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VI – MEDIDA E GRADUAÇÃO DA SANÇÃO

No documento CONSELHO DE DISCIPLINA (páginas 35-40)

§1. Determinação da medida da sanção

97. Qualificados juridicamente os factos e operada a sua subsunção ao preceito legal sancionador, cumpre, agora, proceder à determinação da medida concreta das sanções a aplicar à SAD arguida.

98. É no Capítulo III (medida e graduação das sanções), artigos 52.º a 61.º, do RDLPFP19 que nos deparamos com as normas que possibilitam alcançar a medida concreta da sanção, tendo sempre presente o princípio da proporcionalidade patente no artigo 10.º: as sanções disciplinares aplicadas como consequência da prática das infrações disciplinares previstas no presente Regulamento devem ser proporcionais e adequadas ao grau da ilicitude do facto e à intensidade da culpa do agente.

99. Também como princípio mentor da tarefa de concretização da medida da sanção deve ter-se como revelante o disposto no artigo 52.º (Determinação da medida da sanção), n.º 1: «A determinação da medida da sanção, dentro dos limites definidos no presente Regulamento, far-

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se-á em função da culpa do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de futuras infrações disciplinares. Adita o n.º 2 deste artigo que na determinação da sanção, atender-se-á a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo da infração, militem a favor do agente ou contra ele.

100. Por seu lado, o artigo 53.º, vem estabelecer as circunstâncias agravantes, dispondo no seu n.º 1 que:

«Constituem especiais circunstâncias agravantes de qualquer infração disciplinar: a) a reincidência;

b) a premeditação;

c) a acumulação de infrações;

d) a combinação com outrem para a prática da infração; e) a dissimulação da infração;

f) a prática da infração com o objetivo ou a finalidade de impedir a deteção ou a punição de outra infração».

101. Cabe ao artigo 55.º, n.ºs 1 a 3, elencar as circunstâncias atenuantes, assim: «1. São especiais circunstâncias atenuantes das faltas disciplinares:

a) o bom comportamento anterior, aferido pela inexistência de condenações disciplinares há mais de um ano;

b) a confissão espontânea da infração;

c) a prestação de serviços relevantes ao futebol; d) a provocação;

e) o louvor por mérito desportivo.

2. Para além das atenuantes previstas no número anterior, é ainda considerada como circunstância especialmente atenuante o cumprimento de uma pena de suspensão que posteriormente venha a ser reduzida em mais de um terço ou revogada por decisão final na ordem jurídica desportiva caso a suspensão já tenha sido integral ou parcialmente cumprida. 3. Além destas, poderão excecionalmente ser consideradas outras atenuantes, quando a sua relevância o justifique».

102. Por último, há ainda a registar a possibilidade de atenuação especial da sanção, prevista no artigo 60.º: a sanção concretamente aplicada, depois de determinada ao abrigo do disposto nos artigos anteriores, poderá ainda ser especialmente atenuada quando existam circunstâncias

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anteriores, contemporâneas ou posteriores à infração que diminuam por forma acentuada a ilicitude do facto ou a culpa do agente.

§2. O caso concreto

103. Ora, apurados os factos valorados como atentatórios da ordem jurídica desportiva e enquadrados nos respetivos tipos de infração, resta apreciar e decidir as sanções a aplicar. 104. Sendo que, prevenção e culpa são os critérios gerais a atender na fixação da medida concreta da sanção, espelhando o primeiro a necessidade comunitária do sancionamento do caso concreto [nas palavras de FIGUEIREDO DIAS a «necessidade da tutela da confiança e das expectativas da comunidade na manutenção da vigência da norma violada»27] e constituindo o

segundo dos enunciados critérios, especificamente dirigido ao agente da infração, o limite às exigências de prevenção e, portanto, o limite máximo da sanção.

105. Mister é, neste particular, notar que é a ideia de prevenção geral (positiva), enquanto finalidade primordial visada pela sanção, que dá sustento ao cumprimento do princípio da necessidade da pena consagrado, em termos gerais, no artigo 18.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa. São, nomeadamente, as exigências de prevenção geral que definem a chamada “moldura da prevenção”, em que o quantum máximo da sanção corresponderá à medida ótima de tutela dos bens jurídicos e das expetativas comunitárias que a sanção deve alcançar e o limite inferior é aquele que define o limiar mínimo da defesa do ordenamento jurídico, abaixo do qual já não é comunitariamente suportável a fixação de sanção sem irremediável prejuízo da respetiva função tutelar. Nesse contexto, no que concerne às exigências de prevenção especial ou individual, a sanção não pode deixar de alcançar o objetivo de fazer o arguido interiorizar o desvalor da sua conduta de molde a prevenir a prática de futuros ilícitos disciplinares. Em todo o caso, a medida da sanção não pode ultrapassar a medida da culpa, que constitui «um limite inultrapassável de todas e quaisquer considerações preventivas» (cf. FIGUEIREDO DIAS, in Direito Penal Português – As Consequências Jurídicas do Crime, p. 230). 106. Elucidada a forma como se relacionam a culpa e a prevenção no processo de determinação concreta da sanção e qual a função que uma e outra cumprem naquele processo, importa então eleger a totalidade das circunstâncias do complexo integral do facto («aquele recorte ou pedaço de vida», na expressão de FIGUEIREDO DIAS) que relevam para a culpa e para a

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prevenção. FIGUEIREDO DIAS chama a esta tarefa «a determinação do substrato da medida da pena» e àquelas circunstâncias «os fatores da medida da pena» (op. cit., p. 232). Na concretização deste trabalho e nos termos já acima abordados, quanto à determinação da medida da sanção, dentro dos limites definidos no RDLPFP19, a mesma faz-se em função da culpa do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de futuras infrações disciplinares, considerando todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de infração, militem a favor do agente ou contra ele, nomeadamente, as constantes dos artigos 53.º e 55.º do mencionado diploma disciplinar.

