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CONSELHO DE DISCIPLINA

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Academic year: 2021

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CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO NÃO PROFISSIONAL

Processo disciplinar n.º 62 – 2020/2021

DESCRITORES: Treinador – Suspensão – Incumprimento de deliberação ou suspensão – Clube – Utilização irregular de agente desportivo – Entrada ou permanência – Terreno de jogo – Zona técnica – Pessoa não autorizada – Clube visitado – Promotor do espetáculo desportivo – Dever de organização – Incumprimento – Responsabilidade Disciplinar – Execução de sanção – Regulamento Disciplinar – Aplicação no tempo – Regime mais favorável

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ESPÉCIE: Processo Disciplinar

PARTES: Luís Miguel Gomes Carrega, treinador adjunto do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, Sport Clube Aljustrelense e Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, na qualidade de arguidos

DATA DO ACÓRDÃO: 6 de agosto de 2021 TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade

RELATOR: Pedro Coelho Simões

OBJETO: Factos ocorridos no jogo n.º 260.08.077, disputado entre o Lusitano GC Moncarapachense e o SC Mineiro Aljustrelense, realizado no dia 24 de janeiro de 2021, a contar para o Campeonato de Portugal, época desportiva 2020/2021

NORMAS APLICADAS: artigos 12.º, 15.º, 37.º, 78.º, 86.º, 137.º e 225.º do RDFPF, 8.º, 34.º, 35.º e 36.º do Regulamento do Campeonato de Portugal, 8.º, n.º 1, alínea g) da Lei 39/2009 e 4.º, n.º 1, alínea b) do Regulamento de Prevenção da Violência da FPF

SUMÁRIO:

I. A sanção de suspensão de agente desportivo importa a proibição do exercício da atividade desportiva na qual a infração que a originou foi cometida, por um período de tempo ou de jogos oficiais, podendo tornar-se extensiva a qualquer outra atividade desportiva que o infrator pratique, e impede, tais agentes desportivos sancionados, de estar presentes, durante a suspensão, na zona técnica dos recintos desportivos em que se disputem jogos oficiais integrados nas competições organizadas pela FPF, tal como definida no regulamento da respetiva competição, desde duas horas antes do início de jogo oficial e até trinta minutos após o seu termo.

II. Pratica a infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 137.º, n.º 1 do RDFPF, o treinador adjunto que, sabendo encontrar-se suspenso preventivamente em virtude de anterior decisão do Conselho de Disciplina da FPF, em jogo oficial, durante o período de aquecimento da sua equipa, acede ao relvado no desempenho da função de treinador de guarda-redes e recolhe ao balneário no final daquele período de aquecimento juntamente com o treinador principal do respetivo clube.

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III. Pratica a infração prevista e sancionada pelo artigo 78.º, n.º 1 e 7 do RDFPF, o clube que utiliza, em jogo oficial, nomeadamente como treinador de guarda redes, agente desportivo que, como é do conhecimento de tal clube, se encontra suspenso preventivamente.

IV. A infração prevista e sancionada pelo art.º 86.º, n.º 1, alínea a) do RDFPF, é suscetível de ser praticada por um “clube” que, de algum modo, “permita”, por ação ou omissão, algum dos resultados típicos estabelecidos na norma, ou seja, “a entrada (…) no terreno de jogo ou na

zona técnica de pessoas não autorizadas pelos regulamentos” ou “a permanência no terreno de jogo ou na zona técnica de pessoas não autorizadas pelos regulamentos”.

V. Pratica a infração prevista e sancionada pelo artigo 86.º, n.º 1, alínea a), o clube visitado que, sabendo, não podendo ignorar, incumbir-lhe o dever de evitar o acesso à área técnica de pessoas cuja presença não é possibilitada pelos regulamentos, permite a circulação no terreno de jogo e na zona técnica de agente desportivo não inscrito na ficha técnica da equipa visitante e desprovido de outra acreditação.

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ACÓRDÃO

Acordam, em Plenário, ao abrigo dos artigos 216.º, n.º 1 e 229.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (1), os membros do Conselho de Disciplina,

Secção Não Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol (2),

I – RELATÓRIO DE TRAMITAÇÃO PROCESSUAL §1. Registo inicial

1. No dia 29 de janeiro de 2021, o CDSNP deliberou a instauração de processo disciplinar contra o Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, o Sport Clube Mineiro Aljustrelense e o agente desportivo Luís Miguel Gomes Carrega (3) com vista ao apuramento, e aferição da

respetiva relevância disciplinar, da factualidade reportada, em sede de Relatório de Ocorrências, pelo Senhor Delegado da FPF presente no jogo oficialmente identificado pelo número 260.08.077, disputado no dia 24 de janeiro de 2021, entre o Moncarapachense e o Aljustrelense, a contar para o Campeonato de Portugal, época desportiva 2020/2012 (fls. 1 e 2).

2. No dia 2 de fevereiro de 2021, o processo disciplinar foi autuado, registado (cf. verso da capa) e distribuído a Inquiridor (nos termos e para os efeitos do previsto no art.º 232.º, n.ºs 4 e 5 do RDFPF), após o que, ainda na mesma data, foram os autos conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF (CID), em cujo contexto, por despacho do seu Coordenador, foi nomeado Instrutor (cf. fls. 22).

3. Na data da conclusão dos autos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, o processo encontrava-se autuado com extrato do Comunicado Oficial da FPF n.º 329, de 29 de janeiro de 2021 (fls. 3 e 4) e com cópia da Ficha de Jogo, das Fichas Técnicas e do Relatório de Ocorrências do Delegado da FPF, todos relativos ao sobredito jogo n.º 260.08.077 (fls. 5 a 21).

(1) Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol com as alterações aprovadas pelo

Direção da Federação Portuguesa de Futebol na sua reunião de 10 de julho de 2020, doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDFPF. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página oficial da FPF na internet e foi publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 460, de 13 de julho de 2020. (2) Adiante apenas identificado como CDSNP.

(3) De ora em diante igualmente identificados, respetivamente, por Moncarapachense, Aljustrelense e

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4. No dia 25 de março de 2021, não tendo sido praticado qualquer ato de intermeio, o senhor Coordenar da CID procedeu à redistribuição do processo a diferente Instrutor, que nessa data foi designado em substituição do inicialmente indicado (cf. fls. 23).

5. Na sequência da aludida nomeação, o senhor Instrutor, em sede de inquérito, promoveu as seguintes diligências probatórias:

a) Extraiu da plataforma SCORE e juntou aos autos detalhes de inscrição e cadastros

disciplinares de todos os arguidos (fls. 24 a 37);

b) Juntou aos autos extrato do Comunicado Oficial da FPF n.º 307, de 15 de janeiro de 2021 (fls. 38 a 40); e

c) Juntou, ainda, aos autos gravação vídeo do aludido jogo n.º 260.08.077 (fls. 41).

6. O senhor Instrutor, entendendo o inquérito findo e tendo logrado adesão expressa do senhor Inquiridor ao projeto por si elaborado (cf. fls. 43), considerou existirem indícios suficientes da prática de infrações disciplinares e, consequentemente, ao abrigo do disposto no artigo 238.º, n.º 1 do RDFPF, deduziu, no dia 9 de julho de 2021, acusação contra os arguidos (fls. 49 a 65), a quem dirigiu as seguintes imputações:

a) Ao arguido Luis Miguel Gomes Carrega, imputou a prática de «uma infração

disciplinar prevista e sancionada pelo numero 1 do artigo 137.º do RDFPF, com referência ao artigo 37.º, n.º 3 e 4 do mesmo Regulamento à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC, sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º, também do RDFPF»;

b) Ao arguido Sport Clube Mineiro Aljustrelense, imputou a prática de «uma infração

disciplinar prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 78.º do RDFPF, conjugado com os números 4, alínea a), e 7 do mesmo artigo, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de multa entre 25 e 125 UC, sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º do RDFPF»;

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c) Ao arguido Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, imputou a prática de «uma

infração disciplinar prevista e sancionada pelo número 1, alínea a), do artigo 86.º do RDFPF, conjugado com o n.º 2 do mesmo artigo à qual corresponde, em abstrato, a aplicação, na primeira infração da época desportiva, da sanção de multa entre 1 e 3 UC, não sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º, em virtude do disposto no número 3 do artigo 86.º, todos do RDFPF».

