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Quanto à gestão dos recursos hídricos no estado Rio de Janeiro, a Constituição Estadual no seu artigo n. 261, parágrafo 1º, inciso VII dá os princípios para o Poder Público promover o gerenciamento integrado dos recursos hídricos: a) adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidrográficas como unidades de planejamento e execução de planos, programas e projetos; b)

unidade na administração da quantidade e da qualidade das águas; c) compatibilização entre os usos múltiplos, efetivos e potenciais; d) participação dos usuários no gerenciamento e obrigatoriedade de contribuição para recuperação e manutenção da qualidade em função do tipo e da intensidade do uso; e) ênfase no desenvolvimento e no emprego de método e critérios biológicos de avaliação da qualidade das águas; f) proibição do despejo nas águas de caldas ou vinhotos, bem como de resíduos ou dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e a utilização normais ou para a sobrevivência das espécies (RIO DE JANEIRO, 1989).

A Política Estadual de Recursos Hídricos foi instituida em 1999 pela Lei n. 3.239 (RIO DE JANEIRO, 1999) e seguiu os mesmos fundamentos e diretrizes de descentralização e participação dos usuários, poder público e sociedade descritas na Política Nacional (BRASIL, 1997). O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos é composto pelo CERHI, Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDRHI), os CBHs, as Agências de Água e os órgãos do Poder Público Federal, Estadual e Municipal, cujas competências se relacionam com os recursos hídricos. O Decreto n. 15.159/90 estabelece a SERLA como órgão técnico e executor da Política de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO, 1990).

Quanto aos instrumentos de gestão, a Política Estadual inlcui, além dos instrumentos abordados pela Política Nacional, o Programa Estadual de Conservação e Revitalização de Recursos Hídricos (PROHIDRO). Esse instrumento tem como objetivo proporcionar a revitalização, quando necessária, e a conservação, onde possível, dos recursos hídricos como um todo, sob a ótica do ciclo hidrológico e através do manejo dos elementos dos meios físico e biótico, tendo a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e trabalho.

Quanto a implantação dos instrumentos de gestão, o Estado regulamentou a outorga pelo uso da água em 2000 pela Portaria SERLA n. 273/2000, que foi alterada pela Portaria SERLA n. 567/2007, na qual são estabelecidos os procedimentos técnicos e administrativos para emissão de outorga pela SERLA (RIO DE JANEIRO, 2007). O Estado regulamentou também o instrumento de cobrança pelo uso da água por meio da Lei n. 4.247/2003 (RIO DE JANEIRO, 2003), posteriormente alterada pela Lei 5. 234/2008 (RIODE JANEIRO, 2008).

Os recursos fianceiros arrecadados em rios de domínio estadual são recolhidos ao FUNDRHI dois quais 90% são aplicados na bacia hidrográfica arrecadadora e 10% são aplicados no órgão gestor, a SERLA (RIO DE JANEIRO, 2008).

A implantação do instrumento de cobrança iniciado em 2004 pelo órgão gestor estadual foi constestada por diversos CBHs, uma vez que modificava as destinações dos recursos da

cobrança alocados no FUNDRHI, visando o financiamento da implementação dos instrumentos de gestão de recursos hídricos e dos programas governamentais de recursos hídricos, entre outros, contrariando o disposto nas Políticas Nacional e Estadual de Recursos Hídricos, que afirma que os recursos da cobrança devem ser aplicados na região ou na bacia hidrográfica em que foram gerados (RIO DE JANEIRO, 1999; RIO DE JANEIRO, 2003).

