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Variáveis ambientais e a comunidade zooplanctônica no baixo estuário do rio Itajaí-açu

C. velificatus P avirostris Turbidez

-0,50 -0,40 -0,30 -0,20 -0,10 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 -0,30 -0,10 0,10 0,30 0,50 0,70 Eixo 1 E ix o 2 Densidade Transparência P. avirostris Temperatura Riqueza M. minuta Salinidade P. quasimodo A. lilljeborgi T. turbinata O. ovalis P. richardi P. acutus C. dadayi I. spinifer E. serrulatus SUPERFICIE B. longirostris

DISCUSSÃO

A interação dinâmica entre as águas doce e marinha, o sistema terrestre e a atmosfera, confere aos ambientes estuarinos, grande produção biológica impulsionada pelo intenso aporte de nutrientes, pela renovação da água nos ciclos de maré e pela rápida remineralização e conservação dos nutrientes (DAY JR., 1989). Tratando-se do estuário do rio Itajaí-açu, a alta produção biológica refletiu no grande número de taxa zooplanctônicos, apresentando uma fauna rica que incluiu o holoplâncton e o meroplâncton.

A temperatura no baixo estuário do rio Itajaí-açu apresentou uma sazonalidade marcante com os maiores valores no verão e os menores no inverno e na primavera. Esta sazonalidade pode estar associada à presença da frente do Prata, resultante da mistura da Corrente das Malvinas com os aportes do rio do Prata e do estuário da Lagoa dos Patos (SCHETTINI et al., 2005) para as estações de coleta mais a jusante do estuário e pelas trocas térmicas ocorridas no continente para a água doce referente aos pontos no interior do estuário. No entanto, esta variação de temperatura pode ter determinado as taxas de produção secundária no sistema estuarino, apresentando uma correlação direta com a densidade de organismos e com a riqueza de espécies como destacado pela análise de ordenação.

A salinidade, influenciada pela descarga fluvial, foi o fator determinante na composição faunística. Estudos sobre o zooplâncton estuarino ao longo da costa brasileira têm mostrado a influência da salinidade sobre a distribuição da comunidade zooplanctônica. Nos estuários há uma tendência dos maiores valores de densidade ocorrerem em condições dominadas pela água marinha costeira, como destacado no estuário do Taperaçu (PA), no estuário da baía de Vitória (ES) e no estuário da Lagoa dos Patos (RS) (NOBRE, 2006; STERZA et al., 2006; KAMINSKI et al., 2007).

No baixo estuário do rio Itajaí-açu, a comunidade de Copepoda dominou o ambiente com 28 espécies na amostragem oblíqua e 30 espécies na amostragem em superfície, contribuindo para a alta densidade zooplanctônica presente. Esta dominância também foi encontrada em outros ambientes como relatam Garcia et al (2007), Cavalcanti et al. (2008), Menezes Filho et al. (2008), Neumann-Leitão et al. (2008),

A comunidade marinha que dominou o baixo estuário em condições de enchente foi representada pelas espécies Acartia lilljeborgi, Centropages velificatus, Oithona ovalis, Oithona plumifera, Paracalanus quasimodo, Penilia avirostris, Pseudoevadne tergestina e Temora turbinata, consideradas espécies típicas da costa brasileira (BJORNBERG, 1981).

Acartia lilljeborgi já foi reportada como a mais abundante na desembocadura do rio Itajaí-açu (RÖRIG et al., 2003). Sua abundância relativa alcançou 25,5% no zooplâncton total, o que a definiu como a espécie chave do grupo no rio Itajaí-açu. Esta espécie respondeu a maior salinidade no interior do estuário com aumento na sua densidade no ambiente. Para o estuário do rio Itajaí-açu pode ser classificada como eurihalina (10-35) e euritérmica (19-27°C).

