Venda Nova do Imigrante e sua vocação para a Agroindústria

O município de Venda Nova do Imigrante foi criado pela Lei nº 4.069 de 06 de maio de 1988. Ocupa uma área de 188,9 km² e limita-se ao norte com os municípios de Domingos Martins e Afonso Cláudio; ao sul com Castelo, ao leste com Domingos Martins, a oeste com Conceição do Castelo e fica a uma distância de 104 km da Capital do Estado. Como podemos observar na Figura 1 a seguir, Venda Nova do Imigrante está situada na microrregião Sudoeste Serrana do Espírito Santo.

A gênese de Venda Nova do Imigrante se remota ao período escravocrata, meados do século XIX, a região já era dominada por grandes fazendas de café, essas lavouras eram de portugueses e utilizava como mão de obra o trabalho escravo, com a abolição da escravatura, o Brasil rural teve que se adequar para continuar produzindo.

22 O impacto foi sentido também na região serrana do Espírito Santo, o fim da escravidão, significou para alguns proprietários rurais o fim da produção agrícola, muitas lavouras caíram no abandono, até que, capitaneada pela política de imigração adotada pelo Brasil e uma soma de fatores históricos, fez com que o Espírito Santo recebesse inúmeros imigrantes italianos, uma boa parcela desse grupo achou na região serrana do estado um lugar propício, com o clima de montanha, mais ameno do que o do litoral e com a possibilidade de obter uma gleba de terra, já que essa região serrana era considerada, em grande parte, terras devolutas e fazendas de café abandonadas.

Um século depois da chegada dos primeiros imigrantes, é possível perceber a predominância de descendentes de italianos na população, é possível identificar quais famílias com mais representatividade e maior número de registros de entrada, que se fixaram em Venda Nova do Imigrante, cabe ressaltar que todos os egressos entrevistados são descendentes das famílias relacionadas na Tabela 1 a seguir:

Figura 1: Localização geográfica do município de Venda Nova do Imigrante - ES Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves, 2012

23 É interessante notar que esses imigrantes italianos são oriundos, na sua maioria, da região de Treviso, conforme podemos observar na Figura 2 a seguir.

A concentração de imigrantes vindo da mesma região da Itália, o difícil acesso a serra capixaba e consequentemente seu isolamento, pode ter favorecido para a preservação cultural, refletida principalmente na língua e na culinária, fortalecendo os laços de interdependência, solidariedade e cooperação na comunidade, segundo Colbari:

Nas comunidades de imigrantes italianos, o mutirão e as práticas de ajuda mútua eram orientados tanto pela cooperação quanto pela prestância. Tratava-se de comportamentos movidos não apenas por objetivos materiais comuns - a construção de casas, da igreja, da escola, etc. -, como também pelo sentido de prestar um benefício ao indivíduo ou à coletividade. Expressavam uma estratégia racional e um padrão afetivo de sociabilidade, ambos imprescindíveis à sobrevivência de pessoas sujeitas a experiências comuns de privações e de desamparo (1997, p.3).

Venda Nova ainda preserva muitas características da cultura italiana, o uso de expressões no dialeto vêneto é bem comum, alguns tem o domínio do idioma, a arquitetura apesar de não ser predominante é relevante, nas cores dos imóveis públicos e nas ornamentações das festas, nos nomes das empresas e lojas, na culinária, na música, nos rituais, nos hábitos e até mesmo no currículo escolar onde é valorizada a história dos imigrantes e ensinado a língua italiana.

