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A história do CME no Estado de Goiás

CAPÍTULO II HISTORICIZANDO O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

2.3 A história do CME no Estado de Goiás

Diferentemente do Conselho Municipal de Educação, o Conselho Estadual de Educação (CEE) foi criado por lei nacional. Desta forma, não existe de forma objetiva na lei, a fixação de data limite para a criação de CME, o que existe é a indicação sobre órgãos normativos dos Sistemas de Ensino previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996.

Contudo, é importante mencionar que o Conselho Estadual de Educação de Goiás foi criado em 1962, pela Lei Estadual nº 4009, após a sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de nº 4024 de 20 de dezembro de 1961, e vigorou até 1971. Posteriormente, em 1997 foi criado o CME de Goiânia pela Lei Municipal nº 7.771, que segundo Alves (2011), passou a assumir a Coordenação Estadual da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME) e com isso tornou-se referência para outros municípios e a propulsionar a criação de Conselhos em todo Estado de Goiás.

Segundo Alves (2011), a Lei do Fundo Nacional de Manutenção Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) foi também a grande incentivadora da municipalização do ensino e da criação do CME. Outro ponto é que alguns municípios criaram seu CME no período em que o estado de Goiás aprovou a Lei nº. 13.609 em 2000, ao regulamentar a redistribuição dos salários-educação pelo Governo estadual, aos municípios.

A Lei Estadual nº 4.009/1962, institucionalizou o Conselho Estadual de Educação (CEE) em Goiás. Identifica-se no aparato legal que o Sistema Municipal de Ensino de Goiânia foi criado pela Lei Orgânica do Município, no disposto dos artigos 238 e 239, de 05 de abril de 1990, em consonância com as diretrizes da Educação Nacional e Estadual.

Embora a Constituição Federal (CF/1988) e a Lei de Diretrizes e Base da Educação da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/1996, não mencionem a constituição de Conselhos Municipais de Educação, “Essa omissão é coerente com o princípio constitucional da autonomia dos entes federados para organizar seus sistemas de ensino” segundo Bordignon (2013, p.59). Entretanto, verifica-se que elas apresentam elementos fundamentais que induzem a criação desses Conselhos no âmbito municipal, particularmente, quando se trata das responsabilidades dos municípios no Sistema Municipal de Educação (SME), como previsto no artigo 211, (BRASIL, 1988):

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e Os Municípios organizarão, em regime de Colaboração, seus sistemas de ensino. [...]

§ 4º. Na organização de seus sistemas de ensino, Os estados e os municípios definirão formas de Colaboração, de modo a assegurar a universalização do Ensino obrigatório (BRASIL, 1988).

A Lei Complementar nº 26, de 28 de novembro de 1998, que apresenta as Diretrizes e Bases do Sistema de Educação de Goiás orienta a criação do CME no Estado de Goiás:

Art.8º- Os municípios podem organizar-se em sistemas próprios de educação, seguindo o que estabelecem os artigos 11 e 18 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996:

I – é permitido aos municípios agruparem-se em sistemas integrados de educação de maneira a organizarem e manterem sistemas de ensino fundamental;

II – os municípios devem manifestar sua opção aos órgãos pela gestão e normatização do ensino no Estado;

III - os sistemas municipais de educação organizarão, na forma da lei, Conselhos Municipais de Educação que exercerão funções normativas do sistema, baixando normas complementares a fim de atender às especificidades e diversidades locais (GOIÁS, 1998, grifo nosso).

A lei estadual seguiu as orientações previstas na LDBEN de nº 9.394/1996 para a constituição dos seus sistemas de ensino, com a observância de que deveriam comunicar sua opção de criação dos seus respectivos sistemas ao Conselho Estadual de Educação.

Conforme dados trazidos por Raimann A, Raimann E e Oliveira (2017) ao pesquisarem os CMEs no Estado de Goiás, com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/210) o Estado possui 246 cidades, destes, 229 municípios possuem CMEs estruturados e somente 79 contam com sistemas próprios de ensino. Os municípios em questão para análise da investigação científica que se propôs, são: Santa Helena de Goiás,

Jataí e Rio Verde, localizados na Região Sudoeste no Estado de Goiás, os quais serão apresentados para a ampliação da discussão no capítulo III.

Analisando o conjunto das leis estaduais e municipais citadas anteriormente, é importante aqui apresentar a trajetória histórica do processo instituinte do Conselho Municipal de Educação (CME), no Estado de Goiás. Este contexto legal permite dizer que os CMES presentes em Goiás se apresentam institucionalizados no plano formal, por leis Municipais e Estaduais com indução das leis em âmbito nacional.

Este excerto legal demonstra que há transferência e aplicação dos recursos do FUNDEB junto aos respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,por Conselhos instituídos especificamente paraesse fim.

