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Capítulo III – “O Pijama”: A Terceira Idade para o Militar

3.1 Velhice – questões teóricas

Não é fácil definir a velhice, pois esta noção evoca inúmeros termos como: idoso, velho, terceira idade, quarta idade, entre outros. Também os limites que estabelecem o início da velhice, ainda não são claros. A classificação estabelecida pela Organização Mundial da Saúde de que ela inicia aos 60 anos é recusada pela maioria das pessoas desta idade (Caradec, 2001:7)

É na segunda metade do século XIX, na França, que a velhice passou a ser objeto de investigação. Foram construídas instituições específicas para o tratamento da população com idade mais avançada (Debert, 1994:31). No Brasil, fatos recentes como o aumento na expectativa de vida da população, além do crescimento demográfico da população idosa, também levaram a uma discussão sobre a velhice.

Para Rifiotis (1995), foi justamente a transformação da pirâmide etária da população mundial que tornou o envelhecimento uma questão substancial de debate entre empregados, família e empregadores.

De acordo com Ariès (1978:47) a velhice começava cedo na sociedade antiga: “A velhice começa com a queda dos cabelos e o uso da barba, e um belo ancião aparece às vezes como um homem calvo”. Para este autor, as idades da vida correspondiam à funções sociais e não às etapas biológicas. Ele observa que a cada época corresponde uma idade privilegiada, além de uma ”periodização particular da vida humana”, cita a juventude que foi privilegiada no século XVII, segue com a infância que teve seu espaço no século XIX e finalmente a adolescência no século XX (1978:48). De fato, cada cultura constrói sua interpretação das ‘idades da vida’ e as inscreve em comportamentos e instituições que lhes são determinados (Rifiotis,1995).

Alda Brito da Motta (1998) completa sugerindo que na modernidade capitalista, definições e ou manipulações impostas às idades (termos da autora) são determinadas: “Para a entrada ou a saída do mercado do trabalho, para votar e também ser votado, para casar, para dirigir”, e a autora termina, inclusive idade para morrer “socialmente”. (1998:226)

Na idade antiga, de acordo com Ariès (1978), “o estudo era ocupação dos mais velhos”. A velhice sofreu mudanças no decorrer do século XX, inicialmente em razão da criação dos serviços de assistência social e em seguida pelo surgimento da aposentadoria enquanto uma remuneração pelo tempo de serviço trabalhado. Já em 1962 foi publicado, pioneiramente na França, o relatório Laroque, que tinha como fim a inserção de pessoas idosas na sociedade. Este relatório estabelecia o desenvolvimento de um conjunto de serviços que facilitariam a vida destas pessoas em seu domicílio, com a criação de serviços de ajuda no próprio lar e também a criação de centros de lazer com o fim de lutar contra o isolamento e a inatividade (Caradec,2001). Este relatório colaborou no sentido de construir uma nova concepção do envelhecimento.

Por estes motivos o envelhecimento deve ser pensado enquanto um processo individual, em que se considera a trajetória de vida de cada sujeito.

3.1.1. A Terceira idade

O termo terceira idade surgiu na França dos anos 60, para classificar a faixa intermediária entre a idade madura, o término das atividades profissionais, ao estágio de envelhecimento. Guita Debert (1997) demonstrou como surge uma nova conotação para o processo de envelhecer e como a terceira idade tende cada vez mais a ser associada a uma meia idade prolongada ativa, que tem mais a ver com juventude do que com envelhecimento. O envelhecimento pode ser transformado numa ameaça à perpetuação da vida social ou ainda uma responsabilidade atribuída ao indivíduo, pois não souberam se conservar jovens, consumindo as tecnologias para retardar o envelhecimento (Debert,1997:175).

Velhice e terceira idade são termos usados diferenciadamente, dependendo dos autores considerados. A categoria terceira idade, aparece em face de uma nova divisão etária que se estabelece pela expectativa crescente da longevidade. O termo

“terceira idade”, na perspectiva de Caradec (2001), teve uma grande difusão ao longo dos anos 70. É neste período que são desenvolvidos os clubes, as universidades, e ainda, as viagens destinadas aos grupos da terceira idade. Esta denominação surgiu, de fato, no sentido de se contrapor à velhice propriamente dita77: “A terceira idade é uma nova juventude” (Caradec, 2001:20).

Debert (1994) propõe que a construção do termo “terceira idade” significa a negação do envelhecimento muito mais do que uma etapa entre a vida madura e a velhice. Segundo a autora, (1994:38): “Criaram-se novas categorias em oposição às antigas: ‘terceira idade’ e velhice; aposentadoria ativa e aposentadoria passiva; centro residencial e asilo; gerontologia e ajuda social”. Assim, as considerações acerca do envelhecimento foram invertidas. Ao mesmo tempo, o termo “terceira idade” deixa de lado uma parte das pessoas mais idosas da população, constituindo-se, a meu ver, num termo “excluidor”.

Para Caradec (2001), as representações contemporâneas da velhice estão organizadas em dois pólos. O primeiro é ocupado pelo aposentado ativo, que apresenta- se útil à sociedade e a seus próximos. O segundo é ocupado por aqueles que são considerados dependentes e que78: “sentado em sua poltrona, sofrendo de solidão e não esperando nada mais que a morte” (Caradec, 2001:30).

Estes dois pólos classificam a velhice em duas fases “terceira idade” e “quarta idade”. A primeira fase é a negação da velhice, entendida como um prolongamento da vida adulta, representada por aquelas pessoas engajadas na sociedade. Em contrapartida, a segunda, a “quarta idade”, é entendida como a “verdadeira velhice”, são aquelas pessoas que não estão mais integradas na sociedade, pois já se encontram doentes e dependentes da sociedade. É somente nos anos 80 que a “quarta idade” se estabelece como categoria que compreende aquelas pessoas idosas que se caracterizam como dependentes, e já não tão ativas quanto as pessoas da “terceira idade” (Caradec, 2001).

A sociedade civil Ocidental não contempla o grupo da terceira idade em seus rituais, como observa Zonabend (1989), sua atuação simula a não existência desta parte da população, pois de fato, não lhes são mais ofertados nenhum reconhecimento

77 “La troisième âge est une nouvelle jeunesse” (Ibidem, 2001:20).

cerimonial. Muito diferente é a situação vivida entre os Suyá estudados por Seeger (1980), onde o status do velho, além de ser mais elaborado, é formado para os velhos uma classe de idade separada com definições distintas, elencando de acordo com o autor: “Suas próprias cerimônias de iniciação, acessórios, termos de parentesco e concomitantes mudanças no comportamento.”(1980:62). Os homens e mulheres da tribo Suyá, quando atingem a classe de idade determinada: “atingem um status novo e importante quando ingressam na ‘classe de idade dos velhos’”(Idem,1980:62).

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