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Lista de Abreviaturas e Siglas

CTOD (mm) Ref.

4.2.1 Características microestruturais

4.2.1.1 Zona termicamente afetada (ZTA)

De acordo com os dados apresentados por Hermenegildo (2012) e Barnes et al. (2008), a ZTA de juntas soldadas alcançaram temperaturas entre 450 e 1000 °C. Contrastando essas informações com o reportado na Tabela 2.1, pode-se dividir a ZTA em três grandes regiões (Figura 4.14): ZTA de alta temperatura (ZTA-TA; ~1100-900 °C), que suportou temperaturas acima da temperatura crítica superior (Ac3); a ZTA seguinte,

em direção ao MB, suportou temperaturas acima da temperatura crítica inferior (Ac1) e

menores que Ac3, sendo designada como de temperatura intermediária (ZTA-TI; ~900-

700 °C); a ZTA que suportou temperaturas subcríticas (<Ac1) foi nomeada ZTA de baixa

temperatura (ZTA-TB ~700-400 °C), Tabela 4.8 e na figura 4.12. A diferencia destas regiões foi observado na mudança microestrutural e dureza, quando comparado com o metal base.

A ZTA-TA apresentou mudanças microestruturais e de dureza (seção 4.3), o que significa que essa região atingiu a completa austenitização durante o aquecimento e, posteriormente, durante o resfriamento, gerou microestruturas diferentes às do MB. Temperatura de pico de 900 a 956 °C e taxas de resfriamento de 17 °C/s (t8/5) foram

reportadas para esta zona em aço API X65 (SINFIELD, 2007). Como apresentado na Figura 4.15, a microestrutura característica desta zona foi a ferrita quase poligonal (FQP) com segundas fases dispersas, com tamanhos de grão máximo aproximado da FQP de 12 µm, mínimo de 1 µm e média de 2,7 µm. A segunda fase nesta região se apresentou com formato de bloco (Figuras 4.15.a, .b, .d e .e) e alguns com formato alongado (Figuras 4.15.c e .f) e tamanhos menores que 5 µm. Hermenegildo (2012), usando o microscópio eletrônico de transmissão (MET), caracterizou a ZTA de uma junta de SAPNC em condições similares de soldagem às apresentadas aqui e encontrou grande densidade de discordâncias na ferrita que fica em volta do microconstituinte M-A.

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Figura 4.14. Microestruturas características da zona termicamente afetada: a) Macro da junta soldada, b) vista aumentada da zona termicamente afetada, c) metal base; Zona termicamente afetada: d) de baixas (ZTA-TB), e) intermediárias (ZTA-TI) e f) altas (ZTA-TA) temperaturas. Zona misturada geral (ZM).Direções: de laminação (DL), normal à direção de laminação (DN) e transversal à direção de laminação (DT). Microscópio ótico, Nital 2%. Processamento em chapas de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Dentro da ZTA-TA não foi encontrada, com as técnicas de caracterização utilizadas no presente estudo, a zona de granulação grosseira (GGZTA, 1250-1100 °C) e granulação fina (GFZTA, ~1100-900 °C) reportada em juntas soldadas por arco elétrico (TERASAKI et al., 2015). Essa zona também não foi observada por Hermenegildo (2012), mas sim por Cho et al. (2012) que usaram um MEV com detector de EBSD para estudar a evolução microestrutural de um aço API-5L-X100 (0,05C; ≤0,05Nb; ≤0,05V e ≤0,03Mo, % em massa). A dificuldade em detectar ditas regiões por métodos óticos, microscopia óptica ou eletrônica (sem usar EBSD), está relacionada ao fato do grão não crescer e não mudar o suficiente para ser facilmente identificado. No caso da região de granulação fina, o tamanho de grão do metal base foi comparável ao obtido após a soldagem na ZTA-TA. O tipo de microestrutura encontrado foi o de ferrita quase poligonal, com partículas de SF em formato de bloco, marcadas com setas vermelhas na Figura 4.15.

