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São inegáveis as alterações sociais, políticas e econômicas que vêm acontecendo na sociedade atual. Para muitos, apenas uma variação do paradigma da modernidade provocado pela sua própria evolução que apoiada na cientificidade das coisas, gera grande desenvolvimento na pesquisa que age sobre o meio provocando novas formas de relacionamentos. Por outro lado, e neste contexto, encontram-se inúmeros pensadores adeptos de que há mudança paradigmática atualmente. Vivemos um novo paradigma que se pode denominar o paradigma da comunicação, embora muitos outros termos pudessem ser usados na tentativa de caracterizar o momento atual. Justifica-se um novo paradigma devido às mudanças de relações e inter-relações que vão se estabelecendo entre os homens, seus meios de produção e as novas habilidades requeridas para se adentrar no processo atual de mercado que se informatiza, encurta tempo e distâncias.

O desenvolvimento de todos os setores da sociedade tem na economia fator determinante das modificações que ocorrem em todos os segmentos da coletividade planetária, assim como o homem deve se relacionar para responder as exigências de mercado.

A escola, segmento social que, juntamente com a família, educa os indivíduos para atuarem na sociedade está fora de compasso com a rápida evolução tecnológica que inova na capacidade de oferecer acesso instantâneo às informações produzidas em todo planeta. A família, apesar de ser um fator de extrema importância na formação do homem, não é objeto de pesquisa tornando-se ponto dispensável da discussão.

A necessidade de termos um homem com maior capacidade a disposição do mercado vem obrigando os meios institucionais de ensino a repensar sua maneira de ensinar. A escola tem sérias dificuldades em se ajustar ao movimento de mercado, no sentido de se ajustar à dialética que se desenvolve entre a economia/indivíduo/sociedade, devido a vários fatores que concorrem para que haja melhoria na sua competência: baixo investimento em materiais, currículo fragmentado que ainda responde pelo paradigma da modernidade, os conteúdos específicos que são apenas uma parte da formação de um professor, e o qual reproduz no trabalho educativo, pouco investimento na formação continuada dos profissionais da educação, desinteresse em melhorar a qualidade do seu trabalho por parte dos professores e a manutenção do ensino tradicional das universidades que produzem novos docentes, caracterizam o momento de dificuldades da educação.

Durante as reuniões com os professores que formaram o grupo de pesquisa, o sentimento de abandono dos docentes por parte das autoridades, bem como, das universidades onde obtiveram a formação inicial ficou evidenciado no sentido da formação continuada, pois o elo que o educando fez com a instituição responsável pela sua formação se desfaz no momento em

que se formou. Essa cisão entre aluno e universidade, na concepção dos professores do grupo, gera déficit de aperfeiçoamento.

É importante relembrar, que há anos passados, a instituição que formou os professores desse grupo de estudos muito investiu quando o construtivismo começou a ser utilizado como compreensão de ensino. Na ocasião, inúmeras palestras, minicursos, e reuniões foram realizadas. Aparentemente, a tentativa de formação continuada pode não ter sido bem sucedida, mas trouxe o elo professor/educandário e melhoria na qualidade do ensino.

Atualmente, o que impede a formação continuada nas TICs? A falta de

financiamento dos órgãos gestores da educação? O

despreparo/vacilo/incerteza das universidades? Contradições que envolvem a melhoria da educação que, dentro dessa discussão, poderá produzir dados que indicam algumas respostas.

O professor aplica em sala de aula o que aprende na sua formação. Não podemos esperar atitudes diferentes de uma educação conservadora se as universidades apresentam uma educação fragmentada em disciplinas estanques com enfoque essencialmente ao conteúdo disciplinar.

Partindo do pressuposto de que o fazer do professor está ligado a paradigmas anteriores é de se esperar que continuemos ensinando e formando educandos com uma visão fragmentada do mundo, fruto da forma com que recebem seus ensinamentos.

O mundo está mudado/mudando acentuadamente com a inserção das TICs, conseqüentemente, necessita de homens que atendam ao momento de mudanças que acontecem. O profissional esperado deve apresentar características que combinam com o momento, pois se o mundo reduziu

espaço e tempo, certamente as relações que se estabelecem também estão mais rápidas e, o profissional deve tomar atitudes de imediato. Portanto, o mercado não pode ficar esperando um funcionário procurar o chefe para tomar uma decisão de vendas. O profissional deve ter autonomia e conhecimento no seu fazer. As decisões relativas ao bom andamento das suas atividades devem ser tomadas com competência.

A evolução das coisas do mundo é imensa. Certamente os novos profissionais que irão surgir deverão estar preparados para durante o decurso de sua carreira profissional ter que mudar de ofício. Ainda veremos muitas profissões desaparecerem, e outras, diferentes das atuais, surgirem ou uma profissão já existente ser valorizada tanto quanto outras que, neste momento, representam um bom status social com ótima remuneração.

Retomando as questões que envolvem a educação quanto à formação de professores, mas com ênfase na formação continuada, pode-se dizer que investimentos para o grupo de professores na ativa existem. O grande problema está na forma como o processo de formação continuada se dá em relação à entrada de novas tecnologias. Ficou evidente que colocar equipamentos nas escolas não altera significativamente a educação e a tendência que existe é de que os aparelhos postos fiquem obsoletos. O sentimento real que se constrói é de que a educação virou nicho de mercado de empresas de equipamentos tecnológicos, em especial os computadores e acessórios que a cada dia sofrem modificações.

Numa perspectiva mais otimista quanto ao uso dos computadores que chegam as escolas e formam às salas de informática, poder-se-ia dizer que esses aparelhos serão usados por poucos e o máximo que teremos é busca de

alguns textos na internet que, provavelmente, serão baixados e copiados para fazerem parte de trabalhos de alunos pedidos por docentes. Essa prática é muito comum nas escolas onde trabalho e já trabalhei. A prática de copiar/colar/imprimir se dá justamente pelo desconhecimento do mundo da informação que a internet disponibilizou aos alunos que, de maneira geral, conhecem mais computador e suas possibilidades do que os professores. É muito provável que o despreparo do professor para enfrentar os desafios do mundo da informação fará com que a tecnologia se restrinja a ver o mesmo que se têm nos livros didáticos, quem sabe, com um pouco de cor, luz, som e movimento.

Pensar que a tecnologia vai solucionar os problemas da educação ou pensar que a tecnologia vai substituir o professor são pensamentos que no momento devem ser afastados por um todo. Estudos já realizados em países mais desenvolvidos nos mostram que a tecnologia não solucionou os problemas da educação, bem como, algum dia, o sonho de alguns em substituir os professores, por programas tutores, não é evidente e, dificilmente, acontecerá.

Uma nova tecnologia sempre provoca otimismo exacerbado, mas no desenrolar dos acontecimentos relacionados ao seu uso, a realidade é diferente. Já se pensou que os livros substituiriam professores, assim, as TVs, vídeos... O que se viu e se vê com a entrada de novas tecnologias é a adição de mais uma ferramenta no ensino. O impacto que cada tecnologia produz é diferente, cada qual, em sua época, bem como, o espectro social que atinge. O livro, uma das maiores tecnologias da educação, permitiu o registro dos conhecimentos, mudando profundamente a educação que saiu do ensinamento

oral, baseada na experiência e no domínio decorado dos conteúdos, para o conhecimento acumulado, registrado. Das tecnologias que envolvem nossa época de existência, o computador é a grande invenção. Ele, em si, pouco seria, mas a internet, a grande rede de comunicação que se criou, interligou todos os continentes, mas no momento, nem todos os homens do planeta e nem todos os povos. Permitiu muito mais que os livros, pois em uma só tela, com auxilio de um navegador, tem-se o acesso a quase todos os conhecimentos disponíveis que o homem vem produzindo, contando ainda com som, luz, cor, movimento e interatividade. Algo fantástico, mas o grande dilema é a apropriação adequada disso no meio educacional.

Em centros de pesquisa desenvolvem-se infinidades de investigações quanto à utilização da informática na educação, utilizam-na das mais variadas maneiras: tutor, simulação, jogos, salas de conversas, interações de sala de aula entre tantas outras. Mas, na prática, nas salas de aulas do País nada se vê de novo.

Os programas de aperfeiçoamento de professores que estão sendo propostos em relação ao uso do computador, seus programas e o acesso à Internet negligenciam quanto aos fundamentos teóricos para uma nova pedagogia no seu, bem como, as possibilidades pedagógicas no uso de informações que as TICs poderiam proporcionar. No momento, dá-se prioridade à mídia, ao uso do computador como máquina e seus recursos e, nesse patamar de conhecimento prático se permanece.

O fato da formação continuada de professores não apresentar avanços quanto à utilização do computador como ferramenta de ensino, explica-se por não se ter uma política clara quanto às novas possibilidades. Não existe um

caminho pedagógico a seguir, a não ser, “a colcha de retalhos” de teorias pedagógicas que os professores foram incorporando em seu fazer diário nos pequenos cursos e seminários que fizeram durante suas carreiras, somados ao que aprendeu em sua formação inicial. Infelizmente, essa constatação não pode ser escondida. Com perplexidade podemos assinalar: quer-se melhoria, quer-se avanço, quer-se uma nova escola, mas com baixos custos, sem compromisso sério do Estado. Em países do primeiro mundo, já se investiu milhões de dólares para que a educação se apropriasse de novas tecnologias, e os resultados ainda são insatisfatórios. Assim, teremos longos anos de debates e esforços isolados até que inovações surjam na educação brasileira. Essa afirmativa tem sustentação ao se comparar o que se faz aqui ao que já se fez em países que priorizam a educação. O fato é que se faz pouco para inserir tecnologias na educação.

