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Fonte: Acervo da autora, novembro de 2008.

Analisando as características da moradia anterior, conclui-se que 74% dos sujeitos moravam em apartamento como apresenta o gráfico 4.

Nos relatos a seguir ficam evidentes as dificuldades enfrentadas para atingir o sonho de uma casa:

“Então era um local próximo e eu queria muito morar em casa, foi a única opção que tivemos, não tinha dinheiro para comprar algo nos padrões de Brasília, então resolvi arriscar e ir construindo aos poucos” (Sujeito 2, 27 anos, condomínio 1, agosto de 2008).

30% 10% 37% 3% 20% Apartamento Alugado Apartamento  Funcional Apartamento Próprio Casa Alugada Casa Própria

Gráfico 4 – Situação do Imóvel por tipo da moradia

Fonte: Acervo da autora

Os aspectos negativos de morar em um apartamento foram ressaltados pelos moradores, e podem ser explicados por aquilo que Tuan (1983) entende pela influência do ambiente construído em afetar as pessoas que nele vivem. Para o autor, “o espaço construído pelo homem pode aperfeiçoar a sensação e a percepção humana” (TUAN, 1983, p. 114). Com isso, mesmo aqueles que já possuíam imóvel próprio identificaram nos condomínio a possibilidade de adquirir um lote e construir de acordo com a sua necessidade e seus sonhos.

A dimensão desse sonho é apresentada no gráfico 5. Quando comparadas às dimensões da moradia anterior com a atual, conclui-se que houve um crescimento significativo no tamanho da moradia. Apenas quatro moradores declararam a sua casa atual menor que a anterior. Esses casos podem ser justificados pela mudança de um condomínio maior para outro, com lotes menores, principalmente pela busca da segurança ou mesmo pela localização mais favorável do condomínio fechado. Como é o caso do sujeito 1, já destacado

anteriormente, que trocou sua casa de 500m2 por uma de 300m2 depois que sua

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Moradia Anterior Moradia Atual

Gráfico 5 – Caracterização da Moradia – m²

Fonte: Acervo da autora.

Constata-se que a sociedade moderna sente a necessidade de ser “original”, pois, para Bourdieu (2000), o mundo social é também representação e vontade, e existir socialmente é também ser percebido como distinto.

Por isso, o perfil financeiro justifica a busca por uma “moradia digna” e a impossibilidade de morar nas áreas nobres como de “jogada às margens da cidade”. As diferentes objetivações condicionam práticas sócio-espaciais contrárias ao planejamento da cidade. Desse modo, os condomínios são para quem não possui imóvel próprio, uma oportunidade de fugir do aluguel, enquanto para os que já possuem imóvel próprio, são sinônimo de conforto e moradia “digna”.

“[...] ai a opção que nos tínhamos era comprar um lote para poder construir alguma coisa descente, habitável, porque o apartamento lá era muito quente, sem ventilação de banheiro, sem ventilação da casa, era horrível” (Sujeito 11).

Para os sujeitos que não possuíam imóvel próprio, os condomínios se transformaram na solução de uma questão sem perspectivas, pois só assim foi possível morar em uma casa de acordo com as necessidades da sua família:

“[...] eu comprei essa casa aqui, faz dois anos atrás, na faixa de 130 mil. O que eu comprava lá no Plano Piloto? Nada, não comprava nada. Já com dois filhos não dava para eu morar. A parte econômica contou muito. E também a possibilidade de voltar a morar em casa” (Sujeito 13).

Relacionados às questões que justificaram a escolha de um condomínio irregular, observa-se que as representações elaboradas da moradia e de Brasília, remetem a uma identidade social e territorial criada pela classe média. São, portanto, as diferenças, os definidores da acessibilidade e a apropriação do espaço público contemporâneo. O estilo de vida dessa classe social é um importante definidor das representações estabelecidas da moradia em Brasília, pois a partir de aspectos específicos essa população se apropriou do espaço público. O acesso à cidade nesse sentido mostra-se, sobretudo enquanto um ato simbólico.

6.3 Ancorando as Representações dos Condomínios Horizontais Fechados

Pensando nos valores que estariam ancorando a busca pelos condomínios, foram detectados elementos que se remetem à infância vivida na casa dos pais, como a casa e áreas amplas. Para o sujeito 8, morar em um condomínio trouxe a possibilidade de voltar a conviver com elementos encontrados na sua juventude:

“Eu queria morar em casa porque quando solteira eu morava no lago norte e depois que eu casei eu passei a morar em apartamento, e eu adoro morar em casa, ter um quintalzinho, eu poder andar descalça no quintal, no final de semana ficar em casa, poder ter um cachorro [...]” (Sujeito 8).

Por meio de representações passadas são configurados novos símbolos estabelecidos a partir da mediação sujeito-mundo. Cria-se, de acordo com Jovchelovitch (1994), um “novo” mundo de significados. Esse novo significado dado à moradia e à relação com lembranças passadas é observado também na fala do Sujeito 28, quando se refere à experiência vivida morando em um apartamento e a realidade atual que se aproxima da cidade onde cresceu:

“A tranqüilidade de não ter um vizinho arrastando a cadeira, tossindo em cima do seu apartamento é maravilhoso. Você tem uma melhor qualidade de vida, maior privacidade. Ter um quintal poder plantar arvores frutíferas, ter um cachorro. Outro fator e que tanto eu como minha esposa crescemos numa cidade do interior e esta região nos lembra muito nossa cidade natal” (Sujeito 30).

A foto a seguir ilustra bem os aspectos ressaltados pelo morador, como a tranquilidade das ruas: