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No documento O principio d'hereditariedade (páginas 61-76)

No estado actual da Biologia será possível esta- belecer uma relação entre todos os phenomenos here- ditários e um facto ou proposição mais geral que os explique? Será possível comprehendel-os n'uma ver- dadeira theoria positiva? Todos os auetores, que se teem oceupado d'esté assumpto, são concordes em res- ponder negativamente, e M. Lucas, o único que pre- tende ter explicado, referindo-o a sua causa primaria, o principio de hereditariedade, é aquelle cujas idêas menos se nos impõem, porque, como já tive occasião de observar, são metaphysicamente deduzidas d'uma

base extra-scientiflca. Não é assim que comprehende- mos a theoria : para ser legitima é strictamente indis- pensável que siga o único methodo que pode condu- zir ás verdades inductivas, — a observação e compa- ração de casos particulares. Se, porém, não é possível aspirar a uma theoria, ha comtudo um certo numero d'inducçoes particulares, que tornam os plienomenos muito mais intelligiveis e que nós devemos portanto acceitar como degraus d'uma explicação mais avança- da. É d'essas inducções, bem como das hypotheses que, apoiando-se n'ellaSj, se propõem dar uma interpre- tação de todos os phénomènes hereditários, que eu julguei opportune dever fazer uma exposição succinta.

Quando o espirito se acha collocado em frente de um ou mais phénomènes, que pretende submetter a um trabalho d'elaboraçâo scientitica, a primeira neces- sidade, que se lhe impõe, é a de analisar com exacti- dão as suas condições de existência. Applicando esta. regra de methodo ao caso particular, de que estamos tractando, vejamos a que resultados nos conduz.

O phénomène essencial da hereditariedade con- siste, como disse, na reproducção no filho da mesma estructura geral que possuía o pae: ora, para que tal phénomène se realise, ê absolutamente indispensável que preceda um acto de reproducção orgânica. Seria occasião de considerar os différentes modos de repro- ducção na série animal, visto que d'esse estudo resul- tam esclarecimentos preciosos para a intelligencia do phenorao hereditário; mas, receando prolongar dema- siadamente esta exposição, eu contento-rae com resu-

ruir n'um quadro a classificação de M. Haeckel, que é a seguinte: (1)

Archigonia (gcneralio spontanea) , . .

| Scissiparidade — o organisme / diride-se em duas metades. j l Gemmação — uma parte ape-

\ nas se separa. 1 monogonia— IPoljsporogonia—A reproduc- I (geração assemadaj \ m faz-se por meio de um I I pequeno grupo de cellulas. 1 J Monosporogonia — A reproduc- ção faz-se por uma cellula j 1 só.

Toeogonia(generatio parentalis)\ — forma trausitoria — parthenogenosis — a cellula reproduclora deseuTolve-se com ou sem o concurso da fecundação.

1 Hermaproditismo — o mesmo

i imlividuo produz a cellula \ oTular e a cellula fecundante. ampfcigonia — < Gonocborismo — a cellula OÏU- 1 (geração sesual) / lar e a cellula fecundante

i f eiistem em indÍTÍduos diffe- V rentes.

Pela simples inspecção de todos estes processos reconhece-se ã primeira vista que ha sempre como vehiculo da reproducção, e portanto da hereditarieda- de, uma porção maior ou menor de materia separada do organismo reproduetor ; e, coisa notável, ao passo que se vai subindo na escala dos seres, essa porção é cada vez mais pequena, a ponto de ficar reduzida nos animaes superiores a um elemento quasi minimo. Seja porém qual fôr o seu volume e quantidade, é certo

(1) E. Haeckel — Histoire de la création naturelle — 8.' li- ção.

