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CAPÍTULO 3: A RELAÇÃO DOS ESTILOS DE ENSINAR E APRENDER DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

P: Você sabe que isso tem muito a ver com seu perfil, né?!

A3: É, sim... [risos] Sei, sim... [risos]

P: [risos]

Ressaltamos que, assim como P mencionou ao fim da entrevista à A3, as palavras de A3 explicitam características apresentadas por sujeitos nos quais predomina o holístico- pessoal. Harrison & Bramson (1981) apud Butler (2000) dizem que, caso sejam convencidos dos objetivos de alguma atividade, as pessoas com padrão pessoal de pensamento se predispõem a ajudar e apoiar a causa. Como citam Harrison & Bramson (op. cit.), as pessoas com o padrão de pensamento holístico-pessoal “gostam de ser vistos como prestativos, apoiadores, abertos, dignos de confiança e úteis... a tendência é que tenham um forte senso ético (...)”.

3.6.5 ALUNO 4 – A4

Quando comparados os dados coletados na entrevista e os resultados obtidos no terceiro questionário aplicado – Perceptual Learning-Style Preference Questionnaire (Reid, 1984), observamos uma contradição. Ao perguntar a A4 qual seria a sua ordem preferencial de estilos de aprendizagem, o participante da pesquisa citou 1º) grupal; 2º) individual; 3º) auditivo; 4º) visual; e 5º) cinestésico e tátil. Nos resultados obtidos através do questionário, a ordem preferencial de A4 mostrou-se da seguinte forma: 1º) auditivo; 2º) cinestésico e grupal; 3º) tátil; 4º) visual; e 5º) individual. Foi interessante observar essa

discrepância entre os resultados do questionário respondido por A4 e o seu depoimento na entrevista. O estilo auditivo, por exemplo, que no questionário encontrava-se na primeira posição, na entrevista foi classificado em terceira posição. Os estilos cinestésico e tátil, que por sua vez encontravam-se, respectivamente, na segunda e terceira posições, foram ambos classificados por A4, em última posição, sem uma distinção de grau de importância entre eles.

Uma outra semelhança observada diz respeito à preferência de A4 pelo estilo grupal. Como já mencionado no parágrafo anterior, observamos que, de acordo com os resultados obtidos no Perceptual Learning-Style Preference Questionnaire, o estilo grupal encontrou-se em segunda posição, enquanto durante a entrevista, A4 classificou o mesmo estilo como ocupando a primeira posição dentre suas preferências. Essa escolha pelo estilo grupal também pôde ser observado em sala de aula. Em uma das situações de observação, por exemplo, P1 oferece duas opções de leitura para a turma – individual ou em voz alta, em uma leitura em que todos os alunos leriam um trecho do texto. A4, rapidamente, se pronunciou revelando sua preferência pela leitura em grupo “porque sozinho é chato”. Ainda, durante a entrevista, ele reforça sua tendência para um estudo grupal, relatando que “(...) na escola, junto com o grupo, é melhor pra mim, hã... sempre foi estudar com o grupo, hã?! Em grupo, hã?!”

Em outro momento da entrevista, A4 mencionou:

A4: (...) pra aprender língua Português tem que pegar primeiro um básico,

básico de gramática pra depois poder aprender... vocabulário, hã?! Tudo isso, hã?! Depois com povo praticar, hã?! Primeiro... pra mim como aprendi também outras línguas como o francês, primeiro precisa aprender bem... bem gramática Gramática é bem diferente, né? Construir frases, tudo isso, né? É pra construir frases, redações, é tudo... tudo diferente na minha língua, é por isso eu precisava aprender bem gramática, que eu não consegui até hoje.

Podemos observar a tendência de A4 a seguir uma certa ordem para sua aprendizagem. Essa tendência pode estar relacionada ao padrão de pensamento linear-realista, que é dominante em A4, apresentando uma “organização linear das partes específicas para o todo” (Butler, 2000).

Além disso, o mesmo trecho supracitado da entrevista serviu de confirmação para um dos dados coletados no primeiro questionário aplicado aos participantes da pesquisa, em que A4, ao responder sobre as atividades que aplicaria em sala por julgá-las mais

adequadas, caso fosse o professor de línguas, registrou que “Todo depende da anivel das estudantes, se eles moram no país onde estudam língua, é mais facil, tem primeiro muito bem aprender gramatica, sem isso nunca da falar corretamente.” [grifo nosso]

Outro aspecto ligado ao padrão linear-realista foi observado em sala de aula, quando P1 dava algumas orientações para as atividades. Reparamos que A4 solicitava mais detalhes para P1 sobre a tarefa ou se dirigia a um colega para esclarecer suas dúvidas quanto à atividade proposta. Essa observação não ocorreu somente em observações com P1, mas com P, também. Mesmo quando explicamos em sala de aula o objetivo dos diários dialogados, A4 não parecia entender a proposta daquele instrumento de pesquisa. Enquanto tentávamos deixar os alunos livres para que escrevessem o que sentiam, para que expressassem livremente suas percepções de procedimentos em sala de aula, de seus sentimentos no que tangia seu desenvolvimento da aprendizagem, ou até mesmo situações pelas quais passaram durante a semana – o que, certamente, poderia influenciar positiva ou negativamente a postura frente ao aprendizado –, A4 requeria uma definição com relação ao que escrever. Ele necessitava de instruções mais precisas. Essa carência por práticas mais orientadas pode ser decorrente de seu estilo cognitivo linear-realista, uma vez que Butler (op.cit) coloca, dentre as características das pessoas com esse padrão de pensamento, o foco em instruções, com atividades mais orientadas, mais detalhadas quanto ao que deve ser feito.

3.6.6 ALUNO 5 – A5

No terceiro questionário, seguindo a proposta de Joy Reid (1984), A5 apresentou como preferência os seguintes estilos de aprendizagem: tátil, cinestésico e grupal (ambos com a mesma pontuação) e auditivo. Estes resultados foram confirmados quando do uso de DDia e da entrevista. Nos DDias, quando P o questionou quanto a melhor forma para trabalhar um diálogo – se somente lendo-o, somente escutando-o ou se interpretando-o, A5 registra

A5: (...) seria interpretando o diálogo. Na minha opinão é uma forma muito

eficiente de trabalhar com um texto. Interpretando um texto o aluno mostra se realmente ele está entendendo o assunto principal do texto, de que trata-se o texto.

Além disso, na entrevista, quando o mesmo ponto foi abordado, novamente A5 reforçou sua posição, fornecendo uma melhor explicação para sua preferência de estilo.

P: (...) Quando você tem um texto pra trabalhar . . . A5: Um texto?