Sobre os desafios que a gestão estadual das águas naquele momento, Portela e Braga (2007) estudaram os reflexos dos conflitos federativos na gestão dos recursos hídricos no Estado do Rio de Janeiro e concluíram que os grandes problemas enfrentados pelo estado foram o atravessamento de competencias do governo estadual em relação aos princípios e as diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Recursos Hidricos, como por exemplo, a aprovação da Lei n. 4.247/2003, e a morosidade por ele imposta ao funcionamento do modelo de gestão, como por exemplo o retardo da implantação do Conselho Estadual. De acordo com os autores, a inversão do processo de implantação da Política Estadual foi consubstanciada:

a) no enfraquecimento do Conselho Estadual de Recursos Hidricos e dos Comites de Bacias no processo de tomada de decisão;

b) no afastamento dos usuários do processo de tomada de decisao;

c) na implantação de um modelo de gestão centralizado em uma única instituição, a SERLA, em lugar de uma gestão descentralizada como determina a legislação nacional (decisões relativas a gestão dos recursos hídricos que eram de competencia dos órgãos colegiados foram transferidas para a SERLA e para o Poder Executivo),

d) no desrespeito aos critérios de aplicação dos recursos financeiros oriundos da cobranca pelo uso da água determinados pela lei federal, portanto não passiveis de nova regulamentação (o Estado do Rio de Janeiro violou esses criterios e transformou a cobrança pelo uso da água num instrumento de arrecadação – e não de gestão, como determina a lei nacional) [...] (PORTELA E BRAGA, 2007)

Segundo Moreno Jr. (2006), a SERLA é o elemento central que atua de forma endógena e exógena, junto ao Governo Estadual, à iniciativa privada e à sociedade (através dos CBHs) desenvolvendo ações, projetos e programas para evitar o crescimento explosivo da degradação ambiental, reduzir seus efeitos e proporcionar avanços legais para a melhoria da qualidade de vida da população fluminense. O autor aponta que as Agências Regionais fariam as interfaces rotineiras e diárias junto aos CBHs e à sociedade local propiciando demandas e apoios no sentido da melhora ambiental. No modelo de gestão proposto por Moreno Jr.

(2006), por meio desse arranjo institucional descentralizado, o poder público terá que quebrar a inércia burocrática, arcaica e ultrapassada e a sociedade se capacitar técnicamente e administrativamente, a fim de construir um modelo de gestão que funcione.

De acordo com Young (2003) a descontinuidade das políticas públicas em âmbito estadual, dificulta a implementação da Política Estadual, pois a continuidade do processo não é assegurada, além do enfraquecimento institucional proveniente dos diversos interesses conflitantes, nos processos eleitorais. O autor complementa ainda que “os representantes do poder público, muitas vezes, não possuem a capacitação técnica necessária para atuarem, deixando lacunas nos processos decisórios, ou até mesmo adotando iniciativas opostas aos preceitos estabelecidos pela nova lei”. Portanto, questiona-se a participação dos representantes do estado, diante do novo modelo proposto que, que deve ser superior aos interesses políticos, uma vez que possui conduta regulamentada, no caso, pela Lei 3.239/99 (RIO DE JANEIRO, 1999).

A alteração da Lei 4.247/2003 pela Lei 5.234 em 2008 determinou que 90% da aplicação dos recursos financeiros retorne a bacia hidrográfica onde foram arrecadados.

Atualmente, estuda-se a melhor forma do repasse dos recursos do FUNDRHI para a agência de bacia ou braços executivos dos CBHs. A SERLA (2008a) esclarece que a regulamentação da cobrança em águas de dominio estadual trata-se de uma metodologia transitória, que pode ser modificada pelos CBHs, em suas respectivas áreas de atuação.

Após redefinir o arranjo hidrográfico para gestão, instituído pela Resolução 18 (RIO DE JANEIRO, 2006), atualmente o Estado trabalha no sentido de alavancar iniciativas para formação de outros CBHs. No Estado do Rio de Janeiro já foram implantados sete CBHs, sendo o primeiro deles instituído em 2002, conforme apresenta o Quadro 4.

CBH Constituição Decreto de criação

Comitê Guandu

Bacia hidrográfica do rio Guandu, Guandu-Mirim e Guarda, nascentes do Riberião das Lages, águas desviadas do Paraíba do Sul e Piraí, afluentes ao Ribeirão das Lages, Guandu, canal de São Francisco até desembocadura na baía de Sepetiba.

