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4. VULNERABILIDADE AMBIENTAL DE NATAL

4.2 Caracterização ambiental de Natal através dos Planos de Informações

4.2.5 Vegetação e Uso do Solo

A cobertura vegetal age como fixador do solo, uma vez que as raízes das plantas são capazes de impedir o movimento dos grumos de terra. Além desse fator, solos expostos são mais vulneráveis às ações dos agentes intempéricos, tendo em vista que as copas das árvores atuam como uma camada protetora, impedido a radiação solar direta no solo, sendo propício o desenvolvimento da matéria orgânica e evitando o gotejamento direto das precipitações pluviométricas que possam causar o efeito “splash” que desagrega as partículas do solo. A vegetação impede a compactação do solo, promove a aeração, permeabilidade e porosidade do solo e dificulta o escoamento superficial concentrado, inibindo a erosão.

A confecção do mapa de Vegetação e Uso do Solo foi realizada por meio do processamento de imagens no programa SIG Arcgis 9.3, na qual houve a vetorização dos polígonos representando os diferentes usos e tipos de cobertura do solo com auxílio de interpretação de imagem do satélite Worldview-2 (2010) – que tem uma resolução espacial de até 0,5 metros. Foram selecionadas as principais ocorrências de vegetação possíveis de serem analisadas na escala de mapeamento equivalente a 1:50.000, bem como as principais formas de uso do solo. Foi sobreposto a esta vetorização, o mapeamento realizado pela Defesa Civil Municipal com as áreas de risco da cidade.

Como notado no mapa a seguir, a cidade de Natal conta com diversas lagoas, sejam elas naturais, que afloram a partir da ressurgência do lençol freático, ou artificiais para a captação de águas pluviais da drenagem urbana.

Na região Oeste localiza-se o antigo lixão de Cidade Nova que se encontra ocupando as dunas entre os bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão. Esta área foi assim destinada desde o ano de 1968, quando a prefeitura de Natal já designava os resíduos sólidos da cidade neste local a céu aberto. Só em 1983 fora implementado o Aterro Sanitário de Cidade Nova, no qual, havia apenas as características de um aterro controlado, contudo, a falta de material de recobrimento do lixo acarretou a destruição das dunas no entorno. Conforme dados da Prefeitura do Natal, os resíduos sólidos foram dispostos em um local com apenas trinta hectares há décadas, com o aterramento de aproximadamente 04 milhões de toneladas de lixo até 1997, o que formou uma camada de lixo entre 10 a 18 metros de altura. Desde 2004 a área do antigo lixão de Cidade Nova serve como transbordo, onde o lixo coletado é lançado temporariamente até seu destino final no aterro sanitário controlado em Ceará-Mirim. Entretanto o grande volume de resíduos (cerca de 700 toneladas/ dia) faz com que a situação do antigo lixão não mude, de modo que, na atualidade, ainda seja possível encontrar catadores, ausência de material de recobrimento do lixo e falta de

cercas de proteção. Esta área não tem capacidade de receber mais resíduos, tendo vista que praticamente 100% da capacidade do local já foi utilizada e a camada de lixo antigo encontra-se espessa, impedindo a construção de uma nova célula. Além disso, se localiza em uma área de adensamento urbano crescente e está disposta sobre dunas, em que o chorume do lixo é facilmente absorvido pelo solo, contaminando assim, o aquífero. (PREFEITURA DO NATAL, 1997). As imagens a seguir ilustram o que foi supracitado.

Figura 23: Imagens da duna do lixão de Cidade Nova/ Cidade Nova – Planalto. À esquerda indicado pela seta, área de transbordo do aterro sanitário de Natal, antigo lixão de Cidade Nova, e ao lado da duna, construção de condomínio residencial. À direita: duna que abriga o antigo lixão de Cidade Nova com camada considerável de entulho, e no sopé da duna, concentração de lixo que é transportado pelo vento (devido à falta de telas de proteção) ou por catadores. Fonte: arquivo pessoal da autora, maio de 2013.

Na década de 1970 foi criado o Projeto Camarão, com o intuito de promover a carcinicultura no estado. Assim, esta atividade econômica passou a ocupar as áreas de mangue ao longo dos estuários presentes no Rio Grande do Norte. Com o estuário do rio Potengi não foi diferente, no qual o manguezal, sobretudo na porção mais a norte, teve extensas áreas devastadas para dar lugar aos tanques de criação das larvas de camarão.

