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Visão integrada: gestão da informação e gestão do conhecimento

3 ASPECTOS RELACIONAIS ENTRE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E

3.5 Visão integrada: gestão da informação e gestão do conhecimento

Sobre o tema, Barbosa (2008) discorre sobre a relação existente entre GI e GC como ferramentas indispensáveis na eficácia organizacional. Para tanto, retoma a contribuição de importantes autores para a origem da moderna gestão da informação, os quais se preocupam, em caráter pioneiro, com informação e conhecimento como elementos relevantes para a produtividade das empresas. Enfatiza, então, a obra de Paul [Marie Gislain] Otlet, em especial, o citado Traité de Documentation; do engenheiro e inventor norte-americano Vannevar Bush, com sua Memex. Aos dois, acrescenta a influência decisiva de Frederick Hayek, com a publicação The use of knowledge in society, de 1945. Na visão de Taparanoff (2006, p. 23-24), a gestão da informação

[...] mudou seu foco inicial de gestão de documentos e dados para recursos informacionais [...] cuja principal finalidade é o acompanhamento eficiente de processos, o apoio à tomada de decisões estratégicas e a obtenção de vantagem competitiva em relação aos concorrentes.

Portanto, rememora-se que informação e conhecimento estão interligados. Somente a partir de 1980, universidades e empresas despertam interesse maior pela GC. A GI trabalha com a informação registrada enquanto a GC prioriza o conhecimento tácito / as experiências transmitidas por meio de conversas e outras formas de interação face a face. O Quadro 5 corrobora para consolidação da relação vigente entre os dois conceitos.

A partir do exposto, verifica-se que a GI se concentra na informação explícita, contida principalmente nos sistemas de informação, em documentos. Assim sendo, integra biblioteconomia e CI. A GC, por seu turno, refere-se ao conhecimento tácito, pessoal, e, ainda, aos valores e às experiências dos colaboradores da empresa, como transcrito, literalmente, por Barbosa (2008, p. 11):

[...] administrar ou gerenciar o conhecimento não implica exercer controle direto sobre o conhecimento pessoal. Significa sim, o planejamento do contexto [...] situações nas quais esse conhecimento é registrado, organizado, compartilhado, disseminado e utilizado de forma a possibilitar melhores decisões, melhor acompanhamento de eventos e tendências externas e uma contínua adaptação da empresa a condições sempre mutáveis e desafiadoras do ambiente onde a organização atua.

QUADRO 5 – Critérios: gestão da informação e gestão do conhecimento

CRITÉRIOS GESTÃO DA INFORMAÇÃO GESTÃO DO CONHECIMENTO

Fenômenos centrais Informação ou conhecimento

Explícito

Conhecimento tácito, competências pessoais

Visibilidade dos fenômenos Baixa Muito baixa

Processos críticos Organização e tratamento

da informação

Descoberta e compartilhamento do conhecimento

Nível de centralidade para a

gestão estratégica Mediana Alta

Influência da cultura organizacional sobre processos e resultados

Mediana Alta

Possibilidade de

gerenciamento Baixa ou mediana Baixa ou muito baixa

Outros conceitos relacionados Sistemas de informação, gestão eletrônica

de documentos Capital intelectual, ativos intangíveis,

aprendizagem organizacional Principais campos

disciplinares envolvidos

Ciência da computação, ciência da informação, biblioteconomia, arquivologia

Administração, ciência da informação

Fonte: Barbosa (2008, p. 14).

Reforçam-se as afirmações anteriores, segundo as quais tanto GC como GI são processos complexos, de difícil mensuração e observação. Ambos, porém, são determinantes para o sucesso das organizações. Ao se referir a diferentes aspectos sob os quais as empresas são analisadas, Morgan (1996) enfatiza que a perspectiva informacional configura-se como meta, uma vez que informações e conhecimentos estão presentes em todas as etapas e nos passos das empresas. Afinal, a relação existente entre GI e GC deve ser vista de forma integrada e sistêmica, com a informação atuando como insumo básico para o conhecimento, como antes mencionado. Este é externalizado por meio de registros.

Amorim e Tomaél (2011) corroboram tal pensamento. Argumentam que há complementaridade dos conceitos e das práticas em que a informação serve de substrato material do conhecimento. Ou seja, GI e a GC são modelos de gestão complementares. A GI está relacionada com fluxos formais; a GC, com fluxos informais e / ou não explícitos. Enquanto os fluxos formais correspondem a relatórios, normas, códigos ou qualquer outro tipo de documento; os informais conduzem a formas não registradas, tais como eventos, cursos e reuniões. A este respeito, o Quadro 6 sintetiza os aspectos relacionados entre GI e GC, tomando como referência a relação entre fluxos formais e informais.

QUADRO 6 – Aspectos relacionais entre gestão da informação e gestão do conhecimento ASPECTOS RELACIONAIS ENTRE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E

GESTÃO DO CONHECIMENTO

GESTÃO DA INFORMAÇÃO GESTÃO DO CONHECIMENTO

ÂMBITO Fluxos formais ÂMBITO Fluxos informais OBJETO Conhecimento explícito OBJETO Conhecimento tácito ATIVIDADES BASE

Identificar demandas necessidades de informação Mapear e reconhecer fluxos formais

Desenvolver a cultura organizacional positiva em relação ao compartilhamento/

socialização de informação

Proporcionar a comunicação informacional de forma eficiente, utilizando tecnologias de informação e comunicação

Prospectar e monitorar informações Coletar, selecionar e filtrar informações

Tratar, analisar, organizar, armazenar informações, utilizando tecnologias de informação e comunicação Desenvolver sistemas corporativos de diferentes naturezas, visando o compartilhamento e uso de informação

Elaborar produtos e serviços informacionais Fixar normas e padrões de sistematização da informação

Retroalimentar o ciclo

ATIVIDADES BASE

Identificar demandas necessidades de conhecimento Mapear e reconhecer fluxos informais

Desenvolver a cultura organizacional positiva em relação ao compartilhamento/

socialização de conhecimento

Proporcionar a comunicação informacional de forma eficiente, utilizando tecnologias de informação e comunicação

Criar espaços criativos dentro da corporação Desenvolver competências e habilidades voltadas ao negócio da organização

Criar mecanismos de captação de conhecimento, gerado por diferentes pessoas da organização Desenvolver sistemas corporativos de diferentes naturezas, visando o compartilhamento e uso de conhecimento

Fixar normas e padrões de sistematização de conhecimento

Retroalimentar o ciclo

Fonte: Valentim (2004, p. 3).

É possível, então, traçar uma relação mais clara entre os conceitos de gestão da informação e gestão do conhecimento. Nesse sentido, Valentim (2007) enfatiza que a GI vincula-se à informação contida no suporte, seja impresso ou digital, enquanto a GC tem como foco o capital intelectual da organização. Com palavras distintas, mas que conduzem à percepção similar, Souza e Dias e Nassif (2011, p. 3) acreditam que, na esfera da CI, a GC deve ser concebida como “[...] espaço epistemológico amplo dedicado à compreensão da relação mente-mundo, onde se dá o processo de conhecer”. E é por isso que perfaz um procedimento intricado, que envolve interação entre recursos humanos, inteligência, percepção, sensações, conhecimento, informação, como palavras literais de Moraes e Fadael (2008, p. 28) sinalizam:

A gestão da informação possui, portanto, papel fundamental porque propicia a melhoria dos fluxos informacionais, agregando dinamicidade, valor e controle, através de métodos, técnicas, procedimentos e ferramentas de gestão que dinamizam o desempenho da organização, mas sempre com o foco nas pessoas que participam do processo.

Decerto, as pessoas são elementos fundamentais nas organizações. Produzem, interpretam e utilizam as informações e, sobretudo, decidem sobre seu grau de importância. Monitoram e analisam o ambiente interno e externo. Agregam valor à informação de modo a tornar as empresas mais competitivas. Fortalecem, assim, a informação como um bem:

[...] a informação e o conhecimento são insumos do fazer organizacional e são fundamentais para o processo decisório. Não consigo separar informação e conhecimento, visto que um alimenta o outro, ou seja, é um processo dual necessário para a evolução do sujeito. Nesse sentido, todo o trabalho realizado na área de ciência da informação deveria levar em conta essa relação extremamente forte e inseparável (VALENTIM, 2008, p. 20).

A informação requer gerenciamento, constituindo a base da administração dos recursos de informação, que compreende a “[...] visão integrada de todos os recursos envolvidos no ciclo de informação, isto inclui a informação propriamente dita (conteúdo), os recursos tecnológicos e também os recursos humanos” (TARAPANOFF, 2001, p. 44). Ademais, o gerenciamento das fases demanda conhecimento especializado por parte de quem as gerencia, o que reafirma a posição dos bibliotecários no quadro de informações de uma empresa. Sua história profissional ao longo dos tempos, ao contrário do que acontece com a dos programadores e de outros profissionais em geral, os predispõe ao contato direto com o público. Isso, porém, não os livra de desafios que marcam a contemporaneidade mediante a apreensão de novas e urgentes competências. Como visto anteriormente e em diferentes momentos, nos processos decisórios, a informação é elemento preponderante ao ditar o rumo a ser adotado em situações específicas.