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Como professor de Física atuante nas redes de ensino estadual e particular de Florianópolis sempre procuramos em nossas aulas trabalhar o ensino de Física em consonância com o mundo vivencial dos alunos. Dessa forma, o uso de experimentos sobre o conteúdo estudado, mostrando as aplicações no cotidiano daquilo que se aprende na sala de aula mostrou-se um caminho bastante eficaz para que a Física pudesse extrapolar os muros do colégio, trazendo mais vida para as aulas de Física. A proposta era que experiências fossem apresentadas em sala por equipes de até três membros, que deviam confeccionar e explicar o experimento para os colegas, que poderiam fazer perguntas sobre o assunto. Algumas experiências, porém, ficavam inviabilizadas de serem apresentadas na sala de aula, ou porque demoravam muito tempo, como é o caso de algumas práticas de Termologia, ou porque necessitavam de um ambiente totalmente escuro ou da presença da luz solar para realização de algumas práticas de Óptica.

Há alguns anos um aluno nos perguntou se haveria a possibilidade de filmar uma experiência de Óptica e colocá-la no YouTube, já que a claridade da sala de aula não permitia a realização do experimento naquele ambiente. A primeira reação foi dizer que não, pois o objetivo do trabalho sempre foi o de mostrar a Física presente no cotidiano por meio de experiências simples que deveriam ser demonstradas e explicadas aos alunos em sala a fim de que pudessem as equipes interagir com os colegas. Porém, ao conhecer melhor o site, levamos em consideração a possibilidade de ampliar o número de pessoas com acesso aos experimentos e, a não ser pela impossibilidade de intervenções por parte do professor no caso de alguma explicação incoerente, não vimos então nenhum

obstáculo maior. A solução encontrada foi o compromisso de os alunos editarem o vídeo no caso de alguma incoerência que comprometesse o resultado do experimento.

Como esse trabalho se repete desde então, uma vez a cada trimestre em grupos de até três alunos, notamos que a quantidade de vídeos aumentou exponencialmente nos últimos anos, a ponto de mais de 90% das experiências atualmente serem apresentadas na forma de vídeo e publicadas no YouTube. Foi inclusive necessário reservar pelo menos duas aulas por trimestre para vermos as experiências das equipes.

É importante destacar também que a qualidade dos equipamentos para a produção e exibição dos vídeos melhorou substancialmente e os experimentos ficaram mais interessantes, além dos recursos de edição que passaram a fazer parte da rotina das equipes. Assim, há centenas de vídeos desse projeto no YouTube e alguns deles possuem milhares de exibições. Seguem abaixo alguns exemplos desses trabalhos55:

Os vídeos abaixo demonstram aplicações simples da Física que estão presentes no cotidiano dos alunos. Porém, a execução dos experimentos envolve várias etapas, desde a escolha do tema, pesquisa da experiência, elaboração do roteiro, filmagem, edição até a postagem no site. É conveniente ressaltar ainda que os alunos são estimulados a pesquisar e/ou arquitetar experiências inéditas para esse projeto, uma vez que a criatividade é um dos critérios de avaliação, além da coerência com a proposta do trabalho, sendo que a correta explicação do fenômeno físico em questão é tão importante quanto a execução do experimento. Observamos ainda o envolvimento do grupo na execução da tarefa e se os mesmos respondem coerentemente às dúvidas dos colegas ao final da apresentação da experiência.

55 Atualmente são centenas de vídeos desse projeto no YouTube. Para ter acesso a alguns dos demais basta

digitar as TAGs: “TEC PROFESSOR NELITO COLEGIO CATARINENSE” ou “TEC PROFESSOR NELITO CC” ou “TEC PROFESSOR NELITO IEE”. Alguns vídeos, principalmente do início do projeto, não podem ser visualizados dessa maneira, pois, ou o autor não respeitou as TAGs ou o professor não pediu para fazê-lo. Há ainda a possibilidade de ocorrerem abreviaturas das TAGs e também o autor indisponibilizar o vídeo no seu canal.

FIGURA 1 – Interface do YouTube com experiência de Termologia

Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=n_PPVSFej7c&context=C339abd0ADOEgsToPDskKWETRWaGn g0tYl7oB5Zt3c>. Acesso em 26 de nov. de 2012.

FIGURA 2 – Interface do YouTube com experiência de Termologia

FIGURA 3 – Interface do YouTube com experiência de Óptica

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=nvMoqCtVAFk&feature=youtu.be>. Acesso em 26 de nov. de 2012.

FIGURA 4 – Interface do YouTube com experiência de Ondas

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=kcJNPMI3NBA&feature=youtu.be>. Acesso em 26 de nov. de 2012.

Com o passar dos anos o YouTube foi adicionando algumas funcionalidades, tais como a possibilidade de contar as visualizações, “curtir” os vídeos, postar comentários e criar um canal específico para cada usuário, o que dinamizou ainda mais o uso do site. Além disso, a interface com outras redes sociais permite uma maior agilidade na hora de visualizar e comentar os vídeos que podem estar

linkados a qualquer tipo de página da internet.

No ensino de Física, especificamente, há ainda muitas maneiras de usar o YouTube, pois sabemos que os fenômenos físicos estão presentes em várias situações do cotidiano. Assim, a filmagem da queda de uma ponte no rio Tacoma, por exemplo, permite uma discussão interessante sobre o fenômeno da ressonância; um “crash test” de um veículo propicia um estudo mais elaborado sobre leis de conservação de energia, quantidade de movimento, dinâmica, dentre outras. Nesses momentos, porém, o YouTube se equipara a outros recursos audiovisuais, pois a reprodução de vídeos é possível por meio de vários outros instrumentos. Para que haja um ganho, ou o “mais comunicacional” que Marco Silva (2010a) coloca, é necessário destacar as singularidades do YouTube que o diferenciam e permitem que possamos estudá-lo como potencial ferramenta pedagógica no ensino de Física.