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Violação constitucional: princípio da proporcionalidade indispensável ou

Sintetizando, se pode dizer que o princípio da proporcionalidade pode ser admitido como moderador na utilização da prova ilícita, entendida esta como a obtida com violação aos

mandamentos constitucionais. Isso é possível, desde que seja considerada tal medida como sendo o único meio de realmente proteger os valores fundamentais do ser humano, quando concretamente afetados.

Para ter uma compreensão mais ampla do debate que aqui vem sendo apresentado, pode-se, repetindo palavras de Bergmann (1992), o princípio da proporcionalidade é tido, para o Tribunal Constitucional Alemão, como um princípio elementar e de mais alto grau de constitucionalidade, uma autêntica derivação do postulado do Estado de Direito. Nesses termos, não há Estado de Direito se não houver, também, a ideia de proporcionalidade.

Apesar disso, é preciso considerar que o princípio da proporcionalidade, assim como os demais princípios, pode não ser utilizado, dependendo do caso, como adverte Bergmann (1992, p. 23): “não precisa ser aplicado, mas pode ser aplicados”. Nesta via, pode-se decidir com fundamento na proporcionalidade, visando estabelecer um equilíbrio entre os valores ditos fundamentais conflitantes; porém, não é vedado ao juiz que decida de um ou outro modo, atendo-se, por exemplo, à dicção literal da lei.

Nos anos atuais, o princípio da proporcionalidade vem sendo amplamente utilizado nos Tribunais europeus. Isso desperta certa preocupação, já que, por vezes, na doutrina hodierna, fala-se de proliferações injustificadas, como é o caso do que já disse Bergmann, (1992, p. 23), ao tratá-lo como: “pseudocritério para a solução de todos os problemas de avaliação”.

A verdade é que, em seu ofício, o intérprete nem sempre se deparará com os chamados “casos difíceis”, em que será necessário o uso dos princípios para vislumbrar uma solução específica para determinado conflito. Situações ainda há em que, sim, há resposta oriunda diretamente da lei, não sendo necessário um raciocínio maior do que a mera subsunção, na relação lógica entre premissa maior (representada pela regra) e premissa menor (representada pelo caso). No entanto, a tendência é verificar uma “supervalorização” da proporcionalidade, como se todos os casos tivessem de ser tratados como “difíceis”.

O princípio da proporcionalidade possui grande amplitude, merecendo ser invocado em situações-chave, como a aqui mencionada, pertinente ao uso da prova ilícita em processo.

Observados os termos do Direito Civil, se pode falar, segundo Baptista (2002, p. 88), da sua importância como forma de amenizar os direitos reais de um cidadão que busca a defesa de seus interesses diante do Poder Público:

Tal princípio surge como conceito relevante a ser observando constante para a efetivação do “equilíbrio” entre os exercícios do poder e a preservação dos direitos dos cidadãos, servindo como parâmetro “dos atos do Poder Público para aferir se eles estão informados pelo valor superior inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça”.

No que tange à dicção “moralmente legítimo”, presente no Código de Processo Civil, se estabeleceu uma grande perplexidade em debates na doutrina e na jurisprudência. Mostram-se teses oscilantes, não havendo uma orientação igualitária nos tribunais, uma vez que existe uma imensa dificuldade quanto à definição do que seja moral ou imoral, para fins probatórios. A inexiguidade dos valores morais faria sempre questionar se determinada providência se entenderia por “moralmente legítimo”, para fins probatórios.

Nessa quadra do estudo, desenha-se uma primeira conclusão: que o direito de provas insere-se entre os direitos humanos fundamentais, e em face deles deve ser exercido. Se é verdade que a utilização das provas ilícitas é vedada, é certo também que, na defesa de valores fundamentais, pode-se admitir seu uso, para o que serve o princípio da proporcionalidade, verdadeira condição para amenizar os interesses em conflito. Esse, enfim, é o cenário para considerar digna a proposta de uso de prova ilícita.

Segundo Baptista (2002 p. 90), a consideração real, no processo concreto, de uma prova chamada ilícita e ignorada constitucionalmente, imprescinde da busca de um equilíbrio, em qualquer momento ou situação de afrontamento. Em outros termos, para que se fale na utilização da prova ilícita, deve haver, necessariamente, uma grande disparidade, uma grande ruptura entre os fins e os meios disponíveis.

Quando se fala, por exemplo, na tutela privatista do direito a indenização por quebra de um contrato, ficará prejudicado o intento daquele que desejar colacionar aos autos do processo judicial uma prova obtida com violação de correspondência, ou com escuta telefônica não autorizada. Isso porque, no caso, os valores tutelados no processo não autorizam a quebra do paradigma constitucional de vedação da prova ilícita: por mais que se

fale em potencial violação à liberdade contratual, além da contrariedade à segurança jurídica, pertinente ao cumprimento do contrato sem sobressaltos, os meios legais se mostram adequados para a solução do caso. Em suma, não há, nesse exemplo, em princípio, uma disparidade tão gritante a ponto de autorizar a ruptura daquilo que a Constituição tratou como “normal” para o processo judicial.