que disgregada do organismo a que pertencia, os mo- vimentos moleculares, que constituem a sua vida, não podem deixar de ser idênticos aos que constituem a vida d'aquelle ; tendo feito parte d'um systema espe- cial de forças não seria rasoavel suppor que houvesse deixado de soffrer pelo menos uma certa orientação. Assim considerado o elemento reproductor oííerece.já uma solida base á hereditariedade. Desde que uma porção de materia se destaca d'uma massa mais consi- derável animada d'uma certa ordem d"energias não re- pugna admittir que ella, tornando-se a seu turno cen- tro de desenvolvimento, reproduza os mesmos pheno- menos que o todo d'onde proveio, e se, pelo que toca aos seres vivos, examinarmos um pouco mais de perto os phénomènes de desenvolvimento, esta asserção ad- quire, se é possível, maior evidencia. Qual é o pri- meiro d'esses phenomenos que se manifesta no ovulo? a segmentação em duas partes, isto é, a reproducção de um organismo por scissiparidade, precisamente aquelia em que não pode deixar d'admittir-se que os dois organismos, em que se scindiu' o organismopae, apresentem formas e phenomenos vilães eguaes aos d'esté e eguaes entre si. Cada um d'estes organismos reproduz-se ainda do mesmo modo, os seus productos também, e assim successivaraente até que no indivi- duo adulto é ainda o phenomeno mais geral de repro- ducção cellular. Por esta forma a energia concentrada nas primeiras raolôculas do ser não perdeu uma só das suas vibraçõesj e, longe de nos surprehender o facto de que o individuo apresente apenas uma simi- Ihança geral com o que lhe deu origem, nós deveria-

mos antes extranhar que o não reproduzisse comple- tamente.

Tomando por fundamento d'inducçao os primei- ros principies que dimanam do da conservação da ener- gia que. como já disse, rege a uniformidade geral de suecessão precisemos um pouco mais a natureza d'es- tes phénomènes.

O acto essencial de toda a reproducção sexuada é sem duvida a conjuneção de dois centres ou cellu- las produzidos por organismos différentes. A primeira coisa que occorre perguntar, em vista dos phénomènes singulares a que n'estas circumstancias dão origem, è se qualquer d'elles possue particularidades que o distingam pronunciadamente das outras cellulas ou por- ções de substancia orgânica em geral. Quem tivesse examinado uma d'essas cellulas ne curso de seu des- envolvimente e visse as numerosas faculdades comple- xas, per que se revelia a sua vitalidade, a custe se furtaria do deseje de acreditar que ella é dotada de propriedades muito especiaes, ou que á sua elabora- ção presidiram circumstancias insólitas. Nada mais próprio para fazer pensar e confundir mesmo a intel- ligencia de que a maravilha de desenvolvimento em- bryonarie. O prestigio d'esté phenemene bastaria até para per si só sustentar- todo o ediíicio d'um systema philesephice, e seria necessário demenstrar-se que muitas vezes se passa no organismo alguma coisa que lhe é essencialmente análoga para que, deixando de ser único, elle perdesse muito de seu caracter d'im- penetrabilidade raystoriesa. É o que me parece ter

conseguido M. Spencer, (1) comparando o que se pas- sa no germe fecundado com o que se passa na rege- neração de um membro perdido, na reproducção de certos tecidos, na cicatrisação das feridas, etc., e con- cluindo pela identidade fundamental de todos elles. Tendo de voltar um pouco mais tarde sobre esta idêa, eu addio para então as considerações, que tendem a fazer admittil-a, e apenas farei notar que, desde o mo- mento em que assim seja, o ovulo deixa de ser con- siderado como uma cellula especialisada, visto que phe- nomenos similhantes aos de que elle é sede se mos- tram em quasi todas as partes do organismo. Em mui- tos vegetaes e animaes inferiores este processo chega a ir muito mais além, e não são raros aquelles em que um pequeno fragmento de tecido ligeiramente diffe- renciado é capaz de reproduzir todo o organismo de que foi tirado. Concluindo d'ahi para os animaes su- periores, em que os phenomenos da vida são funda- mentalmente os mesmos, uma convicção se nos impõe, que abala qualquer opinião preconcebida de proprie- dades especiaes nos elementos reproductores.

O estudo das circumstancias da sua producção não é ainda mais adequado a fazel-a prevalecer, porque não só nos différentes seres da escala, mas, até nos animaes superiores, os tecidos, em que elles teem ori- gem, se não são dos mais rudimentares, não são tam- bém dos mais avançados em organisação, e bastará 1er em qualquer traclado d'histologia a estructura do ovário e do testículo para não restar duvida a tal res-

peito. Não é para isso que eu invoco as circumstan- cias de producção: o que sobretudo me parece sobre- sahir debaixo d'esté ponto de vista é a sua origem epitlielial. (1) O ovulo como a cellula spermatica são cellulas epitheiiaes modificadas: eis o que resulta da disposição do ovário e do testiculo. eis ahi que baste para provar que as cellulas spermatica e germinativa não possuem propriedades différentes das que se ma- nifestam em outras cellulas, e que a única dissimilhan- ça, que as separa da maior parte d'estas, é o grau pouco adiantado da sua organisação, que nos leva a con- sideral-as como cellulas não especialisadas por qual- quer exigência mecânica de trabalho particular, e por conseguinte mais aptas para serem promplamente me- tamorphoseadas.