A ZTA-TI apresentou mudança parcial da microestrutura, o que, por sua vez, alterou os valores de dureza em comparação com o MB (Figura 4.27). A média de tamanhos de grão de ferrita foi de 2,3 µm, com mudança de formato de alongado para quase poligonal. Outra característica importante foi que as partículas de segunda fase apresentaram majoritariamente formato de bloco, como mostrado com as setas vermelhas na Figura 4.16, localizados nos pontos triplos dos grãos e apresentando tamanhos entre 2 e 4 µm, majoritariamente.

A ZTA-TB só apresentou mudança de dureza, mas não microestrutural, em grandes magnificações usando o microscópio eletrônico de varredura. Esta zona coincide com a zona de recuperação descrita por Norton (2006).

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Figura 4.15. Microestruturas características da zona termicamente afetada de temperatura alta (ZTA-TA): a) Vista geral; b- f) detalhes da matriz de ferrita quase poligonal (FQP) e partículas de segunda fase (SF). As setas vermelhas indicam a posição de algumas partículas de SF. MEV, Nital 2%. Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Figura 4.16. Microestruturas características da zona termicamente afetada de temperatura intermediária (ZTA-TI): a) Vista geral b-e) detalhes da matriz de ferrita quase poligonal (FQP) e partículas de segunda fase (SF). As setas vermelhas indicam a posição de algumas partículas de SF. MEV, Nital 2%. Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Zona misturada (ZM)

Como apresentado na Figura 4.12, a zona misturada foi dividida em 2 subzonas:

o Zona Misturada geral (ZM): corresponde à região completa que sofreu aquecimento e deformação;

o Zona de Alta Dureza (ZAD): localizada no lado de avanço de cada passe que sofreu aquecimento e deformação.

A ZM e a ZAD apresentaram microestrutura grosseira de bainita e os maiores valores de dureza da junta soldada. A segunda fase na zona misturada geral apresentou- se em ambos formatos, bloco e alongado, localizados nos contornos entre pacotes de bainita e entre as placas de ferrita (Figura 4.17).

Os pacotes de bainita na zona misturada apresentam placas de ferrita alongadas com contornos em formato irregular (Figura 4.17.b), com distribuição de segunda fase (SF) sobre os contornos dos pacotes de bainita e entre as placas. A SF se apresenta em formato de bloco e alongado. O refinamento da microestrutura na ZM encontrado em juntas SAPNC em alumínio (MISHRA; MAHONEY, 2007) e magnésio (ÁVILA et al., 2012) não foi encontrado no presente estudo, em que as altas temperaturas do processo ocasionaram o crescimento dos grãos de austenita.

Dentro da ZM, alguns pacotes de bainita apresentaram contornos bem definidos (Figura 4.17.b-f), mas, na maioria dos casos, os contornos dos pacotes e placas de bainita eram de difícil interpretação (Figura 4.17.a). As microestruturas presentes na zona misturada geral, foram a ferrita acicular (FA), bainita granular (BG) (Figura 4.17.a,f e d) e bainita com ferrita em placas (BP) de com contornos em formato irregular (Figura 4.17.b).

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Figura 4.17: Microestruturas características da zona misturada geral (ZM). Microestruturas presentes (a-f): Bainita granular (BG), Bainita com placas de ferrita (BP) e ferrita acicular (FA). As setas vermelhas indicam a posição da segunda fase dispersa (SF). MEV, Nital 2%. Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

149 Yang et al. (1995) realizaram simulações termomecânicas com deformações de 40% na faixa de 780-800 °C num aço ARBL e encontraram maior quantidade e variedade de orientação das placas retas de ferrita da bainita para maiores taxas próximas de 30 °C/s, enquanto para taxas menores que resfriamento, o processo difusivo de transformação teve maior tempo para acontecer, portanto houve aumento da espessura das placas de ferrita, a ponto de obter bainita granular em taxas de 0,5 °C/s com e sem deformação (YANG et al., 1995).

A zona de alta dureza (ZAD), localizada no lado de avanço das juntas soldadas e próxima ao ombro da ferramenta, representou, aproximadamente, 20% da área total da zona misturada. Esta região foi destacada na Figura 4.18.a com uma linha amarela pontilhada. A ZAD esta composta por bandas de microestrutura de bainita e ferrita acicular, como a apresentada pela ZM (Figura 4.18.b e .c), e outras com pacotes de bainita com contornos bem definidos (Figura 4.18.d) e placas retas (Figura 4.18.e e f). Nesta mesma região, Hermenegildo (2012) se refere às bandas como claras e escuras de acordo com as cores geradas pelo ataque químico, assim como reporta que algumas fases secundárias foram compostas por cementita.