Ao contrário, se se falar em ação de improbidade administrativa fundada na suspeita veemente de malversação de verbas públicas, se poderá, sim, cogitar da utilização de provas a

priori ilícitas. O valor tutelado, da probidade administrativa, cinge-se à própria noção de

Estado Democrático de Direito, a seu núcleo duro: não se pode falar em democracia, ou mesmo em direito, quando o administrador público toma como seu o que é da comunidade. O direito à intimidade e à privacidade, que esse administrador poderia pensar a opor quando da realização, por exemplo, de escutas clandestinas, não lhe socorre, ante à preponderância do interesse público no caso. Esse, ao que parece, é caso de utilização válida da prova ilícita em processo civil.

A prova ilícita muita vezes é necessária para garantir a dignidade humana. A proporcionalidade é um principio elementar a ser considerado para o equilíbrio das partes que discutem essa questão de grande vulto, visto que em diversas situações que nos deparamos, como no assédio sexual, moral, no ambiente de trabalho, é permito a aplicação desse princípio como garantia de direito na busca da verdade.

Por conta de tudo isso, levantou-se a discussão quanto à admissibilidade da prova ilícita no meio processual, quando os meios probatórios ordinários não forem suficientes para atestar a busca da verdade. Procurou-se, pois, dar à Constituição uma leitura adequada a seus fins, sem descurar da necessidade de manutenção de um mínimo de segurança jurídica.

CONCLUSÃO

O estudo aqui apresentado teve por objetivo abordar os conceitos referentes à prova ilícita no ordenamento jurídico brasileiro, reconhecendo o princípio da proporcionalidade como meio de equilíbrio entre os direitos fundamentais em conflito. Deu-se ênfase ao conhecimento da admissibilidade ou inadmissibilidade das provas ilícitas, ressalvando-se a análise concreta da possibilidade de uso das mesmas.

Admitida a ideia de que a justiça sempre foi algo a instigar questionamentos a respeito de quanto o homem tem em suas mãos o poder de decidir, questiona-se se aquilo que consta na Constituição, lei criada pelos homens, é suficiente e completamente correta para designar o destino de um ser humano.

Ainda que se pense na impossibilidade de alcançar a justiça última, não se pode deixar de reconhecer o esforço do homem em fundar seus anseios jurídicos em uma Constituição, documento escrito e objetivamente compreensível. Se é certo que cada um tem ou pode ter uma noção particular de justiça, a Constituição aí está para dar a todos um liame, e auxiliar na busca de uma “justiça” institucional e procedimentalmente válida para cada caso concreto.

Os conceitos e as opiniões doutrinárias divergem em vários sentidos a respeito de considerar algumas condutas ilícitas ou não. No momento de ser decidida uma questão judicial que venha a questionar sobre os valores de liberdade e dignidade humana, podem surgir diversas opiniões sobre o que é e o que não é justo para o caso concreto. A chave, nesse meio, é reconhecer a importância da essência de uma prova ilícita como a chave essencial a mostrar a verdade.

Notícias do uso da prova ilícita nos Tribunais são veiculadas nos meios de comunicação, mas se sabe que, através dessas provas, se objetiva chegar o mais próximo possível da verdade real, verdade esta almejada no meio jurídico para evitar possíveis injustiças e distorções. Derivam daí os constantes debates acerca da problemática que enlaça o uso das provas ilícitas nos tribunais: é válido o esforço em busca dessa possível verdade real, ou os cidadãos devem sujeitar-se a limites estanques sobre o descobrimento da verdade judicial? Em outras palavras, as predições constitucionais sobre a prova ilícita são um limite sobre o qual, não se pode passar?

É majoritário o entendimento embasado na interpretação do que traz a Constituição Federal, a qual defende que as provas ilícitas dão origem a vícios insanáveis, e, por isso, devem ser desprezadas e retiradas do processo, uma vez que derivam de um fato ilícito. Mas, nesse estudo em que se analisaram várias doutrinas relacionadas ao assunto, permite-se concluir, em contrapartida, que existe o entendimento de que a inadmissibilidade das provas ilícitas deve ser relativa e individualizada, dependendo do caso real processual em questão, obedecendo assim, os critérios de proporcionalidade que neste estudo foram apontados.

Em princípio, a prova ilícita no processo civil infringe o direito dito fundamental, e assegurado constitucionalmente, dos litigantes ao processo justo. Mas, tendo-se o discernimento de que em algumas situações concretas, em um Tribunal, a inadmissão de uma prova ilícita pode dar ensejo à defesa de vários outros direitos fundamentais independentemente de serem eles de igual, menor, ou maior relevância social, aí a questão muda de figura.

É preciso indiscutivelmente considerar, em virtude de tal fato, se a admissibilidade ou inadmissibilidade da prova ilícita deve sofrer restrições, com a finalidade de evitar que certas liberdades individuais possam ser realizadas de modo danoso à ordem pública e aos direitos alheios. Esse foi justamente o mote do presente trabalho monográfico.

Teve-se a pretensão de explanar sobre a importância e o momento em que se deve considerar a prova ilícita a ser aceita no processo civil, partindo da análise do caso concreto, trazendo à tona o princípio da proporcionalidade, e se a admissibilidade de tal prova seria de importância, em face dos danos decorrentes de sua utilização.

O equilíbrio de tudo aquilo utilizado em um Tribunal é o que define a justiça como uma parte digna da experiência do ser humano – esse ser possuidor de direitos fundamentais na sociedade em que vive.

REFERÊNCIAS

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BERGMANN, Erico R. Prova ilícita: a Constituição de 1988 e o princípio da proporcionalidade. Porto Alegre: Escola Superior do Ministério Público/Associação do Ministério Público, 1992.

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