107. Posto isto, em termos de prevenção geral, há que considerar a natureza e a relevância dos bens jurídicos protegidos pelos tipos de ilícito em questão – nomeadamente a ética no desporto e o espírito desportivo, bem como as funções de crucial importância que os agentes de arbitragem exercem no seio das competições profissionais de futebol e que urge dignificar e proteger. Do mesmo modo, não se pode deixar de ter em conta a frequência da ocorrência de fenómenos como os provados nos autos, o que incrementa a «necessidade da tutela da confiança e das expectativas da comunidade na manutenção da vigência da norma violada»28.

Sendo, assim, intensas as necessidades de prevenção geral que se fazem registar.

108. No que concerne às exigências de prevenção especial ou individual exigências de prevenção especial, avulta que as mesmas são especialmente elevadas, atento o cadastro disciplinar da SAD arguida, tendo a mesma averbadas anteriores condenações pela prática de infrações disciplinares de lesão da honra e da reputação, o que evidencia que as sanções disciplinares anteriormente aplicadas não foram suficientes para dissuadir a prática de infrações disciplinares futuras desta natureza, id est, revela que os anteriores sancionamentos não serviram de suficiente advertência contra a prática daquelas infrações.

109. Pelas razões precedentes, e atento o recorte factual apurado, importa referir que não se verificam quaisquer circunstâncias que consubstanciem circunstâncias atenuantes previstas no artigo 55.º do RDLPFP19 [maxime, quanto ao afastamento da circunstância prevista na al. a) do n.º 1), atente-se ao sancionamento da SAD arguida referenciado no facto provado 7)]. Sendo que quanto à confissão parcial dos factos apresentada pela SAD arguida, eflui da mesma uma total ausência de contributo para a descoberta da verdade, de facto a confissão apenas pode figurar como circunstância atenuante quando realmente a mesma for espontânea e contribuir para a descoberta da verdade, sendo que, no caso vertente, esta última dimensão não se

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verifica, pois a confissão resulta da evidência dos factos e em nada contribuiu decisivamente para a descoberta da verdade. Tal como decidido por este Conselho, no âmbito do Processo Disciplinar n.º 2-20/2129, «[c]om efeito, a colaboração com a justiça (e, no caso particular, com

a justiça desportiva), enquanto comportamento pós-facto (positivo) do agente da infracção, pode assumir enorme relevo jurídico, quer se manifeste sob a forma de confissão, quer se manifeste sob a forma de arrependimento, mas “essa confissão só poderá fundamentar uma atenuação especial da pena se se traduzir numa verdadeira e imprescindível colaboração para a descoberta da verdade, sem a qual não se sustentaria a condenação, e constituir uma inequívoca manifestação de culpabilidade” 30, o que claramente não acontece no caso dos autos que

ajuizamos»31.

110. Sendo que, ocorrendo a verificação da reincidência para efeitos de qualificação da infração disciplinar imputadas à arguida FC Porto, nos termos do n.º 1 do artigo 54.º do RDLPFP19, não há lugar à aplicação da reincidência como circunstância agravante (como decorre do n.º 2 do mesmo normativo).

111. Por outro lado, não se antolham quaisquer circunstâncias anteriores, contemporâneas ou posteriores à prática da infração disciplinar pela SAD arguida que possam conduzir à possibilidade de atenuação especial das sanções, prevista no artigo 60.º do RDLPFP19.

112. Assim, a moldura sancionatória abstratamente aplicável à SAD arguida, pela prática da infração disciplinar p. e p. pelo artigo 112.º, n.ºs 1, 3 e 4, do RDLPFP9, é a da sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 150 UC e o máximo de 700 UC.

113. Aqui chegados, sopesada toda a materialidade dada como provada e os critérios normativos orientadores da dosimetria da sanção, entende-se suficiente e adequado, tanto em termos preventivos (reiterando as significativas necessidades de prevenção geral e especial assinaladas) como para efeitos sancionatórios, situar a sanção concreta a aplicar à SAD arguida, pela prática da infração disciplinar p. e p. pelo artigos 112.º, n.ºs 1, 3 e 4, todos do RDLPFP19 dentro do intervalo do mínimo legal da respetiva moldura sancionatória aplicável, acrescido de

29 Acórdão de 29 de setembro de 2020, Relatado pelo Ilustre Conselheiro Coutinho de Almeida, disponível em

https://www.fpf.pt/Institucional/Disciplina/Sec%C3%A7%C3%A3o-Profissional/Ac%C3%B3rd%C3%A3os.

30 Ac. RP de 05.06.2015, Procº 8/13.6PSPRT.P1, disponível em www.dgsi.pt. Cfr ainda o Ac. RG de 21.05.2018

(1332/17.4GBBCL.G1), no qual se salienta que «(..) frequentemente, em situações em que a prova da culpabilidade é manifesta, a asserção da sua verificação, apenas significa mera "estratégia de defesa", nem sempre correspondendo à interiorização da censurabilidade do ilícito criminal praticado e do sério propósito revelado pelo agente de que, no futuro, não reiterará a conduta criminosa”».

31 A Sobre o comportamento processual do arguido no âmbito da determinação da pena, em que se traduzem a

confissão e o arrependimento, ver Jorge de Figueiredo Dias, in “As Consequências Jurídicas do Crime”, 1993, p.255 e Hans-Heinrich Jescheck, in “Tratado de Derecho Penal, Parte General”, 4.ª ed.p. 807.

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um décimo do espectro da moldura sancionatória, ou seja , com a sanção de multa que se fixa em 205 UC, isto é, 20.910,00 € (vinte mil novecentos e dez euros)32.

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