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Figura 4.18: Microestruturas características da zona de alta dureza (ZAD) e zona misturada (ZM). Macro da junta soldada mostrando a ZM e ZAD (a-b), detalhe da região de transição entre a ZAD e ZM (c). Microestruturas presentes (c-f): Bainita com placas de ferrita (BP). As setas vermelhas indicam a posição da segunda fase dispersa (SF). Microscopia ótico e MEV, Nital 2%. Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Análise dos resultados de EBSD

As medidas de EBSD foram realizadas sobre uma seção transversal do processamento de chapa de 15 mm de espessura com um passe. Na Figura 4.19, são apresentados os mapas por figura de polo inverso (Inverse Pole Figure, IPF).

Não foi possível realizar a medição da espessura das placas de ferrita da bainita na zona misturada e zona termicamente afetada, uma vez que o tamanho dos pacotes de bainita foi reduzido e o formato da ferrita foi de placas e blocos alongados. No entanto, os pacotes de bainita das ZAD apresentaram placas retas bem definidas com espessura de 1,4±0,1μm. Essa medida foi realizada a partir de diferentes pacotes de bainitas presentes nos mapas de EBSD (Figura 4.19).

O tamanho de grão foi medido para grãos com diferença de orientação maiores que 15º, capazes de defletir trincas (TANG et al., 2013; WANG; LIAN, 2014). A ZTA, ZAD e ZM apresentaram grãos maiores do que o metal base (1,47±0,08 μm), com valores de 2,2±0,08; 2,4±0,13 e 2,8±0,15 μm, respectivamente. Os valores obtidos de tamanho de grão em estruturas aciculares, como a ferrita em placas, não está associado à geometria da estrutura ferrítica, embora este índice permita comparar tamanhos de grão entre as diferentes estruturas. No entanto, para um melhor entendimento da relação entre microestruturas e propriedades mecânicas, unicamente a comparação entre as diferentes microestruturas do tamanho de grão não é completa, e deve-se levar em consideração a medição de dureza, geometria e distribuição de microestruturas, orientações cristalográficas e caracterização microestrutural em maior profundidade.

Li et al. (2015), na ZTA de um aço API-X100, relataram que somente os contornos com diferença de orientação acima de 45º conseguiram defletir as trincas, sendo que este valor de frequência de contornos também foi colocado na Tabela 4.9. No presente estudo, somente contornos com diferença de orientação maiores que 45 º defletiram a propagação de trincas, como apresentado na seção 4.3.6.

Na Figura 4.20 e na Tabela 4.9 observa-se a frequência relativa da diferença de orientações de contornos para as diferentes regiões avaliadas: MB, ZTA-TI, ZM e ZAD. Mais de 60% das amostras apresentaram contornos menores que 15º. Houve, também, no caso do metal base, um pico de 50% de diferença de orientação menor do que 1,5º, o que pode estar associado ao processo de laminação, cujo último passe foi realizado na

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região de não recristalização da austenita, deixando, ainda, após o resfriamento, grande densidade de contornos de baixo ângulo devido à matriz encruada.

Como mostrado na Tabela 4.9, em termos de frequência de diferença de orientação de contornos maiores que 15º, existe grande diferença entre o metal base (17%) e a ZTA (39%), ZM (33%) e ZAD (30%), e mais da metade desses contornos pertecem às diferenças de orientação maiores que 45º. Assim, por exemplo, enquanto o metal base apresenta 10% de contornos com diferença de orientação maior que 45º, a ZTA, a ZM e a ZAD apresentam entre 23 e 25% mais contornos nessa faixa de orientação. Zajac et al. (2005) associaram a grande presença de contornos de grão com diferença de orientação entre 50° e 60° à formação de bainita inferior, hipótese apoiada por Hutchinson et al. (2015), que relacionaram esses picos à presença de bainita mais fina. A Figura 4.20 permite comparar os resultados obtidos no presente estudo com o determinado por Zajac

et al. (2005) para aços ARBL, o que levaria a concluir que parte da microestrutura destas

regiões se apresentou como bainita inferior.