7. No dia 9 de julho de 2021, o senhor Instrutor promoveu, através de mensagem de correio eletrónico (cf. fls. 44 a 48), nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 240.º do RDFPF, a notificação da acusação aos arguidos, na sequência do que, nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 241.º, n.º 1 do RDFPF, foram os autos conclusos ao CDSNP e distribuídos a Relator (cf. fls. 66 a 68).

8. Após notificação do referido libelo acusatório, o arguido Mocarapachense apresentou defesa escrita (fls. 69 a 84), subscrita por Ilustre Mandatário para tal efeito constituído (cf. procuração de fls. 84), onde refuta a imputação deduzida em sede de acusação e, além disso, requer a inquirição de duas testemunhas, uma das quais pertencente à sua direção (Vice-Presidente). Os demais arguidos não apresentaram defesa escrita ou requerimento algum.

9. Na sequência, conclusos os autos ao relator no dia 20 de julho de 2021, este, por despacho proferido no mesmo dia, em que confirmou a regularidade e validade do procedimento, deu início à instrução do processo disciplinar e determinou o agendamento de data para a realização das inquirições requeridas pelo Moncaparachense, consignando-se que o senhor Vice-Presidente deste clube seria ouvido na qualidade de legal representante. No referido despacho, determinou-se que a respetiva diligência se realizaria por videoconferência, devendo, para tal efeito, as testemunhas arroladas ser apresentadas, pelo clube que as indicou, na sede da Associação de Futebol do Algarve.

10. Do referido despacho foram notificados os arguidos e o Ilustre Mandatário do Moncaparachense, tendo sido os arguidos Aljustrelense e Luís Miguel Gomes Carrega expressamente informados de que poderiam participar, querendo, na referida diligência.

11. No dia 26 de julho de 2021, realizou-se a aprazada diligência, em que participaram, para além do relator e do senhor Instrutor, o Ilustre Mandatário do Moncarapachense, tendo

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prestado declarações o senhor Vice-Presidente do referido clube e a testemunha arrolada, nos termos do auto e gravações de fls. 102 e 103. O Aljustrelense e o Sr. Luís Miguel Gomes Carrega, não obstante a possibilidade que lhes foi expressamente notificada, não participaram na diligência.

12. No dia 26 de julho de 2021, ultrapassado que se encontrava o prazo de apresentação da defesa escrita, o arguido Luís Carrega dirigiu mensagem de correio eletrónico ao senhor Instrutor, com o seguinte teor «Boa tarde. Venho por este meio. Declarar a minha presença no

jogo em móncarapacho. Pensamos poder participar no aquecimento e ficar na bancada» (fls.

104). Tal mensagem, em que nada mais se refere ou requer, ficou, para os devidos efeitos, a constar dos autos.

13. Realizada a referida diligência e novamente conclusos os autos ao Relator, este considerou encontrarem-se reunidas as condições processuais para encerramento da fase de instrução, na sequência do que prosseguiram os autos para elaboração de projeto de acórdão, nos termos do artigo 245.º do RDFPF.

§2. Da acusação

14. Em sede de acusação, aduz-se, além do mais, que «no dia 24 de janeiro de 2021,

pelas 15H00, realizou-se, no Estádio Dr. Ant. João Eusébio, o jogo oficial com o número 260.08.077.0, disputado entre o Lusitano GC Moncarapachense - clube visitado - e o SC Mineiro Aljustrelense – clube visitante -, a contar para 13ª Jornada do Campeonato de Portugal -, época desportiva 2020/2021» e que, em tal jogo, «[o] arguido Luís Miguel Gomes Carrega (…), não foi inscrito nas fichas técnicas dos clubes intervenientes».

15. Acrescenta o libelo acusatório que, em tal data, «[o] arguido Luís Miguel Gomes

Carrega [se encontrava] preventivamente suspenso», em virtude de deliberação tomada, pelo

CDSNP, «ao abrigo do disposto no artigo 39.º, n.º 1 do RDFPF», «na sua reunião de 15 de janeiro

de 2021, o Conselho de Disciplina da FPF, (…) e tendo por referência factos ocorridos no jogo oficial n.º 260.08.055.0 (…), tendo essa decisão sido publicitada no site da FPF através do Comunicado Oficial da FPF n.º 307, igualmente no dia 15 de janeiro de 2021».

16. Afirma a acusação que, contudo, «o arguido Luís Miguel Gomes Carrega, no dia 24

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o período de aquecimento do SC Mineiro Aljustrelense esteve no relvado a desempenhar a função de treinador de guarda-redes, tendo recolhido ao balneário no final daquele período de aquecimento juntamente com o treinador principal do referido clube. Após o início do jogo, o arguido Luís Miguel Gomes Carrega dirigiu-se para a bancada de onde assistiu ao decurso do mesmo».

17. Em face de tal, conclui o libelo acusatório que «[o] arguido Luís Miguel Gomes

Carrega, ao adotar a conduta descrita (…), agiu de forma livre, consciente e voluntária, com o propósito concretizado de, em violação dos regulamentos federativos, exercer uma atividade desportiva no referido jogo oficial n.º 260.08.077.0, o que sabia estar-lhe vedado, por não se encontrar inscrito na ficha técnica e, ademais, por se encontrar a cumprir sanção de suspensão preventiva que lhe havia sido imposta pelo Conselho de Disciplina da FPF», além de que «bem sabia, e não podia ignorar [o referido arguido], que a sua atuação era ilícita e, nessa medida, configurava a prática de infração disciplinar prevista e sancionada pelos regulamentos aplicáveis, mas, ainda assim, não se absteve de a concretizar».

18. Perante tal, sustenta o despacho de acusação que o arguido Luís Carrega praticou uma infração prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 137.º do RDFPF, com referência ao artigo 37.º, n.º 3 e 4 do mesmo Regulamento à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC, sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º, também do RDFPF.

19. No que concerne ao Aljustrelense, conclui o libelo acusatório que, em face do acima aludido, este clube «utilizou, no jogo oficial n.º 260.08.077, o agente desportivo Luís Miguel

Gomes Carrega», o que fez «apesar de bem saber que o mesmo se encontrava suspenso e de, em consequência, não preencher as condições legais e regulamentares para o representar nesse jogo, [agindo, desse modo] de forma livre, consciente e voluntária, com o propósito concretizado de, em violação dos regulamentos federativos, utilizar agente desportivo que se encontrava suspenso», e que, consciente da ilicitude do seu comportamento, não se absteve, porém, de a

concretizar.

20. Nessa medida, o despacho de acusação imputa ao Aljustrelense a prática de «uma

infração disciplinar prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 78.º do RDFPF, conjugado com os números 4, alínea a), e 7 do mesmo artigo, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação

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da sanção de multa entre 25 e 125 UC, sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º do RDFPF».

21. Finalmente, quanto ao Moncaparachense, o libelo acusatório conclui que este clube «ao permitir, enquanto clube visitado, a circulação no terreno de jogo e na zona técnica do

agente desportivo, não inscrito na ficha técnica da equipa visitante e sem qualquer acreditação – Luís Miguel Gomes Carrega, agiu de forma livre, consciente e voluntária, ignorando o disposto nos regulamentos federativos quanto à circulação de pessoas na zona técnica e no terreno de jogo», e que, consciente da ilicitude do seu comportamento, não se absteve, porém, de a

concretizar.

