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O jornalista Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa, escreveu na apresentação do livro Jornalismo é..., de 1997:

Muitas das questões que estudei em 1923, no livro ‘O problema da imprensa’, permanecem até hoje atuais. A exigência de ampla liberdade para o exercício profissional e preocupação com a ética são temas essenciais, ao lado da necessidade de uma sólida formação para os profissionais. Na presidência da Associação Brasileira de Imprensa temos procurado apoiar iniciativas para contribuir na qualificação dos jornalistas. […] Os jovens jornalistas – e a idade já não me permite ampliar o tratamento aos profissionais de todos os veículos – precisam tomar iniciativas em defesa das causas nacionais, sem esquecer que a função jornalística é também a de ajudar a formar conceitos. (LIMA SOBRINHO, In: NOGUEIRA, 1997, p. 7).

A imprensa tem passado por reavaliações, mas valores sociais têm sido deixados de lado em função da audiência e da vendagem, o chamado, nos meios de comunicação, efeito ibope, substantivo derivado da sigla do Instituto Brasileiro de Opinião Pública que figura no dicionário como “[…] índice obtido mediante pesquisa de opinião pública” (FERREIRA, 1993, p. 291).

Quando o assunto está relacionado à formação acadêmica dos profissionais de Jornalismo, são necessárias disciplinas que contribuam para uma formação humanista e generalista a qual poderá ser repassada a toda a sociedade através dos próprios veículos de comunicação (FENAJ, 2002). Entende-se que, dessa forma, será possível alcançar a democracia política proposta por Norberto Bobbio:

Uma vez conquistada a democracia política, percebe-se que a esfera política está por sua vez incluída numa esfera muito mais ampla que é a esfera da sociedade no seu todo e que não existe decisão política que não seja condicionada ou até mesmo determinada por aquilo que acontece na sociedade civil. Percebe-se que uma coisa é a democratização do Estado (ocorrida com a instituição dos parlamentos), outra coisa é a democratização da sociedade, donde se conclui que pode muito bem existir um Estado democrático numa sociedade em que a maior parte de suas instituições – da família à escola, da empresa à gestão dos serviços públicos – não são governadas democraticamente. (BOBBIO, 1986, p. 55-56).

O jornalista Ricardo Noblat, no artigo O Atraso da Vanguarda, expõe:

Sempre estivemos ao lado dos que se batem por mais liberdade de expressão e de costumes e por mais justiça social no País – contudo resistimos ferreamente às mudanças quando elas ameaçam o que temos de mais precioso, o que nos ocupa a maior parte do tempo de nossas vidas. Refiro-me ao exercício do jornalismo, ao modo como o aprendemos e praticamos. Sem dúvida, tecnicamente a imprensa brasileira é uma das mais modernas do mundo. Mas a grande revolução do conteúdo – e particularizo aqui o conteúdo dos jornais impressos – bem... essa ainda está para ser feita. E resistimos a fazê-la com toda a força dos nossos preconceitos.

O conteúdo dos grandes jornais brasileiros – e, por extensão, dos seus mal-ajambrados

clones – padece de vários males. Todos diagnosticados à exaustão. Alguns deles: O mal dos relatos burocráticos, impessoais [...]

O mal das versões [...] O mal do oficialismo [...]

O mal da superficialidade (NOBLAT, In: NOGUEIRA, 1997, p. 79-83). (Grifos do autor).

Em relação ao “mal dos relatos burocráticos”, impessoais, o jornalista diz em seu artigo que escrevia aquele texto um dia após a queda do governador Divaldo Suruagy, de Alagoas. Segundo o autor, milhares de pessoas haviam saído às ruas da capital alagoana, Maceió, “pedindo a deposição do governador e meia dúzia delas acabou ferida a bala”.

Mas, salvo menção a uma ou a outra mais exaltada, elas foram ignoradas pelos jornais. Uma multidão sem rosto, sem nome, sem histórias para contar. O generoso espaço reservado pelos jornais para noticiar a crise foi ocupado por declarações de políticos, providências tomadas pelo governo federal, explicações sobre a situação das contas públicas de Alagoas e frias descrições dos conflitos de rua. (NOBLAT, In: NOGUEIRA, 1997, p. 80)

Adiante, em seu texto, Noblat menciona o “mal das versões”. As premissas básicas do jornalismo determinam que todas as partes envolvidas em um episódio jornalístico devem ser ouvidas. Isso para que se passe ao leitor a versão mais completa, imparcial e próxima da verdade possível. Mas, como bem observou o autor, “a preguiça, a falta de tempo para uma apuração rigorosa e o medo de eventualmente errar” acabam levando os jornalistas a aceitarem e publicarem “versões e mais versões de um mesmo fato”.