Contornos com diferença de orientação maiores que 60º foram encontrados na ZTA (1%), na ZM (2%) e na ZAD (2%); esta diferença de orientação foi associada à formação de maclas de recristalização (CUEVAS et al., 2010), o que foi possível de acontecer durante o processo SAPNC. A influência desses contornos sobre a tenacidade foi desconhecida e nada foi reportado a respeito até a presente data, embora acredite-se que a baixa frequência só bloquearia uma pequena parte do deslocamento de algumas discordâncias na matriz bainítica já encruada e com alta densidade de discordâncias.

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Tabela 4.9: Resumo das medidas obtidas do processamento da chapa de 15 mm de espessura e 1 passe. Plano transversal à direção de soldagem, DT-DN.

Plano Dureza (HV) Tamanho de grão com** ≥15º (μm) Espessura das placas de ferrita (μm)

Frequência relativa da diferença de orientação (%) ≤1,5º <15º ≥15º ≥15 e <45º ≥45º ≥60º MB 233±22 1,47±0,08 * 50 83 17 7 10 0 ZTA 210±5 2,2±0,08 * 34 61 39 14 25 1 ZM 236±5 2,8±0,15 * 36 67 33 10 23 2 ZAD 273±17 2,4±0,13 1,4±0,1 37 70 30 6 24 2

*O formato das subunidades de ferrita foi de blocos e não de placas. **Considerou-se apenas grãos com desorientações maiores que 15º.

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Figura 4.19: Mapas de orientação por IPF de: a) material de base; b) ZTA-TI; c) zona misturada; e d) zona de alta dureza. As cores internas dos grãos correspondem à orientações destes, se baseando na figura de polo inversa de referência (e). As cores das linhas dos contornos dos grãos correspondem à diferença de orientação entre os mesmos: preto (>15 e <45º), vermelho (>45 º). Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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a)

b)

Figura 4.20: Diferenças de orientação: a) metal base (MB), zona termicamente afetada de temperatura intermediária (ZTA-TI), zona misturada (ZM) e zona de alta dureza (ZAD); b) Orientações características num aço ARBL da bainita inferior, superior e granular, modificado de Zajac et al. (2005). Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

O tamanho de grãos correspondentes de orientações maiores que 15º foi maior na ZM, ZAD e ZTA do que no MB, porem em todos os casos eram menores que 3 µm. Contudo, tanto a ZM como a ZAD apresentam grandes pacotes de bainita, aproximadamente 20 μm, com placas de ferrita de contornos irregulares (Figura 4.19). Estes pacotes de bainita influenciaram na tenacidade à fratura, uma vez que as trincas

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preferem se propagar por estruturas que facilitem a sua propagação (sem mudanças grandes de orientação cristalográfica). Exemplos destes pacotes de bainita podem ser encontrados na Figuras 4.17 e 4.18. Com o intuito de se estabelecer diferenças de orientação entre pacotes de bainita, regiões selecionadas foram analisadas mediante linhas (1 e 2) de medição ponto a ponto e com referência ao primeiro ponto (-acumulada, Ref. 1o ponto), como mostrado nas Figuras 4.21.a e 4.22.a.

A bainita granular (BG) mostrada na Figura 4.21.b (linha 1), apresentou ferritas em formatos de blocos alongados, cuja diferença de orientação entre ferritas foi <15° (Figura 4.21.c), o que coincide com a bainita granular reportada por Kang et al. (2013). Cabe mencionar que a segunda fase secundaria não foi indexada quando realizado o mapa de EBSD, sendo o intuito o de destacar a matriz ferrítica.

A ferrita acicular (FA) mostrada nas Figuras 4.21.a e 4.22.a, foi encontrada na ZM e ZAD, e analisadas com a perfis lineares (setas amarelas No. 1 e 2), Figuras 4.21.e-d e 4.22.e-d. Nestas podem-se observar grãos com orientações similares em posições diferentes (ver setas pretas e verdes nas Figuras 4.21.e-d e 4.22.e-d), o que, numa vista 3D, daria como resultado uma microestrutura intercalada e interconectada dos grãos de ferrita, o que levou a confirmação da existência da FA. De acordo com a reconstrução 3D realizada por Kang et al. (2013), denominaram uma microestrutura com as mesmas características com a aqui apresentada como bainita acicular entremeada (interwoven

acicular bainite).