Em outros ambientes A. lilljeborgi também foi freqüente, como na região norte nos estuários da região de Bragança (PA) (COSTA et al., 2008; PERDIGÃO et al, 2008) na região nordeste no estuário do rio Anil (São Luis, MA) (MARTINS et al.,2006) na região costeira próxima ao porto de Pecém (Fortaleza, CE) (GARCIA et al., 2007) no sistema estuarino da região portuária de Suape (Recife, PE) (NEUMANN- LEITÃO & TUNDISI, 1998), no estuário da bacia do Pina e no de Barra de Jangadas (PE) (OLIVEIRA & GUSMÃO, 2008; CAVALCANTI et al., 2008) e no estuário do rio Sergipe (SE) (MENEZES FILHO et al., 2008), na região sudeste, como no estuário da baia de Vitória (ES) (STERZA & LOUREIRO-FERNANDES, 2006), no estuário de rio Verde (Juréia, SP) (LOPES et al., 1986) no complexo estuarino lagunar de Cananéia (SP) (ARA, 2004) e na região sul no estuário da baia de Paranaguá (PR), no complexo estuarino lagunar da Lagoa dos Patos (RS) (VALENTIN et al., 1994). Na costa catarinense foi uma espécie freqüente na enseada do Saco dos Limões (Florianópolis) e na enseada da Armação do Itapocoroi (Penha) (VEADO, 2002; VEADO & RESGALLA Jr, 2005; NUNES, 2007).

Paracalanus quasimodo apresentou-se no estuário como uma espécie eurihalina (10-35) e euritérmica (15-28°C), sendo uma das espécies mais freqüentes e dominantes com dominância relativa de 10,32%. Pode ser considerada espécie residente do estuário do rio Itajaí-Açú, responsável pela produção secundária do ambiente e de alta resistência às variações de salinidade (BJÖRNBERG,1981). Destaca-se que o gênero Paracalanus apresenta alternância de dominância com Acartia lilljeborgi na desembocadura do rio, provavelmente indicando períodos de maior ou menor influência da pluma do rio na plataforma adjacente (COUTINHO DE SOUZA, 2005).

Espécie típica de águas costeiras e tropicais, P. quasimodo esteve presente na enseada da Armação do Itapocoroy (Penha) e na enseada do Saco dos Limões (Florianópolis) (NUNES, 2007; VEADO & RESGALLA Jr, 2005; VEADO, 2002). Similar a A. lilljeborgi apresenta ampla distribuição em águas tropicais no oceano Atlântico. No Brasil ocorre nas costas nordeste, central e sul, como na Lagoa dos Patos (RS) e na baia de Paranaguá (PR) (MONTÚ, 1987; VALENTIN et al., 1994), estendendo-se ao norte do Atlântico (33°N) (BJORNBERG,1981; BRADFORD- GRIEVE, et al.,1999; DIAS & ARAUJO, 2006).

Centropages velificatus foi uma espécie eurihalina (20-35) e termófila (20- 28°C). Comportamento epipelágico, comum em águas costeiras e de plataforma com alta densidade em condições de enchente. Constituinte da comunidade marinha no baixo estuário do rio Itajaí-açu com ampla distribuição em águas tropicais e subtropicais nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. No Brasil ocorre nas costas norte, nordeste, central e sul (BJORNBERG,1981; BRADFORD-GRIEVE, et al.,1999; DIAS & ARAUJO, 2006). Foi uma espécie dominante também na enseada da Armação do Itapocoroi (Penha, SC) (NUNES, 2007).

Oithona ovalis foi uma espécie eurihalina (10-34) e termófila (21-28°C), típica de águas quentes de manguezais e costeiras com maior densidade em condições de enchente. Pertence à comunidade marinha no baixo estuário do rio Itajaí-açu. Distribui- se do norte ao sul do Brasil em áreas de manguezais (BJORNBERG,1981; MONTÚ & GLOEDEN, 1986).

Oithona plumifera apresentou comportamento estenohalino (20-33), estenotérmico (20-26°C) e epipelágica. Suas maiores densidades foram registradas em condições de enchente. Constitui a comunidade marinha no baixo estuário do rio Itajaí- açu, sendo uma das espécies mais freqüentes. Ampla distribuição em águas tropicais e subtropicais nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico (BJORNBERG,1981; MONTÚ & GLOEDEN, 1986; BRADFORD-GRIEVE, et al.,1999; DIAS & ARAUJO, 2006).