Figura 24: Área destinada ao cultivo de camarão no bairro Salinas. Tanques de carcinicultura ocupando o espaço que outrora encontrava-se o manguezal. Fonte: Google Earth.

Área de transbordo de Cidade Nova

Área de transbordo de Cidade Nova

As áreas densamente urbanizadas, como o próprio nome já menciona, são aquelas com a presença de equipamentos urbanos, com forte adensamento populacional e residencial, além disso, geralmente são acompanhadas de áreas com intensa impermeabilização dos solos seja devido à pavimentação ou pela excessiva quantidade de construções. As áreas em processo de ocupação são assim denominadas por serem áreas adjacentes a porções de ocupação consolidadas com razoável infraestrutura ou áreas de expansão periféricas, distantes do núcleo urbanizado, com baixa densidade de ocupação e desprovidas de infraestrutura básica. As áreas de risco aqui elencadas, são aquelas mapeadas pela Defesa Civil Municipal e que, geralmente, apresentam moradias com condições precárias de engenharia, bem como em áreas de ocupação irregular ou de adensamento urbano elevado e pouca infraestrutura.

No tocante aos tipos florísticos encontrados na cidade, pode-se mencionar os seguintes: Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) que é encontrada na cidade apenas no Parque das Dunas. Tem por característica se desenvolver em regiões com temperaturas acima de 25ºC e elevadas precipitações (como pode ser observado no mapa da distribuição das precipitações na cidade de Natal, esta vegetação encontra-se em uma zona com médias pluviométricas acima de 1600mm por ano), também pode ser conhecida como floresta pluvial. Em Natal, é encontrada a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, pois se trata de uma formação florestal situada ao nível do mar, na planície costeira, com variação de altitude entre 5 a 100 metros, recobrindo tabuleiros do Grupo Barreiras. Os principais gêneros florísticos encontrados são Ficus, Alchornea,

Tabebuia e Tapirira guianensis (IBGE, 1991).

Figura 25: Remanescentes da mata Atlântica na cidade de Natal. À esquerda residência ocupando as bordas do Parque da Cidade, sendo possível ver ao fundo a Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas. À direita: casas ocupando área onde outrora encontrava-se a Mata Atlântica. Fonte: Arquivo pessoal, setembro de 2013.

Fazem parte das Formações Pioneiras aqueles tipos florísticos que se desenvolvem em substratos pedologicamente instáveis devido as constantes sedimentações do terreno. Elencam

neste grupo: A Floresta Esclerófila (Restinga Arbórea ou Arbustiva) sofre influência marinha e é responsável pela fixação das dunas que estão dispostas ao longo do litoral, praias e ocasionalmente terrenos do Grupo Barreiras que estão cobertos por Neossolos Quartzarênicos. Seu porte varia desde arbóreo a herbáceo. Conforme o IBGE (1991), a restinga arbórea é formada por arvoretas e algumas poucas árvores de menor porte, com copas bem desenvolvidas e irregulares, sendo facilmente encontrada a espécie Anacardium occidentale (cajueiro). O que muda basicamente da restinga arbórea para a restinga arbustiva é o porte da vegetação; nelas são possíveis encontrar a dominância de caméfitas dispostas ora espaçadamente, ora de forma mais densa sobre o estrato herbáceo-graminóide descontínuo. No geral, a restinga é composta por espécies com folhas esclerófilas, raízes longas e bem ramificadas. Já a restinga de porte herbáceo é encontrada próxima ao mar, com densidade variável e tendo como principais representantes a

Ipomoea pes-caprae (salsa-de-praia) e Paspalum vaginatum (capim-de-praia) (IBGE, 1991).

A fisionomia dessa vegetação é bastante heterogênea com vários extratos (como pode ser observado na imagem 26), sendo possível encontrar nas partes mais altas das dunas tipos lenhosos, de porte arbustivos intercalados por espécies herbáceas; nas encostas das dunas encontram-se frequentemente espécies arbustivas dispostas de forma densa, ao ponto das copas se encontrarem; já nos sopés das dunas os indivíduos de porte arbóreo estão abrigados. As principais espécies encontradas do estrato arbóreo são: Apuleia leiocarpa (Jitaí), Anacardium occidentale (Cajueiro),

Hancornia speciosa (Mangabeira), Coccoloba latifólia (Cajueiro-bravo), Ceasalpina echinata

(Pau-brasil), Spondias tuberosos (Umbuzeiro).