A evidência de bainita em placas finas, de acordo com o apresentado por Aydin (2014) e Kang et al. (2013), encontrasse na Figura 4.22.a-c. O perfil linear de orientação, representado pela seta amarela Figura 4.22.b, mostra a presença de dois pacotes de bainitas com placas retas de ferrita, com diferença orientações entre pacotes de 50º. As setas verdes e pretas indicam a posição de pacotes com orientações similares, o que levou a pensar que a geometria 3D destas estruturas é entremeada. A espessura entre placas de ferrita bainítica foi determinada como 1,4±0,1 μm, e a diferença de orientação entre placas foi menor do que 5°. A bainita em placas reportadas nas Figuras 4.21.a e 4.22.a, ocorreu na zona misturada como placas irregulares, enquanto, na zona de alta dureza, ocorreu tanto nos pacotes de bainita como as unidades de ferrita se apresentaram com formato de placas alongadas e retas.

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Figura 4.21: Mapas de orientação de Euler, zona misturada. a) MEV mostrando a Bainita com ferrita em Placas (BP), Bainita Granular (BG), Ferrita Acicular (FA) e partículas de segunda fase (as setas vermelhas apontam algumas partículas). Analise de orientação sobre: b) BG e d) FA, estes mostram perfis de orientação retos (setas amarelas No. 1 e 2). O perfil de orientações, ponto a ponto e acumulada das setas amarelas No. 1 e 2 foi representado para: c) a BG e e) a FA; as setas pretas nas figuras d)-e) representam orientações similares e correspondência entre os grãos mostrados no mapa e do seu perfil de orientação (perfil acumulada), permitindo observar a geometria complexa da FA. As cores das linhas dos contornos dos grãos correspondem à diferença de orientação entre os mesmos: preto (>15 e <45º), branco (>45 º). Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Figura 4.22: Mapas de orientação de Euler, zona de alta dureza. a) MEV mostrando a Bainita com ferrita em Placas (BP), Bainita Granular (BG), Ferrita Acicular (FA) e partículas de segunda fase (as setas vermelhas apontam algumas partículas). Analise de orientação sobre: b) BP e d) FA, estes mostram perfis de orientação retos (setas amarelas No. 1 e 2). O perfil de orientações, ponto a ponto e acumulada das setas amarelas foi representado para: c) a BP e e) a FA; as setas pretas e verdes nas figuras b)-c) e d)-e) representam orientações similares e correspondência entre os grãos mostrados no mapa e do seu perfil de orientação (perfil acumulada), permitindo observar a geometria complexa da FA e BP. As cores das linhas dos contornos dos grãos correspondem à diferença de orientação entre os mesmos: preto (>15 e <45º), branco (>45 º). Processamento de chapa de 15 mm de espessura, um passe realizado com ferramenta de 9,5 mm de comprimento.

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Na Figura 4.23, é mostrada a reconstrução do grão da austenita prévia, realizada para o metal base (MB), a zona misturada (ZM), a zona de alta dureza (ZAD) e a zona termicamente afetada (ZTA). Foram obtidos índices de qualidade4 entre 5,8° e 8,3°, e

porcentagem de grãos reconstruídos acima de 93%. Nas Figuras 4.23.a, .c, .e e .g, são apresentados os mapas de orientação (IPF) dos grãos de austenita reconstruídos, sendo que não foi possível a reconstrução dos grãos brancos. Nas Figuras 4.23.b, c, e e g, apresenta-se o mapa (IPF) com a sobreposição dos contornos de grão de austenita reconstruída, o que permitiu perceber que os grãos de austenita prévia foram divididos em vários pacotes de bainita, os quais apresentam diferenças de orientação entre eles maiores que 15 °.