Temora turbinata foi uma espécie eurihalina (10-32) e termófila (22-27°C). Comum ao longo do ano com maiores densidades nos meses de primavera e verão e em condições de enchente. Foi uma espécie dominante e freqüente na comunidade marinha no baixo estuário do rio Itajaí-açu. Considerada espécie invasora, não ocorria na costa brasileira antes de 1993 (ARAUJO & MONTU, 1993; LOPES, 2004), no entanto é

tropicais e subtropicais dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico (BJORNBERG,1981; BRADFORD-GRIEVE, et al.,1999; DIAS & ARAUJO, 2006).

Para o grupo Cladocera, Penilia avirostris foi a espécie freqüente (34%) e dominante com abundância relativa de 7,2%, sendo comum em ambientes costeiros (ONBÉ, 1981). O registro de maiores densidades ocorreu conforme o aumento da salinidade no ambiente estuarino, como em outubro de 2006, período em que houve menor descarga fluvial, propiciando a distribuição desta espécie no interior do sistema. Para este estuário foi caracterizada como uma espécie eurihalina (10-35) e euritérmica (20-27°C) com alta densidade na primavera e no verão em áreas costeiras, alcançando o interior do baixo estuário. É uma espécie cosmopolita que ocorre em condições de enchente e indica águas quentes e eutrofizadas segundo RAMIREZ (1981) e ONBÉ (1999). Também, segundo estes autores, esta espécie tem hábito alimentar constituído por nano e picoplâncton, indicando um sistema trófico de cadeia longa com baixa eficiência ecológica. Isso sugere que o estuário do rio Itajaí-açu apresenta uma baixa produtividade primária com decompositores e uma alça microbiana bem desenvolvida.

Pseudoevadne tergestina apresentou características de uma espécie eurihalina (10-35) e termófila (20-27°C), e com alta densidade na primavera e no verão, associada à Penilia avirostris. Ocorre em condições de enchente e indica águas quentes costeiras e oceânicas. Constituinte da comunidade marinha foi uma das mais dominantes e freqüentes no baixo estuário do rio Itajaí-açu. Presente em águas temperadas e tropicais em ambos hemisférios (RAMIREZ, 1981; ONBÉ, 1999).

O grupo límnico que dominou o ambiente em condições de vazante foi representado por Cladocera, apesar da ocorrência de Copepoda como Eucyclops serrulatus, Eudiaptomus vulgaris, Metacyclops sp, entre outros. As espécies Moina minuta, Bosmina longirostris, Camptocercus dadayi, Ceriodaphnia quadrangula e Ilyocryptus spinifer (Cladocera) constituíram esta comunidade no rio Itajaí-açu, ocorrendo em outros ambientes límnicos no Brasil (REID, 1984; EL MOOR, 1997; NEUMANN-LEITÃO & TUNDISI, 1998; MARINHO-FILHO, 2008; RODRIGUES, 2008; SILVA, 2008).

Eucyclops serrulatus foi o Copepoda mais freqüente na comunidade límnica. Neste estudo mostrou-se ser oligohalina (0-14), euritérmica (16-22°C) e com maior densidade em condições de vazante. Cosmopolita em ambientes dulcícolas na América do Sul, encontrada no estuário do rio da Prata (REID, 1985; DUSSART & DEFAYE, 1995; SANS et al, 2003).

Para o grande grupo Cladocera a espécie dominante com 2,52% de abundância relativa foi Moina minuta. Apresentou a maior freqüência de ocorrência (42%) entre as espécies límnicas e pode ser considerada espécie chave do grupo com suas altas densidades em condições de mixo-halização e baixas salinidades nos períodos de maior vazão (outubro, fevereiro e março de 2007). Nessas condições, sua distribuição alcançou os pontos mais próximos da desembocadura do rio Itajaí-açu. Moina minuta foi uma espécie oligohalina (0-10) e termófila (20-30°C), com alta densidade na primavera e no verão em condições de vazante. É considerada uma indicadora de ambientes oligo-mesotróficos segundo Coelho-Botelho (2003). É uma espécie comum em ambientes dulcícolas no Brasil, ocorrendo no estuário da baía do Guajará e em Belém (PA) (ELMOOR-LOUREIRO, 1997; MARINHO-FILHO et al., 2008; RODRIGUES et al., 2008; SILVA et al., 2008). Sans et al. (2003) também destaca sua ocorrência no estuário do rio da Prata.