22. Perante tal adução, o despacho de acusação imputa, a este último clube, a prática de «uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo número 1, alínea a), do artigo 86.º do

RDFPF, conjugado com o n.º 2 do mesmo artigo à qual corresponde, em abstrato, a aplicação, na primeira infração da época desportiva, da sanção de multa entre 1 e 3 UC, não sujeita à redução prevista na alínea a) do número 4 do artigo 25.º, em virtude do disposto no número 3 do artigo 86.º, todos do RDFPF».

23. As imputações sustentadas em sede de despacho de acusação vêm suportadas no acervo probatório mencionado nos pontos 3. e 5. do presente acórdão.

§3. Da defesa

24. Nos termos já acima mencionados, os arguidos Aljustrelense e Luís Miguel Gomes Carrega, regularmente notificados do despacho de acusação, optaram por não apresentar, no prazo concedido, defesa escrita ou requerimento algum, à luz do que estabelece o artigo 240.º, n.º 3 do RDFPF. Todavia, o arguido Luís Carrega, ultrapassado que foi o mencionado prazo, remeteu, ao senhor Instrutor, a mensagem de correio eletrónico acima indicada, que, embora extemporânea, ficou a constar nos autos.

25. Conforme igualmente aludido supra, o arguido Moncarapachense apresentou a defesa escrita de fls. 69 a 84.

26. Em tal articulado, o referido clube sustenta que, sendo prática reiterada «entre os

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visitante (in casu, o SC Mineiro Aljustrelense) disponibilize à equipa visitada (in casu, o LGC Moncarapachense) a respetiva folha de presenças (se houver presenças a registar) no jogo a disputar, por forma a que possam ser acreditadas as pessoas mencionadas na referida folha de presenças e consequentemente, assegurar as devidas condições de segurança», no jogo dos

autos «não foi disponibilizada, pela equipa visitante à equipa visitada, qualquer informação

relativa aos elementos da sua comitiva que marcariam presença no dia do jogo».

27. Em face de tal, afirma o Moncarapachense que «nas horas que antecederam o jogo,

a comitiva do SC Mineiro Aljustrelense chegou, em grupo e no respetivo transporte, às imediações do Estádio Dr. António João Eusébio» e que «foi solicitado pela colaboradora responsável do LGC Moncarapachense, Joana Uva Sancho Santos, à comitiva do SC Mineiro Aljustrelense que fossem indicados os elementos que a compunham, tendo a resposta sido que todos seriam elementos da equipa, jogadores e respetivo staff, estando todos eles devidamente inseridos na ficha técnica».

28. Nesse contexto, o defendente sustenta que, não tendo razões para «duvidar da

veracidade das afirmações da comitiva do SC Mineiro Aljustrelense (isto é, de que os elementos da sua comitiva seriam jogadores e staff, devidamente inscritos na ficha de jogo), foi efetuada a medição de temperatura corporal e os elementos deram posteriormente entrada no recinto desportivo», acrescentando que «em momento algum, seja ele anterior ou posterior ao jogo, o LGC Moncarapachense teve acesso à ficha de jogo».

29. Perante tal, o Moncarapachense aduz que «o comportamento dos coarguidos em

tudo contribuiu para que se criasse na esfera dos colaboradores do LGC Moncarapachense, a convicção de que as declarações proferidas à entrada do recinto desportivo (de que todos os elementos da comitiva estariam na ficha técnica e pertenciam à equipa, sendo jogadores ou staff) seriam verídicas».

30. Afirma, ainda, que, tendo estranhado o facto de um elemento da comitiva do Aljustrelense não ter ocupado lugar no banco de suplentes, por se ter dirigido para a bancada do Estádio, o coordenador de segurança do Moncarapachense e Vice-Presidente do mesmo clube «deslocou-se até junto do elemento, por forma a poder identificar o mesmo na lista de

presenças, que posteriormente deveria entregar ao Delegado da FPF», tendo tal elemento

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presente na condição de staff do SC Mineiro, corroborando a informação dada à entrada, detalhe esse que foi inscrito na referida folha de presenças a elaborar pelo clube visitado, que foi posteriormente entregue ao Delegado da FPF».

31. Perante tal, o Moncarapachense, acrescentando que o Delegado da FPF não transmitiu ao clube visitado, em momento algum, informação semelhante à veiculada em sede de Relatório de Ocorrências, «por forma a poder evitar a situação que se veio a verificar», entende que «nunca a falta de cuidado ou omissão de comportamentos atinentes ao

cumprimento dos dispostos normativos pode ser imputada ao LGC Moncarapachense ou sequer ao Delegado da FPF, visto que, à partida, todo o cuidado deveria partir do SC Mineiro Aljustrelense e do agente desportivo em causa, considerando que estes bem sabiam, e não podiam ignorar, que o agente desportivo em causa estava impedido, preventivamente e pelo período de 30 dias, de desempenhar as suas funções enquanto agente desportivo que é».

32. E, por isso, «não está preenchido o elemento subjetivo do tipo, porquanto o LGC

Moncarapachense tudo fez ao seu alcance para garantir o integral cumprimento regulamentar, o que teria acontecido, não fosse a conduta dolosa dos coarguidos», assim soçobrando a

acusação e devendo este clube ser absolvido.

II – COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE DISCIPLINA

33. De acordo com o artigo 43.º, n.º 1 do RJFD2008 (4), compete a este Conselho, de

acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva. No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho (5).

(4) Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações

desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último.

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III – QUESTÕES PRÉVIAS

34. Inexistem questões prévias que obstem ao conhecimento da causa ou que cumpra previamente decidir, sendo os elementos constantes do processo disciplinar bastantes para conhecer do mérito.

IV – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

35. Em sede de direito disciplinar desportivo, atenta a particular natureza sancionatória do respetivo processo, tem plena validade a convocação – em sede de exame crítico da prova – do princípio geral da livre apreciação da prova, consagrado no artigo 127.º do Código do Processo Penal, de acordo com o qual «[s]alvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é

apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente». O

RDFPF prevê expressamente este princípio no n.º 2 do art.º 220.º, onde estatui «[s]alvo quando

o Regulamento dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos órgãos disciplinares».

36. Todavia, no âmbito disciplinar desportivo, a concreta conformação do mencionado princípio vê-se condicionada pelo valor especial e reforçado que os relatórios oficiais e declarações complementares das equipas de arbitragem e dos delegados da FPF merecem em tal contexto. Com efeito, o RDFPF – numa aproximação à previsão constante do art.º 169.º do Código de Processo Penal – dispõe, no n.º 3 do art.º 220.º, que os factos presenciados pelas equipas de arbitragem e pelos delegados da FPF no exercício de funções, constantes de relatórios de jogo e de declarações complementares, se presumem verdadeiros enquanto a sua veracidade não for ‘fundadamente’ posta em causa (6).

(6) O valor probatório qualificado a que o RDFPF alude constitui um mecanismo regulamentar

compreendido e justificado pelo cometimento de funções particularmente importantes aos árbitros e delegados da FPF, a quem compete representar a instituição no âmbito dos jogos oficiais, cumprindo e zelando pelo cumprimento dos regulamentos, nomeadamente em matéria disciplinar (ainda que isso possa não corresponder aos interesses egoísticos dos clubes). Na verdade, encontramo-nos, nesta sede, no domínio do exercício de poderes de natureza pública – in casu, disciplinares –, que se sobrepõem aos interesses particulares dos clubes. No quadro competitivo, enquanto os clubes concretizam interesses próprios, compete a quem tem o poder e o dever de organizar a prova e fazer cumprir os regulamentos prosseguir um interesse superior ao interesse próprio de cada um dos clubes que a integram. Neste

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37. Destarte, a credibilidade probatória reforçada de que gozam tais relatórios oficiais só sairá abalada quando, perante a prova produzida, existirem fundadas razões para acreditar que o seu conteúdo não é verdadeiro. Para além disso e em segundo lugar, no que tange à atividade decisória, a força probatória reforçada de que tais relatórios beneficiam impõe ao julgador, quando entenda impor-se o afastamento da presunção de veracidade, um “especial

dever de fundamentação” (7).

