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A C ONVENÇÃO I NTERNACIONAL SOBRE OS D IREITOS DA C RIANÇA

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 43-46)

3 A PROTEÇÃO DO TRABALHO INFANTIL E JUVENIL NO PLANO

3.1 A C ONVENÇÃO I NTERNACIONAL SOBRE OS D IREITOS DA C RIANÇA

A proteção contra o trabalho infantil e juvenil nos diplomas internacionais demonstra a preocupação e a sensibilidade da comunidade internacional com a dignidade de crianças e adolescentes, protegendo-os de qualquer forma de exploração e abuso e conferindo-lhes o direito à saúde, à educação, à cultura e ao ambiente saudável e adequado.

O primeiro importante diploma internacional que refletiu essa proteção foi a Declaração dos Direitos da Criança de 1959, editada pela Organização das Nações Unidas, sobre a qual Norberto Bobbio, considerando que “a criança, por causa de sua imaturidade física e intelectual, necessita de uma proteção particular e de cuidados especiais”47, destacou que referida declaração se justifica pelo especial cuidado que crianças e adolescentes necessitam, notadamente por seu estado imaturo de desenvolvimento físico e psicológico.

Nesse sentido, conforme destaca Marcelo Pedroso Goulart48, nos estágios de desenvolvimento humano que precedem a vida adulta, a pessoa passa por profundas transformações biológicas, psíquicas e socioculturais e, por isso, é física, psíquica e socioculturalmente mais vulnerável, merecendo proteção e tutela específica.

O melhor documento sobre os direitos das crianças após a Declaração dos Direitos das Crianças, é a Convenção sobre os Diretos da

47 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro, Campus, 1992, p. 34-35.

48 CORRÊA, Lélio Bentes; VIDOTTI, Tárcio José (coords.). Trabalho infantil e direitos humanos: homenagem a Oris de Oliveira. São Paulo: LTr, 2005, p. 102.

Criança de 1989 da Organização das Nações Unidas, ratificada por quase todas as nações e referendada em seus próprios países49.

Constituindo-se em um verdadeiro tratado internacional de direitos humanos, ratificada e referendada por várias nações, a Convenção promove todos os direitos humanos das crianças e é usada por muitos movimentos e programas internacionais na luta pela erradicação do trabalho infantil.

Em seu artigo 1º, estabeleceu que “entende-se por criança todo ser humano menor de 18 anos de idade, a não ser que, pela legislação aplicável, a maioridade seja atingida mais cedo”.

A principal premissa da Convenção é de que todas as crianças nascem com liberdades fundamentais e os direitos inerentes a todos os seres humanos e, portanto, o cuidado e a proteção devem ser prioridade de todos, da sociedade e, especialmente, do poder público.

Flávia Piovesan destaca que “a convenção acolhe a concepção do desenvolvimento integral da criança, reconhecendo-a como verdadeiro sujeito de direito, a exigir proteção especial e absoluta prioridade” 50.

Transcrevendo a análise de Haim Grunspun, a Convenção possui quatro princípios gerais, sendo os dois primeiros aplicados a todas

49 A Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 destaca-se como o tratado internacional de proteção de direitos humanos com o mais elevado número de ratificações. Em junho de 2007, contava com 193 Estados-partes, conforme aponta o ALTO COMISSARIADO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS, Status of ratifications of the principal international human rights trecties apud PIOVESAN, Flávia.

Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 9ª ed. São Paulo. Saraiva, 2008, p. 206/207.

50 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 9ª ed. São Paulo. Saraiva, 2008, p. 207.

as pessoas e reafirmados para as crianças e, os dois seguintes, próprios da criança:

- crianças não devem sofrer discriminação, independente de sua filiação, cor, sexo, língua, opinião pública ou de outra natureza, propriedades, incapacidades, nascimento ou qualquer outra forma de discriminação;

- crianças têm o direito à sobrevivência e ao desenvolvimento em todos os aspectos de suas vidas, incluindo o psicológico, emocional, cognitivo, social e cultural;

- os melhores interesses das crianças devem ser considerados prioritariamente em todas as decisões e ações que as afetam, individualmente ou em grupo, seja por governos, autoridades administrativas ou judiciárias e pelas famílias; e

- às crianças devem ser permitida a participação ativa em todos os assuntos que afetam suas vidas. Elas devem ser livres para expressar suas opiniões e têm o direito de ter seus pontos de vista ouvidos e considerados seriamente51.

A Convenção estabeleceu que as crianças têm direito à educação e saúde básicas, ao nome, à nacionalidade, direito de viver com seus pais, a sistema de adoção adequados, ao lazer, à cultura e a uma educação que as prepare para uma vida adulta livre em sociedade e que considere sua identidade cultural; ainda, têm direito à liberdade de expressão, de pensamento, de consciência, de religião, à informação e à privacidade, dentre outros.

Nesse contexto de direitos e garantias, Flávia Piovesan assim sistematizou os dispositivos da Convenção:

Direito à vida e à proteção contra a pena capital; o direito a ter uma nacionalidade; a proteção ante a separação dos pais; o direito de deixar qualquer país e de entrar em seu próprio país; o direito de entrar e sair de qualquer Estado-parte para fins de reunificação

51 GRUNSPUN, Haim. O trabalho das crianças e dos adolescentes. São Paulo: LTr, 2000, p. 105-106.

familiar; a proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior; a proteção de seus interesses no caso de adoção; a liberdade de pensamento, consciência e religião; o direito ao acesso a serviços de saúde, devendo o Estado reduzir a imortalidade infantil e abolir práticas tradicionais prejudiciais à saúde; o direito a um nível adequado de vida e segurança social; o direito à educação, devendo os Estados oferecer educação primária compulsória e gratuita; a proteção contra a exploração econômica, com a fixação de idade mínima para admissão em emprego; a proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópicas; a proteção contra a exploração e o abuso sexual52.

No que tange ao mecanismo de controle e fiscalização dos direitos enunciados na Convenção, foi instituído o Comitê sobre os Diretos da Criança, com o fito de monitorar a implementação da Convenção através de análise dos relatórios periódicos encaminhados pelos Estados-partes, mediante os quais devem ser esclarecidas as medidas adotadas em cumprimento à Convenção53.

No Brasil, a Convenção foi aprovada em 14/9/1990 pelo Congresso Nacional e inspirou o mais expoente instrumento de proteção nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2010 (páginas 43-46)

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