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CAPÍTULO 4 – INOVAÇÃO SOCIAL E A CIDADE-SANTUÁRIO DE FÁTIMA

6.4. Visitantes

O número de visitantes que cada cidade recebe está diretamente relacionado com a sua dimensão e vice-versa. As grandes cidades, neste caso, serão as cidades que apresentam maior desenvolvimento em termos de infraestruturas de acolhimento religioso e turístico. Naturalmente que, à medida que vai crescendo o fluxo de pessoas a estes locais, mais propensão haverá para o seu desenvolvimento, numa lógica de adaptação da oferta turística/religiosa à procura efetiva e/ou potencial. Por este motivo, assinalámos na introdução que tínhamos duas cidades-santuário de grande dimensão e duas de pequena dimensão. As figuras que se seguem podem-nos ajudar a compreender esse crescimento.

Figura 6.3 – Modelo de evolução de uma área turística segundo Butler (1980) em função do seu número de visitantes

Fonte: Ambrósio (2006: 321)

Figura 6.4 – Curvas de evolução de 4 cidades-santuário: Banneux, Fátima, Knock e Lourdes – em função do seu nº de visitantes e das suas infraestruturas de acolhimento religioso

A partir destas figuras pode ver-se de que forma a evolução de uma área turística se relaciona com o número de turistas que até si afluem (Figura 6.3) e, simultaneamente, com as infraestruturas que possui (Figura 6.4). À medida que se dá o seu crescimento, mais serão (tendencialmente) os turistas interessados em visitar o local, mas, do mesmo modo, mais serão as preocupações relacionadas com a adaptação dos espaços a essa procura. Veja-se, por isso, na Figura 6.4, que as cidades às quais acorre um maior número de visitantes são de forma coincidente, aquelas que estão mais e melhor apetrechadas com equipamentos religiosos.

À luz da interpretação de Ambrósio, apenas Fátima conseguiu esse crescimento mais pela força das visitas que veio reunindo ao longo do tempo, do que propriamente pela construção de infraestruturas de acolhimento. De acordo com a Figura 6.4, Fátima conseguiu um crescimento espontâneo muito mais acelerado que Lourdes, pois perto do centenário das aparições, nomeadamente no 90º aniversário (2007), Fátima apenas com uma basílica de média dimensão já reunia mais de 4 milhões de visitantes e Lourdes, por sua vez, apenas o conseguiu no 125º aniversário, ou seja, 25 anos após a construção da basílica de São Pio X (de grande dimensão; Figura A6.13 no anexo II), tendo muito antes disso (quase na sua génese) construído duas basílicas de média dimensão.

Ambrósio poderia ter acrescentado à linha da evolução de Lourdes a igreja de Santa Bernardette, construída no 130º aniversário das aparições. Este evento, aliado à construção desta nova infraestrutura talvez justifique, em parte, o facto de Lourdes estar numa fase de rejuvenescimento, pois em 2012 a cidade-santuário atingiu um novo pico de visitas anuais, um total de 6 024 222 visitantes, segundo o Centro de Comunicação Social do Santuário de Lourdes. De modo similar, temos presentemente (2012) a cidade de Fátima a receber 5,5 milhões de visitantes, segundo o Centro de Comunicação Social do Santuário de Fátima. Importa, todavia, ter em atenção que a fundação do Santuário de Fátima se deu quase 60 anos após a fundação do Santuário de Lourdes, e que, por isso, não dispondo os visitantes nesses quase 60 anos dos mesmos meios e modos de transporte que a partir daí e especialmente hoje (dado o seu desenvolvimento em Lourdes) têm, essa procura não poderia esperar-se na mesma proporção e espontaneidade com que se observou em Fátima.

Atualmente, Fátima, segundo Ambrósio (2006), encontra-se numa fase de abrandamento do crescimento. Banneux, 51 anos após a 1ª aparição, em 1984, construiu a igreja da Virgem dos Pobres (de média dimensão), encontrando-se por isso ainda numa fase de descoberta, pois o número de pessoas que atualmente visita o santuário, apesar de estar em crescimento, ronda os 600 000. Na verdade, o único local onde essa correspondência não é tão vincada é Loreto. O fluxo de peregrinos a esta cidade tem registado altos e baixos desde 1988; e mesmo momentos de estagnação desse fluxo.

Em 2012 a cidade recebeu 3 360 000 visitantes. Nesse sentido, e por já ter tido fases em que registava entre 4 a 6 milhões de visitantes, pode deduzir-se que, uma vez conseguido a sua consolidação, encontra-se agora numa fase de relativo declínio. Uma das explicações para este fenómeno poderá dever-se ao facto de a sua basílica de média dimensão estar apenas capacitada para acolher 3000 pessoas, 2000 a menos que a de Banneux. Isto é, a inadaptação dos espaços à procura existente e, obviamente, aliado a outros fatores como uma oferta de serviços religiosos mais limitada, o esmorecer de uma dinâmica que possivelmente foi desenvolvida e que não tem mais continuidade devido quiçá a aspetos culturais próprios do povo italiano e outros que até si afluíam.