Tomemos agora duas d'estas cellulas, o ovulo e a cellula spermatica de um animal superior. São ape- nas perceptíveis; no entanto vivem, e o seu grau de vida é exactamente medido pela intensidade dos mo- vimentos moleculares extremamente complexos que lhes foram communicados. Ao passo que o systema de forças, que se debatem n'essa arena microscópica, vai encontrando um estado de maior equilíbrio a que fatalmente tende, a vitalidade do elemento vai decres- cendo proporcionalmente até que de todo se extingue, quando o systema attinge o seu completo equilíbrio estável. É a sorte que espera cada um d'elles, se por acaso não se encontram, fecundando-se. Quando^ po-

il) A Koelliker — Elements d'histologie humaine — pag. 703.— Ktiss — Physiologie — 2.* edição, pag. 568.

rem, este encontro se réalisa, o que então se passa é extremamente característico: o systema de forças d'uni e d'outro, completamente desconcertado pela interfe- rência de forças extranhas, volta a uma instabilidade manifesta e as operações vitaes que, em virtude do es- tado d'equilibcio relativo a que o elemento tinha che- gado, eram pouco activas, recomeçam com uma inten- sidade extraordinária e proporcional á differença de energias que possuem os dois elementos que se com- binaram. O exagero da nutrição, que então se obser- va, é o resultado e a prova d'essa sobreactividade vi- tal que termina pela formação d'um novo organismo.

Tal é a natureza dos phénomènes que se obser- vam em todo o germe fecundado ; tal seria também a inducção'particular completa, que a exprime, se n'ella se encontrasse a força directriz, que conduz o desen- volvimento debaixo d'um plano determinado até uma estructura e dynamisme especiaes. De ha muito que a sciencia abandonou a doutrina que admittia no ger- me a miniatura do organismo que ia desenvolver-se ; da lucta em que Lemery e Winslow despenderam a maior parte da sua vida a geração moderna somente aproveita a ideia d'esté ultimo sem sequer se impor- tar com a profundeza e lealdade com que o primeiro entrou no combate. A epigenese era a verdadeira dou- ctrina; restava encontrar a força que a dirigia. Veja- mos o que a analyse d'alguns phenomenos nos permitte concluir.

Quando os virus da variola ou da escarlatina, diz Paget, introduzidos no organismo vão affectar toda a massa sanguínea, a doença segue o seu curso, e, uma vez estabelecida a cura, parece que o sangue recupe-

rou as condições primitivas. Não é assim porem : d'ora avante pode-se-ihe inocular o mesmo virus impune- mente, e esta circumstancia persiste muitas vezes du- rante toda a vida : alravez das numerosas transforma- ções, porque a nutrição faz passar a cada momento o elemento orgânico, uma alteração, minima a ponto de não se revellar por signal algum externo, conserva-se immodificavel durante muitos annos. Que significa isto ? que as moléculas compostas do sangue teem o poder de vasar no seu próprio molde as substancias que absorvem como alimento; que todos os elementos, que se formam posteriormente, seguem um modelo al- terado ; que as partículas alteradas teem a faculdade de communicar ás que as substituem, essa mesma alteração. E o que se dá com o sangue não pode dei- xar de dar-se com as moléculas mais ou menos espe- cialisadas de cada órgão. Por outro lado é de obser- vação quotidiana que em muitos animaes o corpo de- capitado regenera a cabeça, que a cabeça regenera o corpo, que o menor dos fragmentos, em que se te- nha dividido um polypo, continua a viver e torna-se um animal completo : factos, em frente dos quaes não pode deixar de concluir-se que as unidades, que cons- tituem um d'esses fragmentos, teem uma tendência na- tiva a disporem-se sob a forma do animal, a que per- tencem.

