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Para analisar a viabilidade da concessão do benefício previdenciário salário- maternidade para o menor de dezesseis anos, que comprovadamente exerça atividade laboral em regime de economia familiar, é preciso verificar os seguintes itens:

4.3.1 Classificação do menor no RGPS: segurado ou dependente

Conforme apontado no segundo capítulo deste trabalho, o RGPS classifica os beneficiários em duas espécies, os segurados e seus dependentes. O presente estudo se foca especialmente no trabalhador rural que exerce seu labor em regime de economia familiar e é catalogado como segurado especial.

No capítulo da Lei nº 8.213/91 que dispõe sobre os beneficiários do RGPS, encontra-se o artigo 11, VII, c, informando que o cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de dezesseis anos de idade ou a este equiparado de um segurado especial, desde que comprovadamente trabalhe com o grupo familiar respectivo, é também considerado segurado

especial para fins previdenciários. (BRASIL, 1991b).

A redação do artigo acima mencionado passou por alteração no ano de 2008, pois o texto originário da Lei nº 8.213/91 já previa a possibilidade de considerar os demais membros do grupo familiar como segurados especiais, todavia, a fator etário imposto aos filhos e aos a ele equiparados era de quatorze anos de idade, nos seguintes termos:

Art. 11 […] VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (BRASIL, 1991b).

Ressalta-se que, durante a vigência da Lei Complementar nº 11/1971 – Instituiu o PRORURAL – o companheiro e filhos não poderiam ser considerados segurados especiais e atingiam somente a condição de dependentes. Apenas o chefe da família era considerado segurado especial. (BRAGANÇA, 2012, p. 73).

O fator etário imposto aos filhos e aos equiparados possui ligação direta com a nova redação dada ao artigo 7º, XXXIII da Constituição Federal, referente ao combate do trabalho infantil. (CASTRO; LAZZARI, 2012).

Por outro lado, pela previsão do artigo 16, I, da Lei de Benefícios Previdenciários (1991b) “ o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente” são beneficiários do RGPS na condição de dependentes.

Como exposto anteriormente, há prestações devidas aos segurados e outras aos dependentes. Logo, em relação à possibilidade de concessão do benefício de salário- maternidade, seguem as palavras do Juiz Federal Osório Avila Neto, extraídas do Acórdão proferido no recurso cível nº 5011009-41.2014.404.7110/RS (2015):

Nos termos do artigo 18, da Lei 8.213/91, somente faz jus ao salário-maternidade aquele que demonstrar estar filiado ao RGPS na qualidade de segurado.

O membro da família de agricultores menor de dezesseis anos, nos termos da norma constitucional e legal, que eventualmente auxilie nos trabalhos rurais não é segurado do RGPS, mas dependente de seus pais e, como tal, não faz jus ao salário- maternidade, apenas à pensão por morte e à auxílio-reclusão. (Recurso cível 5011009-41.2014.404.7110, Quarta Turma Recursal do RS, Relator: Osório Ávila Neto, julgado em 04/03/2015).

Conforme o exposto, não há discussões acerca da dependência dos filhos menores de 21 anos, ela é presumida e decorre da lei, oriunda dos princípios previdenciários e da

própria constituição.

Entretanto, deve ser levada em consideração a hipótese deste mesmo dependente ser também segurado do RGPS, quando participar do trabalho rural juntamente com o grupo familiar, na condição de segurado especial, eis que para as demais classes de segurados, a existência da qualidade de dependente e segurado concomitantemente não causa nenhuma controvérsia.

4.3.2 Preexistência de custeio

Nenhuma prestação previdenciária será criada, majorada ou estendida, sem a respectiva forma de custeio, é o que prevê o artigo 195, §5º da Constituição Federal. (BRASIL, 1988).

Tal disposição constitucional fundamenta-se na necessidade de preservação do equilíbrio financeiro do sistema, uma vez que deve ser reconhecida a finitude orçamentária, delimitando-se, assim, o campo subjetivo e objetivo das prestações, pois a Previdência Social deve sempre manter condições de conceder as prestações previstas. (BRAGANÇA, 2012, p. 8).

Com a unificação dos sistemas previdenciários rurais e urbanos, a forma de contribuição do produtor rural, que exerce labor em regime de economia familiar, foi redefinida pelo §8º do artigo 195 da Constituição Federal, cuja redação atual foi dada pela Emenda Constitucional nº 20, in verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (BRASIL, 1998).

O segurado especial, conforme já exposto, possui forma peculiar de contribuição à Previdência Social, eis que ela abrange todo o grupo familiar responsável pela produção rural, com a aplicação da alíquota sobre o resultado da comercialização de sua produção. (IBRAHIM, 2012, P. 237).

Na hipótese em estudo, verifica-se que não haverá abuso caso o benefício de salário-maternidade seja concedido a um menor de dezesseis anos que comprovadamente labore em conjunto com o grupo familiar e, da mesma forma, não trará desequilíbrio entre as

receitas e as despesas da previdência Social.

Isso porque o menor em análise é justamente aquele que está exercendo labor rural, ainda que proibido, participando para a produção de renda daquele grupo familiar e contribuindo para o RGPS.

4.3.3 Comprovação do trabalho efetivamente prestado

Para que o benefício de salário-maternidade possa ser concedido, é necessário que haja a comprovação do efetivo trabalho rural prestado pelo menor de dezesseis anos pelo período de dez meses anteriores a concessão do benefício, conforme a redação da Lei nº 8.213/91:

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: […]

III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V e VII do art. 11 e o art. 13: dez contribuições mensais, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 39 desta Lei. (BRASIL, 1991b).

Dessa forma, ainda que a menor gestante seja considerada segurada para que possa auferir o benefício de salário-maternidade, mostra-se obrigatório que o trabalho por ela exercido tenha ocorrido pelo período mínimo de dez meses que precedem a concessão do benéfico.

Salienta-se que a categoria de segurado especial conta forma distinta de comprovação de carência, haja vista a ausência de contribuição mensal individual; desta forma, a carência é analisada pela comprovação do trabalho durante a quantidade de meses indicadas, qual seja, dez meses. (BRASIL, 1991b).

Para que haja a devida comprovação do exercício laboral rural, de acordo com Castro e Lazzari (2013, p. 866):

Deve-se levar em conta a dificuldade do interessado, não raras vezes pessoa humilde e de pouca instrução, em obter documentos em seu nome para que tenha reconhecido o tempo de serviço prestado. As particularidades do meio rural devem ser levadas em consideração, pois culturalmente não se vê o homem do campo preocupado com a formalização, por via de documentos, das mais diversas formas de atos, salvo quando se demonstra necessário.

Considerando os motivos acima expostos, os Tribunais têm aceitado uma grande diversidade de provas, desde que hábeis e idôneas, sendo geralmente utilizados documentos de terceiros, uma vez que no meio rural, a documentação normalmente é expedida em nome de quem aparece frente aos negócios da família. (CASTRO; LAZZARI, 2013).

Nesse norte, há ainda a Súmula nº 73 do TRF da 4ª Região: “Admitem-se como início de prova material do efetivo exercício de atividade rural, em regime de economia familiar, documentos de terceiros, membros do grupo parental”.

Além disso, a TNU editou extenso rol de documentos considerados como início de prova material.

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