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A VISITA AO BRASIL DA IRANIANA SHIRIN EBADI, PRÊMIO NOBEL DA PAZ E

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

3.5 A VISITA AO BRASIL DA IRANIANA SHIRIN EBADI, PRÊMIO NOBEL DA PAZ E

Segundo Scofield165 (2011), no qual se viu que, em sua visita ao Brasil a advogada iraniana, ex-juíza e militante dos direitos humanos Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz em 2003, afirmou que não pretendia se encontrar com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, como queria o Palácio do Planalto, temeroso de que uma reunião entre a presidente Dilma Rousseff e uma das vozes mais ativas e influentes da dissidência iraniana pudesse arranhar as relações entre o Brasil e o Irã.

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Ibid.

165 SCOFIELD,Gilberto. No Brasil, Nobel Iraniana Shirin Ebadi insiste em ver Dilma. 2011. Disponível

em: <http://extra.globo.com/noticias/mundo/no-brasil-nobel-iraniana-shirin-ebadi-insiste-em-ver-dilma- 1985364.html>. Acesso em: 10 de outubro de 2011

O mesmo afirma que, sua intenção não era falar com a presidente sobre assuntos políticos, mas sobre as violações de direitos humanos no Irã com destaque a perseguição do grupo religioso baha`i e a situação de opressão da mulher no país.

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz observou, no entanto, que o governo de Ahmadinejad encontra-se enfraquecido por rachas em sua própria base de apoio, sendo criticado até pelo líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Para ela, nunca Ahmadinejad esteve tão fraco, diz:

Há um número grande de estudantes, jornalistas e advogados na prisão. Além disso, uma parte do governo está em conflito com outra parte, ou seja, alas à direita e à esquerda do governo não conversam mais. E mesmo dentro do núcleo do governo há divergência, como entre o presidente e o líder supremo. E o mais irônico é que as críticas que o aiatolá faz a Ahmadinejad são as mesmas que o povo fazia na época das eleições e que levaram tanta gente às ruas em Teerã.

Ela ainda afirmou que o apoio do Brasil nas Nações Unidas é importante pela influência brasileira na posição dos demais países da América Latina. Afirma Ebadi que o mais importante é que o povo do Brasil viveu sob uma ditadura e conseguiu uma democracia. E que o povo do Irã quer que os brasileiros defendam a democracia do Irã.

A advogada e ativista elogiou a mudança da política externa brasileira em relação ao Irã, em referência ao voto do Brasil em março a favor da ida de um relator do Conselho de Direitos Humanos da ONU ao seu país. No entanto, ela voltou a lamentar o fato de não ter um encontro agendado com a presidente Dilma Rousseff – alvo de críticas dos deputados da oposição presentes na audiência.166

A imprensa brasileira destacou que Ebadi veio para o Brasil para encontrar Dilma Rousseff e se sentiu muito mal com a recusa. Ela entendeu que a recusa foi resultado de uma pressão do governo iraniano.

Segundo o site da Rádio Câmara, como forma de protesto, a senhora Ebadi não se reuniu com nenhum ministro em Brasília. Em nove de junho de 2011, Shirin Ebadi falou na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, durante

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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB. Disponível em: <http//www.oabsp.org.br/noticias/2011>. Acesso em 15 out 2011.

audiência pública sobre política externa brasileira e a prevalência dos Direitos Humanos.167

O professor Fábio Konder Comparato, (Advogado titular da Medalha Rui Barbosa, conferida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra) preparou uma saudação para a senhora vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, quando de sua visita à OAB de SP. A seguir este discurso:

A senhora Ebadi ao iniciar sua fala de recepção do Prêmio Nobel da Paz de 2003, lembrou que a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 abre- se com a afirmação de que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os

membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Ao concluir seu

discurso, lembrou também a Senhora Ebadi a advertência da mesma Declaração Universal de Direitos Humanos de que os direitos humanos devem ser protegidos pelo império da lei, a fim de que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão. Considerou ainda a Senhora Ebadi, em seu discurso, que o Prêmio Nobel que lhe foi atribuído pertence ao povo do Irã, assim como ao povo dos Estados islâmicos e aos povos do hemisfério Sul, de modo geral, como incentivo a que neles sejam garantidos os direitos humanos e o regime democrático. Pois bem, sete anos após terem essas palavras sido pronunciadas, assistimos todos, fascinados, à revolta de vários povos de tradição islâmica do Oriente Médio contra a tirania e a opressão, revolta que permanece atuante até hoje, e que serve de exemplo a todos os oprimidos e explorados do mundo inteiro. Como se sabe, a Senhora Ebadi, de fé muçulmana, foi perseguida pelas autoridades religiosas e políticas em seu país natal, em nome da mesma fé. Pascal disse, com razão, que “nunca se faz o mal tão completamente e tão alegremente, como quando o fazemos por razões de consciência” (Pensées, ed. Brunschicq, nº 895). Ao que me permito acrescentar: por razões de falsa consciência religiosa.

E prossegue:

O fanatismo persecutório é, na verdade, totalmente estranho aos elevados ensinamentos do Corão. Pois bem, em razão desse fanatismo, a Senhora Ebadi foi duramente perseguida, porque teve a intrepidez de assumir, como advogada, a defesa judicial dos adeptos da Fé Bahá’i no Irã, onde a prática dessa religião é punida com a pena capital. A doutrina Bahá’i, como se sabe, prega a unidade de Deus e a unificação progressiva do gênero humano, com base no princípio fundamental, posteriormente inscrito no art. I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de que nascemos todos livres e iguais, em dignidade e direitos. Ora, o grande dever ético que se impõe hoje aos juristas e homens de boa fé, em todos os continentes, consiste em colaborar na construção de uma sociedade política mundial, em que os direitos humanos sejam eficientemente garantidos pelo funcionamento de Cortes de Justiça

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RÁDIO CÃMARA. Disponível em: <http:// www.camara.gov.br/internet/radiocamara>. Acesso em 19 out 2011.

supranacionais. Se assinalar este dever ético fundamental, é porque, falando nesta Casa do Advogado, não posso deixar de lembrar que vivemos, atualmente, em nosso país, uma situação de inocultável conflito entre as autoridades estatais e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em 29 de abril de 2010, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a argüição de descumprimento de preceito fundamental nº 153, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, decidiu que a lei de anistia, promulgada pelo último governo do regime militar, havia apagado, definitivamente, os crimes ignominiosos de homicídio, ocultação de cadáver, tortura e abusos sexuais contra oponentes políticos, praticados quando estes, em sua quase totalidade, já se encontravam presos à disposição das autoridades. Em 24 de novembro daquele mesmo ano, porém, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, ao julgar um caso em que o Brasil era réu, declarou expressamente que “as disposições da Lei de Anistia Brasileira, que

impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos, são incompatíveis com a Convenção Americana de Direitos Humanos e carecem de efeitos jurídicos”. Condenou, em conseqüência, o Estado Brasileiro

a iniciar desde logo os procedimentos penais contra os autores de tais crimes, bem como a executar nada menos do que onze medidas reparatórias. Pois bem, até hoje, passados quase seis meses da prolação da sentença daquela Corte, as autoridades estatais brasileiras não executaram nenhuma das suas disposições decisórias, e nem mesmo publicaram em nosso país a sentença então proferida, como lhes competia fazer. Minhas Senhoras e meus Senhores: Em presença de Shirin Ebadi, que honrou sobremaneira a condição feminina, bem como a dignidade da magistratura e da advocacia, tomemos todos agora, em nossas consciências, a resolução de nunca mais silenciar diante da injustiça institucionalizada sob a forma de um regime político.168

Tecidas essas considerações, formulamos, a seguir as considerações finais do presente trabalho de pesquisa.

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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB. Disponível em:

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