A reconstrução do grão de austenita prévia permitiu estabelecer que a ZAD, por apresentar o maior pico de temperatura durante a soldagem, teve a maior propagação dos grãos de austenita (14,7 ± 1,7 μm); embora este tamanho dependa da posição relativa sobre a ZAD, pois existiu um gradiente térmico entre as bandas da ZAD e a ZM geral, como mostrado por Aydin (2014). Como observado na Tabela 4.10, a zona misturada, no centro geométrico da junta soldada, também apresentou tamanho de grão de austenita prévia menor do que a ZAD, mas maior do que a ZTA. Essas diferenças de tamanho de austenita prévia permitiram conferir que o pico de temperatura foi maior na ZAD, seguida pela ZM e a ZTA, como mencionado nas microestruturas obtidas por Barnes et al. (2008) e Aydin et al. (2013). Portanto, espera-se, também, que o tamanho de austenita prévia sobre a ZM geral diminua desde o lado de avanço para o lado retrocesso.

Os resultados da medição de tamanho de grão usando o método de intercepção a partir de micrografias, em superfícies preparadas metalograficamente e atacadas com persulfato de amônia (REITER et al., 2008), revelaram tamanhos próximos aos estimados com a reconstrução de austenita prévia usando o software ARPGE. Na Tabela 4.10, pode-se observar que existem diferenças entre os dois tipos de medições entre 2 e 8%. Exceto na zona afetada termicamente (ZTA) que apresentou 94% de diferença.

4 O manual do ARPGE reporta que índices de qualidade entre 3°-5° apresentam boas reconstruções,

embora, valores maiores possam se associar a tratamentos termomecânicos; esse valor é determinado a partir da diferença de orientação experimental (grãos filhos) e a teórica da variante que mais se ajustou com a reconstrução (CAYRON, 2014).

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Provavelmente, a ZTA reconstruída usando o software ARPGE era parte da ZTA de alta temperatura (ZTA-TA), e a analisada por meios óticos era parte da ZTA de baixa temperatura (ZTA-TB), pois o tamanho encontrado na mesma foi próximo ao obtido para o metal base. A dificuldade de localizar uma região numa mostra atacada é menor quando comparado com uma amostra sem atacar, se consideradas as amostras usadas para EBSD, no qual além da amostra estar inclinada 70º sobre o eixo horizontal, a liberdade de movimento da amostra com relação à peça polar é bastante reduzida. Estudos mais localizados podem ser realizados para determinar a variação microestrutural da ZTA em juntas SAPNC, levando em consideração mecanismos de marcação das regiões por indentações para locais específicos, ou para varreduras completas das regiões. As medições devem-se realizar consideravelmente longe da região deformada pelas indentações, para evitar influência sobre a medida de EBSD. Contudo, os melhores resultados de tenacidade para juntas SAPNC foram reportados como elevados na literatura (SANTOS et al., 2010; ÁVILA et al., 2015) obtidos na ZTA e por isso a mesma não foi considerada uma região crítica. Contrariamente, a ZTA em juntas soldadas por arco elétrico apresenta-se como a zona mais deletéria em termos de tenacidade, pois altos picos de temperatura e taxas altas de resfriamento resultam em crescimento excessivo dos grãos de austenita e formação de estruturas aciculares (MOHSENI, 2012).

Tabela 4.10: Resumo dos parâmetros determinados durante a reconstrução da austenita prévia.

Plano

Reconstrução de austenita prévia

usando ARPGE Tamanho de grão medido* (μm) Diferença entre medições de tamanho de grão (%)** Tamanho (μm) Índice de qualidade (°) Grão reconstruídos (%) MB (DT-DN) 5,1±0,4 7,6 98 5,2±0,2 2 ZTA 9,7 ±0,6 8,3 95 5±0,2 94 ZM 12,8 ± 1 7,6 96 13,7±0,5 7 ZAD 14,7 ± 2 5,8 93 13,6±0,5 8

*Medição realizada pelo método de intercepção sobre micrografias

**Diferença entre o tamanho do grão reconstruído usando ARPGE e o determinado a partir do método de intercepção sobre micrografias.

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Figura 4.23: Mapas IPF, a),c),e) e g) austenita prévia reconstruída usando o software ARPGE; b), d), f) e h) Mapas IPF da matriz bainítica com superposição dos contornos de grão da austenita prévia reconstruída. a)-b) material de base, c)-