Portanto, não havendo a consciência ou o reconhecimento da pertinência de se criarem outros novos elementos, pontos chave de atração religiosa-turística-cultural, tais como por exemplo uma igreja de maior dimensão que neste caso constituiria uma mais valia especialmente para os dias festivos e outros da época alta e, por consequência, a verificar-se a inadaptação da oferta ao fluxo turístico, a tendência será aquela que espelha a Figura 6.5 - o declínio ligeiro da procura.

Figura 6.5 – Número de visitantes ao Santuário de Loreto

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da revista IL MESSAGGIO DELLA SANTA CASA – LORETO, de maio de 2006 a fevereiro de 2013 e outros dados estatísticos fornecidos pela Santa Casa de Loreto.

Evidentemente que as entidades do turismo, nomeadamente o Turismo de Portugal, também têm a sua responsabilidade na “evolução” destes fluxos de visitantes, uma vez que “não fazer política é uma forma de fazer política”. A divulgação (ou não divulgação) de vídeos promocionais sobre “os caminhos da fé de Fátima” (http://www.youtube.com/watch?v=EgPU-uvfkP8), que fornecem um vislumbre daquilo que existe em Portugal em matéria de turismo religioso, bem como o apoio

financeiro ou a falta dele ao turismo religioso,terá consequências em termos do seu reconhecimento

potencial. O facto, por exemplo, do posto de turismo de Fátima ter descurado as suas condições de acolhimento nos últimos anos (devido às obras de requalificação da Av. José Alves Correia da Silva), tal como a falta de sinalética apropriada, condicionou de certo modo a sua consulta (que só por si já

0 1 000 000 2 000 000 3 000 000 4 000 000 5 000 000 6 000 000 7 000 000 1988 1993 1998 2003 2008 2013

não era muito significativa; consultar Figura A6.14 no anexo I), prejudicando pois a região e a sua envolvência não apenas hoje mas também no futuro.

Reconhecer a diferença entre os públicos também pode influenciar a sua maior ou menor assiduidade a estes locais, quando atendidos de forma adequada, isto é, tendo em conta as suas características. A segmentação do público, tal como referimos no ponto relativo ao marketing, pode tornar-se relevante para otimizar a sua estada e beneficiar de rendimentos adicionais. As entidades do turismo de Lourdes despertaram para essa evidência e pretendem dirigir-se aos públicos consoante o seu perfil. Numa primeira análise, identificam os franceses e os espanhóis como turistas, apontando como suas principais motivações a descoberta turística, a curiosidade e o interesse pelo património cultural. Já relativamente aos peregrinos, Lourdes considera que os motivos que os movem são a experiência da peregrinação, do voluntariado (no auxilio de pacientes), mas também a

descoberta turística (conhecimento do património cultural, etc.)76. As suas estimativas denotam que,

em média, os gastos diários de cada visitante na cidade rondam os 93€, estando neles incluído despesas com transportes, restauração e lembranças, etc (CGSMP, 2009).

Segundo dados do turismo de Lourdes (e Midi-Pyrénées), o visitante “tipo” de Lourdes permanece na cidade durante 3 noites, revelando-se, por isso, um local com bastante capacidade de retenção dos seus clientes, visto ser das cidades de peregrinação cristã que mais poder tem em influenciar essa estada, segundo Santos (2008: 42), comparando com o tempo de estadia médio em Fátima que é inferior a um dia. Outro dado importante relativamente aos hábitos de consumo destes visitantes (de Lourdes) é a preferência que têm pelo uso do comboio em detrimento de outros transportes, se bem que, tanto o rodoviário como o aéreo estão quase na mesma proporção de utilização, ou seja, não demasiado afastados do uso que é dado ao comboio.

Fátima, por seu turno, aponta para que um conjunto diversificado de motivos esteja na origem da visita a Fátima, contudo, aquele que mais se destaca é o motivo religioso: em primeiro lugar, a reza, em segundo, o cumprimento de uma promessa, mas em terceiro, a “tradição” (Santos, 2008: 35). Já em Loreto, as razões mais apontadas para a visita ao santuário são o “encontro consigo próprio”, a “mobilização do seu eu individual através do encontro com uma realidade sobrenatural”, e, a “oportunidade de conhecer um contexto humano e religioso capaz de devolver um significado, uma recarga, um horizonte de esperança e credibilidade para a vida de cada dia, mesmo ao nível puramente humano” (Giuriati et al., 1992: 21). Apenas metade dos seus peregrinos visita também outros santuários marianos, sendo que apenas para uma minoria insignificante, a experiência vivida

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Para uns e outros (peregrinos, turistas, mercados distantes e emergentes), Lourdes pretende funcionar como centro de

espiritualidade do mundo (a cidade de encontro e partilha cultural, universal, cosmopolita e exemplar em termos de qualidade e receção), concentrando-se essencialmente em quatro áreas de intervenção: Brasil, Sudoeste da Ásia (Filipinas, Indonésia, Tailândia, Singapura e sul da Índia), EUA e Europa Central (Hungria, Eslováquia, Eslovénia, Croácia, Roménia).

entre uns e outros santuários se revela “a mesma coisa”.

Ao invés do que acontece em Lourdes, estes visitantes, embora tenham um conjunto variado de boas acessibilidades e ligações, optam quase invariavelmente pelo carro (3 em cada 4). Quando analisamos o caso das crianças, reparamos que esse comportamento se altera um tudo nada: um em cada dois chega de carro, um em cada quatro de autocarro e um em cada cinco de comboio (idem, p.29).