• Nenhum resultado encontrado

WIKI: um novo jeito de partilhar saberes

No documento COMUNICAÇÃO E AMBIENTE DIGITAL (páginas 69-73)

possibilidade de protagonismo

2.4 WIKI: um novo jeito de partilhar saberes

Wiki, não é uma palavra mágica, nem um conceito que possa resolver os problemas e colocar em ordem todas ou quase todas as esperanças do nosso futuro, mas com certeza a palavra Wiki faz parte do nosso “novo” jeito de ser, pensar e ver as possibilidades da era digital.

Já, anteriormente neste nosso trabalho, vimos o sentido desta palavra e aprofundamos um pouco a sua etimologia (ver página 17).

Aqui abordamos uma nova perspectiva, como uma nova colocação para evidenciar wiki como um novo ambiente digital que gera uma nova prática, especialmente entre os nativos digitais; uma prática com potencial inovador.

Estamos mais ou menos na metade de nosso trabalho, e daqui por diante (mais especificamente no terceiro capítulo) os verdadeiros protagonistas vão tomar a ação por inteiro. Vamos apresentar os resultados dos questionários, das entrevistas, do diário de campo que fizemos ao longo desses meses nas vivências colaborativas dos

nativos digitais a partir da metodologia de pesquisa netnográfica, que é um jeito de estudar de perto, quase “dentro” não tanto os sistemas, mas as pessoas.

Por isso, precisamos esclarecer aqui, com a ajuda mais uma vez de Tapscott (2011), que o sistema de Wiki não representa somente uma ambiente digital que favorece a partilha e colaboração, mas como ele mesmo aponta, é uma conceito de “colaboração de massa”, na época do digital, em que as pessoas desenvolvem multitarefas em vista de um trabalho corporativo, hora concentrando as forças em conceitos ambientais e não lucrativos, hora com fins comerciais e financeiros. Sempre com uma atenção e um privilégio por aquilo que é um dos conceitos-chave da nossa geração internet e nativa digital, que é o compartilhamento com e atuando em ambientes de inteligências coletivas, onde tudo é de todos e criado por todos.

“Essa é a característica das verdadeiras revoluções. A velha realidade se rompe com mais rapidez que a nova realidade entre em seu lugar”, frase de Clay Shirky (SHIRKY apud TAPSCOTT, 2011, p. 24) que gostaríamos fazer nossa, neste “novo” que aparece e que se coloca com grande rapidez dentro de nossa realidade, de nossas vidas.

O que objetivamos neste subcapítulo, como situamos no início deste nosso trabalho, é construir pontes como nos dizia Heidegger no início deste capítulo: construir pontes pelas extremidades, para que possa ser colocado em contato algo de novo que nem sabemos nomear, mas que está ao nosso alcance e ao redor.

[...] é um pouco como passar da microeconomia para a macroeconomia. Nessa hipótese, a wikinomics, definida como a arte e a ciência da colaboração em massa nas empresas, se transforma em macrowikinomics: a aplicação da wikinomics e de seus princípios básicos à sociedade e a todas as suas instituições. (TAPSCOTT, 2011, p. 7)

Nessa nova mentalidade, precisamos entender e raciocinar no nível macro, enxergando o mais amplo, o maior em frente de nós e depois aplicando com singularidade as partes aos indivíduos. Por isso, estamos ainda apontando caminhos totalizantes, abrangentes, macros para depois, sucessivamente, no próximo Capítulo, fazer uma avaliação e verificação junto aos protagonistas, se esses caminhos

encontrados na teoria são efetivamente verdadeiros, se fazem de fato parte de nossa nova história.

Cinco princípios para entender os MACROWikinomics O “pai” dessa nova e desafiadora terminologia é Tapscott, cujo primeiro livro, de título Wikinomics, publicou em 2006. Já a sua referência sucessiva, e aquela de onde pegamos inspiração, foi a publicação de 2011, com o título MacroWikinomics, reiniciando os negócios e o mundo. Nesta “nova” obra, o autor aponta cinco princípios que iremos aprofundar e que figuram como a fundamentação basilar de nosso estudo empírico sucessivo, dos perfis dos nativos digitais.