Se não me engano, as duas ordens de phenome- nos, que acabo de citar, encerram elementos para um reciocinio, cuja conclusão nos interessa sobremaneira. Com effeito, a interpretação mais racional d'estes fac- tos consiste em supppor que cada unidade especial inlegrando-se á custa das substancias, que a rodeiam,

lhes communica uma orientação estrada ral e funccional, que as faz entrar na sua communidade d'acçao ; uma verdadeira polaridade, em virtude da qual as molécu- las vitalisadas manifestam uma tendência quer para completar a forma do animal quando ella foi compro- mettida por qualquer circumstancia (traumatismo, gasto funccional, etc), quer para a reproduzir comple- tamente, quando se encontram em condições favoráveis. Por consequência, desde a simples reparação das per- das, que arrasta o exercício funccional, até á repro- ducção completa d'um novo organismo, a polaridade das unidades physiologicas é a força sempre activa destinada a mover a alavanca individual na direcção e com a intensidade, que lhes communicaram as uni- dades, que as precederam na linha da existência, ou as forças do meio em que vivem ; é o laço subtil e indissolúvel, que faz commungar o ser vivo na unida- de dynamica da natureza, na alma do mundo. Para nos acharmos no mais intimo dos phenomenos d'heredi- tariedade resta determinar a natureza d'essas uni- dades.

(.dl, n' y a aucune raison de croire que l'opéra- tion de composition et de recomposition par laquelle nous passons des subslances organiques les plus simples aux plus complexes se termine à la formation des colloides

complexes qui caractérisent la matière organique. Il est plus probable qu' aux dépens des atomes colloides com- plexes se dévollopent par une integration encore plus avancée des atomes encore plus Mtérogônes et de genres plus nombreux. (1)

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As unidades physiologicas não são, portanto, nem as unidades chymicas, nem as unidades morphologicas ou anatómicas. Nem umas nem outras podem ser a sede da polaridade, de que falíamos : não são os áto- mos chymicos, porque n'esse caso seria inexplicável a variedade infinita de formas ; não são as cellulas, por que não só estas são até certo ponto uma manifesta- ção d'aquella propriedade, mas até porque nem sem- pre as encontramos onde quer que se manifeste uma , actividade vital, como acontece nos casos em que um tecido fibroso se forma n'um blastema sem estructura. como acontece ainda nos rhizopodos que não são forma- dos de cellulas e apezar d'isso vivem e transmittem dis- , tincções especificas. As unidades physiologicas occupam antes um logar intermédio entre umas e outras : for- madas por uma integração mais adiantada á custa dos átomos colloides já de si complexos, heterogéneos e instáveis as suas propriedades são exactamente as mesmas levadas a um grau muito mais avançado.

Só em unidades assim constituídas se podem en- contrar as condições indispensáveis ao exercido da vi- da, porque o que n'esta ha de verdadeiramente essencial è essa serie de mudanças ao mesmo tempo simultâ- neas e successivas, que difficilmente se comprehende- riam sem a estabilidade e heterogeneidade dos elemen- tos a que devem applicar-se as forças.

Se um grande numero de phénomènes biológicos, por um lado, e, por outro, a lei d'evoluçâo nos não levassem a admittir a existência de taes unidades, os phénomènes d'hereditariedade bastariam a insinuar-nos a convicção de sua realidade. É, e não podia deixar de ser esta a base de todas as hypotheses que buscam

uma explicação d'esses phenoinenos, e a insistência mesmo, com que esta idêa tem sido aproveitada para ponto de partida, mostra bem o conceito que ella me- rece aos homens da sciencia. M. M. Spencer, Darwin, Galton e Schmidt são os que mais particularmente se lêem occupado d'esté assumpto : bastaria o nome d'elles para nos impor a obrigação de examinar atten- tamente as hypotheses que propozeram, e que, quando mais não fosse, representavam o esforço d'intelligen- cias esclarecidissimas para attingir a verdade. Ainda que fundamentalmenle idênticas as hypotheses de M., M. Spencer e Darwin différera em alguns pontos acci- dentaes : expol-as-hei resumidamente, mencionando os pontos essenciaes, e pondo de lado mais amplos desen- volvimentos que,muito bem cabidos nos livros d'aquelles auctores, difficilmente poderiam ser aqui explanados-

Para M. Spencer a similhança d'um organismo cora seus pães não é mais de que o resultado das ten- dências especiaes das unidades physiologicas deriva- das d'estes e accumuladas no ovulo e sperraa em quan- tidade innumeravel. Depois da fecundação o germe liça sendo constituído por dois grupos d'unidades com propriedades communs e propriedades différentes, com polaridades tão deslindas, eralira, quanto são distinc- los os organismos dê que provêem. Desde que o ovulo entra na nova phase de vida, que principia no mo- mento em que a sua substancia se combina com a do sperraa, uma nutrição exuberante se manifesta que revela a actividade das unidades physiologicas.