Constatou-se que, somente depois de sancionada a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDBEN) nº 9.394/1996, embora a Lei (GOIÂNIA, 1990), (Art. 23, § 2º), tenha determinado com caráter prioritário a criação do CME, sua regulamentação aconteceu com a Lei Municipal nº 7.771/1997. Segundo Alves (2011, p.339.) “Este, após assumir a coordenação da Seção Estadual da UNCME, passou a ser referência direta aos demais municípios seja fornecendo assessoria, documentação ou visitas para orientação e articulação entre os CMEs”. Nesse percurso da produção dos textos legais sobre o CME, considera-se que este configura-se no formato de órgãos criados pelo Poder executivo, o que autoriza dizer que o Estado se desresponsabiliza frente às políticas públicas. Para Lima (2017)

A gênese expansiva dos conselhos a partir dos anos 1990 ocorrera, por um lado, pelas lutas sociais em torno das manifestações em prol do poder local e de cunho descentralizador; mas também, noutra vertente, impulsionada pelos governos que buscam desconcentrar obrigações para os demais entes federados, e dos governos regionais para os locais, e dos locais para as escolas, por exemplo, numa dinâmica de descartar responsabilidades pela coisa pública (LIMA, 2017, p. 510).

Os Conselhos gestores de políticas públicas são considerados por vários autores, como Bordignon (2013), Cury (2006), Dagnino (2004); Gohn (2007; 2009) como legados dos movimentos populares e da mobilização social durante o processo Constituinte na década de 1980. Surgiram como forma de arraigar no novo ordenamento legal brasileiro os princípios da democracia participativa, na gestão dos serviços públicos, integrando sociedade civil e sociedade política para a construção de uma nova hegemonia democrática. Configuraram, segundo Gohn (2009), alternativas aos movimentos sociais como saídas do regime autoritário vivenciado no país e estratégias para a intervenção mais direta da sociedade civil no Estado,

que passou a ser responsabilizado constitucionalmente pelos serviços públicos que consistem nos direitos sociais de todos os cidadãos.

A sociedade civil, principalmente no que tange aos blocos dominados, passou a perceber-se como detentora de direitos sociais com uma mudança de foco: “a questão da cidadania deixa de ser conquista da sociedade civil e passa a ser competência do Estado”

(Gohn, 2009, p. 14). Resultado das disputas de poder e de interesses na Constituinte, a CF promulgada em 1988 contemplou os anseios pelos direitos sociais e ratificou a criação de canais de participação social e gestão democrática em áreas como Saúde, Educação, Previdência Social, Assistência Social e outros. Lima (2009), assevera que,

Apesar de a conjuntura da década de 1980 trazer indícios de uma crise econômica sem precedentes, que iria se acentuando, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) fora bastante flexível em relação à vinculação do Estado com as obrigações de atendimento das políticas sociais, visto ter o texto constitucional incorporado algumas das reivindicações da sociedade civil organizada (LIMA, 2009, p. 20).

No texto constitucional, incidem sobre tais canais de participação a cidadania como fundamento do Estado democrático de direito (art. 1º, inciso II); o direito ao acesso às informações do poder público, sejam de ordem particular ou coletiva (art. 5º, inciso XXXIII);

a garantia de educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança e outros como direitos sociais (art. 6º); a participação de trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos que discutam e deliberem sobre seus interesses profissionais ou previdenciários (art.

10º); participação dos cidadãos como direito político por meio do sufrágio universal e pelo voto direto e secreto admitindo ainda a realização de plebiscito, referendo e iniciativa popular (art. 14, incisos I, II, e II); caráter democrático e administração descentralizada por meio de órgãos colegiados de composição quadripartite na Seguridade Social (art. 194, inciso VII);

descentralização e participação da comunidade na gestão do sistema único de ações de promoção à Saúde (art. 198, incisos I e III); descentralização das ações governamentais na área da Assistência Social e participação da população por meio de organizações representativas na gestão e no controle das ações (art. 204, incisos I e II); gestão democrática do ensino público (art. 206, inciso VI); participação da população em organizações representativas na gestão e controle das ações relativas ao atendimento dos direitos da criança e do adolescente (art. 227, § 7º) (BRASIL, 1988).

A análise do ponto de vista histórico e legal traz a evidência de que os Conselhos de Educação diferem-se dos demais Conselhos Gestores, por dois aspectos: primeiro, por possuírem uma jornada com a criação dos primeiros colegiados, em âmbito nacional e

estadual e pontualmente em âmbito municipal, antes mesmo do período republicano; segundo, por não haver normativa nacional que determine a criação dos Conselhos de Educação nas unidades municipais da federação, como acontece com os Conselhos de Saúde, de Assistência Social e Conselhos Tutelares, por exemplo.

A Lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef) – Lei nº 9.424/1996 foi o primeiro marco em âmbito nacional a nominar os CMEs e a propulsora da criação dos colegiados nos municípios a fim de atender à composição, não obrigatória, de conselheiros municipais de educação no Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social (CMACS) do Fundo (BRASIL, 1996).