por meio de apoio técnico da equipe da instituição e de consultores especialistas, auxiliar a gestão municipal na adoção de ações para tornar realidade os princípios legais.

Foi disponibilizado um consultor para a implantação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim). Através desse sistema, é possível fazer a abertura, fechamento, alteração e regularização de empresas em todas as Juntas Comerciais do Brasil, simplificando procedimentos e reduzindo a burocracia.

participação dos pequenos negócios na economia local e criem um ambiente favorável ao desenvolvimento dessas empresas e o surgimento de novos negócios”, diz Leonel Pontes.

Segurança

Com a abertura da Sala do Empreendedor, os índices de informalidade vêm caindo e as formalizações só aumentam. Atualmente, Baía Formosa conta com 341

Microempreendedores Individuais (MEI) registrados. Um deles é o bugueiro José Duarte da Silva, conhecido na cidade como Dedeca. Com uma experiência de 20 anos levando turistas a bordo do buggy para passeios ao longo dos 18 quilômetros de orla, Dedeca descobriu que a aventura poderia ficar mais segura se pudesse contar com cobertura previdenciária. Em 2011, o autônomo saiu do mercado informal e se registrou como MEI, tornando-se o primeiro bugueiro da cidade formalizado. “A abertura da empresa valeu a pena pela seguridade oferecida pela Previdência Social. Formalizado tudo fica mais seguro”, resume. Dependendo da temporada, chega a fazer dois passeios por dia, principalmente na alta estação, que vai de novembro a fevereiro. Isso proporciona um rendimento que entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por mês. Mas, dos 40 bugueiros, só dois são formalizados e Dedeca é um deles.

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