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II. Revisão da Literatura

2.2. Visibilidade da Receita Fiscal

2.2.2. Indicadores da Visibilidade da Receita Fiscal

2.2.2.2. Visibilidade dos Impostos

Como vimos, os eleitores podem ser mais propensos a preferir certo tipo de impostos em detrimento de outros. Os impostos mais visíveis são mais propensos a provocar resistência pública, enquanto os impostos que são associados a um benefício ou pagos em pequenas parcelas ao longo do ano, parecem gerar um maior apoio público (Prasad 2012).

O Estado tenderá a incluir no sistema fiscal impostos directos e impostos indirectos como forma de atenuar os efeitos produzidos quer pelos impostos directos quer pelos impostos indirectos, como foi abordado em secção anterior.

Contudo, o Estado poderá manipular o sistema fiscal e a repartição da receita obtida através de impostos directos e indirectos, em função de outros objectivos que não aqueles que se referem à prossecução de políticas redistributivas equitativas, conduzindo à ilusão fiscal.

Na sua obra, Puviani (1903) refere-se à questão da visibilidade dos impostos considerando que os impostos incorporados no preço dos produtos possibilitam que o contribuinte não tenha a noção da quota-parte de imposto que se encontra incluída no preço.

Assim, estes impostos de natureza indirecta enfraquecem o sinal no que diz respeito à redução do rendimento por eles induzida. Para além disso, possuem um ruído elevado, uma vez que, o preço do bem ou serviço inclui tanto o imposto como o respectivo preço. Desta forma, o indivíduo perde a consciência da cobrança do imposto inerente à compra bem como do montante a ele associado.

A corroborar tal pressuposto, um estudo realizado por Ferber (1954) evidencia que apenas 30% dos inquiridos tinham consciência da redução das taxas nos E.U.A., e muitos deles não conseguiam distinguir os produtos sujeitos a imposto dos não sujeitos.

85 Também Schmölders (1959) corrobora esta tese. Os contribuintes alemães demonstraram uma grande ignorância sobre as taxas de imposto. As famílias de rendimentos mais baixos sobrestimavam as suas cargas fiscais enquanto as de rendimentos mais elevados cometiam o erro contrário. Por outro lado, a repercussão dos impostos das empresas no preço dos bens e/ou serviços por elas fornecidos produziam um impacto de 40% nas receitas geradas pelo Estado.

Em 1970, Mill refere que os impostos directos sobre o rendimento são mais visíveis e que, como tal, um crescimento excessivo do governo se repercutirá nos impostos indirectos. Neste âmbito estão incluídos os impostos sobre as vendas que conduzem à ilusão fiscal dado que se desconhece o montante total acumulado com que se contribui apesar de serem conhecidas as taxas. Além disso, uma vez que os impostos indirectos são pagos à medida que o contribuinte vai utilizando o seu rendimento para satisfazer as suas necessidades, este perde sensibilidade perante tal sacrifício fiscal.

Por contraposição, os impostos directos aduzem uma maior visibilidade uma vez que o contribuinte se vê privado de uma parte do seu rendimento. De facto, a reacção do contribuinte ao lançamento de um imposto directo é mais forte porquanto ao pagar esse imposto o contribuinte vê ser-lhe retirada uma parte do seu rendimento o que fará com que, desde logo, possa acabar por ter de fazer restrições ao consumo penalizando a satisfação das suas necessidades. Apesar disso, a introdução de figuras como a retenção na fonte e a progressão das taxas conduzem à ilusão.

No que se refere aos impostos sobre o rendimento, ainda que mais visíveis quando comparados com os impostos indirectos, Buchanan (1967) identifica um conjunto de factores que contribuem para a existência de ilusão fiscal entre os quais o recurso a formas planificadas de pagamento do imposto no sentido de tornar menos penoso o momento da colecta.

A este propósito, o estudo elaborado por Enrick (1963) mostra que só, ligeiramente, mais de metade dos inquiridos tinha capacidade para estimar a sua real taxa de imposto sobre o rendimento. Mais ou menos ¼ dos inquiridos sobrestimava ou subestimava a sua obrigação em mais de 20%. Uma das hipóteses colocadas sobre este tipo de imposto é o facto da retenção na fonte gerar ilusão fiscal porque o contribuinte paga o imposto de forma parcelar e não efectua o desembolso real da quantia a pagar.

