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VII – DA APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

No documento CONSELHO DE DISCIPLINA (páginas 38-41)

VII – DA APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

114. Porém, antes de tal juízo sancionatório ser convertido em decisão final, importa equacionar que os factos que motivaram a instauração deste processo disciplinar ocorreram na vigência da anterior versão do Regulamento Disciplinar da FPF (RDFPF) e a presente decisão disciplinar é proferida num momento em que já se encontra vigente outra versão no mesmo normativo, publicado através do Comunicado Oficial da FPF n.º 623 (acima já mencionado), cuja entrada em vigor ocorreu no primeiro dia útil da época desportiva 2021/2022 (ou seja, no dia 1 de julho de 2021), questão que suscita a temática da aplicação da lei no tempo.

115. A tal propósito estatui o artigo 10.º do RDFPF2021 (em termos idênticos aos já previstos no RDFPF), além do mais, que «1. As sanções são determinadas pelas normas

sancionatórias vigentes no momento da prática dos factos que constituem a infração disciplinar

(...). 4. Quando as normas disciplinares vigentes no momento da prática da infração forem

diferentes das estabelecidas em normas posteriores, é sempre aplicado o regime que concretamente se mostre mais favorável ao infrator (...)» (28).

116. Importa, pois, que façamos a análise comparativa do regime sancionatório aplicável à conduta dos arguidos nos dois regulamentos disciplinares para indagarmos, como é

mister, qual se mostra mais favorável, em concreto, ao infrator, pois será esse o aplicável. Neste

conspecto, conforme ensinava CAVALEIRO DE FERREIRA, «o carácter mais ou menos favorável da

norma penal não depende apenas da sanção que comina (espécie e duração da pena) mas de todo o seu regime: número e qualidade dos elementos constitutivos do tipo criminal, disciplina das causas de justificação ou de exculpação, regulamentação das condições de punibilidade, das

(28) A este propósito, como doutamente ensinava CAVALEIRO DE FERREIRA «[o] carácter mais ou menos favorável da norma penal não depende apenas da sanção que comina (espécie e duração da pena) mas de todo o seu regime: número e qualidade dos elementos constitutivos do tipo criminal, disciplina das causas de justificação ou de exculpação, regulamentação das condições de punibilidade, das circunstâncias atenuantes ou agravantes, das causas de isenção da pena ou de extinção de responsabilidade penal» (cf. Direito Penal Português – Parte Geral – Tomo I, Edição Sociedade Científica da Universidade Católica, 1982, pág. 124). Certo é, porém, que a referência a "regime", em vez da mera menção a "normas", implica a ideia de que não se pode escolher de cada um dos regulamentos os preceitos isolados que forem mais favoráveis ao agente, antes se devendo aplicar um conjunto normativo (bloco) definidor do regime do instituto ou infração. Deste modo, este trabalho não deve, porém, ser realizado norma a norma, naquilo que a jurisprudência e a doutrina vêm apelidando de ‘aplicação simbiótica das leis penais’, mas antolhando cada um dos regimes em bloco.

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circunstâncias atenuantes ou agravantes, das causas de isenção da pena ou de extinção de responsabilidade penal» (29).

117. Certo é, porém, que a referência a "regime", em vez da mera menção a "normas", implica a ideia de que não se pode escolher de cada um dos regulamentos os preceitos isolados que forem mais favoráveis ao agente, antes se devendo aplicar um conjunto normativo (bloco) definidor do regime do instituto ou infração em causa (30). Deste modo, este trabalho não deve, porém, ser realizado norma a norma, naquilo que a jurisprudência e a doutrina vêm apelidando de ‘aplicação simbiótica das leis penais’, mas antolhando cada um dos regimes em bloco.

118. Neste contexto, quanto ao arguido Luís Carrega, perscrutando o regime previsto no RDFPF2021, deve notar-se o seguinte:

a) A conduta provada nos autos subsume-se na infração prevista e sancionada pelo n.º 1 do art.º 137.º do RDFPF2021, sendo abstratamente sancionável com «suspensão de

1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC,»;

b) Também à luz do disposto no RDFPF2021, não convoca o caso concreto a aplicação de alguma das circunstâncias agravantes e atenuantes tipificadas nos artigos 43.º e 44.º, mantendo-se inalterados os critérios e fatores de dosimetria da sanção apresentados no art.º 42.º do mesmo regulamento;

c) O RDFPF2021 também determina, na alínea b) do número 4 do art.º 25.º, que a «os

limites mínimo e máximo da sanção de multa aplicável» são reduzidos para «metade»;

d) Finalmente, o artigo 47.º do RDFPF2021 mantém, no seu n.º 5, que «[a] parte da

sanção cuja execução não é suspensa não pode ser inferior, no caso da sanção de suspensão, a um mês ou quatro jogos e, no caso da multa, a 50 UC».

(29) In Direito Penal Português – Parte Geral – Tomo I, Edição Sociedade Científica da Universidade Católica, 1982, pág. 124.

(30) Neste sentido, o Supremo Tribunal de Justiça, em assento datado de 15.02.1989, sufragou o seguinte entendimento: «Assim, não é lícito construir regimes particulares pela conjugação de elementos retirados de uma e outra lei, com o perigo da quebra de coerência e a obtenção de um resultado aberrante, ainda que concretamente vantajoso para o agente. Proíbe-se o que, em expressão curiosa, já se designou por ‘aplicação simbiótica das leis penais», in BMJ, n. o 384, págs. 163 e segs.

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119. Perante tal expedição, tendo em conta que as considerações acima apresentadas quanto à medida da sanção (no âmbito do que se concluiu ser suficiente situar as sanções a aplicar ao arguido em valor correspondente ao mínimo legal) se apresentam válidas também no contexto fornecido pela nova versão do regulamento, certo é que, da eventual aplicação do RDFPF2021, resultaria a condenação do arguido Luís Carrega, pela infração prevista e sancionada pelo n.º 1 do art.º 137.º do RDFPF2021, em sanção idêntica à acima aludida, ou seja, na sanção de 30 (trinta) dias de suspensão e 2,5 UC de multa, ou seja, € 255,00 (duzentos e cinquenta e cinco euros).

120. Fazendo igual exercício quanto ao arguido Aljustrelense, retira-se do RDFPF2021 o seguinte:

a) A conduta provada nos autos subsume-se na infração prevista e sancionada pelos n.ºs 1 e 7 do art.º 78.º do RDFPF2021, sendo abstratamente sancionável com «multa

entre 25 e 125 UC,»;

b) Também à luz do disposto no RDFPF2021, não convoca o caso concreto a aplicação de alguma das circunstâncias agravantes e atenuantes tipificadas nos artigos 43.º e 44.º, mantendo-se inalterados os critérios e fatores de dosimetria da sanção apresentados no art.º 42.º do mesmo regulamento;

c) O RDFPF2021 também determina, na alínea b) do número 4 do art.º 25.º, que a «os

limites mínimo e máximo da sanção de multa aplicável» são reduzidos para «metade»;

d) Finalmente, o artigo 47.º do RDFPF2021 mantém, no seu n.º 5, que «[a] parte da

sanção cuja execução não é suspensa não pode ser inferior, no caso da sanção de suspensão, a um mês ou quatro jogos e, no caso da multa, a 50 UC».

121. Deste modo, também quanto ao Aljustrelense, tendo em conta que as considerações acima apresentadas quanto à medida da sanção (no âmbito do que se concluiu ser suficiente situar as sanções a aplicar ao arguido em valor correspondente ao mínimo legal) se apresentam válidas também no contexto fornecido pela nova versão do regulamento, a eventual aplicação do RDFPF2021 determinaria a condenação deste arguido, pela infração prevista e sancionada pelos n.ºs 1 e 7 do art.º 78.º do RDFPF2021, em sanção idêntica à acima

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aludida, ou seja, na sanção 12,5 UC de multa, ou seja, € 1.275,00 (mil, duzentos e setenta e cinco euros).

122. Por último, quanto ao Mocarapachense, a aplicação do RDFPF2021 consideraria o seguinte:

a) A conduta provada nos autos subsume-se na infração prevista e sancionada pelo artigo 86.º, n.º 1, alínea a) do RDFPF2021, sendo abstratamente sancionável com «multa entre 1 e 3 UC»;

b) Também à luz do disposto no RDFPF2021, não convoca o caso concreto a aplicação de alguma das circunstâncias agravantes e atenuantes tipificadas nos artigos 43.º e 44.º, mantendo-se inalterados os critérios e fatores de dosimetria da sanção apresentados no art.º 42.º do mesmo regulamento;

c) O RDFPF2021 também determina, no número 3 do artigo 86.º, que a «redução de

multa prevista no artigo 25.º, não é aplicável»;

d) Finalmente, o artigo 47.º do RDFPF2021 mantém, no seu n.º 5, que «[a] parte da

sanção cuja execução não é suspensa não pode ser inferior, no caso da sanção de suspensão, a um mês ou quatro jogos e, no caso da multa, a 50 UC».

123. Deste modo, no que concerne ao Moncarapachense, tendo em conta que as considerações acima apresentadas quanto à medida da sanção (no âmbito do que se concluiu ser suficiente situar as sanções a aplicar ao arguido em valor correspondente ao mínimo legal) se apresentam válidas também no contexto fornecido pela nova versão do regulamento, a eventual aplicação do RDFPF2021 determinaria a condenação deste arguido, pela infração prevista e sancionada pelo artigo 86.º, n.º 1, alínea a) do RDFPF2021, em sanção idêntica à acima aludida, ou seja, na sanção de 1 UC de multa, ou seja, € 102,00 (cento e dois euros).

No documento CONSELHO DE DISCIPLINA (páginas 38-41)

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