Figura 26: Perfil esquemático das fisionomias das áreas de influência marinha (Restinga): 1) Arbórea; 2) Arbustiva; 3) Herbácea. Fonte: RADAMBRASIL (1981).

Também integram as Formações Pioneiras os Manguezais, sejam eles arbóreos ou de porte herbáceo. É uma vegetação exclusiva de ambientes salobros de influência flúvio-marinha; com indivíduos adaptados aos altos teores de salinidade, sendo facilmente encontradas ao longo das margens do estuário do rio Potengi as espécies Lagunculária racemosa (Mangue branco),

Rhizophora mangle (Mangue vermelho ou sapateiro) Avicennia Germinans (Mangue canoé). A

vegetação é perenifólia, com altura média variando de 6 a 10 metros.

Figura 27: Manguezal do estuário do rio Potengi. À esquerda manguezal próximo à ponte velha, na comunidade do Mosquito, bairro Nordeste. À direita: manguezal no bairro de Felipe Camarão. Fonte: Arquivo pessoal, setembro de 2011.

Os Campos de Várzea se encontram ao longo de rios e lagoas, no qual a água doce inunda os solos circunvizinhos os deixando úmidos durante todo ano com fisionomia diversificada ora encontrando-se esparsa, ora densa e altura entre 0,3 metros e 2 metros. A Floresta ciliar sem carnaúba encontra-se ao longo do rio Pitimbu e rio Doce e ocupa uma faixa não excedendo algumas dezenas de metros; em alguns trechos se apresenta densa e exuberante, perenifólia, podendo seu dossel atingir entre 8 e 15 metros e algumas árvores atingindo 25 metros.

As Superfícies Arenosas estão basicamente relacionadas às dunas sem vegetação e, salvo algumas exceções aos solos expostos que podem ser encontrados ao longo da cidade. O mapa abaixo espacializa os diferentes tipos de vegetação e usos que são encontrados dispostos no substrato da cidade de Natal.

Mapa 20: PI Vegetação e Uso do Solo.

Fonte: Elaborado por Marysol Medeiros a partir de dados do IBGE (2010), Defesa Civil Municipal (2012), Imagens Worldview-2 (2010).

A metodologia original não incorpora as áreas urbanas, entretanto, tendo em vista que a capital potiguar apresenta forte adensamento urbano foi-se necessário adaptá-la de forma que este elemento tão significativo fosse contemplado. Para tanto, foi preciso apenas a vetorização das áreas de ocupação urbana conforme seu estágio de adensamento.

A ação do homem infere modificações na paisagem e na sua dinâmica natural, assim, todos os usos do solo foram classificados com vulnerabilidade muito alta, variando apenas o valor. Apresentando o valor extremo de vulnerabilidade, equivalente a 3,0, encontra-se as áreas de risco mapeadas pela Defesa Civil Municipal, que apresentam deficiência no padrão de urbanização, elevada precariedade das moradias que por sua vez, estão localizadas em áreas de risco ambiental. Também pela falta de infraestrutura urbana adequada, foram classificados com vulnerabilidade igual a 3,0 as áreas em processo de ocupação, tendo em vista que se tratam de áreas sem pavimentação, drenagem, iluminação pública e demais equipamentos urbanos fazendo com que a ausência destes causem diversos transtornos a população ali residente. A área do antigo lixão de Cidade Nova também recebeu o mesmo valor de vulnerabilidade devido o grande risco de contaminação que apresenta como também pelo impacto ambiental que causou durante anos e ainda não cessou. As áreas densamente urbanizadas tiveram grau de vulnerabilidade equivalente a 2,9 pois, apesar da elevada impermeabilização do solo, apresentam porções com condições adequadas de infraestrutura urbana. Já os viveiros de carcinicultura receberam valores equivalentes a 2,8 por se tratar de uma atividade que afeta sobremaneira o desenvolvimento do manguezal, podendo causar contaminações da água do estuário e consequentemente de toda a cadeia alimentar que ali vive.

As lagoas também foram classificadas com muito alta vulnerabilidade, e valor igual a 3,0, tendo em vista que a maioria delas estão dispostas em áreas de forte adensamento urbano e, além do mais, facilmente transbordam atingindo todas as construções que as circundam. Os solos arenosos, ou solos expostos também foram assim classificados devido à susceptibilidade que estes possuem para o desencadeamento da morfogênese, bem como as áreas com restinga herbácea, visto que se trata de uma vegetação que se desenvolve em solos de forte sedimentação e pouco estáveis.

