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Outras Referências

Entrevista 5 Viviane Louro

Doutorada em Neurociências pela Escola Paulista de Medicina Mestre em música pela Universidade Estadual Paulista

Professora de Piano.

Professora de Rítmica e Coordenadora do Programa de Apoio Pedagógico e Inclusão da Fundação das Artes de São Caetano do Sul.

Professora do Curso de Licenciatura da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco, nas disciplinas de Música e Inclusão e Psicologia da Aprendizagem Musical.

Especialista nas áreas da deficiência cognitiva, auditiva, física e psicomotricidade.

Entrevista, realizada através do Facebook, às 00h13m de 19 dezembro 2013

i) No que diz respeito ao ensino de um instrumento a uma criança ou jovem cego, será necessário substituir o refencial visual por um tatilo-cinestésico (do professor para o aluno e vice-versa)?

R: Sim, sempre, você tem que adaptar para a realidade dele, da forma como ele consegue compreender, trabalhar com tato, e o movimento é essencial.

ii) Existe assim uma grande diferença no processo ensino-aprendizagem da música para alunos cegos?

R: Olha, eu não trabalho muito com cegos, mas tem algumas diferenças no jeito que ele compreende o mundo, isso automaticamente muda o processo de aprendizagem, eles são mais tateis, eles tem mais dificuldade de entender coisas abstratas pois não conseguem visualizar internamente, a não ser que tenham sido muito estimulados eles são, geralmente mais duros com o corpo no espaço pois como não veem tem medo de andar livremente e o corpo fica travado, sendo assim para tocar um instrumento fica mais travado também então, isso tudo é diferente, mas se forem bem estimulados se igualam a todo mundo e tem que ver também se nasceram cegos ou se ficaram cegos.

iii) Faz assim sentido tentar adaptar ou mesmo criar um método para os primeiros anos de ensino, ou bastará a atitude e empenho do professor para fazer toda a diferença?

R: Não, só boa vontade não resolve nada. Na verdade tem que entender em que fase do processo cognitivo e motor o aluno está e ir adaptando para suas necessidades, trabalhar em cima do que ele consegue e ao mesmo tempo treinar o que ele não consegue, SEMPRE usando coisas mais concretas e no caso de cegos, tudo táctil e com movimento associado.

iv) Que tipo de movimento? Coordenação motora já eles treinam bastante na aula de violino! R: Trabalhar com o cego no espaço, fazer andar na pulsação, criar movimentos com o corpo induzidos pela música lenta, rápida, etc.

v) Assim, é muito importante a orientação espacial no ensino do instrumento?

R: Claro! Fundamental! Devemos trabalhar para o cego ter um corpo mais livre e menos travado. Devemos trabalhar com cego no espaço.

Entrevista 6

Ana Carrolo (cega)

Mestra em Ensino da Música pela Universidade de Aveiro Professora de Piano no Conservatório Regional da Covilhã

Entrevista, realizada por email, a 22 dezembro 2013

i) Em sua opinião, a criança cega, devido à falta de visão, desenvolve uma maior aptidão musical do que as outras crianças?

R: Não sei se pode ter maior aptidão do que as outras crianças. Acho é que os cegos congénitos, ou seja, os cegos desde nascença, desenvolvem muito mais do que as outras crianças a modalidade auditiva; logo, podem tentar desenvolver se calhar com mais facilidade aptidões musicais. Nos cegos com cegueira adquirida já não é tanto assim. Estes cegos penso que devem estar na mesma situação das crianças normovisuais.

ii) Sente que o aluno cego desenvolve mais os outros sentidos e quando estimulado consegue um desenvolvimento integral superior ao das crianças normovisuais?

R: Talvez sim, mas isso há-de depender sempre dos estímulos que a criança tem oportunidade de receber e não sei se esse desenvolvimento é superior. É talvez um desenvolvimento alternativo à falta de visão. Na prática, sei que nós, os cegos congénitos, desenvolvemos mais o ouvido absoluto. Eu tenho, e sei que dois colegas meus pianistas cegos congénitos também têm, mas acho que isso não nos torna melhores músicos por isso.

iii) Há diferença significativa no processo ensino-aprendizagem da música para alunos cegos?

R: Tem de haver, tanto na aprendizagem específica de cada instrumento, como na aprendizagem da notação musical.

iv) O sucesso do ensino do instrumento a crianças cegas depende de cuidados especiais, métodos e abordagens pedagógicas alternativos, ou a chave está nas expetactivas e na atitude positiva do professor?

atitude perante o aluno cego deve ser a mesma que se adopta com todos os alunos. As expectativas devem estar de acordo com os resultados e as capacidades do aluno cego, tal como se faz com os outros alunos. Se o aluno cego não se empenhar também não aparecem resultados.

v) Os métodos, ferramentas didáticas ou estratégias que utiliza no ensino do instrumento a alunos normovisuais são muito diferentes dos que utiliza quando ensina alunos cegos? Quais as maiores diferenças?

R: Quando ensino alunos normovisuais exploro todos os sentidos, incluindo o sentido visual. Quando exemplifico alguma coisa sei que o aluno pode ver e imitar. No caso dos alunos cegos há diferenças. Quando o aluno está a iniciar a aprendizagem,, temos de o ajudar a explorar de maneira táctil o instrumento.

Devemos depois explicar os gestos técnicos através da sensação de cada movimento e descrevendo verbalmente tudo o que exemplificaríamos de forma visual para um aluno normovisual. Por outro lado, há o problema da musicografia Braille. É fundamental o aluno cego aprender a ler as partituras em Braille, para poder tocar e frequentar as aulas das outras disciplinas, como a Formação Musical. É esse o problema nas escolas; há muito pouca gente a saber notação musical em Braille.

Outra grande diferença está no processo de montar o repertório. O aluno cego tem de memorizar tudo, pois não pode ler e tocar ao mesmo tempo. Isso faz com que eu tenha que ensinar ao aluno estratégias de memorização. No meu caso, no piano, tenho de explicar que é necessário memorizar uma frase da mão direita, depois uma frase da mão esquerda, e depois, já com tudo decor, tentar montar. Com os alunos normovisuais isso não é necessário.

Ainda outra diferença é a própria notação musical Braille. Em Braille não existe pentagrama, utiliza-se uma célula de seis pontos. Através da combinação dos seis pontos, formam-se todos os símbolos musicais. Por isso, eu não posso usar a mesma linguagem para com um aluno

vi) Qual a importância da orientação espacial no ensino do instrumento?

R: Acho que a orientação espacial tem a ver com o modo como um instrumentista se relaciona com o seu instrumento. O aluno deve aprender a conhecer através do tacto a sua forma e assimilar os movimentos corporais adequados para poder tocar de forma correcta. Se o aluno conseguir sentir os seus próprios movimentos desenvolve a orientação espacial necessária para executar o seu instrumento, controlando melhor o que está a fazer, melhorando o seu desempenho.

Entrevista 7