38. Em todo o caso, importa ainda tomar em linha de conta que, à semelhança do processo penal, são neste contexto e à luz do que determina o n.º 1 do art.º 220.º do RDFPF, «admissíveis as provas que não forem proibidas por lei (…) podendo os interessados

apresentá-las diretamente ou requerer que sejam produzidas quando forem de interesse para a justiça da decisão».

§2. Factos provados

39. Analisada e valorada a prova produzida nos autos, com relevância para a decisão da causa, consideram-se provados os seguintes factos:

1) O arguido Luís Miguel Gomes Carrega, encontrava-se inscrito, na época desportiva 2020/2021, como “Técnico Adjunto” do Sport Clube Mineiro Aljustrelense.

2) O Sport Clube Mineiro Aljustrelense disputou, na época desportiva 2020/2021, além de outras competições, o Campeonato de Portugal, prova essa organizada pela Federação Portuguesa de Futebol.

conspecto, o interesse superior da competição, realizado no âmbito de determinados poderes de natureza pública (que são exercidos em representação da própria FPF), justifica perfeitamente que os relatórios dos árbitros e dos delegados e declarações complementares respetivas – vinculados que estão a deveres de isenção e equidistância –, gozem da aludida presunção de veracidade (presunção “juris

tantum”). Trata-se, afinal, da consequência necessária e justificada do exercício, no quadro do jogo, da

autoridade necessária para assegurar a ordem, a disciplina e o cumprimento dos regulamentos, distanciando-se das disputas que envolvem os participantes nas provas.

(7) Convocando o pensamento de PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, este «A limitação do julgador consiste em

que ele deve “fundadamente” pôr em causa a autenticidade ou veracidade do documento», In Comentário ao Código de Processo Penal, 2.ª Edição, Un. Católica Editora, 2008, pág. 452.

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3) O Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense disputou, na época desportiva 2020/2021, além de outras competições, o Campeonato de Portugal, prova essa organizada pela Federação Portuguesa de Futebol.

4) No dia 24 de janeiro de 2021, pelas 15H00, realizou-se, no Estádio Dr. Ant. João Eusébio, o jogo oficial com o número 260.08.077, disputado entre o Lusitano GC Moncarapachense – clube visitado – e o SC Mineiro Aljustrelense – clube visitante – , a contar para 13.ª Jornada do Campeonato de Portugal, época desportiva 2020/2021, que terminou com o resultado de quatro bolas a um, a favor da equipa visitada.

5) A equipa de arbitragem do jogo aludido no ponto 4) foi constituída por

(i) Hélder Manuel Carrasco Nunes, como árbitro principal;

(ii) Vasco Rafael Ferreira Isabel, como árbitro assistente n.º 1; e,

(iii) Rúben João Rodrigues Silva, como árbitro assistente n.º 2.

6) O jogo aludido no ponto 4) contou com a presença do senhor Delegado da Federação Portuguesa de Futebol, Eduardo Cruz.

7) O jogo aludido no ponto 4) não contou com a presença de público.

8) O arguido Luís Miguel Gomes Carrega não foi inscrito nas fichas técnicas apresentadas pelos clubes intervenientes no jogo aludido no ponto 4).

9) O arguido Luís Miguel Gomes Carrega, aquando da realização do jogo aludido no ponto 4), encontrava-se preventivamente suspenso em virtude de a Secção Não Profissional do Conselho de Disciplina da FPF, em formação restrita, ao abrigo do disposto no artigo 39.º, n.º 1 do RDFPF e tendo por referência factos ocorridos no jogo oficial n.º 260.08.055, anteriormente disputado, ter suspendido preventivamente o arguido Luís Miguel Gomes Carrega por 30 dias, tendo essa decisão sido publicitada no site da FPF através do Comunicado Oficial da FPF n.º 307, no dia 15 de janeiro de 2021.

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10) Não obstante, o arguido Luís Miguel Gomes Carrega, no referido dia 24 de janeiro de 2021, esteve presente no referido jogo oficial n.º 260.08.077, sendo que, durante o período de aquecimento do SC Mineiro Aljustrelense, esteve no relvado a desempenhar a função de treinador de guarda-redes, tendo recolhido ao balneário no final daquele período de aquecimento juntamente com o treinador principal do referido clube, tendo-se dirigido, após o início do jogo, para a bancada de onde assistiu ao decurso do mesmo.

11) O Sport Clube Mineiro Aljustrelense utilizou, no jogo oficial aludido no ponto 4), o agente desportivo Luís Miguel Gomes Carrega, apesar de o mesmo se encontrar suspenso.

12) No jogo aludido no ponto 4), o Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, enquanto clube visitado, permitiu a circulação no terreno de jogo e na zona técnica de um agente desportivo não inscrito na ficha técnica da equipa visitante e sem qualquer acreditação – Luís Miguel Gomes Carrega.

13) Na data do jogo aludido no ponto 4) – 24 de janeiro de 2021 – , o arguido Luís Miguel Gomes Carrega sabia que, por força da decisão aludida no ponto 9), havia sido preventivamente suspenso pelo Conselho de Disciplina da FPF pelo período de 30 dias, e que, em função dessa circunstância, durante esse período estava impedido de exercer, como efetivamente exerceu no dia 24 de janeiro de 2021, qualquer cargo ou atividade desportiva nas competições sujeitas ao poder disciplinar da Federação, não podendo estar presente na zona técnica dos recintos desportivos em que se disputem jogos oficiais integrados nas competições organizadas pela FPF, tal como definida no regulamento da respetiva competição, desde duas horas antes do início de jogo oficial e até trinta minutos após o seu termo.

14) O arguido Luís Miguel Gomes Carrega, ao adotar a conduta descrita, agiu de forma livre, consciente e voluntária, com o propósito concretizado de, em violação dos regulamentos federativos, exercer uma atividade desportiva no referido jogo oficial n.º 260.08.077, o que sabia estar-lhe vedado, por não se encontrar inscrito na ficha técnica e, ademais, por se encontrar a cumprir sanção de suspensão preventiva que lhe havia sido imposta pelo Conselho de Disciplina da FPF, bem sabendo, e não

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podendo ignorar, que a sua atuação era ilícita e, nessa medida, configurava a prática de infração disciplinar prevista e sancionada pelos regulamentos aplicáveis, mas, ainda assim, não se absteve de a concretizar

15) O Sport Clube Mineiro Aljustrelense, ao utilizar, no jogo aludido no ponto 4), o agente desportivo Luís Miguel Gomes Carrega, apesar de bem saber que o mesmo se encontrava preventivamente suspenso e de, em consequência, não preencher as condições legais e regulamentares para o representar nesse jogo, agiu de forma livre, consciente e voluntária, com o propósito concretizado de, em violação dos regulamentos federativos, utilizar agente desportivo que se encontrava suspenso, bem sabendo, e não podendo ignorar, que a sua atuação era ilícita e, nessa medida, configurava a prática de infração disciplinar prevista e sancionada pelos regulamentos aplicáveis, mas, ainda assim, não se abstiveram de a concretizar.

16) O Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, ao permitir, enquanto clube visitado, a circulação no terreno de jogo e na zona técnica do agente desportivo, não inscrito na ficha técnica da equipa visitante e sem qualquer acreditação – Luís Miguel Gomes Carrega, cuja presença na área técnica incumbia, ao primeiro, impedir, o que podia e devia ter feito, não agiu com o cuidado e diligência a que está regulamentarmente obrigado, violando - de forma censurável - o dever de evitar o acesso à área técnica de pessoas cuja presença não é permitida pelos regulamentos.