Fazer reflexão sobre a escola necessária é bom, mas, no momento, ilusório. Aquela escola idealizada com mais horas de trabalho, com maior opção de material didático (visto que nem livros adequados se têm), menos compartimentada e menos controladora, em curto prazo, não teremos. Temos de refletir sobre a escola real, com os materiais que nela dispomos e os que estão sendo inseridos pelos programas governamentais que priorizam a entrada de computadores na educação, desconhecendo outras necessidades como a valorização dos professores e sua formação.

É oportuno, nesse momento da reflexão, dizer que, simultaneamente à entrada de computadores deve estar associada à formação continuada dos professores. Não para uso do computador, mas em teorias e práticas pedagógicas adequadas para um tempo de novos paradigmas.

Se o momento é de alteração paradigmática e novas relações se estabelecem, posturas adequadas ao momento devem ser obtidas. Partindo do pressuposto de que necessitamos de um homem com capacidade autônoma, tanto no aprender como no trabalho, necessitamos de uma teoria pedagógica que valoriza os saberes já incorporados e desses saberes se parta para a discussão que irá provocando a internalização de novos conceitos. Ter domínio de uma teoria que embasa o fazer diário de professor é o aporte que garante um bom trabalho. Os professores, principalmente falando dos que compunham o grupo de estudos, consideram os pedagogos como pessoas que “não sabem o que se passa na sala de aula” e ainda culpam os professores de sala de aula pelo fracasso escolar. Retornando ao que já fora dito, os professores atuais não possuem domínio de uma teoria que norteia o seu fazer no dia-a-dia, assim não conseguem buscar aporte tanto pedagógico como teórico para alterar o seu fazer diário. Assim como os pedagogos atribuem o fracasso escolar para os professores, os professores o fazem para o aluno que “não quer mais estudar”.

O computador, associado à internet, permite inúmeras formas de uso. Considero a sala de aula virtual com conversas de grupo e correio eletrônico uma maneira, atualmente, possível, que admite o acoplamento de informações, páginas eletrônicas para estudo, simulações e outros. Assim, permitir um trabalho interdisciplinar.

Elegendo um tema transversal, e associando o tema a diversos componentes curriculares, permite-se fazer discussão aprofundada ao se postar eletronicamente questões a serem pesquisadas. Claro que somente a postagem e a pesquisa com discussão é pouco diante desse recurso

tecnológico. A grande vantagem do computador é que na mesma sala virtual podemos adicionar outros recursos. O que se quer dizer é que em uma sala virtual pode-se associar a simulação, o diálogo, pequenos programas e a produção textual que se daria no encerramento do tema.

Vários empecilhos dificultam a implementação da interdisciplinaridade, segundo os professores. Destacam-se a falta de tempo para as reuniões e a necessidade de se cumprir o programa de conteúdos. Assim, tendo um professor que coordena o trabalho diante do computador provedor, e contando com a participação de todos em ceder um pouco de aulas por disciplinas, consegue-se tempo razoável para implantação de pequenos projetos de estudos.

Necessitamos partir de pequenas atitudes, com bons conhecimentos teóricos para, aos poucos, conseguirmos avanços. O possível aqui, justamente é uma tentativa de desnuclear os estudos sobre informática na educação dos grandes centros, ao tentar em núcleos escolares, a formação de novas posturas frente às tecnologias atuais na educação. Trabalhos teóricos-investigativos, bem como materiais didáticos existem em abundância no Planeta. O que falta é juntá-los e oportunizar grupos de estudos e trabalhar com a realidade educacional brasileira.

A entrada das TICs na educação comporta muitas teorizações e pesquisas relativas a sua utilização, muitas fundamentadas em práticas de teste. Contemplaria, nesse momento, indagações que causam perplexidade, indagações que surgiram durante a realização deste trabalho. Para respondê- las seria necessário uma pesquisa de porte maior, visto que este trabalho não daria conta de tal. O que os que sabem de tecnologia da educação sabem

realmente sobre ela? O que os que sabem fazem na prática com os meios atuais de comunicação, atuando como professores? Estas são duas indagações que poderiam esclarecer, de forma mais explicita, a falta de desenvolvimento das tecnologias na educação, bem como, poderiam fazer-nos entender por que as universidades mantêm-se fortemente atreladas à forma tradicional de educação. A postura conservadora de ensino universitário quanto às TICs impede que o professor em sua formação inicial adquira novos conhecimentos quanto ao uso de tecnologias contemporâneas na educação.

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