Colaboração

Com certeza estamos procurando aprofundar e querendo entender as novas formas de colaboração que partem de baixo para cima, que têm como característica a revitalização das organizações e um novo conceito de hierarquia, não mais baseado na capacidade de comandar-obedecer, mas de dialogar-entender.

Quando você fala em colaboração, as pessoas comuns, em torno de 45 anos, acham que sabem do que se trata – membros de equipes sentados juntos, conversando com espontaneidade, com objetivos e atitudes positivas. Esse é o significado de colaboração para a maioria das pessoas (TAPSCOTT, 2011, p. 25, grifo nosso)

Mas com a chegada do Google e outros Wiki, devemos partir de uma abordagem mais profunda que inclua três verbos que colocam os protagonistas em atividade e participação, são eles:

inovar, criar e resolver. Inovar: as redes sociais em particular e a cultura digital em seu conjunto, sempre foram e serão um potencial catalizador de inovação, de novas e ousadas produções. Criar: a criatividade está bem solta e à vontade neste ambiente virtual-digital em que, sobretudo, as abordagens e variantes digitais concedem aos navegantes novos espaços criativos, antes talvez impensados e nem ousados. Resolver: nem tudo vai ser possível, mas os ambientes levam à inovação e à criação através do uso de inteligências coletivas colocadas a serviço de bens comuns que levam a resolver problemas – quesitos das coletividades.

Abertura

Sobretudo na divulgação e produção de informações, esta palavra, em princípio, se torna básica na cultura digital. Abertura que dizer transparência total, seja nas informações colocadas à disposição dos navegantes, seja nas instituições econômicas e políticas, em contato sempre mais próximo com os seus primeiros destinatários, os cidadãos ou os usuários-clientes, sempre mais colocados a par das estratégias e finalidades dos próprios governantes e governos, como também das firmas e agências das economias e bancos. Para que se possa vivenciar aquilo que chamamos de confiança total, sejam quem for a parte protagonista – econômica ou governamental, instituição educativa com fins lucrativos –, crescer em confiança é básico.

Compartilhamento

Trata-se daquilo que o Tapscott chama de “esforço global”.

Estamos em frente a um princípio que é totalizante, porque vai abranger a coletividade do ciberespaço, onde os confins de público e privado, de territórios e fronteiras são redesenhados, em um mundo sempre mais e melhor interconectado e interdependente de uns para outros.

Assim, os “bens comuns” se tornam os the commons, algo que a coletividade pode e deve alcançar sem restrições e exclusividades. Um exemplo que o texto de Tapscott nos aponta é de uma multinacional da indústria farmacêutica, sempre uma das indústrias mais fechadas ao compartilhamento. No caso, a Novartis demostrou uma contra-tendência26 quando abriu os seus arquivos e pesquisas sobre o diabete, para criar um círculo mundial de compartilhamento, e além de dar certo para empresa, deu certo mais ainda para os doentes, que puderam, com abertura e compartilhamento, conquistar maiores benefícios e saúde.

Integridade e Interdependência

“Você se dá bem ao fazer o bem” (TAPSCOTT, 2011, p. 31) não é e não pode ser apenas uma simples “frase-feita”. Configura-se como

26 Estamos chamando de contra-tendência porque, no geral, as grande Multinacionais e Indústrias Farmacêuticas operam uma política de privacidade e de segredos extremos, para ter a exclusividade e copyright de fármacos – objetivando vendas maiores. A Novartis, foi um exemplo de abertura e “compartilhamento” daquilo que jamais podia se esperar de uma indústria do segmento.

uma tendência a integridade das firmas e governos, das coletividades, e, também, das pessoas – indivíduos e seres sociais. De acordo com isso e querendo completar o quadro: três valores são eles honestidade, consideração e responsabilidade. Podemos perceber e atuamos em um mundo sempre mais e melhor interconectado, que cria querendo ou não um laço de interdependência do ser humano. Aliás, talvez uma das características mais antropológicas de nós, humanos, é que não podemos ser considerados uma ilha, ninguém pode estar sozinho por muito tempo e estamos juntos o tempo todo, sempre mais, talvez deveríamos nos perguntar: para quais melhorias?

No documento COMUNICAÇÃO E AMBIENTE DIGITAL (páginas 69-73)