17) O agente desportivo, Luís Miguel Gomes Carrega, ora arguido, não apresentava averbadas, à data do jogo dos autos, em sede de cadastro disciplinar, na época desportiva 2020/2021, a prática de qualquer infração prevista e sancionada pelo RDFPF sendo que, esta foi a única época em esteve inscrito em competições organizadas pela FPF.

18) O clube Sport Clube Mineiro Aljustrelense, ora arguido, apresentava averbadas, à data do jogo dos autos, em sede de cadastro disciplinar, na época desportiva 2016/2017, no Campeonato de Portugal a prática de uma infração prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 107.º, uma infração prevista e sancionada pelo número 3 do artigo 107.º e uma infração prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 194.º, todos do RDFPF; na época desportiva 2019/2020, a prática de uma

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infração prevista e sancionada pelo artigo 209.º do RDFPF; e, na época desportiva 2020/2021, a prática de uma infração prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 108.º, uma infração prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 109.º, uma infração prevista e sancionada pelo artigo 116.º e uma infração prevista e sancionada pelo artigo 111.º, todos do RDFPF.

19) O clube Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense, também arguido, apresentava averbadas, à data do jogo dos autos, em sede de cadastro disciplinar, na época desportiva 2017/2018, no Campeonato de Portugal, a prática de uma infração prevista e sancionada pelo artigo 116.º, sendo que o clube sub judice, só esteve inscrito no Campeonato de Portugal nas épocas desportivas de 2017/2018 e 2020/2021.

§2. Factos não provados

40. Inexistem quaisquer factos não provados com relevância para a presente decisão.

§3. Motivação

41. A factualidade dada como provada resulta da valoração dos elementos probatórios juntos ao processo à luz das regras da experiência comum.

42. Concretizando, o vertido no ponto 1), atinente à inscrição do arguido Luís Carrega, decorre do teor do detalhe de inscrições de fls. 25 e 26 e do Cadastro do Dirigente de fls. 27. Por sua vez, o vertido nos pontos 2) e 3), atinente à participação, na época desportiva 2020/2021, dos clubes arguidos em prova organizada pela FPF, sustenta-se, respetivamente, nos detalhes de inscrição de fls. 29 e 30 (Aljustrelense) e 33 e 34 (Moncarapachense).

43. No que concerne à materialidade apresentada nos pontos 4) a 8), relativos aos detalhes do jogo oficialmente identificado pelo n.º 260.08.077 – e, além disso, à ausência de inscrição do arguido Luís Carrega –, a sua demonstração decorre do teor da Ficha de Jogo e

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Fichas Técnicas de fls. 5 a 17 e, ainda, no Relatório de Ocorrências do Delegado da FPF de fls. 18 a 21.

44. Quanto ao referido no ponto 9), concernente à suspensão preventiva aplicada, pela formação restrita do CDSNP, ao arguido Luís Carrega, suporta-se a mesma, por um lado, no teor do Cadastro Disciplinar do referido agente desportivo, presente a fls. 28, e, por outro, no extrato do Comunicado Oficial da FPF n.º 307, de 15 de janeiro de 2021, de fls. 39 e 40.

45. O vertido nos pontos 10) a 12), onde se descreve a presença e participação do arguido Luís Carrega no referido jogo n.º 260.08.077, suporta-se a mesma no relato constante do Relatório de Ocorrências do Delegado da FPF, nomeadamente no inciso constante de fls. 20. Com efeito, em tal relatório, o senhor Delegado da FPF descreve que «[a]quando da chegada do

SCM Aljustrelense, verifiquei que juntamente com os jogadores e fazendo parte integrante do staf encontrava-se o Agente Desportivo Luís Miguel Gomes Carrega, que tem a função de treinador adjunto e/ou treinador de guarda-redes. Estranhei a presença deste Agente Desportivo junto da equipa dado que em 13 do corrente, tinha estado num jogo, igualmente como Delegado, em que o Sr. Luís Miguel Gomes Carrega, tinha agredido a soco o treinador do clube adversário. No período de aquecimento do SCM Aljustrelense, o Sr. Luís Miguel Gomes Carrega, esteve sempre no campo a exercer a função de treinador de guarda-redes e recolhendo ao balneário no final do aquecimento juntamente com o treinador principal. Após o inicio do jogo o Sr. Luís Miguel Gomes Carrega, dirigiu-se para a bancada de onde assistiu ao jogo. O seu nome consta igualmente na lista de presenças (com o cargo de staff do Aljustrelense), que anexo, e que me foi entregue, perto do intervalo, pelo Gestor de Segurança do LGC Moncarapachense».

Acrescenta, o senhor Delegado da FPF, que «[a]pós o jogo consultei os Processos Sumários

divulgados através do C.O 307 de 15.01 e verifiquei que, ao Agente Desportivo Luís Miguel Gomes Carrega para além de lhe ter sido instaurado um Processo Disciplinar, foi-lhe igualmente instaurada uma suspensão preventiva de 30 dias, podendo-se concluir pelo seu desempenho hoje no jogo que continua a desempenhar as suas funções, não fazendo contudo constar o seu nome na ficha de jogo e consequentemente não ocupa o lugar no banco de suplentes».

46. Quanto à materialidade apresentada nos pontos 13) a 16) e que representam o estado psíquico atinente ao preenchimento dos elementos subjetivos dos tipos de infração disciplinar em dissídio, a sua demonstração decorre também da valoração dos elementos probatórios juntos ao processo (mormente o teor da Ficha de Jogo de fls. 5 a 7 e a Ficha Técnica

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do Aljustrelense de fls. 9 a 12, conjugados com o teor do Relatório de Ocorrências de fls. 18 a 21), à luz das regras da experiência comum e da lógica.

47. Neste particular, cumpre atentar que o Moncarapachense refuta a existência de factualidade suscetível de subsunção no tipo subjetivo da infração imputada (alegação em que ancora o seu pedido de absolvição), sustentando, no essencial, que foi o «comportamento dos

coarguidos [que] em tudo contribuiu para que se criasse na esfera dos colaboradores do LGC Moncarapachense, a convicção de que as declarações proferidas à entrada do recinto desportivo (de que todos os elementos da comitiva estariam na ficha técnica e pertenciam à equipa, sendo jogadores ou staff) seriam verídicas» e que, nessa medida, «perante tais circunstâncias de facto, não poderia ser outro o comportamento a adotar por parte do LGC Moncarapachense, que levou a cabo todas as diligências ao seu alcance, em atinência ao respeito pelas normas estabelecidas no RDFPF e demais regulamentos aplicáveis in casu».

48. Acontece, porém, que, além de a eventual prestação de informação incorreta ser insuficiente para exonerar o Moncarapachense do cumprimento dos deveres que legalmente são cometidos aos clubes visitados, na qualidade de promotores do espetáculo desportivo (como adiante melhor se verá), a verdade é que a prova produzida nos autos – e, nomeadamente, a prova testemunhal requerida em sede de defesa escrita – se revelou insuficiente à demonstração da realidade invocada.

49. Na verdade, a única testemunha que poderia depor quanto aos detalhes da entrada da comitiva do Aljustrelense – a colaboradora do clube visitado, Senhora D. Joana Uva Sancho Santos –, que se encontrava a exercer funções de controlo das entradas no recinto desportivo, tendo referido que pediu a apresentação de uma lista de presenças e que lhe foi dito que todos os elementos de tal comitiva se encontravam identificados na ficha técnica, não conseguiu sequer esclarecer quem lhe prestou uma tal informação (tendo dito não se recordar). Além disso, fica por perceber a razão pela qual, não tendo sido apresentado qualquer documento aquando da entrada daquela comitiva, não recorreu, a aludida testemunha, a qualquer expediente que garantisse a identificação dos elementos que, em tal momento, acederam ao recinto desportivo e à área técnica, com vista à posterior confrontação com a Ficha Técnica do clube visitante. Nessa medida, a fragilidade do aludido depoimento, que apenas apresenta, como justificação, a afirmação de que se deu crédito ao que foi dito (sem se saber quem o disse

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e de que forma), não permite que dele se retire a factualidade em que o arguido Moncarapachense ancora a sua tese.