Tabela 1: Registro de entrada de imigrantes das famílias italianas presentes em

Venda Nova do Imigrante Sobrenome Quantidade FALCHETTO 57 CALIMAN 40 ALTOÈ 32 MINET 31 LORENZON 23 ANDREON 22 VENTURIN 15 SOSSAI 13 FIORESE 13 PAGOTTO 12 COLA 12 ZORZAL 11 ZANDONADI 11 CASAGRANDE 11 PETERLE 10 BRIOSCHI 10

Fonte: Dados extraídos do Arquivo Público do Estado (APE) do Espírito Santo

24 Essa referência identitária ligada aos imigrantes italianos, capitaneada pela política de interiorização do turismo do Estado, possibilitou ao município um reconhecimento nacional como a capital do Agroturismo, suas rotas se integram as dos demais municípios, potencializando o fluxo de turista e conseqüentemente aumentando o setor de serviços e o comércio de produtos da agroindústria familiar (INCAPER, 2011).

A cidade conta hoje com aproximadamente 20 mil habitantes, e com uma economia pautada nas atividades agropecuárias, em sua maioria, em propriedades com características de minifúndio, tendo a cafeicultura, a e as atividades não agrícolas desenvolvidas no espaço rural com destaque para o Agroturismo e a Agroindústria, tem um importante papel na geração de emprego e renda.

Percebe-se na Figura 3 a seguir que as atividades agropecuárias representam uma fatia importante no PIB municipal e mesmo sendo o comércio o responsável pela maior fatia do PIB, o INCAPER (2011 - 2013) salienta que as atividades do comércio e serviços estão diretamente ligadas ao agronegócio.

O Agroturismo e as Agroindústrias familiares se configuram como importante fonte agregadora de valor para a agricultura familiar do município. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER, 2011-2013), se enquadram nessas condições 46 agroindústrias familiares no município de Venda Nova do Imigrante.

Figura 2: Província de origem dos imigrantes italianos de Venda Nova do Imigrante Fonte: Arquivo Público do Estado (APE) do Espírito Santo (ES), 2000. Modificação gráfica

25 Na Tabela 2 tem-se o quantitativo das agroindústrias registradas, bem como o número de propriedades que desenvolvem o Agroturismo e o número de empreendimentos ligados ao artesanato em atividade no município.

Considerando que Venda Nova do Imigrante é um município de apenas 20 mil habitantes, o número de agroindústria é considerado grande, como o ultimo levantamento é 2010, acredita-se que esse número tem aumentado, no entanto, não existem dados mais recentes todos os documentos oficiais trazem como referência o ultimo levantamento do INCAPER (2010).

Venda Nova do Imigrante se tornou uma referência na agroindústria familiar, a partir do processamento da matéria prima do campo em produtos comercializados, agregando valor aos produtos caseiros produzidos diretamente nas propriedades e complementando a renda dos produtores. Percebe-se um movimento dialógico, ao mesmo tempo em que a agroindústria familiar atua como impulsora na geração de empregos, ela conserva a herança cultural predominantemente italiana herdada pelos imigrantes, que em contra partida potencializa a atividade agregando valor aos produtos.

Figura 3: Produto Interno Bruto do Município de Venda Nova do Imigrante-ES (2014) Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE), 2015.

Tabela 2: Principais Atividades Rurais não agrícolas.

N° Atividades Número de Estabelecimentos

1 Agroindústria 46

2 Artesanato 15

3 Agroturismo 17

26 É interessante notar que a definição da nomenclatura dos empreendimentos de beneficiamento da produção nas propriedades familiares é complexa e ainda muito recente na literatura brasileira, a dificuldade de definição reside nos diversos contextos e realidades que vivem esses produtores, tornando difícil a elaboração de um parâmetro único, ainda não há um consenso entre os autores.

Neste trabalho utiliza-se o termo agroindústria familiar2, tomando como referência Wesz Jr., para quem um dos principais critérios que definem a agroindústria familiar é a:

...comercialização de parte ou da totalidade da produção processada, ou seja, exige- se que os laços de consumo superem o ambiente estritamente familiar para que se estabeleçam relações mercantis - mesmo que baseadas na proximidade - que ultrapassem o autoconsumo da unidade doméstica (2009, p. 25).

1.3.2 A Formação do técnico: da Escola de Aprendizes e Artífices ao Instituto Federal