Em virtude da propriedade que cada uma d'ellas tem de assimilar e moldar as substancias nutritivas, que a rodeiam, em breve se acharão multiplicadas,

entrando abertamente n'utn caminho d'evoluçao. Am- bos os grupos d'unidades se parecem na sua polari- dade e na forma debaixo de que tendem a dispor-se, e por este lado trabalham unisonas para produzirem um organismo da espécie a que pertencem ; mas, co- mo ao lado d'essas propriedades communs existem differenças secundarias, as unidades que as possuem impol-as-hão às suas derivadas,e o conjuncto será assaz preponderante para ser representado no ser que con- correm a formar. Assim de par com a reproducção de particularidades especificas marcha a de particulari- dades individuaes, e, quando no jogo d'aquellas po- laridades não tenha havido um desequilíbrio notável, o organismo dos pães deve ser integralmente repro- duzido no filho.

A applicação d'estas ideas geraes aos casos par- ticulares d'hereditariedade torna-os perfeitamente in- telligiveis e apenas algumas necessidades d'interpre- tação parcial obrigavam a accrescentar á hypothèse ligeiras modificações que a completassem. Foi esta circumstancia que deu origem á hypothèse de M. Da- rwin, e, posto que este auctor não pareça disposto a admittir entre as suas idêas e as de M. Spencer uma perfeita identidade, é certo que ás duas hypo- theses concordam fundamentalmente. M. Galton (1) adopta integralmente a hypothèse da pangenese, diffe- rindo apenas de M. Darwin na applicação das idêas aos différentes casos particulares com o fim de os in- terpretar.

(1) Para mais esclarecimentos veja-se — Revue scientifique —1873-76 pag. 198.

Para explicar différentes phénomènes e entre elles os d'hereditariedade M. Darwin (1) suppõe: 1.° que as cellulas antes da sua conversão em materiaes for- mados e completamente passivos, e depois em todos os períodos e estados de desenvolvimento, emittem átomos ou gemmulas que circulam livremente em todo o systema ; 2.° que, quando essas gemmulas recebem uma nutrição sufficiente, se multiplicam por divisão e se desenvolvem ulteriormente em cellulas similhantes áquellas de que derivam ; 3.° que são transmittidas pelos pães aos seus descendentes para se desenvolve- rem ordinariamente na geração immediata, o que não impede que muitas vezes se transmittam durante mui- tas gerações em estado dormente e se desenvolvam mais tarde; 4.° finalmente, que no estado dormente as gemmulas, teem umas pelas outras uma afflnidade mu- tua, d'onde resulta a sua aggregação em botões ou elementos sexuaes.

0. que são n'esta hypothèse as gemmulas senão as unidades physiologicas de M. Spencer? Que outra coi- sa é aquella sua affinidade senão a polaridade de que falíamos? Não obstante a pangenese encerra mais re- cursos d'explicaçâo, e eis ahi o motivo porque a re- puto uma ampliação da theoria de M. Spencer sem a qual não me parece que se podesse comprehender muito bem a natureza das gemmulas. No systema de philosophia natural, que este auctor adoptou, ou an- tes creou, as unidades physiologicas deparam-sc-nos

(1) Ch. Darwin — Variation des animaux et des plantes. — Tom. ii, pag. 398.

como um producto de evolução, as suas propriedades deduzem-se a priori do processo, que conduziu até ellas, e os phénomènes mais excepcionaes de génese, de variedade e de variação estudados á luz dos pri- meiros principios reunem-se por um laço commum n'aquelle foco d'interpretaçâo: na pangenese as gem- mulas, seja qual fôr o seu valor explicativo, impoem- se como entidades arbitrarias, tendo por anteceden- tes simples factos d'analogia.

No documento O principio d'hereditariedade (páginas 61-76)

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