50. Além disso, quanto ao depoimento do senhor João Alberto Palma André (Vice-Presidente do clube visitado), certo é, por um lado, que as suas declarações sobre o ocorrido aquando da entrada da comitiva do clube visitante se ancoram nos conhecimentos da referida colaboradora Joana Santos, porquanto o primeiro não acompanhou tal entrada. Por outro, percebe-se dos esclarecimentos que o mesmo prestou que a identificação do arguido Luís Carrega, em sede de lista de presenças no recinto desportivo (como decorre do documento de fls. 21), teve por base o facto de, perto da hora de início do jogo, terem acedido ao recinto desportivo dois elementos da direção do Aljustrelense (entre os quais o respetivo Presidente), que se acomodaram na bancada junto do arguido Luís Carrega. E, nessa medida, perante a necessidade de identificação de tais dirigentes, o depoente procedeu, também, à identificação do referido agente desportivo Luís Carrega, que se identificou como membro do “staff” do clube visitado.

51. Destarte, perante a insuficiência de materialidade que afaste, de forma fundada, a descrição apresentada em sede de Relatório de Ocorrências (nomeadamente quando, em tal documento, se afirma que o arguido Luís Carrega circulou e exerceu funções, de forma desimpedida, no terreno de jogo e na zona técnica), soçobra a tese da defesa e, ao invés, confirma-se que o Moncarapachense, clube visitado promotor do espetáculo desportivo, não agiu, pelo menos, com o cuidado que a Lei e os regulamentos lhe impõem, que podia e devia ter cumprido, por tal lhe ser possível – nos termos dados como provados no ponto 16) dos factos provados.

52. Finalmente, o vertido nos pontos 17) a 19) sustenta-se no teor dos Cadastros Disciplinar constantes de fls. 28 (Luís Carrega), 31 e 32 (Aljustrelense) e, finalmente, 35 a 37 (Moncarapachense).

V – FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

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53. O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol assume natureza pública. Com clareza, concorrem para esta proposição as normas constantes dos artigos 19.º, n.º 1 e 2, da Lei n.º 5/2007 de 16 de janeiro (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto), e dos artigos 10.º, 13.º, alínea i), do RJFD2008.

54. A existência de um poder disciplinar justifica-se pelo dever legal – artigo 52.º, n.º 1, do RJFD2008 – de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo-se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (artigo 52.º, n.º 2, do RJFD2008).

55. O poder disciplinar exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutário (artigo 54.º, n. º1, do RJFD2008). Em conformidade com o artigo 55.º do RJFD2008 o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal. O quadro normativo agora sumariado alumia estarmos na presença de um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se encontram a ele sujeito, no âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

§2. Das infrações disciplinares em geral

56. Antes de prosseguir, cumpre referir que no dia 22 de junho de 2021, foi divulgado o Comunicado Oficial da FPF n.º 623, que, além do mais, deu publicidade às alterações ao RDFPF aprovadas pela Direção da FPF, na sua reunião de 8 de junho de 2021. Esta versão do RDFPF (que, de ora em diante, se apelida de RDFPF2021), vigente a partir do início da época desportiva 2021/2022 (8), não consubstanciando um novo corpo normativo totalmente distinto do vigente

(8) Nos termos do disposto no número 4 do artigo 262.º do RDFPF, na versão atualmente vigente, «[a]s

alterações ao presente Regulamento, aprovadas em reunião da Direção da Federação Portuguesa de Futebol de 8 de junho de 2021, entram em vigor no primeiro dia da época desportiva 2021/2022, sendo

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na época 2020/2021, justifica que, no vertente caso, se divise qual a versão aplicável, em termos substantivos, ao caso vertente.

57. Com efeito, o art.º 10.º, n.º 1 do referido diploma (em ambas as versões agora abordadas) estabelece que «[a]s sanções são determinadas pelas normas sancionatórias

vigentes no momento da prática dos factos que constituem a infração disciplinar», o que impõe

que, antes de mais, se indague do regime substantivo estabelecido no RDFPF (ou seja, na versão do RDFPF vigente à data dos factos e invocado em sede de libelo acusatório), para depois e eventualmente, equacionar se a versão do regulamento disciplinar entretanto aprovada estabelece “regime que concretamente se mostre mais favorável ao infrator” que se sobreponha, nos termos do disposto do art.º 10.º, n.º 4 do RDFPF, ao vigente à data dos factos.

58. Neste contexto, deve, antes de mais, notar-se que a versão vigente à data aludida no ponto 2) (RDFPF) se encontrava estruturada, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator – clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e treinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da FPF (estrutura que o RDFPF2021 igualmente apresenta). Para cada um destes tipos de agente o RDFPF recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

§3. Das infrações disciplinares concretamente imputadas

59. O libelo acusatório imputa ao arguido Luís Carrega a prática de uma infração disciplinar prevista no artigo 137.º, n.º 1 do RDFPF (aplicável ex vi artigo 183.º, n.º 1 do mesmo diploma), que sanciona com «suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre

5 e 10 UC», o treinador que «não acate ou não faça cumprir ordem ou deliberação emanada de órgão social competente da FPF, órgão disciplinar especialmente previsto nos seus Estatutos ou no presente Regulamento, ou não cumpra suspensão, ainda que preventiva».

publicado em Comunicado Oficial». Ora, como referido no Comunicado Oficial n.º 1 da FPF, a época

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60. A aludida disposição convoca, antes de mais, no que ao caso dos autos interessa, o disposto no artigo 39.º, n.º 1 do RDFPF, que dispõe que «[a] suspensão preventiva não

automática é ordenada quando se mostrar necessária ao apuramento da verdade ou for imposta pela salvaguarda da autoridade ou prestígio da organização desportiva do futebol, sendo independente da suspensão preventiva automática», acrescentando o número 2 do mesmo

artigo que que tal suspensão preventiva não automática «depende de decisão prévia do órgão

disciplinar a quem compete julgar a infração e inicia-se com a respetiva notificação ao visado».

Além disso, mister é referir que, à luz do previsto no número 3 do citado artigo 39.º, a suspensão preventiva em causa «caduca ao fim de 30 dias a contar da notificação».

61. Releva, ainda, para efeitos de definição dos termos da proibição inerente à referida suspensão preventiva, o disposto nos números 6 e 7 do artigo 37.º do RDFPF, que definem, respetivamente, que a suspensão «é cumprida de forma contínua, independentemente da época

desportiva em que se tenha iniciado e de o agente desportivo estar ou não inscrito», além de

que «[a] sanção de suspensão tem início com a notificação ao agente desportivo e ao clube que

ele representa à data da decisão, quando aplicável, valendo para efeitos de cumprimento da sanção a notificação feita ao clube, que fica impossibilitado de inscrever na ficha técnica dos jogos oficiais ou de utilizar o agente desportivo suspenso, nos termos regulamentares».

62. Além disso, o referido artigo 37.º, estabelece – no que aos efeitos da aplicação da suspensão preventiva concerne –, no seu número 1, que «[a] suspensão de agente desportivo

importa a proibição do exercício da atividade desportiva na qual a infração que a originou foi cometida, por um período de tempo ou de jogos oficiais, podendo tornar-se extensiva a qualquer outra atividade desportiva que o infrator pratique», e, no número 4, qual «[o] agentes desportivos suspensos não podem, durante a suspensão, estar presentes na zona técnica dos recintos desportivos em que se disputem jogos oficiais integrados nas competições organizadas pela FPF, tal como definida no regulamento da respetiva competição, desde duas horas antes do início de jogo oficial e até trinta minutos após o seu termo».

