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A Resolução nº 23.450/2015 do Tribunal Superior Eleitoral dispõe sobre o calendário eleitoral de 2016. São citadas, a seguir, as datas com suas respectivas vedações com o objetivo de evitar o mau uso do recurso público:

a) 01 de janeiro – Data a partir da qual fica vedada a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais já autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

b) 05 de abril (180 dias antes) – Data a partir da qual, até a posse dos eleitos, é vedado aos agentes públicos fazer, na circunscrição do

pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano de eleição (Lei nº 9.504/97, art. 73, inc. VIII).

c) 02 de julho (3 meses antes)– Data a partir da qual são vedadas aos agentes públicos as seguintes condutas:

1 - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar o exercício funcional e ainda, ex oficio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, até a posse dos eleitos (Lei nº 9.504/97, art. 73, incs. V e VI).

Exceções:

a) Nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de confiança;

b) Nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República;

c) Nomeação dos aprovados em concurso público homologado até 02 de julho de 2016;

d) Nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do chefe do Poder Executivo.

e) Transferência ou remoção ex ofício de militares, de policiais civis e de agentes penitenciários;

2 - Realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou de serviço em andamento e com cronograma prefixado, e aos destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública.

Em relação às sanções, a LRF impõe limite de gastos a todos os entes da federação, seus Poderes e órgãos da administração direta e indireta, com pessoal e seguridade social; além de restrições para o endividamento público e regras para sua administração.

A LRF estabelece parâmetros e limites para gastos e endividamentos, sob pena de sanções administrativas (suspensão ou a não

transferência de recursos voluntários, proibição de contratação de operações de crédito, contingenciamento de créditos, etc.).

As sanções penais ou os crimes contra as finanças públicas estão inseridos no Código Penal, Decreto-Lei nº 2.848/40, alterado pela Lei n° 10.028/00. A alteração fez-se necessária para inclusão dos crimes cometidos contra as finanças públicas.

A LRF determina, ainda, regras de gerência das gestões patrimonial e financeira relacionadas às disponibilidades de caixa, preservação do patrimônio público e empresas controladas, além de impor limitações de gastos no último ano do final dos mandatos do Presidente da República, Governadores de Estado e Distrito Federal, Prefeitos, presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas, presidentes de autarquias, dirigentes de fundações públicas, reitores das universidades, entre outros.

Estabelece regras para transferências voluntárias de recursos entre os entes da federação e destinação de recursos públicos para o setor privado, bem como veda, como regra, o socorro a instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN), porém autoriza a criação de fundos e de outros mecanismos do SFN para fins de prevenção de insolvência e de outros riscos, constituídos pelas instituições do SFN.

Segundo art. 37, § 4º, da Carta Magna, os atos de improbidade administrativa acarretarão suspensão de direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, bem como da sanção penal cabível.

Um dos pilares básicos da LRF – a responsabilização – ocorrerá sempre que houver descumprimento às regras estabelecidas na LRF. A responsabilização do mau gestor poderá ser implementada através de sanções administrativas, penais, políticas ou morais.

As sanções administrativas correspondem à perda do cargo ou função pública; à proibição de contratação de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita; e à suspensão ou impedimento em receber transferências voluntárias de recursos da União ou do Estado.

A lei 10.028/2000, em seu art. 5º, § 1º, cita punição com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoal. O § 2º informa que a infração a que se refere o artigo será processada e julgada pelo tribunal de contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e orçamentária da pessoa jurídica de direito público envolvida.

Desse modo, de acordo com a análise do arts 359-B, que trata da proibição de despesa não empenhada em restos a pagar, 359-C, que veda a assunção de obrigação no último ano de mandato, e 359-F que pune o não cancelamento dos restos a pagar inscrito em valor superior ao da lei, percebe- se que não será possível a aplicação simultânea dos mencionados artigos contra o mesmo agente, exceto em caso de reeleição do gestor público.

Isso porque as condutas descritas em tais dispositivos são dependentes umas das outras, representando encadeamento de fatos. Nesse caso, aplica-se a pena mais grave. O operador do direito pode, por vários argumentos de interpretação da LRF, concluir que os termos do art. 42 da LRF servem para indicar o valor permitido em lei, a que se referem os arts. 359-B e 359-F do Código Penal.

Tratando-se de aplicação de Direito Penal, o ato somente é vinculado. Daí pode-se argumentar que, se a LRF não trouxe expressamente esse limite fixado – pelos motivos acima relatados – os arts. 359-B e 359-F do Código Penal não podem incidir, estando com sua eficácia suspensa até que lei determine literalmente esse valor.

O art. 73 da LRF estabelece que as infrações dos dispositivos desta Lei Complementar serão punidas segundo o Decreto-Lei 2.848/1940 – Código Penal; a Lei nº 1.079/1950; o Decreto-Lei 201/1967; a Lei 8.429/92; e demais normas da legislação pertinente.

O Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967 dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos e vereadores, e dá outras providências. O artigo 1º, inciso XII, do mesmo decreto, determina que é crime de responsabilidade dos prefeitos: "antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o Erário".

A Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950 define os crimes de responsabilidade do presidente da república e ministros de Estado e regula o respectivo processo de julgamento.

A Lei 8.429/92 define os atos de improbidade administrativa.

As penas restritivas de direito e as alternativas são substitutivos penais, processo e rito especialíssimos para tipos penais para infrações de menor potencial ofensivo (pena máxima de 2 anos) na forma do art. 61 da Lei 9.099/1995, bem como art. 2º parágrafo único da Lei 10.259/2001.

A pena restritiva de direitos ocorre nos casos previstos no art. 44 do Código Penal. A prestação de serviços à comunidade é a medida permite ao gestor público condenado a conscientização dos problemas sociais e tem maior valor coercitivo. No Código Penal, a pena de prestação de serviços à comunidade está prevista no art. 46.

A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. As tarefas são atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas, durante oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.

Findo ou suspenso o processo penal com base no art. 89 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, o Ministério Público opinará acerca do cabimento da pena de prestação de serviços à comunidade. Cabe ao Magistrado, em acolhendo as razões do Ministério Público e de acordo com o seu próprio convencimento com relação aquele acusado em especial e às circunstâncias que o levaram a infringir o sistema legal, sentenciar o condenado ou processado (em caso de suspensão do processo), na forma legalmente prevista, pelo tempo que julgar, dentro dos parâmetros legais, convenientes ao apenado, e designar, de pronto, a entidade ou programa comunitário ou estatal junto ao qual prestará serviço. Depois de intimado da sentença, será cientificado do local onde cumprirá a pena e seguirá com a documentação que lhe for fornecida pelo cartório (ofício à entidade e cópia da sentença).

As sanções políticas referem-se ao julgamento perante o Poder Legislativo, que poderá acarretar a suspensão dos direitos políticos por até oito anos.

As sanções morais representam a repercussão do uso indevido do patrimônio público diante do eleitor. O gestor público que tiver suas contas reprovadas será “banido” da administração pública pelos cidadãos através do seu poder de voto ou da pressão popular.

9. CONCLUSÃO

Antes o exposto, conclui-se que a LRF representa um avanço no campo da atividade financeira do Estado. O controle dos restos a pagar é norma louvável que vem se somar a outras regras já existentes. Em sua disciplina ressalta a importância de opor um óbice ao ânimo de administradores em assumir obrigações além da capacidade financeira do ente.

Constatou-se que a LRF tenta impedir o deficit fiscal na ocasião do aparecimento da obrigação líquida, certa e exigível que não pode ser paga até o final do mandato. Observa-se que, na realidade, é uma questão de programação de caixa, cujo objetivo é o de manter os seus níveis com suficiência para atender a essas obrigações. Nessa programação, foram considerados, na determinação da disponibilidade de caixa, os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do exercício.

Como objetivo específico, o trabalho expôs como funciona o rigoroso controle da LRF no preenchimento de uma importante lacuna para a obtenção do equilíbrio fiscal. Esta lei estabelece regras para a adequação de despesas e dívidas públicas a níveis compatíveis com as receitas de cada ente da Federação, envolvendo todos os Poderes. Foram citados, também, os princípios norteadores desta regra de gestão fiscal.

Apresentou-se a composição do planejamento responsável como instrumento de transparência do gestor público. Ferramenta esta que assegura aos cidadãos um melhor acompanhamento de como funciona a gestão pública dos recursos.

Foram citados conceitos, fases, regimes contábeis e ocorrências das despesas e receitas públicas para uma reflexão direta sobre o funcionamento das contas públicas dos gestores.

Por fim, demonstrou-se a importância e as condições para inscrição dos restos a pagar na transição dos gestores públicos, bem como suas vedações e sanções no combate ao desequilíbrio financeiro.

O cuidado que o legislador teve ao abordar a questão dos restos a pagar encontra fundamento na vedação aos gastos meramente eleitorais

ímprobos, permitindo ao futuro gestor encontrar uma máquina apta a atender as necessidades públicas.

A despesa empenhada e não paga deve ser observada à luz das normas reguladoras do processo orçamentário. Busca-se, com isso, um justo equilíbrio entre credor e Administração, sem se afastar das sanções aplicáveis ao gestor que venha a descumprir as limitações aplicáveis, procurando evitar a distorção da real essência da Lei de Responsabilidade Fiscal, que é a proteção da coisa pública.

Diante do exposto, demonstrou-se que o impacto da despesa e da receita em relação aos restos a pagar no período de mudança dos gestores públicos aumenta os riscos da dívida pública quando não é realizado o planejamento público de forma vinculada e eficiente. A inscrição de despesas em restos a pagar implica na concepção de obrigações em volume superior à capacidade de pagamento. Isso constitui uma das formas de financiamento do setor público, acarretando o comprometimento de receitas futuras e a imobilização dos governos no início de cada exercício financeiro.

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