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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.3 Características do teste de esforço e dos parâmetros ventilatórios

5.3.2 Parâmetros ventilatórios: ventilação, potência aeróbia absoluta e relativa

5.3.2.1 Ventilação por minuto (VE)

O comportamento da ventilação por minuto (VE) de crianças e adolescentes de ambos os sexos é representada na Figura 10. Os resultados demonstraram que, em ambos os sexos, os valores médios foram mais elevados com o passar dos anos, apresentando um comportamento linear para os rapazes dos 10 aos 16 anos; as moças tiveram o mesmo comportamento apenas dos 10 aos 13 anos, quando apresentaram um nivelamento até os 14 anos seguido por um ligeiro aumento a partir dos 15 anos. Os valores médios dos rapazes foram superiores ao das moças para todos os grupos etários, mas as diferenças estatisticamente significantes somente apareceram a partir dos 14 anos de idade.

Os rapazes variaram os valores médios dos 10 aos 16 anos em aproximadamente 50%, enquanto as moças, no mesmo período, apresentaram variações nas médias de 38%. Isso implica que para os rapazes, no período analisado, os valores médios quase dobraram enquanto que, para as moças, houve um avanço de 68% em relação aos valores das idades iniciais. Contudo, ao analisarmos o período de 10 a 13 anos ambos os sexos, os aumentos foram semelhantes nos valores da VE (L·min-1), sendo de 43 e 38% para rapazes e moças respectivamente, e as diferenças entre os sexos não ultrapassaram os 6% em cada grupo etário. Apenas a partir dos 14 anos de idade as diferenças médias tornaram-se importantes, pois aos 14 anos os rapazes ventilavam 15% a mais que as moças, sendo a maior diferença entre eles aos 16 anos, com uma magnitude de 25% em favor dos rapazes.

86,4 77,5 67,9 62,1 53,3 47,8 43,4 68,8 65,2 58,8 58,6 50,7 45,0 42,5 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 10 11 12 13 14 15 16 Idade (anos) V E ( L .mi n -1) Rapazes Moças * * * *p<0,05

FIGURA 10 – Curvas de distância dos valores médios e desvio-padrão da ventilação por minuto - VE (L·min-1) de crianças e adolescentes de ambos os sexos.

Um aspecto importante com relação aos valores ventilatórios deve ser notado na diminuição da velocidade dos ganhos ao longo dos anos, em ambos os sexos, pois entre as moças a velocidade sofreu uma desaceleração aos 14 anos, que foi menos acentuada para os rapazes, no mesmo período. Em ambos os sexos, aos 15 anos de idade, observou-se uma retomada na aceleração, elevando os valores médios da VE a níveis de ganhos semelhantes aos observados aos 13 anos de idade, apresentando a partir deste período um novo comportamento linear.

TABELA 8 – Coeficientes de correlação entre as variáveis ventilatórias e o tempo de corrida, idade, estatura e MC de crianças e adolescentes de ambos os sexos.

Rapazes Moças Ambos os Sexos

Variáveis Idade MC Est. Idade MC Est. Idade MC Est. Tempo de Corrida (seg) 0,50 0,18 0,32 0,27 0,02 0,23 0,32 0,06 0,24

Ventilação Minuto (VE) 0,79 0,79 0,79 0,67 0,76 0,74 0,71 0,74 0,75

2 O V& (L·min-1) 0,85 0,87 0,87 0,69 0,83 0,78 0,73 0,78 0,79 2 O V& (mL·MC-1·min-1) 0,26 -0,17 0,04 -0,05 -0,34 -0,10 0,09 -0,23 -0,02 2 O V& (mL·MC-0,67·min-1) 0,70 0,47 0,59 0,38 0,25 0,41 0,46 0,28 0,43 2 O V& (mL·MC-0,75·min-1) 0,63 0,34 0,49 0,29 0,11 0,30 0,38 0,17 0,33 2 O V& (mL·MCM-1·min-1) 0,23 -0,06 0,04 0,12 0,06 0,11 0,14 -0,03 0,05

Considerando o nível de relação entre as variáveis (TABELA 8), dos 10 aos 16 anos, pareceu haver uma tendência nos ganhos da velocidade na VE, possivelmente por estar associada ao crescimento tanto da estatura (r = 0,75, p<0,001 para ambos os sexos, r = 0,79 e 0,74, p<0,001, para rapazes e moças respectivamente) quanto da MC (r = 0,74, [p<0,001]) para ambos os sexos; e r = 0,79 e 0,76 [p<0,001], para rapazes e moças respectivamente). Um aspecto importante no resultado é a baixa relação entre o TC e a potência aeróbia tanto nos valores absolutos quanto nos relativos a MCM, para rapazes e moças, pois a relação entre essas duas variáveis não explicou mais do que 18% e 30%, respectivamente, do resultado dos testes de rapazes e moças. Contudo, no caso da correção da massa corporal apresentada em valores relativos (MC, MC-0,67 e MC-0,75), as maiores relações ocorreram entre as moças, sugerindo que quem correu mais tempo apresentou uma MC mais elevada e, portanto, um estado maturacional determinante nos resultados entre elas.

Ainda são poucos estudos na literatura que apresentam valores ventilatórios médios para crianças e adolescentes, tanto numa abordagem longitudinal quanto transversal, com o passar dos anos. Em uma revisão da literatura, KRAHENBUHL et al. (1985) constataram que a ventilação por minuto máxima aumenta com o passar dos anos. Contudo, não foram apresentados valores médios que representem os ganhos anuais para cada sexo, bem como as possíveis diferenças entre eles ao longo dos anos. Com resultados longitudinais de crianças e adolescentes holandeses de 12 a 17 anos, KEMPER e VERCHUUR (1985) observaram que a VE aumentou mais acentuadamente entre os rapazes, variando de 70 L·min-1 aos 12 anos a um pouco mais de 100 L·min-1 aos 17, enquanto que entre as moças os ganhos foram mais modestos, variando de 70 a 80 L·min-1 no mesmo período. Os autores não avaliaram as diferenças entre os sexos, porém as diferenças médias pareceram se acentuar a partir dos 14 anos. Uma informação importante, relacionada aos dados ventilatórios, é que a freqüência respiratória (fR) de rapazes e moças situavou-se na média de 55 aos 12/13 anos e diminuiu para aproximadamente 40 respirações/minuto aos 17 e 18 anos, ao mesmo tempo em que o volume tidal2 (VT) aumentou com o passar dos anos na mesma proporção da VE, sugerindo que a maior ventilação entre os rapazes deve-se ao seu maior tamanho corporal.

Em um estudo transversal, McMURRAY, BAGGETT, PENNELL, BANGDIWALA e HARRELL (2003) avaliaram as respostas ventilatória e de potência

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aeróbia de 326 crianças e adolescentes de 8 a 18 anos, de ambos os sexos. Os valores ventilatórios foram obtidos para teste submáximo de caminha e corrida em velocidades fixas entre 4 a 8 km·h-1, e exercício em ciclo a 22,4 km·h-1, além das informações de repouso para controle. Considerando as respostas ventilatórias por minuto (VE) em todos os testes, os valores médios aumentaram com o passar dos anos, contudo não houve diferenças estatisticamente significantes entre os sexos e idades para os diferentes testes, provavelmente por todos eles desempenharem esforços submáximos. Por outro lado, os valores médios do VT aumentaram proporcionalmente à VE, enquanto a fR também diminuiu no mesmo período, indicando que as respostas ventilatórias também são dependentes do tamanho.