63. Ora, em face deste último inciso e tendo em conta a competição aludida no ponto 1) dos Factos Provados, importa, neste contexto prévio, atentar que, nos termos do disposto no artigo 35.º do Regulamento do Campeonato de Portugal (época desportiva 2020/2021), «[o]s

Clubes definem para cada estádio a Zona Técnica, podendo a FPF emitir parecer, que deve incluir, pelo menos, as seguintes zonas: a) Zona representada no Anexo I deste Regulamento [que, além

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do mais, inclui o próprio terreno de jogo]; b) Zona situada entre as linhas exteriores do terreno

de jogo e a área de ligação entre o terreno de jogo e os balneários; c) Zona de corredores de acesso ao terreno de jogo, aos balneários dos Clubes e da equipa de arbitragem; d) Balneários dos Clubes e da equipa de arbitragem; e) Sala de controlo antidopagem; f) Área técnica, nos termos das Leis do Jogo».

64. Em sentido convergente, o despacho de acusação sustenta que, por força da utilização do referido agente desportivo, que se encontrava preventivamente suspenso, o Aljustrelense praticou uma infração prevista no artigo 78.º, n.º 1 do RDFPF, por referência ao previsto no número 7 do mesmo artigo, que sanciona, com «multa entre 25 e 125 UC», o clube que, «em jogo integrado nas competições organizadas pela FPF, inscreva na ficha técnica ou

utilize [agente desportivo que não seja jogador ou treinador principal] que não preencha todas as condições legais e regulamentares para o representar nesse jogo». Concretiza a alínea a) do

número 4 do referido artigo 78.º, que, entre outras circunstâncias, se considera que um agente desportivo está na situação aludida no número 1 quando «[t]enha sido sancionado com

suspensão ou esteja suspenso preventivamente».

65. Finalmente, no que concerne ao Moncarapachense, o libelo acusatório imputa-lhe a prática da infração prevista e sancionada pelo artigo artigo 86.º, n.º 1, alínea a), do RDFPF, que sanciona com «multa entre 1 e 3 UC» (não sendo aplicáveis as reduções previstas no art.º 25.º do mesmo diploma), «na primeira infração da época desportiva», o clube «que, em jogo

integrado nas competições organizadas pela FPF, permita a entrada ou permanência no terreno de jogo ou na zona técnica de pessoas não autorizadas pelos regulamentos».

66. Sem prejuízo do que adiante se dirá quanto aos deveres de organização e segurança que, no contexto das competições desportivas organizadas pela FPF, são cometidas aos clubes (e, em especial, aos clubes visitados), resulta, da simples leitura da norma sancionatória, que a infração estabelecida é suscetível de ser praticada por um “clube” (independentemente da posição relativa que assuma num jogo concreto) que, de algum modo, “permita”, por ação ou omissão, algum dos resultados típicos estabelecidos na norma, ou seja, “a entrada (…) no

terreno de jogo ou na zona técnica de pessoas não autorizadas pelos regulamentos” ou “a permanência no terreno de jogo ou na zona técnica de pessoas não autorizadas pelos regulamentos” (sublinhado nosso).

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67. Nessa medida, perspetivando-se a infração em apreço, no que à conduta diz respeito, como ilícito de execução livre [na medida em que, como ensina FIGUEIREDO DIAS, na ausência de descrição de um concreto modo de execução, «ao tipo é indiferente a forma como

o resultado (…) é provocado»] (9) e de resultado [porquanto exige a verificação de uma

“alteração externa espácio-temporalmente distinta da conduta”] (10), sanciona, nos termos do

disposto no art.º 10.º, n.º 1 do Código Penal [aplicável ex vi art.º 11.º do RDFPF], «não só a acção

adequada a produzi-lo como a acção adequada a evitá-lo, salvo se outra for a intenção da lei».

68. Em face do exposto, a infração em apreço é, além do mais, suscetível de comissão por omissão (ou por omissão imprópria), desde que, como elucida GERMANO MARQUES DA SILVA, «a omissão [seja] causa de um evento previsto na descrição típica do crime cometido, não porque

seja o acto omissivo que provoca o evento, mas porque o agente não pratica o acto que deve praticar para evitar esse evento. A omissão é, pois, de certa forma, apenas causa hipotética do evento» (11). E, deste modo, o tipo de ilícito compreende, nesta modalidade (comissão por

omissão) e para além da ausência da ação, a existência de «capacidade física de acção, [o] nexo

(hipotético) de causalidade adequada (“omissão da acção adequada a evitá-lo”) e [a] constatação da posição de garante» (12).

69. Além disso, no que concerne ao resultado, a referida norma sancionatória tipifica a presença de “pessoas não autorizadas pelos regulamentos” no “terreno de jogo” (ou seja, na superfície onde se disputa o jogo, prevista na Lei 1 das Leis do Jogo e referida no art.º 34.º do Regulamento do Campeonato de Portugal) ou “na zona técnica” (descrita no artigo 35.º deste último regulamento). O mesmo Regulamento do Campeonato de Portugal, no seu artigo 36.º, n.º 1, 2 e 14, define quem pode «aceder e permanecer na Zona Técnica», sempre e em qualquer caso, «em estrita observância da acreditação conferida».

70. Em termos subjetivos, não se encontrando afastado o sancionamento de condutas meramente negligentes, os tipos de infração em análise admitem, à luz do que estabelece o art.º

(9) Cf. Jorge de FIGUEIREDO DIAS, in Direito Penal – Parte Geral, Tomo I, Coimbra Editora, 2.ª Edição, 2007,

pág. 308.

(10) Idem, pág. 306.

(11) In Direito Penal Português, Parte Geral II Teoria do Crime, Editorial Verbo 1998, págs.46 e 47,

(12) Cf. PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, Comentário do Código Penal, Universidade Católica Editora, 2008, pág.

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15.º do RDFPF, preenchimento, tanto em caso de condutas dolosas, como perante comportamentos meramente negligentes.

§4. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

71. A subsunção ao direito aplicável pressupõe que se efetue a exegese das normas sancionatórias, para assim verificar se se encontram preenchidos todos os elementos típicos, objetivos e subjetivos, que as mesmas comportam.

72. Nesse pressuposto cumpre acrescentar que, nos termos do disposto no art.º 15.º, n.º 1 do RDFPF, constitui «infração disciplinar o facto voluntário, ainda que meramente culposo,

que por ação ou omissão previstas ou descritas neste Regulamento viole os deveres gerais e especiais nele previstos e na demais legislação desportiva aplicável».

73. Neste contexto, quanto ao arguido Luís Carrega, a norma sancionatória convocada (artigo 137.º, n.º 1 do RDFPF ex vi artigo 183.º, n.º 1 do mesmo regulamento) – no que ao caso concreto interessa – exige, para que se entenda consumada conduta disciplinarmente relevante, que, em concreto, se demonstre que um treinador, voluntariamente ou de forma meramente culposa, não cumpra suspensão preventiva aplicada pelo órgão disciplinar competente da FPF.

74. Descendo ao caso dos autos, cumpre, antes de mais, referir que se confirma, em face da factualidade apresentada nos pontos 1) e 2) dos Factos Provados, que o arguido é treinador, assumindo, em consequência, a qualidade de agente desportivo, nos termos do disposto nas alíneas b) e nn) do artigo 4.º do RDFPF, encontrando-se, por força de tal qualidade, sujeito ao poder disciplinar da FPF, sendo aplicável o RDFPF, nos termos do disposto no artigo 3.º, n.º de tal regulamento.

75. Além disso, perante a factualidade referida no ponto 9), resulta demonstrado que, por decisão do CDSNP (em formação restrita) de 15 de janeiro de 2021, e publicada no site da FPF, através do Comunicado Oficial da FPF n.º 307, igualmente no dia 15 de janeiro de 2021, o arguido Luís Carrega foi suspenso preventivamente, por um período de 30 dias, por factos ocorridos no jogo oficial n.º 260.08.055 (a contar para o Campeonato de Portugal, época desportiva 2020/2021).

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76. Por força do disposto no artigo 225.º, n.º 10, do RDFPF, a referida decisão tem-se por notificada ao arguido no «segundo dia posterior ao da publicação» ou «no primeiro dia útil

seguinte quando o dia original não o seja». Destarte, uma vez que o segundo dia posterior à

referida publicação foi dia 17 de janeiro de 2021 (domingo), tanto o agente desportivo Luís Carrega, como o Aljustrelense, consideram-se devidamente notificados da sobredita decisão (que aplicou a suspensão preventiva de 30 dias ao primeiro) no dia 18 de janeiro 2021, quedando-se a mesma executória (nos termos do disposto no artigo 255.º, n.º 1 do RDFPF), para efeitos de contagem do prazo de suspensão preventiva, no dia imediatamente seguinte (19 de janeiro, primeiro dia de contagem do referido prazo).

77. Além disso, encontra-se provado, atenta a materialidade apresentada nos pontos 4), 8) a 10), 13) e 14) dos Factos Provados, que, no jogo disputado no dia 24 de janeiro de 2021 [sexto dia posterior ao da notificação de decisão aludida no ponto 9) dos factos provados], o arguido, que sabia encontrar-se suspenso preventivamente, em virtude de anterior decisão disciplinar [factos 9) a 11)], «durante o período de aquecimento do SC Mineiro Aljustrelense,

esteve no relvado a desempenhar a função de treinador de guarda-redes, tendo recolhido ao balneário no final daquele período de aquecimento juntamente com o treinador principal do referido clube» [facto 10)].

78. Nessa medida, o arguido, incumprindo a «proibição do exercício da atividade

desportiva», inerente à suspensão preventiva (nos termos do disposto no artigo 37.º, n.º 1 do

RDFPF) e tendo acedido ao terreno de jogo e à zona técnica, cuja presença lhe era vedada (artigo 37.º, n.º 4), incumpriu a suspensão preventiva que lhe tinha sido aplicada pela Secção Não Profissional do Conselho de Disciplina da FPF, no dia 15 de janeiro de 2021 e regularmente publicada em sede de Comunicado Oficial [facto 9)]. E, nessa medida, encontram-se preenchidos todos os elementos típicos que constituem a facti species da norma sancionatória em análise.

79. No que tange ao tipo subjetivo de ilícito, a conduta do arguido Luís Carrega apresenta-se como suscetível de preenchimento na modalidade de dolo direto, havendo, no caso vertente, conhecimento (momento intelectual) e vontade (momento volitivo) de realização do tipo objetivo de ilícito (13). Conforme decorre da factualidade dada como provada,

constata-(13) Vide, quanto a este ponto, FIGUEIREDO DIAS, Direito Penal – Parte geral, Tomo I, Coimbra Editora, 2007,

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se que o arguido representou e pretendeu incumprir a mencionada suspensão preventiva (que conscientemente desrespeitou), inexistindo circunstâncias que, no caso concreto, afastem a natureza dolosa da sua conduta. Neste particular, atenta a qualidade de agente desportivo (treinador), que conhece as regras que regulam a competição desportiva e a natureza desvaliosa da sua conduta, bem sabe – como sabia – que condutas, tais como a realizada, contendem com valores essenciais, nomeadamente com o interesse público inerente à afirmação da autoridade pública disciplinar do CDSNP (e, necessariamente, a eficácia das suas decisões) e a respetiva credibilidade, mas também, como decorrência, o regular e normal funcionamento das competições desportivas e, desse modo, a própria ética desportiva que o sancionamento da violação das regras desportivas visa acautelar.

80. Neste particular, tendo presente o que se disse em sede de motivação da fundamentação de facto, não se poderá deixar de concluir que o arguido atuou com conhecimento de que a sua conduta era ilícita, não se abstendo de realizá-la, conformando-se com o resultado direto da sua conduta – atuando, portanto, com dolo direto. Além disso, adotando a conceção de culpa de FIGUEIREDO DIAS (14), cumpre concluir, dizendo que a conduta

do arguido se afigura culposa, juridicamente censurável por manifestamente indiferente e contrária aos valores protegidos pelo ordenamento jurídico-disciplinar.

81. Encontram-se, portanto, reunidos, quanto ao arguido Luís Carrega, os pressupostos de natureza objetiva e subjetiva de que depende a responsabilidade disciplinar, à luz do que dispõe o art.º 137.º, n.º 1 do RDFPF.

82. No que concerne ao Aljustrelense, que vem acusado da prática da infração prevista no artigo 78.º, n.º 1 do RDFPF, por referência ao disposto no número 7 do mesmo artigo, a norma sancionatória convocada requer, para que se entenda consumada conduta disciplinarmente relevante, que, em concreto, se demonstre que um clube, voluntariamente ou de forma meramente culposa, inscreva ou utilize, em jogo oficial, agente desportivo que se não encontre em condições legais ou regulamentares para representar o referido clube.

(14) «[C]ulpa é materialmente, em direito penal, o ter que responder pelas qualidades juridicamente

desvaliosas da personalidade que fundamental um facto ilícito típico e neles se exprimem» - op. cit., pág.

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83. Ora, dando aqui por reproduzido tudo quanto acima se disse e atentando na materialidade considerada provada no ponto 11) dos factos provados, evidenciam os autos que o Aljustrelense, no jogo oficialmente identificado pelo número 260.08.077, utilizou o agente desportivo Luís Carrega como treinador de guarda redes, nomeadamente durante o período de aquecimento, apesar de saber que o mesmo se encontrava preventivamente suspenso.

84. Nos termos provados, a conduta do Aljustrelense – porque livre, consciente e voluntária – foi dolosa (com dolo direto) e, tendo sido realizada com consciência da respetiva ilicitude, afigura-se culposa e, nessa medida, disciplinarmente censurável. Encontram-se, portanto, reunidos, quanto ao clube arguido, os pressupostos de natureza objetiva e subjetiva de que depende a responsabilidade disciplinar, à luz do que dispõe o art.º 78.º, n.ºs 1 e 7, do RDFPF.

85. No que concerne ao Moncarapachense, mister é, antes de mais, atentar que no contexto do Campeonato de Portugal, o respetivo Regulamento da competição (na versão vigente na época desportiva 2020/2021) estabelece, no número 2 do artigo 8.º, que «[c]ada

jogo do Campeonato é promovido pelo Clube visitado, nos termos definidos no presente Regulamento, com a salvaguarda das disposições relativas aos jogos realizados em estádio neutro, bem como das disposições de organização financeira dos jogos». E, além disso, inexistem

dúvidas que, tanto a Lei n.º 39/2009, de 30 de julho (15), como o Regulamento de Prevenção da

Violência da FPF (16), estabelecem, de forma expressa, que é dever dos «promotores do

espetáculo desportivo», entre outros, o de «[g]arantir que são cumpridas todas as regras e condições de acesso e de permanência de espetadores no recinto desportivo» [cf. artigo 8.º, n.º

1, alínea g) da Lei 39/2009 e o art.º 4.º, n.º 1, alínea b) do RPV], que os mesmos diplomas estabelecem [nomeadamente quando afirmam que é condição de permanência no recinto desportivo, entre outras, a de «[n]ão aceder às áreas de acesso reservado ou não destinadas ao

público» – cf. art.º 23.º, n.º 1, alínea f) da Lei 39/2009 e artigo 8.º, n.º 1, alínea f) do RPV].

86. Nessa medida, a norma sancionatória em análise não particulariza a conduta típica de modo a reduzi-la aos casos de simples incumprimento do dever do promotor do espetáculo

(15) Que aqui se convoca na versão que resulta das alterações determinadas pela Lei n.º 113/2019, de 11

de setembro.

(16) Aprovado em 29 de abril de 2015, com as alterações aprovadas em 6 de janeiro de 2016, e registado

no IPDJ com o n.º 0002/2015 – acessível em www.fpf.pt – de ora em diante abreviadamente referido como RPV.

Referências

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