A densidade da cobertura vegetal é o fator preponderante para se estabelecer as classe de vulnerabilidade. Dessa maneira a restinga arbustiva fora classificada com alta vulnerabilidade e valor igual a 2,6, pois seu porte não garante a densidade necessária para proteger completamente o solo dos agentes intempéricos.

Com valores equivalentes a 1,7 e exibindo consequentemente vulnerabilidade baixa devido à densidade da cobertura vegetal que apresentam estão os campos de várzea com porte arbustivo, a restinga arbórea, a floresta de manguezal e a floresta ciliar.

Devido a elevada densidade da vegetação que protege de forma salutar o solo no qual está sobreposto, a Floresta Ombrófila Densa foi classificada com muito baixa vulnerabilidade e recebeu valor equivalente a 1,0.

Tabela 14: Resumo das coberturas vegetais e dos usos do solo e respectivos valores de vulnerabilidade

Tipos de Uso/ vegetação Principais Características Peso

Floresta Ombrófila Densa em Terra Baixas

Floresta Atlântica. Com densidade de vegetação alta que protege o solo.

1,0

Campos de Várzea de porte arbustivo

Encontram-se ao longo de rios e lagoas, com presença de água doce inundando os solos circunvizinhos deixando-os úmidos, com fisionomia diversificada ora encontrando-se esparsa, ora densa e altura entre 0,3metros e 2 metros.

1,7

Floresta ciliar sem carnaúba Encontra-se ao longo dos rios e ocupa uma faixa não excedendo algumas dezenas de metros; em alguns trechos se apresenta densa e exuberante, perenifólia.

1,7

Floresta de Manguezal Encontra-se no estuário do rio Potengi, de fisionomia uniforme e altura variando entre 6 a 10m, perenifólia. Atualmente encontra-se bem degradada.

1,7

Floresta Esclerófila ou Restinga Arbórea

É facilmente encontrada fixando as Paleodunas da cidade, apresenta folhas esclerófilas que caem no período mais seco do ano, deixando o solo mais exposto à erosão, porém o porte arbóreo tem maior capacidade de proteção do solo.

1,7

Floresta Esclerófila ou Restinga Arbustiva

É facilmente encontrada fixando as Paleodunas da cidade, apresenta folhas esclerófilas que caem no período mais seco do ano, deixando o solo mais exposto à erosão.

2,6

Viveiros de Carcinicultura Ocupa áreas de mangue do estuário do rio Potengi, no qual o manguezal, teve extensas áreas devastadas para dar lugar aos tanques de criação das larvas de camarão.

2,8

Área densamente urbanizada Áreas de forte pressão urbana, com algumas áreas sem planejamento adequado. Forte impermeabilização do solo.

2,9

são artificiais para a captação de águas pluviais da drenagem urbana. A maioria está dispostas em áreas de forte adensamento urbano e facilmente transbordam atingindo todas as construções que as circundam.

Áreas de rico Áreas sem planejamento adequado e carente em infraestruturas básicas como esgotamento sanitário, pavimentação e drenagem, bem como precárias condições de habitações localizadas em áreas de grande vulnerabilidade.

3,0

Restinga Herbácea A restinga de porte herbáceo é encontrada próxima ao mar, com densidade variável e tendo como principais representantes as gramíneas.

3,0

Área em processo de ocupação Adjacentes a porções de ocupação consolidada com razoável infraestrutura ou áreas de expansão periféricas, distantes do núcleo urbanizado, com baixa densidade de ocupação e desprovido de infraestrutura básica.

3,0

Aterro de Cidade Nova Não tem capacidade de receber mais resíduos, se localiza em uma área de adensamento urbano crescente e está disposto sobre dunas, no qual o chorume do lixo é facilmente absorvido pelo solo contaminando o aquífero

3,0

Superfície Arenosa Apresentam solo completamente exposto e completamente vulnerável as ações intempéricas.

3,0 Fonte: Elaborado por Marysol Medeiros.

O mapa a seguir destaca a vulnerabilidade referente a cada tipo de cobertura vegetal, bem como para cada padrão de uso do solo.

Mapa 21: Vulnerabilidade para Vegetação e Uso do Solo.

Fonte: Elaborado por Marysol Medeiros a partir de dados do IBGE (2010), Defesa Civil Municipal (2012), Imagens Worldview-2 (2010).