Decreto n. 3831.178 em 2002

Comitê Macaé (e das Ostras*)

Bacia hidrográfica do rio Macaé, do rio Jurubatiba e do rio e lagoa Imboacica. Bacia hidrográfica do rio das Ostras*.

Decreto n. 34.243 em 2003; * Modificado pela Resolução n. 18

em 2006 Comitê Lagos São

João

Bacias hidrográficas das lagoas de Araruama, Saquarema e dos rios São João.

Decreto n. 36.733 em 2004

Comitê Piabanha Bacia hidrográfica do rio Piabanha e sub-bacias hidrográficas dos rios Paquequer e Preto

Decreto n. 38.235 em 2005

Comitê da Baía de Guanabara

Bacia hidrográfica da baía de Guanabara e dos sistemas lagunares de Maricá e Jacarepaguá

Decreto n. 38.260 em 2005

CBH Constituição Decreto de criação

Comitê Dois Rios

Região Hidrográfica do Rio Dois Rios. A área de atuação do Comitê de Bacia da Região Hidrográfica do Rio Dois Rios será a região hidrográfica

constituída pelas Bacias dos Rios Negro e Dois Rios, do Córrego do Tanque e Adjacentes, bem ainda da bacia da margem direita do Médio Inferior do rio Paraíba do Sul

Decreto n. 41.472 em 2008

Comitê Médio Paraíba do Sul

Região Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul.

Bacias do Rio Preto e Bacias do Curso Médio Superior do Rio Paraíba do Sul no Estado do Rio de Janeiro.

Decreto n. 41.475 em 2008

Quadro 4 - Comitês de Bacia Hidrográfica no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: SERLA, 2008b.

Para embasar o processo decisório no âmbito do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos é imprescindível a aquisição de dados primários a fim de produzir informações relavantes para as representações opinarem sobre as formas e prioridades de instervenção. Em relação ao levantamento dos usos múltiplos, a SERLA iniciou o processo de cadastramento de usuários da água no estado integrado ao cadastro nacional de usuários (ANA), que está sendo continuamente alimentado por meio dos núcleos de apoio da SERLA.

Em relação a rede de monitoramento, esta ainda precisa de avanços, especialmente quanto à disponibilização de informações. Em relação à qualidade da água do estado do Rio de Janeiro, Machado C.J.S. (2004) ressalta a necessidade de pordução de dados, tornando-se indispensável:

1) organizar as ações de controle da qualidade já exercida por diversos órgãos;

2) manter atualizado o cadastro da rede de abastecimento das concessionárias de abastecimento público de água, bem como os relatórios de inspeção e os planos de recuperação e investimento;

3) construir indicadores de qualidade da água que permitam tornar objetivo seu estado biofísico-químico integrado às condições ambientais ao longo do tempo (Calow e Petts, 1994; Chandler, 1970), e estabelecer ligações com as causas da poluição de um corpo dá água e possíveis políticas de restabelecimento da qualidade ambiental das águas de uma bacia hidrográfica;

4) criar bancos de dados georeferenciados com tratamento estatístico das informações por corpos d’água e bacias hidrográficas e, sobretudo;

5) democratizar o acesso às informações sobre a qualidade natural e alteração da água, para todo e qualquer cidadão fluminense, através de formas eficientes de comunicação que facilite a compreensão das mesmas por não-especialistas em qualidade das águas. (MACHADO, C.J.S., 2004).

A rede hidrometeorológica da SERLA opera hoje com 54 estações. Destas, a bacia hidrográfica do rio Macaé conta com cinco estações automáticas com medição de parâmetros pluviométricos e medição de descarga (SERLA, 2008b). No entanto, os dados relativos à qualidade da água são precários e se concentram no baixo curso da bacia, onde há usuários da indústria ou de abastecimento público que necessitam monitorar seus afluentes, efluentes e o corpo hídrico receptor a fim de cumprir as exigências legais.