Bosmina longirostris mostrou-se oligohalina (0-10), estenotérmica (10-20°C) e com alta densidade na primavera. Constitui um dos membros da comunidade límnica no baixo estuário do rio Itajaí-açu, sendo citada como cosmopolita em ambientes dulcícolas no Brasil. (ELMOOR-LOUREIRO, 1997; SAMPAIO et al, 2002; COELHO- BOTELHO, 2003).

Camptocercus dadayi foi uma espécie oligohalina (0-10) e euritérmica (10- 28°C) com alta densidade na primavera e no verão. Ocorreu em condições de vazante, pertencendo à comunidade límnica no baixo estuário do rio Itajaí-açu. Encontrada em ambientes dulcícolas do norte ao sul do Brasil (MONTÚ & GLOEDEN, 1986; ELMOOR-LOUREIRO, 1997).

Ceriodaphnia quadrangula apresentou comportamento oligohalino (0-10) e termófilo (20-30°C) com alta densidade no verão. Ocorreu em condições de vazante. Espécie pertencente à comunidade límnica no baixo estuário do rio Itajaí-açu é comum em ambientes dulcícolas no Brasil (ELMOOR-LOUREIRO, 1997).

Ilyocryptus spinifer foi uma espécie oligohalina (0-10) e euritérmica (10-28°C) com alta densidade na primavera e no verão. Ocorreu em condições de vazante. Membro da comunidade límnica no baixo estuário do rio Itajaí-açu. Foi utilizada como indicadora de poluição a partir de deformidades morfológicas de indivíduos em populações naturais por El Moor-Loureiro (2004). Encontrada em ambientes dulcícolas

A despeito desses grupos importantes na comunidade zooplanctônica, a associação constituída por espécies verdadeiramente euri-halinas no ambiente deve-se a Pseudodiaptomus richardi e Pseudodiaptomus acutus. Estas espécies de Copepoda são comuns em ambientes estuarinos (BJÖRNBERG,1981), apresentaram abundâncias relativas de 6,27% e 0,38% respectivamente. A maior densidade de Pseudodiaptomus richardi acompanhou as condições mixo-halinas no mês de junho de 2006. Apesar de sua ocorrência descontínua esta espécie pode ser considerada também como residente e indicadora das condições de mixo-halinização no sistema estuarino do rio Itajaí-açu.

Pseudodiaptomus richardi apresentou-se como uma espécie eurihalina (0-28) e estenotérmica criófila (15-20°C). Segundo Björnberg (1981) é uma espécie estuarina e epipelágica, comum na desembocadura de rios e regiões de mangue. Apresentou-se com alta densidade nos meses de outono e inverno, indicando condições de mixo-halinização das águas no baixo estuário do rio Itajaí-açu. É uma das espécies mais freqüentes da comunidade, podendo ser considerada residente do ambiente. Ocorre na América do Sul (0°-30°S), desde a desembocadura do rio Amazonas, como no porto de Santana (Amapá, PA) (NASCIMENTO et al., 2008). Ocorre também no estuário de Barra de Jangadas (PA) (CAVALCANTI et al., 2008), na região costeira de Fortaleza (CE) (GARCIA et al, 2007), na baía de Vitória (ES) (STERZA & LOUREIRO- FERNANDES, 2006) e no estuário de rio Verde (SP) (LOPES et al., 1986), alcançando a desembocadura do rio da Prata (BJORNBERG,1981, MONTÚ & GLOEDEN, 1986; BRADFORD-GRIEVE, et al.,1999; SANS et al, 2003).

Pseudodiaptomus acutus apresentou-se como uma espécie eurihalina (0-28) e estenotérmica termófila (18-24°C), mas sem um padrão claro de distribuição no estuário do rio Itajaí-açu. Estuarina e epipelágica, comum em águas de baías e mangues, ocorre desde a desembocadura do rio Amazonas até a costa sul do Brasil (BJORNBERG,1981; MONTÚ & GLOEDEN, 1986; BRADFORD-GRIEVE, et al.,1999). Porém é comum em outros ambientes salobros, como nos estuários de Bragança (PA) (COSTA et al., 2008; PERDIGÃO et al, 2008), no do rio Anil (MA) (MARTINS et al., 2006), de Barra de Jangadas e do porto de Suape (PE) (CAVALCANTI et al., 2008; NEUMANN- LEITÃO & TUNDISI, 1998), no do rio Cachoeira (BA) (SANTOS & MASUDA, 2008), no da baía de Vitória (ES) (STERZA & LOUREIRO-FERNANDES, 2006) e no do complexo estuarino lagunar de Cananéia (ARA, 2004).

Os ambientes estuarinos exercem um papel de berçário para inúmeras espécies de populações bentônicas e nectônicas, principalmente crustáceos e peixes. Isto pode ser

confirmado pela presença de ovos, larvas e juvenis que são organismos que compõem o meroplâncton. No baixo estuário do rio Itajaí-açu, o meroplâncton foi expressivo qualitativamente, destacando as larvas de Polychaeta, Mollusca e Cirripedia (microzooplâncton), Ictioplâncton e Decapoda (macrozooplâncton).

As larvas Decapoda, ocorreram com maiores densidades nos meses de maiores temperatura e salinidade. Este padrão também foi observado em outros ambientes estuarinos da costa brasileira. No litoral de Pernambuco, larvas Decapoda também se destacaram nos períodos secos, como nos sistemas estuarinos de Barra de Jangadas e na região portuária de Suape (CAVALCANTI et al., 2008; NEUMANN-LEITÃO et al. 2008).

Trabalhos anteriores no rio Itajaí-açu já destacaram a ocorrência das larvas de crustáceos Decapoda no Itajaí-açu (RORIG et al 2003). Este fato torna a presença destes constituintes preocupante do ponto de vista de impacto ambiental, além do interesse comercial, já que este é um táxon importante na cadeia trófica do sistema estuarino, atuando em diferentes nichos ecológicos como herbívoros, predadores, necrófagos ou presas de outros grupos (MAGALHÃES, 2000). A ocorrência destas larvas em ambientes costeiros está relacionada com os picos reprodutivos de populações bentônicas (BOUGIS, 1976; RAYMONT, 1983) que ocorrem nos meses mais quentes do ano e podem indicar a produção primária do ambiente. Esse padrão foi observado na enseada do Saco dos Limões (Florianópolis, SC) por Veado (2002), na enseada da Armação do Itapocoroy (Penha, SC) por Nunes (2007) e no sistema estuarino do porto de Suape (Recife, PE) por Neumann-Leitão et al (2008), corroborando o padrão observado no baixo estuário do rio Itajaí-açu, onde Decapoda apresentou maiores densidades nos meses mais quentes.

O baixo estuário do rio Itajaí-açu apresenta composição específica da comunidade zooplanctônica similar a encontrada em outros estuários brasileiros nas regiões norte, nordeste e sudeste, onde a salinidade é o fator condicionante no padrão de distribuição das espécies, enquanto que a temperatura determina a densidade e produção local, assemelhando-se a estuários da região sul do Brasil.

As diferentes metodologias aplicadas para a coleta do zooplâncton mostraram o distinto padrão de distribuição da comunidade conforme a hidrologia do estuário. Nos pontos a montante (pontos 1, 2 e 3) foi observado o domínio da comunidade límnica,

apresentou a distribuição de espécies límnicas na camada superficial de água doce até os pontos a jusante, enquanto que a amostragem oblíqua apresentou a distribuição das espécies marinhas até a montante no estuário, acompanhando a água salgada de profundidade.

O ponto amostral 4 que se encontra em frente à desembocadura do rio Itajaí- mirim apresentou maior abundância das espécies límnicas como Moina minuta e Eucyclops serrulatus. Esta alta abundância pode ser resultado da concentração de matéria orgânica proveniente deste curso d’água, servindo como fonte de alimento para estas espécies. A baixa transparência média observada neste ponto amostral pode ser reflexo do aporte de matéria orgânica proveniente do rio Itajaí-mirim ao rio Itajaí-açu.

Entre os meses de junho a agosto de 2006 ocorreram as atividades de dragagem para o aprofundamento do canal e da bacia de evolução que coincidiram com o período de baixa vazão do rio Itajaí-açu. Esse sistema fluvial apresenta uma vazão média de 270 m3/s (SCHETTINI et al., 1998), no entanto em julho de 2006, a vazão do rio foi de 34,7 m3/s (mínimo registrado para o período de estudo), o que permitiu maior intrusão da água marinha no sistema com alta representatividade de espécies marinhas e mixo- halinas. No entanto foi observada uma alta carga de material em suspensão, o que pode ser justificada pela ressuspensão do sedimento de fundo decorrente das atividades de dragagem na porção estuarina do rio neste mesmo período.