Em nome de uma falsa postura de isenção, transferimos para os leitores nossa ignorância ou incapacidade de descobrir o que aconteceu. Somos pagos para investigar e contar os fatos como eles se deram, não para escrever que, segundo alguns, tudo se passou assim, mas segundo outros tudo se passou de uma forma diferente. Jornalismo de investigação não é só aquele que precede a elaboração de reportagens de fôlego. Jornalismo é investigação sempre – quer ele resulte na renúncia de um presidente da República ou no fechamento de um buraco que atrapalha o trânsito. (NOBLAT, In: NOGUEIRA, 1997, p. 81).

O autor ainda cita os “males do oficialismo e da superficialidade”.

Raro é o governante, o político, o líder de alguma associação que opina ou fornece informações que contrariem seu próprio interesse ou o interesse dos seus representados. Em que lugar do mundo já se viu um ministro da Fazenda, por exemplo, declarar que a inflação subirá, ou que haverá reajuste no câmbio, ou ainda que as contas públicas irão para o brejo? Para todos esses fatos eles oferecem explicações a posteriori – e todas elas parciais e facciosas. E, no entanto, nossos jornais morrem de

amores por todo e qualquer suspiro oficial ou semi-oficial. [...] O que seria dos jornais, se um dia emudecessem as fontes oficiais? Ou deixariam de circular ou descobririam enfim que há material rico, farto e fascinante muito além dos gabinetes e dos corredores carpetados do poder. (NOBLAT, In: NOGUEIRA, 1997, p. 82).

O rádio e a televisão são meios de comunicação de massa, dinâmicos e ágeis. É possível transmitir a cobertura de um evento em tempo real devido às características técnicas desses dois tipos de mass-media. Mas as notícias não são apuradas em sua amplitude total. Se um episódio envolve cinco ou seis elementos fica difícil ter a versão de todos eles em uma cobertura jornalística de televisão ou até mesmo de rádio. O ouvinte e o espectador tendem a prestar mais atenção no episódio e não nas entrevistas que o comprovem. Por isso, o jornalista menciona:

Bons tempos aqueles em que as pessoas dependiam basicamente dos jornais para se informar sobre os fatos relevantes de sua cidade, país e mundo. Elas hoje dependem pouco. E cada vez dependerão menos. [...] A maioria das pessoas que abrem diariamente um jornal já conhecem superficialmente as notícias que ali encontram. Não querem saber o que aconteceu, quase sempre porque já sabem. Querem saber por que aconteceu. E o que pensar a respeito dos fatos. [...] Infelizmente os jornais privilegiam o que as pessoas já sabem e pouco se lhes acrescentam. São reféns do

ontem e do quê. Teimam em oferecer notícias em excesso com baixa qualidade. E

quando percebem que a circulação míngua ou não cresce na proporção estimada, os jornais apelam em desespero para promoções que justificam como agregação de valor. Compre um jornal, por favor, que não o satisfaz plenamente. Em compensação, ganhe uma fita de vídeo, abatimento de 50% numa churrascaria ou concorra ao sorteio de um carro. (NOBLAT, In: NOGUEIRA, 1997, p. 82-83). (Grifos do autor).

O jornalista Carlos Alberto Di Franco escreveu no artigo O jornalista e o

educador – quem educa ou informa não pode viver de costas para a verdade e a

liberdade: “Entre o educador e o jornalista existe um denominador comum: o amor à verdade e a paixão pela liberdade”. (Di FRANCO, Maio/98, p. 66). Segundo ele , o educador deve desenvolver a coragem moral dos grandes repórteres e, o jornalista, o impulso do educador, pois é muito fácil informar ou desinformar.

O homem tende à verdade. Por isso, a falência da verdade é a principal causa da decadência de qualquer sociedade. E, em contrapartida, reerguer uma sociedade é reerguê-la primeiro moralmente, fazendo reinar nela o que há de essencial: o primado da verdade. Trata-se da missão essencial do jornalista e do educador. A crise brasileira, à

semelhança do que está acontecendo em outras paisagens, é o corolário da educação concessiva e acovardada e do bombardeio de uma mídia que presta excessivo culto à frivolidade e aos modismos politicamente corretos. (Di FRANCO, Maio/98, p. 66).

O jornalista ainda faz referências aos que chama de “dominados pela síndrome de um fundamentalismo prático” e “reféns de esquemas relativistas”, que pretendem uma verdade desvinculada da liberdade ou defendem uma liberdade emancipada da verdade. Escreve: “Esquecem uns e outros, que a democracia, estrutura que mais genuinamente garante a dignidade da pessoa, pressupõe a harmonia entre verdade e liberdade. Por isso, jornalistas e educadores não podem viver de costas para a liberdade” (Di FRANCO, Maio/98, p. 66) e para os anseios da sociedade, seu compromisso social. Infelizmente, jornalistas parecem não estar preparados para trabalhar com a verdade, pois têm encontrado mecanismos para convencer seu público a acreditar no que dizem, e muitas vezes pensam, ser verdadeiro e, com esse expediente, várias injustiças foram cometidas, várias verdades foram falseadas. O pensador italiano Antonio Gramsci diz: “A verdade é revolucionária” (1975, p.35), pois ela desmascara as mentiras do sistema.