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Todos os aspectos discutidos ao longo desta análise contribuem para uma clarificação da realidade em que actuam as rádios online portuguesas. De tal forma que nos é possível confrontar as hipóteses formuladas com os resultados obtidos, testando assim a sua validade.

Recordemos que a hipótese H1 formulava que as rádios online portuguesas apresentam

um nível de desenvolvimento médio.

Temos condições de confirmar, com base na análise que efectuámos, a validade desta

afirmação. Da Tabela 19, percebemos que 33,5% das rádios com presença online se encontam

nesse estado de desenvolvimento e que essa proporção representa a maioria dos casos, ainda que o nível básico, caracterizado por um estado de evolução técnica mais atrasado, se ajuste a 29,7% das estações. Assim se percebe que uma afirmação ainda mais correcta deveria sustentar um estado geral médio-baixo para a grande maioria das estações.

Esta validade da hipótese H1 foi ganhando consistência à medida que nos fomos apercebendo, durante o processo de análise, que há um número bastante elevado de emissoras que não se

servem das ferramentas novas nascidas no ambiente digital de comunicação oferecido pela internet.

É importante relembrarmos que o nível de desenvolvimento baixo, tal como o definimos92, refere-

se às estações com um web-site que, na maioria dos casos, se reduz a uma homepage com

contactos e um mecanismo de acesso à emissão em streaming. Na sua expressão mais

abrangente estas estações básicas podem conter um pouco mais de informação geral mas não usam elementos de interactividade que vão para além do e-mail, nem recorrem à

hipertextualidade ou multimedialidade.

No nível médio já são usadas algumas ferramentas de interacção de possibilidades reduzidas, como sondagens ou newsletter, e outras características que tornam mais interessante e enriquecida a presença da estação na internet, como é o caso de imagens, arquivo audio de programas ou informações acerca da grelha de programas.

A sub-hipótese H1.1 previa que as rádios com génese na internet apresentam um nível

de desenvolvimento superior ao das estações hertzianas.

Para podermos melhor perceber se a afirmação é ou não válida condensámos as observações relevantes para esta questão na seguinte tabela, em que a coluna Hertziana se refere à junção dos dados relativos às estações locais e nacionais:

Tipo de Licença Estado de Desenvolvimento Web-only Hertziana Mínimo 47,1% 27,2% Básico 11,8% 30,9% Médio 29,4% 33,7% Avançado 11,8% 8,1%

Tabela 21 - Estado de Desenvolvimento e Tipo de Licença (Informação Condensada)

Apesar de V=0,131, que garante a existência de relação entre estas duas variáveis, ainda que não seja forte, da observação da Tabela 21 resulta uma leitura ambígua. Por uma lado verifica- se que a percentagem de rádios web-only no estado avançado é superior à apresentada pelas rádios hertzianas. Ao mesmo tempo, a diferença que se observa no estado de desenvolvimento

médio aponta no sentido inverso, o mesmo acontecendo no estado mínimo. Finalmente, constata-se que a proporção de rádios web-only nos níveis médio e avançado é muito ligeiramente inferior às que se observam nas rádios hertzianas (41,2% e 41,8%,

respectivamente). Ou seja, a constatação de uma condição de quase-igualdade não possibilita que se assumam diferenças entre as estações hertzianas e web-only, mesmo que no estado de desenvolvimento avançado estas últimas assumam maior protagonismo.

Assim, é possível afirmarmos que a proposição H1.1 não é válida, pois previa uma situação de marcada diferença.

A segunda hipótese que colocámos, H2, afirma que as rádios online portuguesas não

apresentam aos seus ouvintes um modelo aberto à cidadania.

Neste caso a resposta deriva directamente da discussão promovida em torno dos resultados apresentados na Tabela 20, que conferem validade a H2.

Apenas uma minoria de estações usam as ferramentas interactivas na comunicação com os seus ouvintes, apresentando a esse nível um predomínio de discussões em torno de temáticas

soft, relegando o debate das grandes questões socio-políticas para um plano de discreta marginalidade.

A sub-hipótese H2.1 diz que as rádios online portuguesas que privilegiam o tratamento

de temáticas soft oferecem mais ferramentas de interacção do que as que privilegiam temáticas hard.

Para isto torna-se necessário criar uma valoração que determine a temática privilegiada, bem como um índice construído com o número de ferramentas de interacção disponíveis.

A temática privilegiada resulta da comparação de dois índices. O primeiro (que chamamos índice

soft) observa os valores em cada estação de cinco indicadores93: Soft-themes, Maior Destaque na

Homepage, Nº Fóruns Soft-themes, Nº Blogs Soft-themes e Nº Chats Soft-themes. Este índice

apresenta, assim, valores entre 0 e 5. O segundo índice (índice hard) é comparável, mas refere- se aos identificadores que identificam o uso de temáticas hard.

Depois de construídos estes dois índices e de calculados os seus valores em cada estação é possível, por comparação, perceber qual a temática privilegiada em cada estação de rádio. Essa informação pode, então, ser cruzada com o índice que reporta ao nº de ferramentas de

interacção disponíveis (índice de interacção), elaborado através dos valores de todos os

indicadores que respeitam ao uso dessas mesmas ferramentas94. Este índice, no final, varia entre

0 e 13.

Findo este processo, analisamos o comportamento do índice de interacção quando isoladas as temáticas privilegiadas.

Temática Privilegiada

Índice de Interacção Hard Soft

Média 1,80 3,52

Desvio-Padrão 1,62 1,57

CV 0,9 0,45

Mediana 1 4

Tabela 22 - Índice de Interacção e Temática Privilegiada

Da tabela apresentada percebemos que não é possível comparar as duas sub-populações através do valor da média, pois essa medida, no caso da predominância de temáticas hard, não é significativa, dado CV > 0,5. Desse modo, a comparação do valor mediano revela que nas rádios em que a temática privilegiada é soft o índice de interactividade, ou seja, o nº de ferramentas de interacção, é mais elevado, o que prova a validade da sub-hipótese H2.1.