Em função das respostas observadas da comunidade zooplanctônica para este período, que foram (a) uma alta densidade de organismos e (b) domínio de espécies mixo-halinas, pode ser considerada maior concentração de matéria orgânica suspensa na coluna de água e que poderia ter sido utilizada como fonte alimentar pelos organismos. Isso permitiu o incremento dos organismos no ambiente e a seleção de espécies mixohalinas (baixa riqueza) pode ter sido promovida pela quebra da estratificação halina devido à turbulência. Por outro lado, esta seleção de espécies também pode ser uma resposta a disponibilização de contaminantes presentes no sedimento dragado, mas não explica o incremento de densidade dos organismos.

Deve-se atentar para o fato de que o período de dragagem de junho a setembro de 2006 coincidiu com as atividades de preparo do solo para o plantio de arroz nas áreas a montante do rio Itajaí-açu que ocorre, anualmente, de julho a setembro (comunicação pessoal Dr. José Alberto Noldin, Epagri-Itajaí). Esta operação resulta no aumento do material em suspensão na coluna d’água. Portanto as verdadeiras influências dos efeitos de dragagem sobre a transparência da água, bem como sobre a comunidade

zooplanctônica necessitam ser melhor investigadas intensificando as coletas de dados físico-químicos e biológicos durante as atividades de dragagem e em pontos estratégicos onde estas acontecem, o que facilitaria o entendimento para uma análise de risco mais aplicada ao estuário do rio Itajaí-açu.

CONCLUSÕES

1. Entre as variáveis ambientais analisadas a temperatura foi a única que apresentou flutuações sazonais, influenciando nos valores de densidade da comunidade zooplanctônica do rio Itajaí-açu.

2. A variação da salinidade não apresentou uma sazonalidade bem definida e esteve indiretamente correlacionada com a vazão do rio Itajaí-açu. Apresentou, entretanto, influência direta na composição específica da comunidade zooplanctônica.

3. A comunidade zooplanctônica encontrada é característica de ambientes estuarinos, típica de águas quentes tropicais.

4. As distintas metodologias aplicadas para coleta dos dados biológicos no rio Itajaí-açu resultaram na caracterização mais completa do padrão de distribuição das espécies zooplanctônicas, demonstrando a maior ou menor tolerância das espécies frente às variações de salinidade. Os Cladocera Penilia avirostris e Moina minuta apresentaram alta tolerância às variações de salinidade, sendo representativas na amostragem em superfície e na amostragem oblíqua, enquanto que Bosmina longirostris foi menos tolerante não sendo representativa na amostragem oblíqua. Para os Copepoda, as espécies Acartia lilljeborgi e Temora turbinata foram as mais tolerantes e bem representativas em ambas amostragens. Enquanto Centropages velificatus, Eucyclops serrulatus, Oithona plumifera e Oithona ovalis foram as menos tolerantes, ocorrendo apenas em uma das amostragens.

5. As espécies Acartia lilljeborgi e Penilia avirostris podem ser consideradas indicadoras do domínio hidrológico marinho costeiro dentro do rio. A. lilljeborgi foi uma espécie dominante freqüente no ambiente e pode ser considerada espécie chave do grupo marinho.

6. As espécies Paracalanus quasimodo e Pseudodiaptomus richardi podem ser consideradas indicadoras do domínio hidrológico de mistura dentro do rio. Foram espécies freqüentes e dominantes no ambiente, sendo as espécies chave do grupo mixo-halino.

7. As espécies Eucylops serrulatus e Moina minuta podem ser consideradas indicadoras do domínio hidrológico límnico dentro do rio. M. minuta pode ser considerada espécie chave do grupo límnico, sendo a mais freqüente e dominante no sistema.

8. O zooplâncton pode ter apresentado uma resposta às atividades de dragagem no rio Itajaí-açu. Com o aumento do material em suspensão, a densidade de organismos aumentou, indicando o provável aumento da atividade biológica, enquanto possível quebra da estratificação da coluna de água favoreceu ou selecionou o grupo mixo-halino no ambiente.

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