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VOLUME 18 2ª VIAGEM AO EXTERIOR 2ª PARTE (ORIENTE MÉDIO) 14/11 a 04//1876.

No documento Dom Pedro II: Um Tradutor Imperial (páginas 37-42)

13 VOLUME 27 3ª VIAGEM AO EXTERIOR - PRIMEIRA PARTE 30/06/1887 a 26/04/1888.

14 VOLUME 28 3a VIAGEM AO EXTERIOR - SEGUNDA PARTE 26/04 a 04/05/1888.

intelectuais, amantes e outras pessoas, tanto para presenteá-los com sua criatividade, quanto para receber deles admiração, estima e um retorno acerca da qualidade de seu trabalho:

10 ¾ Hebraico e Camões. Estou acabando quase a comparação da tradução alemã dos Lusíadas com o original. [...] Li a minha tradução do árabe do conto das Mil e uma noites, que está lendo a mulher do Mota Maia a esta e ao marido seguindo-a ela em francês, e parecendo a ambos boa a que eu fiz. Como continuei a minha tradução nesse livro em branco só lhes deixei o livro da minha tradução que está todo escrito e vou procurar o anterior para lhes emprestar também [...].15

E ainda há testemunhos do despertar súbito do desejo de traduzir determinado poema, o estudo aprofundado que seguia a esse primeiro momento de estímulo criativo e, em seguida, as transcrições e o envio para amigos em busca de um julgamento ou de uma atestação de seu trabalho, confirmando certa regularidade no sistema criativo do Imperador:

17 de maio de 1891 [...] 10 h Li pouco de poesia do

Liégeard, estudando-a para traduzi-la.16

28 de julho de 1890 [...] Deu-me vontade de traduzir

a balada de Schiller [...].

6 de agosto de 1890 [...] Vou à tradução do Sino de

Schiller depois de ter copiado o soneto com a data de hoje para dá-lo à condessa.

16 de agosto [...] 4h ¾ Acabei de ditar à Japurazinha

a cópia de minha tradução de Schiller.

17 de agosto [...] 10h 10’ Chegando à minha sala

achei a Japurinha na cópia de minha tradução de O Sino de Schiller [...].17

15 VOLUME 35 EXÍLIO - 17/11 a 25/12/1890. 16 VOLUME 39 EXÍLIO - 27/04 a 12/06 de 1891. 17 VOLUME 32 EXÍLIO - 13/06 a 08/08/1890.

Os diários, além de atestarem a devoção do Imperador ao estudo e às letras, permitem a reconstrução daquela particular República das Letras internacional na qual o Imperador almejava ingressar. Para alcançar os membros dessa República, viajou incansavelmente e, quando não conseguia viajar, tecia essa rede de literariedade com leituras e, sobretudo, suas cartas e traduções; a tradução se configura como um, senão o principal, meio utilizado para ser aceito nessa comunidade de privilegiados, já que com sua produção poética não teria alcançado o mesmo sucesso. Além disso, lembramos que um imperador que se dedicasse às Letras, produzindo textos próprios, seria considerado um imperador pouco atento aos afazeres políticos, mas um imperador que traduzisse, ainda que muito, textos de outros seria, como todo intelectual da época, alguém que tentava através da tradução desenvolver seu conhecimento e se aprimorar nas línguas estrangeiras; em outras palavras, parecia mais comum que um imperador traduzisse do que produzisse poemas próprios e dedicasse a isso tempo necessário para as questões políticas. A leitura dos manuscritos e do dossiê leva para outra direção, mostra que a tradução não era somente uma distração, mas ocupava na vida do Imperador uma posição estratégica e central, diríamos política, que ia além da questão meramente pessoal. Essa afirmação é respaldada pelo estudo genético e pela reconstituição do percurso invisível feito de encontros, sonetos, poemas, leituras, diários; uma materialidade do intelecto que os vestígios deixados nos arquivos nos permitem reconstruir.

Os organizadores Noêmia Guimarães Soares Rosane de Souza Sergio Romanelli

Referências

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