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Violência e ilegalidade: hackers, delitos e controvérsias

CAPÍTULO 4 – As políticas hackers segundo os estudos de caso sobre a América Latina

4.5 Violência e ilegalidade: hackers, delitos e controvérsias

As publicações desta categoria, de modo geral, restringiram a emergência das políticas hackers a cibercrimes e violência online e os hackers foram tratados como um grupo homogêneo de indivíduos cujo objetivo é cometer delitos informáticos. Dentre todas as categorias, esta foi aquela que apresentou maior homogeneidade entre os objetos, as definições de hacker e as análises.

É interessante que todas as publicações contextualizaram seu objeto de estudo da mesma maneira, partindo da ideia de que a introdução das tecnologias da informação trouxe importantes inovações para o mundo, mas também abriu caminho para novas ameaças.

“La variedad, amplitud y complejidad de los sistemas de información que adquieren, requieren o encuentran disponibles las organizaciones actuales, junto a la dinámica del permanente cambio observado en las tecnologías de la información y las comunicaciones, han impulsado de múltiples formas y, al mismo tiempo, condicionado las grandes transformaciones de las organizaciones, los mercados y el mundo de la modernidad y de la posmodernidad. Son cambios que, además de sus innegables ventajas, han traído simultáneamente para las personas y las organizaciones, amenazas, riesgos y espectros de incertidumbre en los escenarios de internet, intranet, desarrollo tecnológico, gestión de la información, la comunicación y los sistemas.” (OJEDA-PÉREZ et al., 2010, pp. 42-43)

“En los tiempos que corren, las nuevas tecnologías, en general, y la informática, en particular, introducen incansablemente no sólo nuevas formas de realizar tareas conocidas, sino también nuevas actividades, muchas de las cuales se manifiestan como antisociales y reprobables, en razón de interferir en la pacífica convivencia de los ciudadanos.” (AROCENA, 2012, p. 946)

Como hacking é entendido como crime informático, o comportamento malicioso dos hackers seria consequência, ao mesmo tempo que ampliado, pela mediação das tecnologias da informação. Os autores, porém, apresentam uma visão bastante neutra em relação às tecnologias da informação, fazendo transparecer que são inerentemente benéficas, exceto quando atores mal-intencionados as utilizam para fins não previstos. O hackerismo seria, nesse sentido, um desvio.

Algumas outras questões são interessantes. Em nenhuma das publicações houve qualquer discussão sobre tecnologias proprietárias e livres. As tecnologias livres normalmente

são vinculadas com formas de proteção contra o rastreamento e coleta, obtenção e comercialização de dados pessoais porque garantem maior controle ao usuário, mas normalmente a partir da perspectiva de que a privacidade é uma forma de defesa contra formas de violência, controle e vigilância do Estado e grandes corporações. No caso das publicações desta categoria, ficou evidente que a violência e as ações maliciosas têm um sentido único – dos hackers e criminosos para o Estado, corporações, instituições e indivíduos. Portanto, a coleta, comercialização e uso de dados não é vista como problemática e o uso de tecnologias proprietárias não é questionado. Ao contrário, devido às dificuldades na apuração e responsabilização dos delitos informáticos, alguns autores entendem a coleta e armazenamento de dados como uma questão de segurança, mesmo que coloque em risco as liberdades individuais.

“Essa disposição de não permitir que uma única entidade guarde todo o registro de navegação do usuário, na verdade, dificulta a investigação criminal, pois, ao mesmo tempo que representa um avanço na proteção das garantias individuais, representa também uma dificuldade adicional para o processo investigativo.” (CERQUEIRA & ROCHA, 2013, p. 136)

Outro elemento em comum nas publicações foi a perspectiva de que o aparecimento de inovações em crimes cibernéticos é mais rápido que a capacidade da legislação de se adequar a eles. Nesse sentido, emergem uma série de desafios, políticas e conflitos do fato de que as mudanças nas leis sobre Internet e direito autoral, assim como no código penal, vêm a posteriori dos delitos informáticos, o que causaria a sensação de impotência às forças policiais e de impunidade aos hackers. Alguns outros elementos que dificultariam a apuração e penalização por crimes informáticos seriam seu caráter transnacional, a dificuldade na obtenção de dados por agências e organizações internacionais e os marcos de proteção à liberdade na Internet e privacidade.

O caráter transnacional dos delitos informáticos também exigiria que os países adequassem suas legislações e absorvessem medidas propostas por acordos internacionais, como a Convenção de Budapeste, legislação europeia criada em 2001 em resposta aos ataques do onze de setembro (AROCENA, 2012; CERQUEIRA & ROCHA, 2013; HERNÁNDEZ, BAQUERO & GIL, 2018). Porém, apesar do esforço, os países ainda teriam muita dificuldade em tipificar o crime cibernético. Um dos únicos consensos entre diferentes legislações seria a relação entre os delitos e os sistemas informáticos.

“el concepto de ciberdelito se construye en derredor de la noción de ‘sistema informático’, pues, como se acaba de ver, es éste el que, en la clase de infracciones que analizamos, se constituye en el instrumento del delito o su objeto de ataque, o sea, el medio a través del cual el ilícito se comete, o en el objeto material sobre el cual recae la conducta típica.” (AROCENA, 2012, p. 950)

Ainda assim, o que é considerado delito informático aparenta variar em cada país em termos de ação. Entrariam aqui invasão, roubo, vazamento (OJEDA-PÉREZ et al., 2010; AROCENA, 2012; CERQUEIRA & ROCHA, 2013; RODRÍGUEZ, ODUBER & MORA, 2017; HERNÁNDEZ, BAQUERO & GIL, 2018) e calúnia, difamação e manifestações hacktivistas (RUIZ, SEGURA & QUESADA, 2009).

Nessa direção, Gacharná G. (2009), Ojeda-Pérez et al. (2010), Arocena (2012) e Cerqueira & Rocha (2013) levantam a questão que a dificuldade em tipificar os delitos informáticos e, muitas vezes, as formas com que as legislações os absorvem transformam em crime o hacking ético. De acordo com Gacharná G. (2009):

“Hacking ético, es una actividad que incluye diversos ataques a redes de computadores en ambientes controlados donde los responsables de los sistemas a atacar han sido previamente informados y han autorizado los mismos con el fin de establecer el estado de inseguridad de su sistema y conocer detalladamente sus vulnerabilidades y que son practicados por profesionales en Seguridad Informática.” (GACHARNÁ G., 2009, p. 47)

O hacking ético, na percepção de Gacharná G. (2009) e dos outros autores, seria uma função dentro das empresas de segurança da informação necessária para a evolução dos sistemas de segurança. Porém, as atividades desenvolvidas por hackers éticos se enquadrariam em delitos informáticos. Surgem, então, questões sobre consentimento ou não do sistema, corporação ou instituição invadidos.

4.6 Considerações sobre as políticas hackers e as disputas pelo ordenamento do mundo