86 O estudo da visibilidade dos impostos é ambíguo dado que os resultados obtidos em estudos realizados por alguns autores são divergentes. Puviani (1903) apresenta como exemplo de invisibilidade dos impostos a sua inclusão no preço dos bens e serviços privados. Neste âmbito, o indivíduo não se apercebe do montante de imposto pago, desconhecendo por vezes a sua existência. O perdurar desta situação ao longo do tempo faz com que o contribuinte comece a perder a noção da cobrança do imposto.

Buchanan e Wagner (1977) salientam a importância dos impostos indirectos enquanto instrumento de ilusão fiscal uma vez que este tipo de imposto é cobrado através da sua inclusão no preço final dos bens e serviços o que permite que o contribuinte tenha uma menor percepção do pagamento do imposto e do seu montante.

Pomerehne e Schneider (1978) efectuam um estudo sobre o comportamento da despesa pública local, no qual incluem a visibilidade dos impostos como variável de ilusão fiscal. Os autores partem do pressuposto que um conjunto de impostos menos visíveis conduz a um aumento da despesa pública local. Para tal, as receitas foram divididas em 11 categorias, sendo depois apresentadas duas variáveis, uma relativa aos impostos muito visíveis e outra relativa aos impostos pouco visíveis. O modelo foi testado em 110 municípios suíços e os resultados obtidos permitem concluir que os coeficientes relativos a estas duas variáveis são estatisticamente significativos.

Misiolek e Elder (1988) pretendem explicar o comportamento da despesa e da receita local. No modelo apresentado incluem uma variável relativa à visibilidade dos impostos que é obtida através do rácio entre os impostos considerados mais visíveis, como o imposto sobre o rendimento, o imposto sobre as vendas e o imposto sobre a propriedade, e o total das receitas fiscais. Os resultados apresentados indicam que o sinal do coeficiente estimado para esta variável é diferente do esperado, para além de não ser estatisticamente significativo. Assim, os autores não encontram resultados que permitam aferir a existência de uma relação entre a visibilidade dos impostos e os níveis de despesa pública verificados.

Ainda no âmbito da visibilidade dos impostos Pommerehne e Schneider (1983) realizam um estudo com o objectivo de testar a hipótese da popularidade do governo ser influenciada pela carga fiscal suportada pelos contribuintes. O estudo teve por base, dados relativos à Austrália durante os anos 70 e conclui que a popularidade do governo é influenciada de forma negativa pela carga fiscal total e também pelo peso dos impostos directos no total das receitas fiscais. Por outro lado, concluem que a

87 percentagem de impostos indirectos tem pouco impacto no índice de popularidade do governo, uma vez que os impostos indirectos são muito menos visíveis que os impostos directos.

Tyram e Sausgruber (2000) testam a existência de ilusão fiscal devido à visibilidade dos impostos. Para tal, colocam a hipótese da carga fiscal resultante da aplicação de impostos indirectos ser mais difícil de ser cognitivamente percepcionada do que a carga fiscal resultante de impostos directos, uma vez que os impostos indirectos se encontram incorporados nos preços de mercado dos bens e serviços. Este estudo de laboratório teve como amostra 44 estudantes de áreas diferentes da económica da Universidade do Arizona. Os resultados obtidos evidenciam que 2/3 dos indivíduos têm uma percepção errada da sua carga fiscal. Para além disso, os resultados mostram que a ilusão fiscal é mais acentuada no que diz respeito aos impostos indirectos quando comparados com os impostos directos.

No mesmo sentido, Wagner (2001) reconhece a importância da composição da receita fiscal como forma de promover a ilusão fiscal. Neste âmbito, o autor considera que a preponderância da tributação indirecta relativamente à tributação directa na composição da receita pública conduzirá à ilusão fiscal. Assim, a proporção dos impostos indirectos sobre os impostos directos ou a proporção dos impostos alfandegários no total colectado constituem indício de ilusão fiscal.

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